Qual o remédio mais recomendado para parar de fumar?

Índice

  • 1 Dificuldades encontradas no processo de cessação do tabagismo
  • 2 Abordagem ao paciente que deseja parar de fumar
    • 2.1 1. Conduta não medicamentosa na primeira consulta
    • 2.2 2. O Uso da Medicação
      • 2.2.1 A) Uso da Bupropiona
      • 2.2.2 B) Uso da Vareniclina
    • 2.3 3. Acompanhamento e seguimento do paciente em tratamento para o tabagismo
  • 3 Referências Bibliográficas:
  • 4 Leituras Relacionadas

Apesar da queda progressiva, o tabagismo ainda gera um alto custo social e econômico para o País, somando custos diretos de assistência e indiretos por redução da produtividade com absenteísmo, aposentadoria por invalidez e morte prematura. A partir de dados de prevalência de 2008, o tabaco foi responsável por 13% do total de mortes no Brasil, reduzindo a expectativa de vida do brasileiro fumante em cinco anos em relação ao não fumante. 

Em relação aos anos de vida perdidos ajustados por incapacidade, a carga de doenças atribuída ao tabagismo foi de 1.873.415 disability-adjusted life year (DALYs), principalmente por infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, câncer de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crônica.

Dificuldades encontradas no processo de cessação do tabagismo

Há evidências de que o apoio ofertado aos tabagistas para cessação do tabagismo pelos serviços de saúde no Brasil ainda é deficiente e insuficiente, apesar do elevado porcentual dos fumantes que desejam ou tentam parar de fumar. 

Na Política Nacional de Saúde de 2013, dos tabagistas com idade de 18 anos ou mais entrevistados, 51,1% afirmaram que tentaram parar de fumar nos 12 meses anteriores. Do total de fumantes, porém, apenas 8,8% afirmaram ter procurado tratamento com profissional da Saúde para a tentativa de cessação (IBGE; FIOCRUZ, 2014).

Dados semelhantes foram encontrados na PNAD 2008. Do total de entrevistados com 15 anos ou mais, 51,1% referiram desejo de parar de fumar – apesar de mais da metade destes não terem planos de parada para os 12 meses subsequentes. Apenas 57,1% dos tabagistas afirmaram terem sido advertidos a parar de fumar por serviços de saúde nos 12 meses anteriores. Do total de entrevistados que pararam de fumar no mesmo período, apenas 15,2% afirmaram ter recebido aconselhamento de profissionais durante a tentativa de cessação e somente 6,7% terem usado medicamentos para isso. 

Como resposta a este problema, o acesso ao tratamento para cessação do tabagismo no Brasil tem sido ampliado nos últimos anos, abrangendo as equipes da ESF. Dessa forma, a identificação, a abordagem e o tratamento da pessoa tabagista podem (e devem) ser realizadas no seu território, melhorando a saúde e a qualidade de vida do usuário, e contribuindo para o controle dos custos envolvidos no tratamento para cessação do tabagismo no País. 

Abordagem ao paciente que deseja parar de fumar

1. Conduta não medicamentosa na primeira consulta

Em primeiro lugar, devemos oferecer conselhos claros e personalizados para parar. Enfatizar a importância para o futuro da saúde e, sempre que possível, estabelecer uma relação com doenças, fatores de risco ou sintomas do paciente.  

  1. Discutir tentativas anteriores de parar de fumar: momentos difíceis; sintomas de abstinência; medo do fracasso ou declínio da motivação (Salientar que essa é uma reação normal e aconselhar que o paciente recompense a si mesmo); ganho de peso (enfatizar bons hábitos alimentares, desencorajar dietas rigorosas e incentivar a atividade física). 
  1. Faça um plano de parada junto ao fumante: combinar uma data de parada;  estimule o fumante a buscar o apoio em outras pessoas, contar a todos ao redor e tentar fazer com que o cônjuge pare simultaneamente; remover o tabaco em locais frequentados pelo fumante; combinar maneiras de antecipar-se aos momentos difíceis.
  1. Planeje contatos telefônicos de acompanhamento depois de uma semana, um mês, alguns meses e seis meses em acordo com o paciente. Recaídas podem ser vistas como oportunidades de aprendizagem. 

Qual o remédio mais recomendado para parar de fumar?

2. O Uso da Medicação

A medicação é usada em casos acima de dez cigarros por dia ou se o paciente desejar. Terapias de substituição de nicotina (TSN) são a primeira opção. 

Contra-indicações para TSN são: infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral recentes, angina pectoris instável, arritmias graves. 

• Bupropiona ou Vareniclina: se necessário, a pedido do paciente ou após tentativas anteriores fracassadas com TSN; combinação com TSN é possível.

A TSN, por via respiratória, oral ou transdérmica, atua no combate aos sintomas da abstinência, auxiliando  os fumantes  a resistirem ao forte  desejo (compulsão)  para  um   novo   consumo   de   cigarros.

Qual o remédio mais recomendado para parar de fumar?
Tabela 1: Tipos de TSN disponíveis

A) Uso da Bupropiona

A bupropiona, considerada de primeira linha para o tratamento do tabagismo, sendo disponibilizada pelo SUS na forma de comprimido, atua ocupando os receptores dopaminérgicos que seriam ocupados pela nicotina, reduzindo os sintomas da Síndrome de Abstinência. É um inibidor seletivo da receptação neuronal de noradrenalina e dopamina, com efeito mínimo na receptação de serotonina, e que não inibe a monoaminoxidase. 

A dose usual deste medicamento é 150mg 1-2x ao dia, e as doses devem ser tomadas com pelo menos 8h de intervalo (Dose máxima de 300mg/dia).

Qual o remédio mais recomendado para parar de fumar?
Tabela 2: utilização da Bupropiona

  • O tratamento é feito da seguinte forma:

Primeiros três dias de tratamento: 1 comprimido de 150 mg pela manhã. 

A partir do quarto dia de tratamento, até completar 12 semanas: 1 comprimido de 150 mg duas vezes ao dia (manhã e tarde, com intervalo de 8 horas entre as doses).

Como a bupropiona leva de cinco a sete dias para atingir níveis terapêuticos, deve ser iniciada uma semana antes da data marcada para parar de fumar. Recomenda-se que os comprimidos sejam tomados pela manhã e pela tarde, evitando a proximidade da segunda dose com o horário de dormir, já que a insônia é um dos principais efeitos colaterais. 

A duração recomendada para o tratamento é de 12 semanas. Entretanto, um tratamento mais prolongado pode ser considerado em casos selecionados, como em ocorrência de recaídas prévias ou no intuito de manter o efeito antidepressivo da bupropiona

Em geral, a bupropiona é bem tolerada, e seus efeitos colaterais mais comuns são: boca seca, insônia (sono entrecortado), cefaleia, constipação intestinal, urticária e, em altas doses, risco de convulsão. Quando usada em associação à TSN, recomenda-se a monitorização da pressão arterial, que pode se elevar. Um efeito adverso interessante do medicamento é a tendência à perda de peso, o que pode compensar em parte o risco de ganho ponderal conferido pela cessação tabágica. 

Qual o remédio mais recomendado para parar de fumar?

B) Uso da Vareniclina

A Vareniclina é um agonista do receptor nicotínico neuronal parcial alfa4beta2 que impede a estimulação da nicotina do sistema dopaminérgico mesolímbico associado ao vício da nicotina. Também se liga ao 5-HT-3 com afinidade moderada. Este medicamento estimula a atividade da dopamina, mas em um grau muito menor que o da nicotina, resultando na diminuição da fissura e nos sintomas de abstinência.

  • O tratamento é feito da seguinte forma:

Do primeiro ao terceiro dia: 0.5mg 1x/dia

Do quarto ao sétimo dia: 0.5mg 12/12h

Do oitavo dia ao final do tratamento: 1mg 12/12h

Assim como na bupropiona, o tratamento deve ser feito por 12 semanas, podendo ser prolongado em alguns casos. Os efeitos da vareniclina de cessação do fumo duram entre 40 e 52 semanas após o final do tratamento.

Tabela 3: Utilização da vareniclina

O principal efeito colateral desse medicamento é a náusea, relatado por 16% dos pacientes. Outros efeitos relatados são: dor de cabeça, insônia, distúrbios no sono, constipação, flatulências e vômito. 

Qual o remédio mais recomendado para parar de fumar?

Além de ser empregada para o tratamento da dependência de nicotina, vem sendo bastante estudada como medicamento para o tratamento da dependência de diversas drogas, como álcool, opioides, cocaína e anfetamina, devido a sua modulação em receptores colinérgicos nicotínicos do sistema nervoso central, podendo ter diferentes efeitos na atividade dopaminérgica e em outros sistemas de neurotransmissores.

3. Acompanhamento e seguimento do paciente em tratamento para o tabagismo

Durante o processo de cessação de tabagismo, o indivíduo pode se deparar com diferentes situações difíceis, que podem ser inéditas ou já vivenciadas anteriormente, em outras tentativas de parar de fumar. Neste momento, é imprescindível que o profissional de saúde esteja preparado para fornecer informações necessárias que possam subsidiá-lo no entendimento dos processos e das mudanças orgânicas que estão ocorrendo, os possíveis sintomas que poderão aparecer ao longo do tratamento, bem como o fornecimento de orientações para enfrentamento de sintomas de abstinência e situações tentadoras para o tabagismo.

 Além disso, a prevenção de recaída é trabalhada durante todo o processo de tratamento. Nesse caso, ressaltam-se as técnicas utilizadas para controle da abstinência e da compulsão, entre elas: cuidar do estresse e da ansiedade; evitar ficar perto de pessoas que fumam; evitar bebida alcoólica e procurar ocupar o tempo com atividades, especialmente com a realização de atividade física. 

A abertura para que sejam explicitados os receios e as dúvidas da pessoa, a orientação individualizada e o apoio oportuno podem auxiliar efetivamente na redução da ansiedade, desmistificação sobre as causas de determinados sintomas e na compreensão da “normalidade”/“previsibilidade” de determinadas dificuldades e desafios.

Referências Bibliográficas:

  1. DANTAS, Déborah Rose Galvão et al. Tratamento do tabagismo no Brasil, com bupropiona ou vareniclina: uma revisão sistemática. Revista Saúde & Ciência Online, v. 5, n. 1, p. 61-75, 2016.
  2. ZACCARELLI-MAGALHÃES, Julia; CAMARGO, Esther Lopes Ricci Adari; SPINOSA, Helenice de Souza. Vareniclina: uma revisão na perspectiva da promoção da saúde. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, v. 16, n. 2, p. 55-67, 2016.
  3. Brasil. Ministério da Saúde.  Secretaria de Atenção à Saúde.  Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: o cuidado da pessoa tabagista / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015.
  4. SBMFC. Parar de fumar (Resumo de diretriz NHG M85 -maio 2011). Traduzido do original em holandês por Luiz F.G. Comazzetto .2014. Disponível em: http://www.sbmfc.org.br/wp-content/uploads/media/NHG%2028%20Parar%20de%20fumar.pdf

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