Qual foi a importância do café para a economia brasileira durante a Primeira República?

Abstract

Resumo: Vários foram os fatores que influenciaram a economia brasileira na Primeira República, tendo destaque o desenvolvimento da cafeicultura. O objetivo da pesquisa é realizar um debate sobre o papel do café na formação industrial brasileira, fazendo a contraposição entre as visões tradicionais (teoria dos choques adversos x industrialização induzida pelas exportações), por meio da obra de Suzigan, Warren Dean, Wilson Cano e João Manuel Cardoso de Mello e as visões recentes (Michel Marson e Gustavo Barros).A partir desta pesquisa foi possível constatar a importância do café como base da industrialização brasileira e mudanças no panorama econômico do país. A própria demanda de mecanização nos cafezais promoveu a formação de pequenas empresas artesanais, que ganhavam destaque em períodos de dificuldade de importação de peças. A otimização do transporte dos grãos contribuiu de forma significativa para as primeiras estradas de ferro no sudoeste. A economia cafeeira fortaleceu o desenvolvimento industrial e a inserção do capitalismo no Brasil, e assim passou a adequar-se aos moldes das políticas internacionais e tornou-se mais competitivo em outros setores

  1. Home
  2. Estudos
  3. História

Percebemos que um conjunto de fatores favoráveis - como o crescimento das exportações de café, o aumento das taxas alfandegárias pela tarifa Alves Branco, a abolição do tráfico negreiro, a vinda de imigrantes europeus a partir de 1850 - permitiu a urbanização e o lento desenvolvimento da indústria.


A implantação da economia cafeeira a partir de 1840. Percebemos que um conjunto de fatores favoráveis - como o crescimento das exportações de café, o aumento das taxas alfandegárias pela tarifa Alves Branco, a abolição do tráfico negreiro, a vinda de imigrantes europeus a partir de 1850 - permitiu a urbanização e o lento desenvolvimento da indústria. Esse surto industrial foi, entretanto, efêmero, pois a partir de 1860 a lei Silva Ferraz (anulando os aumentos alfandegários) provocou retração no mercado interno e iniciou uma série de falências dos pequenos setores fabris brasileiros.

Mas um novo surto industrial originou-se a partir de 1870, estendendo-se até os fins do século XIX. Os investimentos exigidos pela Guerra do Paraguai, a manutenção do Exército, o crescente trabalho assalariado e a expansão cafeeira estimularam esse novo surto.

A economia da República Velha De 1889 a 1930, a economia brasileira desenvolveu-se basicamente graças ao acúmulo de capitais oriundos do setor cafeeiro associado aos investimentos estrangeiros. O preço pago foi a manutenção da estrutura latifundiária e da monocultura, que orientavam o tipo de implantação industrial no país. Assim, a indústria brasileira nasceu da fusão de tecnologias importadas com velhos procedimentos herdados do período colonial. Ricos latifundiários dedicados à monocultura cafeeira foram ao mesmo tempo proprietários das primeiras indústrias.

Industrialização regional

Os investimentos estrangeiros predominavam na formação da infra-estrutura urbana. Em 1901, capitais ingleses, belgas e franceses instalaram a primeira usina elétrica em São Paulo. Em seguida, em 1904, capitais canadenses e ingleses organizaram a Light Power, que explorou os serviços urbanos de gás, energia elétrica, esgoto, água, transporte etelefone no eixo São Paulo

- Rio de Janeiro, enquanto os Estados da Bahia, Paraná, parte de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul eram abastecidos por outra companhia, também inglesa. Assim, é possível distinguir o crescimento urbano-industrial em diferentes regiões brasileiras, à medida que foram sendo instaladas as infra-estruturas das cidades.

O Rio de Janeiro contava com os melhores serviços urbanos por ser a capital da República. E isso permitiu que essa cidade se tornasse a sede do maior parque industrial do país (São Paulo a superou apenas na década de 20).

O crescimento do Rio de Janeiro deveu-se, em primeiro lugar, aos impostos arrecadados pela União e às taxas do comércio de exportação e importação das mercadorias que transitavam pelo porto carioca. Em segundo lugar, figuravam os capitais excedentes da lavoura cafeeira da Baixada Fluminense (Vale do Paraíba), que eram aplicados na indústria.

Somava-se a isso a existência de farta mão-de-obra constituída de ex-escravos que se dirigiam para a cidade do Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida.

Formou-se, assim, um exército industrial de reserva, isto é, um excedente de trabalhadores disponíveis que barateava os custos de produção, pois as fábricas ofereciam baixos salários.

No começo do século XX, o segundo centro urbano do Brasil era Salvador (BA). Por ter sido uma das economias coloniais de maior desenvolvimento do país, a Bahia dispunha de matérias-primas (como algodão e fumo), de capital (originário da economia de exportação) e de trabalhadores livres capazes de assegurar a criação do setor fabril.

Outra cidade nordestina em que a indústria se desenvolveu foi Recife (PE). Lá havia grande quantidade de trabalhadores livres, vindos do interior pernambucano, expulsos do campo pelo processo de modernização dos engenhos de cana-de-açúcar, que se transformaram em usinas.

A existência de matéria-prima (algodão) e de um mercado interno regional (representado pela crescente população urbana) permitiu o surgimento das primeiras indústrias pernambucanas de grande porte: o setor têxtil. A companhia têxtil do grupo Lundgrenn, por exemplo, foi o mais bem-sucedido empreendimento fabril da região, pois conseguiu aliar produção e comércio. A fábrica vendia no atacado e no varejo através da criação de uma vasta rede comercial denominada

Casas Pernambucanas.

O caso de Minas Gerais diferencia-se dos exemplos carioca e nordestino. Por sua tradição artesanal, com uma urbanização rápida e dispersa provocada pela economia mineradora do século XVII I , a região mineira abrigou uma infinidade de pequenas fábricas, com capitais e produção reduzidos, que se destinavam ao abastecimento dos mercados regionais. Outra região que passou por um processo de desenvolvimento durante a Colônia e o Império foi o Rio Grande do Sul.

Estruturada em pequenas propriedades agrárias, constituiu um mercado consumidor de camponeses ligados a uma atividade agrícola comercial. Aliada a esse fator de monetarização comercial, a existência de contingentes de imigrantes europeus permitiu o desenvolvimento urbano de pequenos mercados locais destinados à produção artesanal. Eram ferreiros, serralheiros, pedreiros, marceneiros, oleiros, tecelões, alfaiates, charreteiros, moleiros, carvoeiros e outros pequenos empresários que acabaram criando as primeiras indústrias de porte moderno do Rio Grande do Sul.

A capital, Porto Alegre, destacou-se pela diversificação da produção (fábricas de charutos, de alimentos, curtumes, moinhos, tecelagens) em pequenos estabelecimentos. A preocupação predominante dos setores industriais porto-alegrenses era conquistar o mercado local. Uma indústria gaúcha têxtil e de vestuário que se projetou nacionalmente na década de 10 foi a Rener, mas na década de 20 entrou em declínio devido à concorrência das indústrias similares de São Paulo. Nesse processo de industrialização regional, o Estado de Santa Catarina teve um significativo desenvolvimento fabril.

Semelhante à do Rio Grande do Sul, a colonização catarinense baseou-se na imigração européia, sobretudo a germânica: A produção se destinava a mercados locais constituídos por grande número de pequenos proprietários rurais. A região de Blumenau, em vez de concorrer com as indústrias do eixo Rio-São Paulo, especializou-se num tipo de produção pioneira ligada à malharia, materiais para medicina (gazes, ataduras), tecidos de lã (especiais para os períodos de inverno), porcelana, instrumentos musicais. Por sua especialização, a indústria Hering (de origem germânica) superou as barreiras regionais, conquistando o mercado do Rio Grande do Sul e de São Paulo na primeira década do século XX.

O café financia a indústria

Esses exemplos fabris enquadram-se no que o economista Antônio Barros Castro definiu como industrialização descentralizada.  Impossibilitadas de unificar a circulação de mercadorias em todo o território, devido à precariedade dos meios de transporte, as classes burguesas industriais ligavam-se localmente aos produtores agrários e aos capitalistas ingleses, alemães e norteamericanos. A fragilidade econômica da nascente burguesia industrial do país obrigou os capitalistas regionais a se associarem ao capital internacional, sobretudo britânico.

Com exceção de Santa Catarina, as demais regiões acabariam sofrendo a concorrência do eixo Rio-São Paulo, tendo que se submeter ao controle especialmente dos paulistas. Mas como ocorreu esse processo de liderança econômica da região de São Paulo? A resposta está na economia cafeeira.

A crescente expansão cafeeira, principalmente nos fins do século XIX, permitiu que os grandes fazendeiros paulistas diversificassem suas atividades, investindo em estradas de ferro, em companhias de seguro, em instalações comerciais dos portos brasileiros, na organização de bancos, nos setores industriais têxteis e alimentares.

Visando incentivar a industrialização, Rui Barbosa, ministro da Fazenda do governo do Marechal Deodoro da Fonseca, abriu linhas de crédito para financiar a implantação de fábricas. Para isso o governo teve de aumentar a emissão de papel-moeda, gerando um processo inflacionário.

A facilidade de créditos levou a uma desenfreada especulação com papéis e ações das novas empresas. Essa especulação recebeu o nome de Encilhamento, pois a euforia barulhenta da Bolsa de Valores lembrava o local de apostas do jóquei-clube, quando os cavalos se preparavam para a corrida.

Empréstimos estrangeiros desenvolveram indústrias e cidades Muitas fábricas foram construídas com empréstimos de companhias de exportação e importação estrangeiras sediadas no país que, na maioria das vezes, se associavam aos projetos industriais brasileiros. Muitos capitalistas ingleses investiram diretamente no setor industrial brasileiro: de moinhos de trigo até fábricas de calçados, passando pelas instalações das primeiras usinas de açúcar.

Além destas duas importantes características (associação de empresas nacionais com estrangeiras e investimento estrangeiro na instalação fabril), destaca-se uma outra, inerente ao processo de desenvolvimento capitalista: a concentração de capitais, que exigiu a instalação de infra-estrutura (energia, transporte) nas cidades.

As cidades constituíam o fator básico de implantação industrial, pois, ofereciam os serviços necessários à circulação e

distribuição de mercadorias e de capital (dinheiro, matérias-primas e máquinas). Todo o sistema comercial e financeiro

(armazéns, lojas, bancos, créditos etc.) instalou-se nos centros urbanos.

As cidades eram mercados consumidores imediatos dos produtos fabris, além de fornecerem a mão-de-obra necessária à indústria, devido a sua densidade demográfica.

Nesse sentido, São Paulo apresentou características favoráveis ao impulso industrial. O comércio do café promoveu uma grande concentração de bancos na capital paulista, criando um mercado de capitais. Somado a isso, desenvolveram-se centros de treinamento para o grande contingente de mão-de-obra que afluía para a cidade, constituído principalmente por imigrantes estrangeiros. E o caso do Liceu de Artes e Ofícios e do Instituto de Educandos e Artífices. O escoamento da produção, por sua vez, estava garantido por uma eficiente rede de transportes

ligação com o porto de Santos e saídas para o interior e para outros Estados através de ferrovias -, enquanto o crescimento da cidade era assegurado por grandes obras de infra-estrutura - pontes e viadutos, rede elétrica e de esgotos etc.

Convênio de Taubaté: a salvação da lavoura A força dos cafeicultores pôde ser comprovada em 1906, quando a produção brasileira de café crescia cada vez mais, porém os preços do produto no mercado internacional estavam em plena queda devido ao excesso de oferta e à valorização da moeda nacional levada a cabo pelo governo para combater a inflação provocada pelo Encilhamento.

Em fevereiro desse ano, os cafeicultores reuniram-se em Taubaté (Vale do Paraíba) para exigir do governo federal medidas que garantissem a valorização do café e a manutenção dos lucros dessa lavoura. O encontro ficou conhecido como Convênio de Taubaté.

Os cafeicultores pressionaram o governo a adotar medidas protecionistas para garantir o preço do café:

- proibição de novas plantações cafeeiras para não diminuir o preço do produto;

- promoção publicitária do produto a nível governamental visando estimular o consumo no mercado externo e interno;

- compra dos excedentes de café pelo governo para criar estoques reguladores que seriam colocados no mercado quando a produção diminuísse, garantindo a estabilidade dos preços;

- empréstimo externo de 15 milhões de libras esterlinas para custear as compras de café feitas pelos Estados.

As medidas beneficiaram os cafeicultores, ao mesmo tempo em que comprometeram o desenvolvimento do país, porque não havia capital para investir em outras áreas. Os efeitos dessa valorização do café foram sentidos em 1909, pois os preços internacionais do produto aumentaram, provocando uma elevação das arrecadações dos setores exportadores e um aumento das importações de bens de consumo (sapatos, chapéus, velas, lonas, betume, óleo de linhaça etc.) e de alimentos (manteiga, óleo, bebidas em geral).

A indústria beneficia a agricultura

De 1906 a 1909 ampliou-se a produção interna de alimentos, o que barateou seu custo, possibilitando que os salários reais fossem preservados. Isso estimulou a acumulação de capitais em dois setores da economia: a agricultura e a indústria."Está com isto definitivamente esclarecido o problema das condições de realização da produção industrial:

indústria e agricultura se apóiam mutuamente criando mercados uma para a outra:' Diante dessas condições, seguiu-se uma euforia que resultou em novo aumento da produção de café entre 1911 e 1913. As conseqüências puderam ser sentidas a partir de 1914. Houve um aumento da inflação, pois, para cumprir seus compromissos, o governo federal emitiu papel-moeda.

Qual foi a importância do café para a economia do Brasil na Primeira República?

A cultura do café constituiu, no período da República Velha, sobretudo na fase conhecida como “república dos oligarcas” (1894-1930), o principal motor da economia brasileira. Esse produto liderava a exportação na época, seguido da borracha, do açúcar e outros insumos.

Qual a importância do café para a Primeira República?

Como produto mais importante da economia brasileira, o café comandava a política econômica da Primeira República. As medidas financeiras adotadas pelos governos desse período visavam basicamente favorecer a agricultura e o comércio de café.

Por que o cultivo do café foi importante para a economia do Brasil?

Garantiu o acúmulo de capitais para a urbanização de algumas localidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo e cidades do interior paulista, além de prover inicialmente os capitais necessários ao processo de industrialização do país e criar as condições para o desenvolvimento do sistema bancário.

Qual a importância do café para o Império brasileiro?

A força econômica do café foi tamanha que garantiu o superávit da balança comercial brasileira entre 1861 e 1885. Na década de 1880, o café respondia por cerca de 61% das exportações do Império. A produção cafeeira fez surgir ainda outras atividades econômicas veiculadas ao beneficiamento, transporte e à venda do café.