Qual era o principal divergência entre Trotsky?

Qual era o principal divergência entre Trotsky?
Por MICHEL SILVA

Graduando de Comunica��o Social, habilita��o em Cinema e V�deo, na Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e de Pedagogia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Qual era o principal divergência entre Trotsky?
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Michel Silva

Resumo

Tendo como ponto de partida a experi�ncia da revolu��o de 1905, este artigo descreve e analisa algumas das teorias elaboradas sobre a Revolu��o Russa, destacando as dos mencheviques, de Lenin e de Trotsky, tra�ando semelhan�as e diferen�as nas dos dois �ltimos. Tamb�m se analisa a concep��o de partido defendida por Lenin, corroborada por Trotsky em 1917. Por fim, � luz da compreens�o da organiza��o de partido de Lenin e da "revolu��o permanente" de Trotsky, faz-se um balan�o dos processos de revolu��o e mudan�a social ocorridos ap�s 1917.

Palavras-chave: Revolu��o Russa; Revolu��o Permanente; Leon Trotsky.

Abstract

Having as starting point 1905 revolution experience, this article describes and analyzes some of elaborated theories about Russian Revolution, pointing out the ones of mensheviks, of Lenin and of Trotsky, drawing up similarities and differences on lasts two theories. The conception of party defended by Lenin and corroborated by Trotsky in 1917 is also analyzed. Finally, at light of understanding Lenin�s party organization and of Trotsky�s �permanent revolution�, it takes stock of revolution and social change processes occurred after 1917.

Key-words: Russian Revolution; Permanent Revolution; Leon Trotsky.

Qual era o principal divergência entre Trotsky?
O ano em que lembramos os sessenta e cinco anos do assassinato de Trotsky deve ser tamb�m para lembrar os cem anos da revolu��o de 1905. O revolucion�rio russo chamava de �pr�logo� � Revolu��o Russa esse primeiro levante dos trabalhadores russos, contendo �todos os elementos do drama que, entretanto, ainda n�o estava terminado� (Trotsky, 1978, p. 31). Em obras de balan�o a esta revolu��o (principalmente Resultados e Perspectivas, de 1906), cuja eclos�o est� ligada � situa��o prec�ria do pa�s diante da guerra contra o Jap�o, Trotsky apresentou as primeiras notas sobre a teoria da revolu��o permanente, que consideramos sua maior contribui��o para o marxismo e destacamos como a melhor ferramenta para entender os processos revolucion�rios do s�culo XX.

O partido do proletariado

A revolu��o de 1905 ocorreu dois anos ap�s uma cis�o, em seu segundo congresso, dentro do Partido Oper�rio Social-Democrata Russo (POSDR), dando origem a suas duas principais fra��es (bolcheviques e mencheviques). Tal cis�o foi motivada pela diverg�ncia sobre a forma como deveria se dar a organiza��o partid�ria. Era posi��o defendida por alguns que a mera colabora��o em qualquer �rg�o do partido fazia da pessoa um militante. Lenin, no entanto, propunha um partido onde a milit�ncia n�o estava associado � simples simpatia ou � colabora��o eventual. �Considera-se membro do partido todo aquele que aceita o programa e ap�ia o partido tanto materialmente como pela sua participa��o pessoal numa das organiza��es do partido� (Lenin, 1984a, p. 43), foi a formula��o defendida por Lenin, que entendia, segundo Coggiola (1997, p. 61), o partido como �uma organiza��o de revolucion�rios profissionais, conspirativa e centralizada, que fosse ao mesmo tempo uma organiza��o oper�ria, com ampla margem para o debate interno (mas com plena unidade de a��o)�. Pode-se resumir assim as duas propostas ent�o apresentadas:

1) um partido que seja uma ampla frente de setores da esquerda, com programa superficial, cuja fun��o � aglutinar os mais variados setores da esquerda;

2) um partido oper�rio de vanguarda, centralizado na pol�tica e na a��o, com um programa claramente revolucion�rio.

Para Lenin, o que importava era a participa��o efetiva e cotidiana na constru��o do partido; este n�o deveria ser apenas um amontoado de pessoas engajadas em alguma causa comum que considerassem �justa� ou �importante�. A organiza��o partid�ria deveria se dar como um ex�rcito de pessoas treinadas e armadas politicamente para dirigir uma revolu��o contra a ordem estabelecida, precisando nesse sentido possuir uma profunda unidade program�tica, que nunca seria poss�vel em uma frente ampla e heterog�nea de esquerda. Em oposi��o a Lenin, se propunha uma organiza��o de estrutura frouxa, que priorizasse a luta institucional e a disputa de espa�os eleitorais e buscasse na burguesia liberal uma aliada permanente e estrat�gica na revolu��o. � o pr�prio Lenin, no pref�cio a Um passo em frente, dois passos atr�s, quem esclarece essa quest�o:

Em ess�ncia toda a posi��o dos oportunistas em mat�ria de organiza��o come�ou a revelar-se j� na discuss�o do par�grafo primeiro [sobre a forma de organiza��o do partido]: na sua defesa de uma organiza��o do partido difusa e n�o fortemente cimentada; na sua hostilidade � id�ia (� id�ia �burocr�tica�) de edifica��o do partido de cima para baixo, a partir do congresso do partido e dos organismos por ele criados; na sua tend�ncia para atuar de baixo para cima, permitindo a qualquer professor, a  qualquer estudante de liceu e a �qualquer grevista� declarar-se membro do partido; na sua hostilidade ao �formalismo�, que exige a um membro do partido que perten�a a uma organiza��o reconhecida pelo partido; na sua tend�ncia para uma mentalidade de intelectual burgu�s, pronto apenas a �reconhecer platonicamente as rela��es  de organiza��o�; na sua inclina��o para essa sutileza de esp�rito oportunista e as frases anarquistas; na sua tend�ncia para o autonomismo contra o centralismo. (Lenin, 1984a, p. 6-7)

No debate sobre a forma de organiza��o, Trotsky esteve alinhado � posi��o dos mencheviques, ou seja, do partido amplo e sem defini��o clara de milit�ncia. Esta posi��o acabou saindo vitoriosa no congresso, embora em outra vota��o importante, para a dire��o do partido, Lenin tivesse conseguido maioria (da� vir os nomes �bolchevique� e �menchevique�, respectivamente maioria e minoria). Trotsky, mesmo tendo nesse ponto se alinhado aos mencheviques � e tendo inclusive se organizado por algum tempo nessa fra��o do partido � tinha uma perspectiva pol�tica diferente desses eventuais aliados. No balan�o desta pol�mica o pr�prio Lenin afirmava que o �car�ter de diverg�ncia apenas come�ava a desenhar-se e muitos na realidade n�o conseguiam ainda orientar-se� (1984a, p. 74).

As diverg�ncias entre Trotsky e os mencheviques ficaram expressas inclusive no pr�prio congresso de 1903, na medida que Trotsky, em outras vota��es, cujo car�ter era mais claramente pol�tico, votou e defendeu propostas em conjunto com Lenin. Tanto nas atas quanto no jornal do congresso � este �ltimo preparado pelo pr�prio Lenin � fica claro �que Trotsky n�o se contrap�s a nenhuma das teses do programa do partido preparado por Lenin� (Coggiola, 1997, p. 72). Enquanto uma diverg�ncia de conte�do pol�tico, estrat�gica para a revolu��o, cindia o partido em maioria e minoria, a cr�tica que fez Trotsky defender um ponto junto aos mencheviques se dava unicamente por sua incompreens�o das tarefas da organiza��o revolucion�ria no pa�s.

Para Trotsky, o tipo de organiza��o proposta por Lenin poderia dar origem a uma organiza��o burocr�tica, autorit�ria, concentrando o controle do partido nas m�os de um pequeno n�cleo dirigente. Mesmo tendo clareza da pol�tica proposta pelos setores reformistas, e combatendo estas posi��es, Trotsky via a necessidade de construir um partido �nico com os mencheviques, vendo como negativa a divis�o no POSDR, que Lenin e sua fra��o tinham provocado. Com isso, Trotsky chegou, nos anos posteriores ao congresso, a escrever v�rios textos criticando os bolcheviques e sua forma de organiza��o.

Teorias da revolu��o

Frente � revolu��o de 1905, foram muitos os marxistas que passaram a teorizar sobre o processo revolucion�rio russo. Os mencheviques, Plekhanov � frente, defendiam que a russa seria uma revolu��o burguesa cl�ssica, fazendo a transi��o de um modo de produ��o atrasado para o capitalismo, trazendo conquistas do ponto de vista democr�tico (reforma agr�ria, legaliza��o dos partidos de oposi��o, voto republicano etc.).

Este pseudo-marxismo consistia essencialmente em transformar o pensamento condicional e limitado de Marx: Os pa�ses adiantados mostram aos pa�ses atrasados a imagem do seu desenvolvimento futuro, numa lei absoluta, supra-hist�rica, na qual aquele se esfor�aria por basear a t�tica do Partido da classe oper�ria. (Trotsky, 1979, p. 15)

O papel dos marxistas, nesse sentido, seria o de organizar os trabalhadores em uma ala esquerda do movimento revolucion�rio dirigido pela burguesia, pressionando esta para que as conquistas do proletariado fossem as mais profundas poss�veis. Como comenta Kochan (1966, p. 152), �pareceu aos mencheviques por si mesmo evidente que, em um uma revolu��o burguesa, a burguesia deveria tomar a dianteira. Como conseq��ncia, o proletariado e os sociais-democratas, o partido do proletariado, deviam desempenhar papel subordinado�.

Lenin e Trotsky divergiam dessa vis�o, particularmente no que se refere � dire��o burguesa, descartando qualquer possibilidade de unidade estrat�gica com estes setores na revolu��o. Tamb�m viam nos sovietes, surgidos na revolu��o de 1905, o embri�o do poder revolucion�rio. Lenin, refletindo sobre os sovietes, chamava-os de �n�cleos potenciais de revolu��o� e ��rg�os de autoridade revolucion�ria�. Segundo Kochan (1966, p. 152), Lenin via os sovietes �como o embri�o de um governo revolucion�rio sob controle independente do partido�, enquanto os mencheviques viam neles �um papel algo passivo de um congresso de trabalhadores�.

Lenin afirmava que na revolu��o de 1905 o soviete de Petrogrado, presidido por Trotsky, havia cumprido um papel decisivo, de um governo revolucion�rio ao qual coube tarefas fundamentais durante todo o processo. Contudo, Lenin compartilhava com os mencheviques a vis�o de que �dada a natureza semifeudal e retardada da sociedade russa, n�o se podia pensar de modo algum em uma transi��o imediata para o socialismo� (Kochan, 1966, p. 152). Para Lenin,

a revolu��o seria burguesa no quanto ficasse limitada a uma ordem social baseada na institui��o da propriedade privada. Mas seria prolet�ria no quanto o proletariado, em raz�o da fraqueza da burguesia russa, assumisse o papel da lideran�a na revolu��o. Mais ainda, a classe camponesa, conquanto de modo algum socialista ou deixando de ser pequeno-burguesa, �n�o estava t�o interessada na preserva��o absoluta da propriedade privada quanto no confisco das propriedades agr�rias�. Isso a tornava aliada do proletariado, uma adepta entusi�stica e assaz radical da revolu��o democr�tica. (Kochan, 1966, p. 154)

As tarefas da revolu��o n�o seriam aquelas da revolu��o prolet�ria, mas sim o que pudesse haver de acordo entre oper�rios e camponeses, dentro dos marcos de uma  revolu��o democr�tica e burguesa.

Objetivamente, a marcha hist�rica das coisas colocou agora ao proletariado russo exatamente a tarefa da revolu��o democr�tico burguesa (todo o conte�do da qual n�s designamos, por uma quest�o de brevidade, pela rep�blica); esta mesma tarefa se coloca a todo o povo, isto �, a toda massa da pequena burguesia e do campesinato; sem esta revolu��o � inconceb�vel qualquer desenvolvimento minimamente amplo da organiza��o de classe independente para a revolu��o. (Lenin, 1984b, p. 164)

Caminhava-se, portanto, a uma ditadura democr�tica de oper�rios e camponeses, produto de uma revolu��o burguesa sui generis, em que a burguesia n�o assumiria a dire��o do processo, mas na qual as classes dirigentes n�o superariam o programa da pr�pria burguesia nem atacariam de forma radical a propriedade privada. Lenin assim definia esse processo:

Quanto mais n�s conquistarmos agora, quanto mais energicamente defendermos o que conquistamos, tanto menos poder� ser retirado em conseq��ncia da inevit�vel rea��o futura, tanto mais breve ser�o estes intervalos de rea��o, tanto mais f�cil ser� a tarefa para os lutadores prolet�rios que nos seguem. (1984b, p. 165)

Mesmo tendo pontos comuns com Lenin, a perspectiva de Trotsky era outra. Para este, a revolu��o n�o iria se limitar meramente a formar uma rep�blica burguesa, com um governo democr�tico de coaliz�o de classes, que garantisse ao capitalista russo o tempo necess�rio para se desenvolver, como defendiam os mencheviques. Tamb�m n�o tinha acordo com Lenin quando este limitava o desenvolvimento da revolu��o aos marcos de uma rep�blica burguesa (ainda que sobre outras bases, revolucion�rias). Para Trotsky, a realiza��o das tarefas da revolu��o (democr�ticas ou socialistas) s� poderiam ser realizadas pela ditadura revolucion�ria do proletariado.

A revolu��o permanente

Diante da fal�ncia da burguesia enquanto dire��o revolucion�ria, na medida que esta era pilar de sustenta��o do czarismo e estava ligada de forma �ntima ao Imperialismo, o proletariado, com apoio dos camponeses, deveria transformar a revolu��o burguesa em uma revolu��o de conte�do socialista, tomando para si o controle dos meios de produ��o e construindo seu pr�prio poder, atrav�s dos sovietes. Afirma Coggiola que

a burguesia, chegando tarde ao cen�rio hist�rico, � incapaz de dar verdadeira solu��o aos problemas da constitui��o da na��o (democracia e liberta��o nacional): eles s� podem ser resolvidos pela ditadura do proletariado, tomando o comando da na��o oprimida, em especial de suas massas camponesas. Sob a dire��o oper�ria, a revolu��o n�o se det�m na etapa democr�tica, passando a atacar a propriedade privada e a constru��o da ordem socialista. (1984, p. 14)

As tarefas da revolu��o democr�tica seriam incorporadas em um processo maior, de derrocada capitalista, de revolu��o permanente. O proletariado russo n�o precisaria esperar a revolu��o socialista na Europa: tinha possibilidade de acelerar o processo hist�rico, dar um salto, assumindo em sua revolu��o tarefas que a burguesia havia abandonado. N�o era mais de interesse da burguesia a defesa da na��o e de um desenvolvimento capitalista aut�nomo. Ela passara � submiss�o �s burguesias dos pa�ses mais avan�ados economicamente. Com isso fica expressa a lei do desenvolvimento desigual e combinado, �que significa aproxima��o das diversas etapas, combina��o das fases diferenciadas, am�lgama das formas mais arcaicas com as mais modernas� (Trotsky, 1978, p. 25).

Trotsky salienta que os pa�ses atrasados, al�m de terem processos diferentes entre si, n�o repetem de forma mec�nica o caminho dos pa�ses adiantados. Na R�ssia conviviam concentra��es industriais, bastante desenvolvidas, com formas extremamente atrasadas no campo. Al�m disso, a R�ssia, apesar de ser um pa�s de grande retardamento econ�mico, buscava manter uma rela��o imperial com outros pa�ses, ao mesmo tempo que tinha um rela��o de submiss�o em rela��o ao capital financeiro europeu. �Quanto mais mundial fosse o car�ter revestido pela economia capitalista, tanto mais especial seria o car�ter adquirido pela evolu��o dos pa�ses atrasados, onde os elementos retardat�rios se combinavam com os mais modernos elementos do capitalismo (Trotsky, 1979, p. 15-16)�.

Lenin e a revolu��o permanente

Em 1917, ap�s a experi�ncia da revolu��o de fevereiro, Lenin se aproximou dos princ�pios b�sicos da teoria da revolu��o permanente partindo de sua pr�pria teoria de revolu��o. Um exemplo est� na primeira das Cartas de longe, em que Lenin trata de caracterizar a revolu��o de fevereiro e o governo provis�rio que dela foi produto:

S�o os representantes da nova classe que subiu ao poder pol�tico na R�ssia, a classe dos latifundi�rios capitalistas e da burguesia, que j� h� muito dirige economicamente o nosso pa�s e que, tanto no tempo da revolu��o de 1905-1907 como no tempo da contra-revolu��o de 1907-1914 e finalmente � e com particular rapidez � no tempo da guerra 1914-1917, se organizou politicamente de maneira extremamente r�pida, tomando nas suas m�os tanto as administra��es locais como a educa��o p�blica, congressos de todo o G�nero, a Duma, os comit�s industriais de guerra, etc. Esta nova classe estava j� �quase totalmente� no poder em 1917; por isso, bastaram os primeiros golpes contra o czarismo para que ele se desmoronasse, deixando o lugar � burguesia. A guerra imperialista, exigindo uma incr�vel tens�o de for�as, acelerou de tal forma o processo de desenvolvimento da atrasada R�ssia que n�s, de um s� golpe (de fato aparentemente de um s� golpe), alcan�amos a It�lia, a Inglaterra, quase a Fran�a, obtivemos um governo �de coliga��o�, �nacional� (isto �, adaptado para realizar o massacre imperialista e para enganar o povo) e �parlamentar�. (1985a, p. 84)

Segundo Lenin, a primeira etapa da revolu��o (ou a primeira revolu��o), em fevereiro de 1917, n�o trouxe mudan�as profundas na realidade da R�ssia. No entender de Lenin, houve apenas uma mudan�a no arranjo pol�tico entre as classes, na medida que a burguesia deixava de ser apenas uma classe de grande peso no controle da sociedade para se tornar a classe dirigente da pol�tica no pa�s. N�o cabia realizar uma revolu��o burguesa, em seu sentido cl�ssico, que garantiria � R�ssia um per�odo para desenvolver seu capitalismo, na medida que o pa�s havia alcan�ado outros importantes pa�ses europeus. Isso posto, as tarefas da revolu��o burguesa passavam a se inserir no contexto da revolu��o socialista (um princ�pio fundamental da teoria desenvolvida por Trotsky). Isso fica mais claro nas Cartas sobre a t�tica, onde Lenin afirma:

Antes da revolu��o de Fevereiro-Mar�o de 1917 o poder de Estado na R�ssia estava nas m�os de uma velha classe, a saber: a classe da nobreza feudal latifundi�ria (...). Depois desta revolu��o o poder est� nas m�os de outra classe, de uma classe nova: a burguesia. (...) Nesse sentido, a revolu��o burguesa ou democr�tico burguesa na R�ssia est� terminada. (1985b, p. 122)

A revolu��o burguesa colocou como �nica novidade, como antes o havia feito nos pa�ses ocidentais, a ascens�o de um novo regime (e conseq�entemente um novo governo). A situa��o espec�fica do pa�s, no contexto da lei do desenvolvimento desigual e combinado, fez com que o desenvolvimento capitalista n�o viesse a partir de uma mudan�a na classe dominante, mas sim na pr�pria rela��o com o imperialismo.

Considerada � parte, a Revolu��o de fevereiro era uma revolu��o burguesa. Mas como revolu��o burguesa, era demasiadamente tardia, n�o encerrando em si  nenhum elemento de estabilidade. Dilacerada por contradi��es que imediatamente se manifestaram pela dualidade de poder, deveria transformar-se em introdu��o direta � Revolu��o prolet�ria. (Trotsky, 1979, p. 17)

O ciclo da revolu��o burguesa teve como desfecho na R�ssia o que na Europa havia sido seu come�o, abrindo uma nova perspectiva para o proletariado russo � ao qual n�o caberia apenas ser uma fra��o de esquerda em uma Assembl�ia Constituinte, mas organizar seu pr�prio poder. De forma inteiramente nova, a �revolu��o democr�tica� deu origem ao poder (os sovietes) que viria a destru�-la.

A �ditadura democr�tica revolucion�ria do proletariado e do campesinato� j� se realizou (em certa forma e em certa medida) na revolu��o russa, porque esta �f�rmula� prev� apenas a correla��o de classe e n�o uma institui��o pol�tica concreta que realize esta correla��o, esta coopera��o. O �soviete de deputados oper�rios e soldados� � eis a �ditadura democr�tica revolucion�ria do proletariado e do campesinato� j� realizada pela vida. (Lenin, 1985b, p. 122-123)

Como dissemos acima, Lenin passava a corroborar nos princ�pios b�sicos com Trotsky, ao entender a revolu��o de fevereiro como um processo pol�tico (e n�o de transforma��o estrutural da sociedade) e ao definir que esta mesmo revolu��o n�o iniciava um ciclo de desenvolvimento capitalista mas sim colocava, de imediato, a necessidade da passagem do poder para o proletariado, apoiado pelos camponeses. N�o se tratavam pois, de processos isolados entre si, mas de um grande drama, de mais de uma d�cada de dura��o, com reveses e momentos de suspense, que teve seu pr�logo em 1905. Conclui Coggiola (1997, p. 89):

Se o que impediu a tomada do poder pelo proletariado em fevereiro foi s� sua insuficiente consci�ncia e organiza��o (um fator pol�tico), isso significa que n�o existe uma �revolu��o nacional� separada por uma etapa hist�rica da revolu��o prolet�ria (o que significa admitir o princ�pio b�sico da �revolu��o permanente�).

Essa converg�ncia de Lenin � teoria da revolu��o permanente e a converg�ncia de Trotsky ao partido bolchevique foram os dois fatores fundamentais para a tomada do poder pelos sovietes em outubro de 1917.

Trotsky e o bolchevismo

A elabora��o da teoria da revolu��o permanente, a qual dava conta da din�mica do processo revolucion�rio russo, n�o deve servir para esquecer que Trotsky tamb�m cometeu erros em sua vida pol�tica. Da ruptura com Lenin em 1903, at� a fus�o de seu grupo ao Partido Bolchevique em 1917, foram anos de duras diverg�ncias, inclusive com troca de insultos, as quais Trotsky creditou a sua pr�pria imaturidade e ao calor da luta pol�tica. As quase duas d�cadas defendendo a teoria da revolu��o permanente, no entanto, faziam Trotsky ter clareza de que ela seria apenas mais uma entre muitas se n�o houvesse um fator fundamental na revolu��o: o partido oper�rio revolucion�rio.

H� muito estavam superadas as ilus�es na ala direita da social-democracia, os mencheviques; n�o havia mais perspectivas de um partido �nico da classe oper�rio. Principalmente, estava claro que a diverg�ncia sobre a forma de organiza��o do partido n�o era apenas um problema de um suposto sectarismo de Lenin, mas sim um problema da estrat�gia pol�tica e de perspectiva revolucion�ria. Ainda que n�o se pudesse fazer uma transposi��o exata, de alguma forma estavam confirmadas as palavras de Lenin quando fez o balan�o do congresso de 1903: �A divis�o em maioria e minoria � a continua��o direta e inevit�vel da divis�o da social-democracia em revolucion�ria e oportunista� (1984a, p. 138).

Mesmo tendo errado em sua aprecia��o da din�mica da revolu��o, Lenin percebeu desde o in�cio, n�o importasse qual revolu��o acontecesse, que era fundamental construir um partido oper�rio independente, coeso pol�tica e organicamente, e que servisse como ferramenta e dire��o do proletariado. Corretamente afirma Coggiola:

O papel da vanguarda revolucion�ria n�o consiste em inventar uma revolu��o, mas em dar resposta �s alternativas criadas pela situa��o concreta, reconhecendo a ocasi�o prop�cia para tornar consciente o movimento inconsciente da hist�ria, tomando a sua dire��o. (1997, p. 91)

Nesse sentido, ainda que tivesse fundamental import�ncia no debate pol�tico e te�rico em 1917, as formula��es de Trotsky nenhum impacto pr�tico teriam se Lenin n�o tivesse sido �sect�rio� nos anos anteriores.

O mundo ap�s 1917

Da converg�ncia das id�ias e da pr�tica de dois dos maiores marxistas do in�cio s�culo passado, apontando diante das situa��es concretas uma caminho pol�tico revolucion�rio ao proletariado, � produto um fato que ficou quase in�dito na Hist�ria: uma revolu��o prolet�ria. Embora o s�culo tenha sido marcado por in�meras rebeli�es e revolu��es, em nenhum desses momentos esteve presente os dois elementos fundamentais a uma revolu��o socialista: o organismo do poder prolet�rio (os sovietes, no caso da R�ssia) e o partido oper�rio revolucion�rio, deixando a Revolu��o Russa quase que como um fato hist�rico in�dito.

Destacamos isso pois Trotsky e Lenin, diante do atraso do pa�s, tinham claro que o proletariado russo teria dificuldades de se manter no poder, ainda que com apoio dos camponeses. A perman�ncia da revolu��o n�o se daria apenas no ponto de vista das tarefas internas a serem realizadas, mas tamb�m no sentido de impulsionar a revolu��o socialista nos demais pa�ses. Somente a vit�ria do proletariado dos pa�ses ocidentais, �avan�ados�, poderia proteger a R�ssia de uma poss�vel restaura��o capitalista.

Em um primeiro momento, logo ap�s a Revolu��o Russa, pa�ses como Hungria e Alemanha viram levantes oper�rios de imensa magnitude, chegando a tomar o poder (no caso da Hungria) e organizando organismos semelhantes aos sovietes russos. Contudo, a derrota sofrida pelos trabalhadores nesses processos, somado � tentativa dos pa�ses imperialista no sentido de derrotar o poder sovi�tico na R�ssia, fez com que o mundo entrasse em um per�odo de grave crise, da qual s�o produto alternativas burguesas conservadoras e autorit�rias, como o fascismo e o nazismo. No entanto, cabe dizer que o otimismo de Trotsky e Lenin em rela��o � revolu��o mundial n�o foi equivocado. � preciso identificar que os trabalhadores dos demais pa�ses, principalmente na Europa, seja nos processos revolucion�rios, seja em greves e outras lutas, mostrou que o otimismo dos revolucion�rios russos tinha uma base concreta, n�o sendo pois um mero del�rio.

Isso � uma coisa, outra � a aus�ncia de uma dire��o revolucion�ria, experiente e coesa, nesses pa�ses, como havia na R�ssia. A crise na II Internacional, durante a Primeira Guerra, havia fraturado o movimento revolucion�rio mundial de tal forma que os partidos revolucion�rios ou eram muito pequenos ou n�o tinham uma coluna de quadros dirigentes mais experientes. Com isso, a vontade de luta dos trabalhadores em todo o mundo, entusiasmados pela vit�ria dos seus companheiros russos, acabou n�o os levando ao poder, na medida que n�o havia uma dire��o pol�tica.

Outro aspecto importante a ser destacado � o dos processos revolucion�rios (ou de mudan�a social) que tiveram � sua frente dire��es burguesas, com destaque para a Am�rica Latina. Tais processos poderiam servir como argumento para derrubar a teoria de Trotsky, na medida que estaria provado que a burguesia tem condi��es de ser uma aliada estrat�gica em processos revolucion�rios. Tal racioc�nio, no entanto, carece de qualquer fundamenta��o, na medida que um r�pido olhar por esses pa�ses mostra que as burguesias nativas n�o eram de fato aliadas nos processos revolucion�rios, ainda que fossem a dire��o, mas lutavam no sentido de conquistar interesses particulares seus.

N�o estava em jogo a independ�ncia nacional rumo a um desenvolvimento capitalista aut�nomo, mas sim a sustenta��o dos interesses de certos grupos burgueses. Apesar dos discursos que inflamavam massas, de t�midas medidas anti-imperialista, os governos burgueses nacionalistas em nenhum momento afetaram de forma contundente a propriedade privada, muito menos apresentaram qualquer alternativa radical de mudan�a para o pa�s. Estava em jogo para os governos nacionalistas desenvolver os setores da burguesia que lhe davam sustenta��o pol�tica, �s vezes inclusive vendendo interesses a uma pot�ncia imperialista para prejudicar outra.

Havia, portanto, uma contradi��o profunda, na medida que o proletariado organizado n�o conseguia ir al�m de sua dire��o burguesa. Os trabalhadores a cada luta deixavam suas burguesias atordoadas, obrigando-as a dar concess�es, �s vezes derrotando golpes militares e governos ditatoriais, demonstrando que o principal fator dos movimentos nacionalistas n�o era a d�bil burguesia que tentava dirigir o processo, mas sim os trabalhadores organizados e em luta. Fica assim claro que, � exemplo da R�ssia, os trabalhadores poderiam ter tomado o poder, criando seu pr�prio estado e cumprindo as tarefas que a revolu��o burguesa n�o havia cumprido.

Os movimentos nacionalistas t�m sua vig�ncia na medida em que as tarefas democr�ticas e de emancipa��o nacional n�o foram cumpridas; mas esses movimentos, que s�o capazes de formular essas tarefas, s�o incapazes de resolv�-las, o que exige a mobiliza��o revolucion�ria da na��o inteira, que s� a classe oper�ria pode encabe�ar. Lutando contra o inimigo fundamental, o imperialismo, os oper�rios devem proclamar desde o in�cio sua independ�ncia pol�tica em rela��o ao nacionalismo burgu�s, pequeno-burgu�s e militar, e organizar a luta pelo governo oper�rio-campon�s. (Coggiola, 1984, p. 75)

Apenas uma quest�o pol�tica mantinha os trabalhadores ligados � dire��o burguesa, na medida que os partidos e demais organiza��es com hegemonia nos meios prolet�rios tinham como estrat�gia o desenvolvimento capitalista junto � burguesia, reeditando de forma muitas vezes vil e trai�oeira as formula��es te�ricas mencheviques, antes enterradas pela revolu��o de 1917. A estagna��o, portanto, das revolu��es na Am�rica Latina n�o se deu por falta de condi��es objetivas, mas sim por conta da trai��o sistem�tica das v�rias dire��es ou pela aus�ncia de um partido oper�rio revolucion�rio.

A crise de dire��o revolucion�ria

Nesse ponto, coloca-se mais uma das quest�es caras a Trotsky: a crise de dire��o revolucion�ria do proletariado. Escreveu Trotsky que �a condi��o econ�mica necess�ria para a revolu��o prolet�ria j� alcan�ou, no geral, o mais alto grau de matura��o poss�vel sob o capitalismo�, mas �o principal obst�culo no caminho da transforma��o da situa��o pr�-revolucion�ria em situa��o revolucion�ria, � o car�ter oportunista da dire��o do proletariado, sua covardia pequeno-burguesa frente � grande burguesia e os la�os traidores que mant�m com esta, mesmo em sua agonia� (1989, p. 11, 12).

Nesse contexto surgem as chamadas frentes populares, governos em que as dire��es prolet�rias assumem o poder do Estado em alian�a com setores da burguesia (ou representantes destas), para governar a ordem da propriedade privada, estagnando o movimento de massas e desmoralizando a esquerda, abrindo assim caminho para a volta de alternativas conservadoras aos governos. Desvia-se, pois, de seu caminho a luta dos trabalhadores, tirando de sua perspectiva as mudan�as radicais na sociedade (a revolu��o socialista) para coloc�-la no sentido de governar a ordem capitalista.

Hoje mesmo, no Brasil e na Venezuela, � poss�vel ver exemplos dessa crise de dire��o. No primeiro, o principal partido de esquerda da Am�rica Latino, assumindo compromissos com organismos do imperialismo e sua principal pot�ncia, chegou ao governo central, tentando garantir � burguesia a solu��o de uma crise institucional e p�r fim �s lutas que haviam quase derrubado o governo anterior. Na Venezuela, a for�a do proletariado acaba se concentrando no sentido de defender o presidente eleito pelo voto democr�tico, ajudando-o a levar a cabo seu limitado projeto de avan�os sociais, nos marcos da democracia burguesa e da propriedade privada.

Em ambos os casos, n�o h� uma dire��o oper�ria conseq�ente, que consiga armar politicamente os trabalhadores brasileiros e venezuelanos, no sentido de superar os limites da luta meramente institucional. Na Venezuela, principalmente, ao derrotar um golpe bancado pela burguesia local e apoiado pelos Estados Unidos, a for�a dos trabalhadores, seja a popula��o mais pobre, sejam os oper�rios do estrat�gico setor petrol�fero, demonstrou que a teoria da revolu��o permanente, em sua ess�ncia, est� na ordem do dia � falta apenas superar a crise da dire��o pol�tica. As condi��es para que os trabalhadores venezuelanos tomem em suas m�os as r�deas do pa�s est�o maduras, bastante para isso superar, a partir do processo limitado de mudan�as sociais hoje existentes, a dire��o burguesa encabe�ada Ch�vez.

A vit�ria de Lula no Brasil demonstra a fal�ncia de esperar uma fase �democr�tica� e de �desenvolvimento nacional� � infantis ilus�es de reviver, de forma nost�lgica, o nacionalismo de d�cadas atr�s. A for�a econ�mica do Brasil, seu desenvolvimento industrial e cient�fico demonstram o quanto n�o precisamos disso. A op��o da pr�pria burguesia pelo governo do PT, que n�o � um representante direto seu, o demonstra. Lula, eleito pelo voto �democr�tico�,  era uma �ltima alternativa no sentido de evitar uma revolu��o que colocasse o pa�s no caminho do socialismo. Mais do que isso, da mesma forma que Lula serviu de bombeiro nas rebeli�es populares em toda a Am�rica Latina, um governo socialista no Brasil teria posto fogo no caldeir�o que virou o continente nos �ltimos anos.

A perman�ncia de Trotsky

Com isso, est� demonstrado que quando Trotsky afirmava que �as condi��es objetivas necess�rias para a revolu��o prolet�ria n�o est�o somente maduras, mas come�am a apodrecer� (1989, p. 12) novamente estava certo. O mundo est� lan�ado � barb�rie, � pobreza, � degrada��o do homem e do meio ambiente. Nem mesmo as grandes pot�ncias imperialistas conseguem manter sua imagem de estabilidade, se perdendo em crises institucionais ou sendo derrotadas por trag�dias naturais. Fica claro que o proletariado, tomando o poder em suas m�os atrav�s de um organismo pr�prio de poder, distribuindo a economia de um ponto de vista socialista, est� mais do que maduro para construir um estado seu.

As alternativas pol�ticas que hoje se colocam como novas s�o a reedi��o caricata de teoriza��es oportunistas do passado, vistas j� na Revolu��o Russa, que tentam parecer sempre diferentes. O discurso de que � preciso encontrar outro caminho, sem nunca dizer qual caminho � esse, desnuda a fal�ncia da ideologia burguesa de fim da hist�ria (e do socialismo). A fal�ncia do PT brasileiro e a queda catastr�fica da esquerda mais tradicional em todo o mundo mostram, de um lado, o ponto em que chegou a degenera��o do capitalismo e, do outro, o quanto � ilus�rio pensar que � poss�vel ainda apostar em estrat�gias de colabora��o de classe.

A s�ntese da teoria da revolu��o permanente com a do partido bolchevique, vitoriosa na Revolu��o Russa de 1917, est� ainda hoje vigente. A perman�ncia de Trotsky � fato concreto, na medida que ainda n�o foi superada, enquanto alternativa de dire��o revolucion�ria, a IV Internacional (1938) � tentativa de manter viva a heran�a pol�tica e te�rica da Revolu��o Russa e da III Internacional. A perman�ncia de Trotsky � a garantia de vit�rias futuras dos trabalhadores de todo o mundo, superando as dire��es traidoras e as ilus�es nas burguesias �nacionais�.

Qual era o principal divergência entre Trotsky?

Qual era a principal divergência entre Trotsky?

A disputa pela liderança política: Stalin versus Trotsky. Em 1923, aprofunda-se a cisão entre Stálin e Trotsky, provocada pela crescente burocratização de Stálin (ex: Degenerescência burocrática) e por sérias divergências políticas relacionadas a questão da autodeterminação da Geórgia.

Qual a divergência entre Stalin e Trotsky que conduziu a disputa pelo poder?

Resposta. Resposta: Stálin e Trotsky lutavam pelo governo da União Soviética. Apoiado na máquina do partido e do Estado, Stalin acabou vencendo a disputa com Trotsky, que foi afastado do governo e do Partido Comunista e expulso da URSS.

Quais eram as principais divergências entre Josep?

As principais divergências entre Josepth. Enquanto Stalin acreditava numa revolução nacional, Trotsky almejava uma revolução global.

Qual a diferença entre trotskistas e stalinistas?

Trótski desenvolve a ideia de Revolução Permanente e da "Lei do Desenvolvimento Desigual e Combinado". Uma das principais divergências em relação ao pensamento de Stálin se concentra na oposição à defesa do "socialismo em um só país" (ver: divergências entre Stalin e Trotsky).