Quais são os 2 conceitos que Vygotsky acreditava que caracterizam a aprendizagem?

1. Introdução

Entende-se que o diálogo entre os conceitos de mediação e de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) evidenciados pelo autor em questão contribui para a compreensão da postura do professor mediador, entendido como aquele capaz de possibilitar efetivos e significativos processos de aprendizagem no aluno.

O professor, quando media as situações de aprendizagem dos alunos está participando ativamente da construção e do desenvolvimento do conhecimento por parte do aprendente. Vygotsky (1998) destaca que esta mediação realizada pelo professor durante o processo de aprendizagem do aluno irá permitir a este ser criativo, questionador e também ativo neste processo, do qual surgirão sempre novos conhecimentos.

Vygotsky (1998) ressalta, com isso, que o professor tem muita influência no desenvolvimento da aprendizagem, pois ele se apresenta como um interventor ativo da ação pedagógica que resultará em aprendizagem. Assim, o professor mediador surge como uma figura de suma importância para o desenvolvimento do aluno e de seu aprendizado, levando-o a interagir com o meio na busca de um conhecimento contextual elaborado a partir das trocas sociais.

Este artigo visa refletir acerca da aprendizagem mediada pelo professor segundo a abordagem de Vygotsky (1998, 2007). Por meio de um estudo qualitativo de cunho teórico, buscou-se analisar os conceitos de mediação e de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), para então entender a figura do professor mediador e suas relações com os processos de aprendizagem dos alunos.

Assim, considerando a importância de serem desenvolvidos, no campo educacional como um todo, processos efetivos de aprendizagem e, para atingir o objetivo proposto, este estudo irá enfocar o conceito de mediação e sua relação com o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) para então trazer reflexões sobre o lugar ocupado pelo professor como mediador de processos de aprendizagem.

2. Metodologia

Metodologicamente, trata-se de um estudo de cunho teórico, sendo que a discussão do mesmo se formula a partir de estudos já realizados por outros teóricos sobre a temática. Conforme Gil (2010, p. 30), o estudo ou pesquisa teórica traz como principal vantagem “[...] permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Tal vantagem existe porque o estudo teórico tem sua elaboração em trabalhos já elaborados, promovendo um olhar mais específico a uma questão norteadora.

Nesta direção, Marconi e Lakatos (2009, p. 44) destacam um estudo teórico “[...] exige como premissa o levantamento do estudo da questão que se propõe a analisar e solucionar”, sendo que os autores consideram, com isso, o estudo teórico como um passo inicial de qualquer pesquisa científica.

Deste modo, ao promover o objetivo de realizar um estudo acerca da aprendizagem mediada pelo professor segundo a abordagem de Vygotsky, este trabalho buscou as fontes diretas do próprio autor e, portanto, as obras principais que embasaram as reflexões foram “Pensamento e Linguagem” (Vygotsky, 1998) e “A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores” (Vygotsky, 2007). Salienta-se que alguns comentadores foram mencionados por contribuírem e enriquecerem a discussão, tais como Moreira (2015), Oliveira (1998) e Rego (2002). A partir destas referências, foram destacados os conceitos de mediação e de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) para construir a reflexão sobre o professor mediador da aprendizagem.

2. Metodologia

Metodologicamente, trata-se de um estudo de cunho teórico, sendo que a discussão do mesmo se formula a partir de estudos já realizados por outros teóricos sobre a temática. Conforme Gil (2010, p. 30), o estudo ou pesquisa teórica traz como principal vantagem “[...] permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”. Tal vantagem existe porque o estudo teórico tem sua elaboração em trabalhos já elaborados, promovendo um olhar mais específico a uma questão norteadora.

Nesta direção, Marconi e Lakatos (2009, p. 44) destacam um estudo teórico “[...] exige como premissa o levantamento do estudo da questão que se propõe a analisar e solucionar”, sendo que os autores consideram, com isso, o estudo teórico como um passo inicial de qualquer pesquisa científica.

Deste modo, ao promover o objetivo de realizar um estudo acerca da aprendizagem mediada pelo professor segundo a abordagem de Vygotsky, este trabalho buscou as fontes diretas do próprio autor e, portanto, as obras principais que embasaram as reflexões foram “Pensamento e Linguagem” (Vygotsky, 1998) e “A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores” (Vygotsky, 2007). Salienta-se que alguns comentadores foram mencionados por contribuírem e enriquecerem a discussão, tais como Moreira (2015), Oliveira (1998) e Rego (2002). A partir destas referências, foram destacados os conceitos de mediação e de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) para construir a reflexão sobre o professor mediador da aprendizagem.

3.1 Mediação

Para compreender a aprendizagem mediada pelo professor segundo a abordagem de Vygotsky, torna-se fundamental estudar o próprio conceito de mediação e, para tanto, é necessário enfatizar, em primeiro lugar, que Vygotsky (1998, 2007) não acredita no desenvolvimento cognitivo dissociado do meio em que o sujeito está inserido. Ou seja, o contexto social, histórico e cultural influencia diretamente no desenvolvimento dos sujeitos e, portanto, do aluno. Pode-se dizer, a partir da leitura de Vygotsky (2007), que esse contexto sócio-cultural não apenas influencia o desenvolvimento dos sujeitos, mas sim que o mesmo constitui os próprios sujeitos, sem ele não há sujeitos.

Deste modo, Rego (2002, p. 95) declara que a abordagem vygotskyana compreende o desenvolvimento humano “através de trocas recíprocas, que se estabelecem durante toda a vida, entre indivíduo e meio, cada aspecto influindo sobre o outro”. Entretanto, para a autora, o sujeito na abordagem vygotskiana apresenta-se como um sujeito ativo que reconstrói seu mundo através de suas relações e não como um sujeito que apenas recebe tudo pronto, como se fosse uma tábula rasa ou, ao contrário, como um sujeito que tudo sabe. Vygotsky (2007) acredita, assim, que o homem atua sobre o conhecimento e se envolve em um fazer sobre o mesmo, ressignificando-o internamente.

Portanto, o sujeito, a partir de suas relações sociais e culturais, constrói a si mesmo e seu conhecimento, o qual recebe estímulo constante do mundo externo, podendo este ser representado pelo professor ou por outros personagens das relações sociais. Destaca-se, assim, o quanto o ambiente e os estímulos advindos das trocas sociais podem proporcionar o desenvolvimento do sujeito, bem como sua aprendizagem.

Para Vygotsky (1998) a mediação se apresenta como a ação humana, a qual se dá por meio de relações sócio históricas ou histórico-culturais, ou seja, a mediação, em qualquer âmbito, vem sempre demarcar que o outro, entendido como as relações externas ao sujeito, acaba sempre constituindo-o e fornecendo subsídios para a construção subjetiva e desenvolvimento psicológico. Deste modo, o que somos é sempre produto de nossas relações e do meio onde estamos inseridos, bem como de nossa ação sobre isso.

A mediação para Vygotsky (2007) se dá a partir de três aspectos: signo, palavra e símbolo. O autor conceitua signo como “criações artificiais; estruturalmente, são dispositivos sociais e não orgânicos ou individuais” (Vygotsky, 2007, p. 93). Os signos, portanto, apresentam-se como dispositivos utilizados na interação social, fazendo parte do contexto social e cultural ao qual o indivíduo se encontra como participante.

Para corroborar, Oliveira (1998, p. 30) aponta que “signos podem ser definidos como elementos que representam ou expressam outros objetos, eventos ou situações”, ou seja, os signos são tudo aquilo que faz parte da cultura do homem, são aportes que servem para construir o homem e sua ação diante do mundo que o cerca.

O segundo aspecto que constitui a mediação para Vygotsky é a palavra, que:

[...] não é apenas um meio para compreender os demais, senão também a si mesmo [...] o pensamento em conceitos revela os profundos nexos que subjazem na realidade, permite conhecer as leis que a regem, a ordenar o mundo que se percebe com ajuda de uma rede de relações lógicas. [...] Ao conhecer com a ajuda das palavras, que são os signos dos conceitos, a realidade concreta, o homem descobre, no mundo visível para ele, as leis dos nexos que contém (Vygotsky, 1996, p. 70-71. trad. nossa).

O terceiro aspecto a constituir a mediação é o símbolo, que Vygotsky destaca como uma criação do homem que faz parte da cultura, sendo assim, esta atividade simbólica influencia diretamente na construção do sujeito, bem como de seus próprios comportamentos, como nos afirma o autor: “Nossa análise atribui à atividade simbólica uma função organizadora específica que invade o processo do uso de instrumento e produz formas fundamentalmente novas de comportamento” (Vygotsky, 2007, p. 32-33).

Partindo destas constatações, pode-se citar um dos pilares da teoria de Vygotsky (2007): a noção de que são os processos sociais de interação que dão origem aos processos mentais superiores do indivíduo. Processos mentais superiores, para o autor, são: o pensamento, a linguagem e o comportamento volitivo e são assim chamados por caracterizarem, de fato, o humano e distanciá-los dos animais.

Sendo assim, pode-se afirmar que estes processos mentais superiores se desenvolvem por meio da socialização, portanto, por meio da mediação. Vygotsky (2007) fala em funções psicológicas superiores para distanciar das funções elementares, que estariam presentes desde os animais. O autor afirma que "as funções elementares têm como característica fundamental o fato de serem total e diretamente determinadas pela estimulação ambiental” (Vygotsky, 2007, p. 53). A socialização, de fato, surge como o grande diferencial humano, como uma questão que, historicamente, tornou o homem aquele ser capaz de estabelecer relações e se desenvolver psicologicamente por meio delas.

E, tendo em vista que toda socialização é mediada por instrumentos e signos, é importante referir que instrumentos significam tudo que o homem criou através do domínio da natureza. E signo, tal como visto acima, são os dispositivos sociais, produzidos socialmente. Os instrumentos e os signos auxiliam na internalização de uma atividade, ou seja, a reconstruir internamente uma operação externa.

Na figura a seguir, busca-se demonstrar o que foi exposto nos parágrafos acima.

Quais são os 2 conceitos que Vygotsky acreditava que caracterizam a aprendizagem?

as autoras.

Fundamental frisar que, segundo Vygotsky (2007), os processos mentais superiores têm sempre origem em processos sociais; isto é, as funções mentais superiores somente surgem com a socialização. Fica evidente, portanto, que o autor coloca uma inversão importante: não existe nenhum desenvolvimento psicológico anterior que pudesse tornar o sujeito capaz de socializar; a socialização é relação primeira a construir o desenvolvimento psicológico. Por este viés, somente existe humanidade quando existe socialização.

Vygotsky (2007) acrescenta que relações sociais e interações se convertem em funções psicológicas superiores sempre por meio da mediação. Assim, a conversão de relações sociais em funções mentais nunca é direta, mas sempre mediada. Mediar seria trazer as condições para processos de internalização, ou seja, para os processos de reconstrução interna de uma operação externa. Mediar demarca, na teoria vygotskyana, que não seríamos sujeitos se não fosse por meio do outro e da cultura.

Moreira (2015, p. 110) afirma que “a interação social é, portanto, na perspectiva vygotskyana, o veículo fundamental para a transmissão dinâmica (de inter para intrapessoal) do conhecimento social, histórico e culturalmente construído”. Fundamental, portanto, reter a noção de que a conversão de relações sociais em processos psicológicos internos nunca é natural, mas sempre mediada pelo outro.

Vygotsky (1998) defende que, para que haja interação ou troca de informações, se fazem necessárias ao menos duas pessoas. Neste intercâmbio de significados, é essencial a fala e a linguagem, elementos importantes que marcam a interação entre o indivíduo e o contexto em que está inserido.

A fala auxilia o sujeito, desde criança, a criar conceitos mais abstratos, pois é a partir do desenvolvimento e da estruturação da fala que a criança vai se distanciando das funções elementares e se aproximando cada vez mais do desenvolvimento dos processos mentais superiores. Quanto mais as pessoas se relacionam, mais funções mentais surgem, mais ocorre um desenvolvimento psicológico efetivo e mais as memórias também podem se ampliar.

Com relação à fala, Vygotsky (2007, p. 12) diz:

Antes de controlar o próprio comportamento, a criança começa a controlar o ambiente com a ajuda da fala. Isso produz novas relações com o ambiente, além de uma nova organização do próprio comportamento. A criação dessas formas caracteristicamente humanas de comportamento produz, mais tarde, o intelecto e constitui a base do trabalho produtivo: a forma especificamente humana do uso de instrumentos.

Vygotsky (2007) aborda também a importância da fala da criança quando esta tem um objetivo a ser alcançado ou um problema a ser solucionado. “As crianças não ficam simplesmente falando do que elas estão fazendo, sua fala e ação fazem parte de uma mesma função psicológica complexa” (Vygotsky, 2007, p. 13). Sendo assim, a fala ajuda a criança na construção de soluções dos problemas que chegam até ela, ajudando-a, inclusive, a conseguirem estabelecer outras ou novas relações, ampliando, portanto, seus processos de socialização.

Além disso, com relação a solução de problemas, cabe acrescentar que, se a criança é colocada frente a um problema mais complexo, onde a solução não é tão simples, mais ainda ela vai precisar fazer uso da fala, caso contrário, a criança pode inclusive não resolver a questão em função da privação do uso da mesma. “Às vezes, a fala adquire uma importância tão vital que, se não for permitido seu uso, as crianças pequenas não são capazes de resolver a situação” (Vygotsky, 2007, p. 13).

Podemos observar assim que através da fala a criança se expressa e exterioriza seus processos internos, mas também estes são constituídos pela primeira. Deste modo, conclui-se este tópico salientando que o desenvolvimento humano se dá sempre do meio externo para o interno, através do conceito de mediação.

3.2 Professor Mediador e a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)

A mediação pelo professor será realizada por meio da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que é definida por Vygotsky (2007) como sendo a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do sujeito e o nível potencial. É a distância entre o que o aluno sabe fazer e o que o aluno pode aprender a fazer através da mediação. Moreira (2015, p. 114) afirma que:

A Zona de Desenvolvimento Proximal define as funções que ainda não amadureceram, mas que estão no processo de maturação. É uma medida do potencial de aprendizagem; representa a região na qual o desenvolvimento cognitivo ocorre.

Mais especificamente, a diferença ou o espaço existente entre o que o sujeito é capaz de fazer por si só e o que ele é capaz de fazer por intermédio do professor é chamada de Zona de Desenvolvimento Proximal. Portanto, se uma criança está em processo de alfabetização, de nada valerá ensinar-lhe algo que está aquém, como o alfabeto, nem o que está além, como conjugação de verbos. O professor mediador deverá ser capaz de identificar o nível em que se encontra o aprendizado desta criança e lhe oferecer um aprendizado próximo, porém acima do seu nível já consolidado para que ela tenha a chance de amadurecer a partir desta mediação e conquistar outros níveis de aprendizagem.

Importante acrescentar que a Zona de Desenvolvimento Proximal “é dinâmica, está constantemente mudando” (Moreira, 2015, p. 114), afinal, não há fixidez nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento. Por este motivo, trata-se de um conceito complexo, não visível, flexível e bastante dinâmico. Além disso, cabe acrescentar, como característica importante da Zona de Desenvolvimento Proximal, que cada sujeito se encontra sempre em uma ZDP específica, daí considerar também a dificuldade de o professor se colocar como ser agente de mediação em uma sala de aula, por exemplo, frequentada por alunos em diversas ZDP diferentes.

No entanto, trata-se de um conceito que pode contribuir muito para educadores. Vygotsky (2007, p. 98) explica que:

A Zona de Desenvolvimento Proximal provê psicólogos e educadores de um instrumento através do qual se pode entender o curso interno do desenvolvimento. Usando esse método podemos dar conta não somente dos ciclos e processos de maturação que já foram completados, como também daqueles processos que estão em estado de formação, ou seja, que estão apenas começando a amadurecer e a se desenvolver. Assim a Zona de Desenvolvimento Proximal permite-nos delinear o futuro imediato da criança e seu estado dinâmico de desenvolvimento, propiciando o acesso não somente ao que já foi atingido através do desenvolvimento, como também àquilo que está em processo de maturação.

Portanto, são inúmeras as possibilidades de ajuda que podem ser oferecidas por um professor na Zona de Desenvolvimento Proximal de um sujeito em processo de aprendizagem, sendo que uma dessas possibilidades, por exemplo, é a imitação das atitudes de um adulto, onde a criança observa as atitudes dos adultos procurando imitá-las em seguida. Ou seja, nem todo processo de aprendizagem decorre de atitudes diretivas de um professor.

Vygotsky (2007), em seu livro “A formação social da mente”, traz uma reflexão sobre o momento em que se dá a aprendizagem na vida da criança. O autor chama atenção para o fato de a aprendizagem não iniciar somente em idade escolar, mas que a criança começa a aprender muito antes deste período, haja vista que toda pessoa tem uma história prévia e, portanto, processos de socialização singulares desde o nascimento. Sendo assim, a criança se defronta com algumas experiências de aprendizagem antes mesmo de ela entrar em contato com o assunto de maneira mais formal por meio do espaço escolar, ou seja, desde o primeiro dia de vida da criança, aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados.

No entanto, aprendizado não é desenvolvimento, mas o aprendizado quando bem organizado resultará no desenvolvimento mental da criança. Afinal, para Vygotsky (2007), a aprendizagem pode sempre levar ao desenvolvimento, não o contrário. Aqui cabe retomar, minimamente, o que fora constatado no item anterior, de que o desenvolvimento psicológico e cognitivo somente é possível quando ocorre internalização de sistemas sociais e culturais como a linguagem, signos e símbolos. Então, primeiramente, é preciso que haja uma aprendizagem – sempre mediada – destes sistemas sociais e, da internalização destes, decorre o desenvolvimento. Por isso, afirma-se, categoricamente, que em Vygotsky (2007), primeiro ocorre sempre a aprendizagem, depois – e decorrente dela – ocorre o desenvolvimento psicológico. Quanto a estas relações, Vygotsky (2007, p. 104) traz uma importante ressalva:

[...] embora o aprendizado esteja diretamente relacionado ao curso do desenvolvimento da criança, os dois nunca são realizados em igual medida ou em paralelo. O desenvolvimento das crianças nunca acompanha o aprendizado escolar da mesma maneira como uma sombra acompanha o objeto que o projeta. Na realidade, existem relações dinâmicas altamente complexas entre os processos de desenvolvimento e de aprendizado, as quais não podem ser englobadas por uma formulação hipotética imutável.

Assim, pode-se afirmar que o aprendizado torna possível o desenvolvimento cognitivo, além de tornar possível também todo nosso conhecimento coerente. E, nesta direção, pode-se dizer que o papel do professor é fundamental na construção do aprendizado, pois é ele quem pode impulsionar aprendizagens e, portanto, desenvolvimento psicológico e cognitivo dos sujeitos aprendentes.

Conforme Vygotsky (1998), o papel do professor é o de ser um mediador apresentando-se como um importante parceiro no decorrer do processo de ensino e aprendizagem, alguém que motiva o aluno para a construção de seu próprio aprendizado e de seu ser.

Ainda, segundo Vygotsky (2007), o professor é aquela pessoa que organiza o ambiente onde se forma o processo de aprendizagem, pois é no ambiente de sala de aula onde o aluno elabora e constrói seu aprendizado. Este espaço se torna parte importante neste processo de aprender, cabendo ao professor torná-lo o mais agradável possível, sendo que o ambiente e as situações geradas irão produzir conhecimentos, caracterizando a figura do professor como um mediador e criador de situações de aprendizagem.

Matui (1995) destaca que o ato de mediar é algo que está sempre em processo e que a mediação é o que liga o aluno ao objeto de estudo, ou seja, mediar se torna ato fundamental para construir um elo de ligação entre o aluno e aquele assunto ou conteúdo que se pretende que seja aprendido.

Quando o foco está na mediação realizada pelo professor com relação ao aluno na escola, pode-se pensar em estímulos externos com a intenção de construir conhecimento. Estímulos estes que Luria (1988, p. 86) explica:

O que quer que percebamos do mundo é percebido de maneira estruturada, isto é, como um padrão de estímulos. Nós reagimos e nos adaptamos a esses estímulos externos e, na realidade, todo o nosso comportamento equivale essencialmente a alguma acomodação mais ou menos adequada às diversas estruturas do mundo exterior.

Nesta direção, Wittgenstein (1994) acrescenta que “os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo”, ou seja, quanto mais limitada minha linguagem ou a mediação do professor, mais limitada também será minha aprendizagem ou a relação com o professor. Contudo, Rego (2002, p. 116), faz um alerta quanto às estratégias necessárias ao professor:

Mas para que ele possa intervir e planejar estratégias que permitam avanços, reestruturação e ampliação do conhecimento já estabelecido pelo grupo de alunos, é necessário que conheça o nível efetivo das crianças, ou melhor, as suas descobertas, hipóteses, informações, crenças, opiniões, enfim, suas “teorias” acerca do mundo circundante. Este deve ser considerado o “ponto de partida”. Para tanto, é preciso que, no cotidiano, o professor estabeleça uma relação de diálogo com as crianças e que crie situações em que elas possam expressar aquilo que já sabem. Enfim, é necessário que o professor se disponha a ouvir e notar as manifestações infantis.

Para tal é necessário ao professor estabelecer relações de interação com os alunos, que o mesmo não se mantenha distante do aluno, mas que possa valorizar suas vivências e experiências anteriores e tudo aquilo que o aluno traz de fora do contexto escolar, mas que pode, nele, fazer e construir novos sentidos e aprendizagens.

4 Discussão

A partir dos tópicos relacionados à mediação e à Zona de Desenvolvimento Proximal discutidos acima, percebe-se a importância de o professor estar sempre presente durante as atividades realizadas pelos alunos e, além da presença, ele precisa ser participante do processo de aprendizagem dos alunos. É fundamental que o professor possa ser o sujeito que realiza a mediação entre o que o aluno está aprendendo e o que ele irá aprender e entre o que está sendo oferecido ao aluno e o que ele irá transformar em novos conhecimentos.

Por meio do conceito de mediação e de Zona de Desenvolvimento Proximal, entende-se o professor como aquela figura que, na situação de aprendizagem, representa o contexto social e cultural capaz de trazer sempre outros elementos que possam ser internalizados pelos estudantes e, consequentemente, mobilizar não apenas aprendizagens, mas também e principalmente, desenvolvimento psicológico e cognitivo. Por meio da mediação do professor, na Zona de Desenvolvimento Proximal, pode-se construir saberes, pode-se despertar interesses diversos, pode-se contribuir para o desenvolvimento de novas capacidades, pode-se alavancar outros processos de socialização e, ainda, contribuir para o desenvolvimento de novas relações humanas.

Entende-se, assim, que o conceito de mediação desenvolvido por Vygotsky (1998), embasado na relevância das interações e das trocas sociais, se torna um importante conceito capaz de possibilitar a aprendizagem e o desenvolvimento psicológico e cognitivo nos sujeitos aprendentes.

Assim, por meio deste estudo, pode-se afirmar que a aprendizagem decorrente de processos de mediação é aquela que se dá de modo efetivo e marcante para o sujeito, uma vez que, quando bem organizada e conduzida, resultará em desenvolvimento psicológico, social e cognitivo, pois o desenvolvimento é algo que se dá sempre de fora para dentro, ou seja, por meio das relações e internalizações realizadas nas trocas sociais.

Além disso, cabe considerar que, para que o professor se torne o mediador dos processos de aprendizagem, é necessário além de querer ser o mediador, ter capacidade de desenvolver estratégias educacionais. Por conseguinte, para que isso aconteça, o mesmo precisa conhecer os sujeitos, os alunos inseridos em sala de aula os quais fazem parte do contexto educacional.

Rego (2002) acrescenta que é o professor quem deve promover o diálogo, a cooperação e troca de informações mútuas, bem como o confronto de pontos de vista divergentes na escola. Para que estes momentos sejam mais ricos possíveis, também é importante que o grupo tenha características heterogêneas, pois, quanto maior a diversidade no grupo, maior será o compartilhamento de experiências mediado por este professor.

Vygotsky (1998) questiona, além disso, a forma como a escola desempenha o papel de agência educativa, bem como o professor no papel de mediador nesse processo. Salienta-se ainda que para que o ensino seja bom, este deve se adiantar ao desenvolvimento. Sendo assim, podemos refletir que ensinar ao aluno aquilo que ele já domina ou algo que está muito além da sua capacidade de percepção não tem sentido, é um ensino desnecessário e sem eficácia.

Deste modo, o professor mediador surge como uma figura de suma importância para o desenvolvimento do aluno e de seu aprendizado, levando-o a interagir com o meio na busca de um conhecimento contextual elaborado a partir das trocas sociais. Além disso, considera-se que os conceitos de mediação e de Zona de Desenvolvimento Proximal oferecem subsídios fundamentais para o professor refletir sobre os processos de ensino na atualidade, bem como estabelecer as bases para sua atuação pedagógica voltada para uma aprendizagem efetiva e contextual.

5 Considerações Finais

Considera-se essenciais os tópicos destacados neste trabalho, pois levam a entender que, para o professor ser o mediador conforme os conceitos de Vygotsky (1998, 2007), ele precisa fazer mais, além de mediar, ele precisa também conhecer o aluno, o meio e o contexto no qual a aprendizagem acontece, bem como conseguir criar um ambiente favorável para que ocorram as trocas sociais e simbólicas. Assim, por meio deste estudo, pôde-se evidenciar a importância do papel do professor como mediador dos processos de aprendizagem, portanto, como figura fundamental para desenvolve-la nos processos de ensino.

Para Vygostky (2007), o conhecimento é sempre construído no social e, neste, é que pode ser transmitido e reelaborado. Fica destacada a importância da figura do professor como um interlocutor que, por meio do diálogo, irá trazer as condições para socializar os sujeitos aprendentes, bem como possibilitar a construção de novos saberes que, consequentemente, levarão a novos processos de desenvolvimento psicológico e cognitivo.

O professor, ao colocar-se como mediador de aprendizagem, permite ampliar os intercâmbios com outros sistemas simbólicos e perspectivas socioculturais, contribuindo não apenas para o desenvolvimento de novos aspectos cognitivos e psicológicos nos alunos, mas, principalmente, de novas relações com o sentido da própria humanidade.

Por fim, considera-se que este estudo sobre a aprendizagem mediada pelo professor, amparado pela abordagem de Vygotsky, se constitui de grande valia para o ensino, pois poderá servir como subsídio para a construção de futuras práticas pedagógicas voltadas para a qualificação dos processos de aprendizagem.

Quais são os 2 conceitos que Vygotsky acreditava que caracterizavam a aprendizagem?

Para Vygotsky, há dois tipos de elementos mediadores: os instrumentos e os signos - representações mentais que substituem objetos do mundo real. Segundo ele, o desenvolvimento dessas representações se dá sobretudo pelas interações, que levam ao aprendizado.

Quais são os principais conceitos da teoria de Vygotsky?

A teoria de Vygotsky aponta que a criança nasce com funções psicológicas elementares e que com o aprendizado da cultura e as experiências adquiridas, essas funções tornam-se funções psicológicas superiores, que são o comportamento consciente, a ação proposital, capacidade de planejamento e pensamento abstrato.

Como Vygotsky define a aprendizagem?

A aprendizagem é uma experiência social, mediada pela utilização de instrumentos e signos, de acordo com os conceitos utilizados pelo próprio autor. Um signo, dessa forma, seria algo que significaria alguma coisa para o indivíduo, como a linguagem falada e a escrita.

Qual é a teoria que Vygotsky defende?

Lev Semenovitch Vygotsky enfatizava o papel da linguagem e do processo histórico social no desenvolvimento do indivíduo. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.