Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?

Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?
Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?

Reconfigura��o do trabalho e impactos para o trabalhador

La reconfiguraci�n del trabajo y el impacto para el trabajador

Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?

 

Licenciada em Educa��o F�sica pela Universidade Federal de Goi�s

Mestranda em Educa��o pela Universidade Federal de Goi�s � Regional Jata�

(Brasil)

Idayany Ara�jo Cardoso de Almeida

 

Resumo

          Este trabalho teve como objetivo compreender como o trabalho, a reconfigura��o da produ��o e a precariza��o se manifestam. Para tanto realizamos um estudo bibliogr�fico de car�ter te�rico, a partir de autores que discutem dentro da perspectiva marxista. Levantamos algumas categorias para nos auxiliar nesse processo, sendo elas: trabalho, trabalho alienado, precariza��o, fordismo/taylorismo, toyotismo, keynesianismo, neoliberalismo e crise estrutural do capital. Verificamos que o trabalho alienado influencia de alguma forma todas as esferas da pr�xis social. Urge o enfrentamento dos modelos de gest�o do Estado e da produ��o que desumanizam.

          Unitermos

: Trabalho. Neoliberalismo. Toyotismo. Precariza��o do trabalho.

Resumen

          Este estudio tuvo como objetivo comprender c�mo se manifiesta el trabajo, la reconfiguraci�n de la producci�n y la precarizaci�n. Por lo tanto, se realiz� un estudio bibliogr�fico de car�cter te�rico, de autores que discuten dentro de la perspectiva marxista. Hemos planteado algunas categor�as para ayudarnos en este proceso, que son: trabajo, trabajo alienado, precarizaci�n, fordismo/taylorismo, toyotismo, keynesianismo, neoliberalismo y crisis estructural del capital. Nos encontramos con que el trabajo alienado influye de alguna manera en todas las esferas de la praxis social. Se hace necesario confrontar los dos modelos de gesti�n del Estado y de la producci�n que deshumanizan

          Palabras clave

: Trabajo. Neoliberalismo. Toyotismo. Precarizaci�n laboral.

Recep��o: 29/03/2016 - Aceita��o: 01/06/2016

1� Revis�o: 20/05/2016 - 2� Revis�o: 29/05/2016

 
Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - A�o 21 - N� 217 - Junio de 2016. http://www.efdeportes.com/

Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?

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Introdu��o

    Este ensaio discute aspectos centrais da reconfigura��o do mundo do trabalho e alguns impactos no trabalhador. A quest�o que nos conduz �: como operaram as reconfigura��es dos modelos de gest�o e produ��o no capitalismo e quais seus principais impactos para o trabalhador?

    O trabalho existente sob o modelo capitalista de organiza��o da economia manifesta uma face destrutiva e centrado na explora��o do trabalho como elemento de acumula��o de lucros. O trabalhador converte-se na mais barata das mercadorias, desvalorizando-se inversamente proporcional � valoriza��o do capital (Marx, 2010).

    Para compreendermos estes processos no mundo contempor�neo, utilizamos das ideias de Marx (2010), Antunes (2009), Miranda (2004) e Anderson (1995).

    Discutimos ent�o as caracter�sticas do fordismo/taylorismo e keynesianismo assim como suas rela��es na esfera da produ��o, na esfera pol�tica e na esfera do Estado. Depois tratamos o momento de crise estrutural do capital como elemento importante para a compreens�o da reestrutura��o produtiva toyotista e do neoliberalismo no �mbito da pol�tica.

    Percebemos que h� em curso um processo de desqualifica��o do trabalho e do trabalhador sob o discurso da flexibiliza��o e qualifica��o. As reconfigura��es do modelo toyotista revelam-se como um importante mecanismo de superexplora��o e apropria��o da subjetividade do trabalhador.

A organiza��o do trabalho a partir do modelo fordista/taylorista de produ��o

    No in�cio do s�culo XX se desenvolveu o modelo de organiza��o de trabalho conhecido como fordismo, nome proveniente do seu precursor Henry Ford. Logo houve a uni�o da linha de produ��o fordista com os m�todos de organiza��o cient�fica do trabalho de Taylor. Surge ent�o a primeira caracter�stica do modelo fordista/taylorista: a produ��o em massa. (Peres, 2000)

    O grande objetivo deste padr�o de produ��o em massa foi a tentativa de elevar as taxas de lucro atrav�s da domina��o do processo de trabalho sobre a din�mica da acumula��o capitalista. A produ��o em massa garantia essa possibilidade, pois se reduzia o custo de produ��o e aumentaria a produtividade impulsionando enormemente as taxas de lucro.

    No entanto o fordismo/taylorismo ultrapassou a din�mica do processo produtivo, e influenciou diretamente as condi��es de trabalho e consequentemente a vida dos trabalhadores, pois a produ��o em massa constituiu na expans�o do n�mero de empregos, mas dentro de uma l�gica explorat�ria e reducionista.

    A segunda caracter�stica marcante da ind�stria automobil�stica fordista/taylorista foi o desenvolvimento das esteiras de montagem, que possibilitaram a produ��o de carros em s�rie atrav�s do parcelamento de fun��es e tarefas. (Peres, 2000)

    Essas duas caracter�sticas apontadas imp�em ao trabalho condi��es de intensifica��o da precariza��o. O car�ter intelectual do trabalho artesanal � retirado do trabalhador, restando-lhe apenas a for�a f�sica. Os complexos conhecimentos sobre mec�nica que alguns possu�am � substitu�do por resist�ncia muscular (e psicol�gica), pois o processo de produ��o se limita aos ilimitados gestos repetitivos, sem varia��o.

    Um exemplo � o filme �Tempos modernos� de Charlie Chaplin, em que mostra a vida de um trabalhador nestas estruturas do fordismo/taylorismo, ap�s tanto trabalhar de forma repetitiva, apertando porcas de parafusos, ele tem um colapso nervoso. O interessante desse filme � que n�o se mostra/aparece qual era o produto que estava sendo fabricado, a �nica pista que temos � que este produto possui porcas. Mas para o trabalhador n�o importa qual seria o produto final, pois a fun��o dele em todo o processo � apenas uma.

Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?

Charlie Chaplin em Tempos modernos (1936)

    Neste momento podemos citar uma terceira caracter�stica desse modelo de produ��o. A linha de montagem era composta por uma esteira rolante em que os trabalhadores permaneciam uns ao lado dos outros ligando as atividades de um para o outro, mas somente isso n�o estava sendo suficiente para o aligeiramento do processo de produ��o, pois as v�rias pe�as dos autom�veis eram terceirizadas de fabricas especializadas e por vezes n�o se adaptavam ao produto. Dessa forma, Ford padronizou essas pe�as por meio da compra das fabricantes dessas pe�as, tornando a f�brica fordista independente de outras f�bricas. (Peres, 2000)

    O advento do fordismo/taylorismo trouxe profundos impactos para toda a organiza��o industrial do s�culo XX, bem como para as mais variadas esferas da vida social1.

    Com isso, as condi��es de trabalho cada vez mais se tornavam prec�rias, pois a competi��o acirrada entre empresas resultava na m�xima intensifica��o da precariza��o do trabalho dos funcion�rios para aumentar a taxa de lucro da empresa.

    Esta t�tica de explora��o do trabalho atrav�s da desqualifica��o e precariza��o do trabalho fragmentando-o em v�rias fra��es causou uma revolta na classe trabalhadora, resultando em uma �crise estrutural do capital travestido sob a veste do fordismo� (Peres, 2000, p. 3).

O desenvolvimento do sistema ideol�gico e pol�tico neoliberal e a reconfigura��o do modelo de gest�o da produ��o

    Para compreendermos essa reestrutura��o da produ��o, o capital financeiro, � preciso entender sobre o sistema ideol�gico/pol�tico de domina��o do capital designado como neoliberalismo. De acordo com Miranda (2004) o neoliberalismo nasce como um mecanismo ideol�gico, uma corrente de pensamento do per�odo inicial do s�culo XX. Seu principal idealizador foi o austr�aco Ludwing Von Misses (1881-1973), mas somente com Friedrich Von Hayek (1899-1992) que o neoliberalismo desenvolve-se a partir de um car�ter te�rico, pois ele publica a obra �O caminho da servid�o� em 1944, na qual a sua vers�o em portugu�s vem ao Brasil no ano de 1946. Com essa publica��o o neoliberalismo ganha uma grande for�a, pois se torna refer�ncia documental para o desenvolvimento neoliberal global.

    O neoliberalismo � uma rea��o te�rica e pol�tica contra o Estado intervencionista e de bem-estar social. Para o neoliberalismo, o Estado n�o deve intervir nas a��es e rea��es do mercado. Um dos grandes inimigos dos neoliberais era o conjunto formado pelo Estado de bem-estar social e pela interven��o estatal na economia, identificando-se com a teoria Keynesiana. (Miranda, 2004. p. 41)

    A teoria Keynesiana adv�m das posi��es de John Maynard Keynes (1883-1946) um professor da Universidade de Cambridge da d�cada de 1930 e que desenvolveu uma pol�tica de controle da economia atrav�s do Estado a partir da ado��o de pol�ticas sociais permanentes do Estado Capitalista para apoiar e garantir a manuten��o econ�mica e social. Para garantir essa manuten��o Keynes demonstrou em seu estudo de maior import�ncia �Teoria geral do emprego, do juro e da moeda� que a quantidade de emprego est� intimamente relacionada com a renda gasta no consumo, de tal forma que somente com investimentos que o desemprego seria combatido e para isso seria necess�rio que o Estado interviesse com pol�ticas de incentivos e investimentos, bem como regular as taxas de juros e expans�o do pr�prio gasto p�blico. (Ricc; Sotero; Barbosa, 2001).

    Keynes, o pioneiro da macroeconomia, n�o era �bem visto� principalmente aos olhos de Hayek por tentar desenvolver o chamado terceiro momento do Estado de Bem-Estar Social. Sua pol�tica foi utilizada no governo do presidente estadunidense Roosevelt no ano de 1933, portanto, logo ap�s a crise de 1929. Os desdobramentos de sua pol�tica culminaram em acordos firmados com empres�rios para o estabelecimento de sal�rios, produ��o e pre�os; houve redu��o da jornada de trabalho; cria��o do sal�rio m�nimo nacional; conven��o coletiva de trabalho houve a cria��o do programa da casa pr�pria; projetos ambientais foram instaurados para proporcionar o reflorestamento e combater a inc�ndios; outro projeto vigorado foi o governo assumir a d�vida dos agricultores familiares oferecendo a eles maior facilidade de cr�dito. �Em suma, o keynesianismo acabou por conformar uma forte pol�tica de regula��o da economia pelo Estado e ado��o de pol�ticas sociais permanentes do Estado Capitalista como suporte ao equil�brio econ�mico e social.� (Ricc; Sotero; Barbosa, 2001, p. 8)

    Com isso, em 1947, Hayek se re�ne com aqueles que compartilhavam da concep��o ideol�gica em Mont P�lerin (Sui�a), para uma confer�ncia com o intuito de formar uma sociedade neoliberal, a partir de uma estrutura bastante organizada, a fim de combater as propostas keynesianas e propor um novo modelo de capitalismo, pois para Hayek a desigualdade social a separa��o por classes era um fundamento necess�rio para o desenvolvimento e perpetua��o do capital. (Miranda, 2004).

    Em meio a grande crise de 68-73 do modelo econ�mico p�s-guerra toda sociedade capitalista sofreu uma grande recess�o por viverem baixas taxas de crescimento e alta taxa de infla��o. Com a consequ�ncia da superprodu��o e logo o grande desemprego estrutural e o desequil�brio inflacion�rio houve a necessidade de profundas altera��es nos meios de produ��o para garantir a perpetua��o do capital, ent�o foi essa a deixa para que os neoliberais interviessem com seus ideais. Para reverter a crise eles deveriam ent�o,

    [...] deter a hiperinfla��o e acusavam o poder excessivo dos sindicatos, dos movimentos oper�rios e dos altos gastos sociais do Estado como respons�veis pelo desencadeamento da crise. Os �nicos m�todos de sanear esta crise seriam: um Estado forte que conduziria a uma estabilidade monet�ria, uma disciplina or�ament�ria, cria��o de um ex�rcito de reserva (desempregados) e reformas fiscais baixando impostos de rentistas. (Miranda, 2004, p. 42)

    Hayek e seus companheiros culpabilizavam os sindicatos e os movimentos oper�rios pela crise, pois de acordo com eles, a base de acumula��o capitalista foi destru�da por causa das reivindica��es salariais que os trabalhadores faziam, colocando press�o sobre o Estado para que esse utilizasse os recursos financeiros com quest�es sociais, com isso frearia o desenvolvimento e acumula��o do capital.

    Sendo assim, essas articula��es trabalhistas e o �rendimento� por parte do Estado seria o suficiente para acabar com os lucros das empresas e, o que resultou em grandes infla��es que derivou uma grande crise das economias de mercado. A solu��o encontrada foi, ent�o, o fortalecimento do Estado para o grande capital. Isso se deu por meio da repress�o contra os sindicatos e tamb�m no controle do dinheiro, esse controle financeiro se traduz em menos gastos sociais, e em mais investimentos na recupera��o dos lucros das empresas. O objetivo do governo seria a estabilidade financeira e para isso acontecer seria preciso desenvolver algumas estrat�gias, como a limita��o de gastos com �bem-estar� e o reparo do desemprego que consequentemente desenvolveriam a��es contra os sindicatos trabalhistas. Dessa forma, as reformas fiscais foram indispens�veis para estimular os agentes econ�micos, ou seja, foi preciso reduzir os impostos daqueles que possu�am os mais altos rendimentos. (Anderson, 1995)

    Os desdobramentos dessa �tomada de poder� neoliberal foram em prol de manter o controle do Estado2, reduzindo-o a partir de um alerta sobre a sobrecarga que estava imposta ao Estado e que isso impediria governar qualquer democracia, estipulando duas regras para sobreviv�ncia do Estado, sendo elas: privatiza��o dos servi�os p�blicos e empresas estatais, e cria��o de regulamenta��o que limitasse a interfer�ncia do Estado sobre as empresas privadas.

    Alguns l�deres de partido conseguiram grandes conquistas em governos de destaque mundial utilizando de programas neoliberais, como foi o caso da Primeira-Ministra Margareth Thatcher na Inglaterra, sendo o primeiro exemplo de governo neoliberal da hist�ria. Nos Estados Unidos essa conquista foi do presidente Reagan, seguido pelo chanceler alem�o Helmut Kohl no ano de 1982. No Brasil o modelo neoliberal melhor se caracterizou na presid�ncia do Fernando Collor de Mello no ano de 1989 e em seguida com a presid�ncia do Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e persiste at� a atualidade. A implanta��o desse modelo neoliberal nesses pa�ses conseguiu atingir seu objetivo principal que foi a recupera��o dos lucros que havia sido perdida.

    Se o desemprego � algo inerente ao capitalismo, com o neoliberalismo ele se estende e aprofunda muito mais. O desemprego se tornou algo �natural�, bem como necess�rio para a economia de um mercado mais eficiente, ent�o houve uma grande queda de emprego e sal�rio e,

    A recupera��o dos lucros no modelo neoliberal, n�o leva necessariamente a uma recupera��o dos investimentos produtivos, mas sim financeiros, gerando uma desregulamenta��o neste setor. Esta desregulamenta��o financeira cria condi��es mais favor�veis para a especula��o do capital do que para a produ��o e gera��o de postos de trabalho. (Miranda, 2004, p. 43)

    Para Anderson (1995), o neoliberalismo alcan�ou pontos altos e baixos. A partir do olhar econ�mico o neoliberalismo falhou, pois n�o conseguiu fazer nenhuma reestrutura��o basal do mais alto n�vel de capitalismo. Um dos grandes sucessos do neoliberalismo sem d�vidas foi no quesito social, pois ele conseguiu alcan�ar seu principal objetivo - criar sociedades superiores em n�veis de desigualdades. Ideol�gica e politicamente foi capaz de atingir o mais alto patamar de controle e domina��o, pois n�o h� alternativa3 a n�o ser adaptar as normas neoliberais.

    Atrelado a todos estes feitos e, certamente, causas e consequ�ncias destes, h� que se destacar o imenso e profundo individualismo do nosso tempo. Os tempos neoliberais foram capazes, de muitas maneiras, de atomizar de tal forma o ser humano, aumentando demasiadamente as j� grandes dificuldades de organiza��o e luta da classe trabalhadora.

    Provavelmente nenhuma sabedoria convencional conseguiu um predom�nio t�o abrangente desde o in�cio do s�culo como o neoliberal hoje. Este fen�meno chama-se hegemonia, ainda que, naturalmente, milh�es de pessoas n�o acreditem em suas receitas e resistam a seus regimes. (Anderson, 1995, p. 22)

    Com a crise anteriormente apontada na d�cada de 1970, o capitalismo entra em um profundo processo de decad�ncia e busca reorganizar tamb�m a forma de gest�o da produ��o. No modelo de produ��o fordista/taylorista a linha de montagem possibilitava a produ��o em s�rie e isso marcava a separa��o do processo e da execu��o do trabalho. O trabalhador era tido como um ap�ndice dos maquin�rios.

    Com a crise do modelo de produ��o fordista/taylorista, (uma das manifesta��es da crise estrutural do capital), houve a emerg�ncia de implanta��o de processos de reestrutura��o para se recuperar, tanto de maneira produtiva, como o ideal de domina��o da sociedade. Emerge-se ent�o o chamado toyotismo, e a era da acumula��o flex�vel.

    A resposta encontrada para superar temporariamente a crise foi o desenvolvimento de um novo modelo de organiza��o produtiva que elevasse ao limite a superexplora��o do trabalho, o controle dos movimentos sociais provenientes do trabalho, bem como o controle de todas as esferas da vida social.

    O capital se utiliza de artimanhas para controlar as adversidades que surgem durante o seu desenvolvimento. Com isso o trabalhador que anteriormente apenas executava a��es, mas n�o participava da elabora��o e organiza��o do processo de produ��o, j� n�o � mais lucrativamente interessante para o capital, pois a busca agora � por trabalhadores participativos e polivalentes.

    A luta dos trabalhadores era, entre outras, em prol da melhoria das condi��es de trabalho e isso refletiu diretamente na lucratividade das empresas (interesse maior do capital), ent�o desenvolve a tentativa de solu��o a partir da resposta as reivindica��es dos trabalhadores. Diante dessa situa��o o capital investe na �qualifica��o profissional dos trabalhadores passando a valoriz�-la nas pol�ticas de contrata��o de m�o-de-obra e ascens�o hier�rquica nas empresas� (Peres, 2000, p. 6).

    O capital passa a �moldar� os trabalhadores, requisitando for�a de trabalho flex�vel, polivalente, auto-organizado, especializado, participativo etc. � mais rent�vel um trabalhador que executa e administra o processo produtivo, que � capaz de perceber os erros e corrigi-los do que um trabalhador que apenas executa uma a��o parcelada.

    Com isso o toyotismo, origin�rio no Jap�o (das fabricas de autom�veis Toyota), se desenvolveu e estendeu-se de forma globalizada. Tem-se agora um novo modelo com estrat�gias contra o desperd�cio, mas com o controle de �qualidade total�. Vale ressaltar tamb�m que o neoliberalismo pode ser entendido como receitu�rio pol�tico de garantia da intensifica��o da superexplora��o do trabalho (tamb�m pela via da precariza��o), respondendo assim, politicamente, a crise estrutural do capital, assim como a resposta na esfera e econ�mica foi dada pela reestrutura��o produtiva.

    Essas s�o as primeiras manifesta��es da tentativa de recupera��o do capital. As tentativas para aumentar a produtividade e elevar as taxas de lucro geram consequ�ncias diretas no trabalho, um exemplo, � que a utiliza��o da tecnologia de maneira que ocorre �desemprego em dimens�o estrutural, precariza��o do trabalho de modo ampliado e destrui��o da natureza em escala globalizada tornaram-se tra�os constitutivos dessa fase da reestrutura��o produtiva do capital.� (Antunes, 2009, p. 36)

O discurso da �qualidade total�

    Com as dificuldades encontradas nos modelos de gest�o da produ��o, toma-se como estrat�gia, por exemplo, o just in time, team work etc., para eliminar os desperd�cios, mas garantindo a �qualidade� dos produtos. Entram em pauta os padr�es de qualidade dos produtos tais como o ISO 9000, 9001 etc. Estes certificados ISO al�m de gerar uma padroniza��o, inculcam nos consumidores a ideia de qualidade, seja qualidade dos profissionais, das empresas e das mercadorias.

    Nesse ponto nos deparamos com uma contradi��o. As empresas desenvolveram e implantaram certificados ISO de �qualidade total�, mas em contra partida desenvolveram m�todos para reduzir o tempo de vida �til das mercadorias tornando-as cada vez mais descart�veis e favorecendo o aumento do ciclo produtivo, pois o produto deve durar pouco para que sua reposi��o no mercado seja r�pida, �na empresa enxuta da era da reestrutura��o produtiva, torna-se evidente: quanto mais �qualidade total� os produtos devem ter, menor deve ser seu tempo de dura��o� (Antunes, 2009, p. 52 grifos do autor).

    Tomemos como exemplo os sistemas de software de computadores para mostrar o decrescente valor de uso das mercadorias. O tempo de vida desses softwares � m�nimo ele se desatualiza rapidamente e j� � produzido com v�rias vers�es diferentes (nem que seja somente para alterar o layout do sistema). O problema maior est� na incompatibilidade dos sistemas atuais com os anteriores, ou at� mesmo a incompatibilidade com a m�quina de origem. Isso faz com que o consumidor tenha duas op��es: comprar o novo software e/ou m�quina ou ficar sem. Essa l�gica se estende a v�rias outras mercadorias, os equipamentos eletr�nicos de forma geral (celulares, GPS etc.), bem como roupas, utilit�rios dom�sticos, m�veis, entre v�rios outros (ou quase todos os outros).

    O discurso da �qualidade total� e sua implementa��o causa uma s�rie de consequ�ncias na vida social. As mercadorias descart�veis, sendo desperdi�adas causam uma degrada��o incontrol�vel da natureza, da exaust�o dos recursos naturais a imensa quantidade de lixo gerada e da rela��o entre humano e natureza. Outro aspecto considerado importante para nosso estudo � a destrui��o da for�a de trabalho que esse modelo produtivo proporciona. (Antunes, 2009)

    O modelo de organiza��o toyotista se estrutura a partir de uma base de organiza��o produtiva tecnologicamente superior/avan�ada, pois utiliza de t�cnicas administrativas pr�prias da �era da informa��o� implementando nas f�bricas computadores e maquin�rios para a execu��o do processo de produ��o e servi�os.

    No aspecto da gest�o da for�a de trabalho novas t�cnicas s�o implementadas proporcionando o trabalho em equipe, requisitando dos trabalhadores maior participa��o nos processos produtivos, embora seja �uma participa��o manipuladora e que preserva, na ess�ncia, as condi��es de trabalho alienado e estranhado�. (Antunes, 2009, p. 54)

    No auge do modelo fordista/taylorista, o destaque se dava pelo grande n�mero de trabalhadores que em tempo m�nimo constru�am parceladamente um autom�vel. J� na era da acumula��o flex�vel o n�mero de trabalhadores � reduzido ao m�nimo poss�vel e que apesar disso conseguem alcan�ar o �ndice m�ximo de produtividade. Isso somente se realiza por meio da intensifica��o da explora��o da for�a de trabalho desse grupo m�nimo de trabalhadores. Se era a velocidade das esteiras que determinavam a rotina de trabalho no fordismo/taylorismo, agora s�o as luzes (verde, amarela e vermelha) que determinava os ritmos de trabalho nas c�lulas produtivas.

    Com essa l�gica produtiva e a intensifica��o da explora��o dos trabalhadores se desdobram ent�o outros aspectos que influenciam diretamente o mundo do trabalho como:

    Desregulamenta��o enorme dos direitos do trabalho, que s�o eliminados cotidianamente em quase todas as partes do mundo onde h� produ��o industrial e de servi�os; aumento da fragmenta��o no interior da classe trabalhadora; precariza��o e terceiriza��o da for�a humana que trabalha; destrui��o do sindicalismo de classe e sua convers�o num sindicalismo d�cil de parceria [...] (Antunes, 2009, p.55)

    O toyotismo influenciou v�rias empresas automobil�sticas, mas tamb�m foi adotada por v�rias outras empresas de outros ramos, como � o caso das empresas prestadoras de servi�o, como por exemplo, as empresas de telemarketing.

    Nessas empresas de telemarketing, telecomunica��es, o controle do trabalho � feita pelo pr�prio trabalhador (ao contr�rio do que acontecia nas ind�strias fordistas/tayloristas). Esse controle feito pelo pr�prio trabalhador adv�m por meio do curso de treinamento realizado alguns meses antes do per�odo de experi�ncia. Nesses cursos s�o enfatizadas algumas responsabilidades sobre os trabalhadores, tais como: voc� � respons�vel pelo seu �sal�rio�, atenda mais e divague menos. O Sucesso da empresa depende somente de voc�. Voc� � o �nico respons�vel por garantir o seu emprego etc.

    Com isso s�o contabilizadas todas as vezes que estes trabalhadores para o atendimento para beber �gua, para ir ao banheiro, entre outros. Essa contabiliza��o vai determinar o b�nus salarial no final do m�s, bem como a continuidade desse trabalhador na empresa.

Considera��es finais

    Algumas amplia��es dessa redu��o da vida ao trabalho assalariado s�o as maneiras em que os seres humanos come�am a pensar e a agir frente a outros seres humanos.

    Ao inv�s de cada vez mais libertar-se das amarras que impedem o amplo desenvolvimento humano, os seres humanos cada vez mais caminham para o aprisionamento ao produtivismo e individualismo.

    Conseguimos ver crescentes atitudes individualistas, especialmente no estranhamento do outro como ser social. H� uma maior valoriza��o do ter em detrimento do ser, pois o fetiche da mercadoria se torna t�o grande que as pessoas passam a ter o valor de objetos e os objetos passam a ter �valor� de pessoas. � dif�cil passarmos uma semana sem vermos nos notici�rios algu�m que matou ou feriu outra pessoa por ter arranhado seu carro, derrubado sua moto ou derramado cerveja em sua camiseta que custou �290 reais�. E um dos objetivos do metabolismo social do trabalho reestruturado no capitalismo global � garantir essa perpetua��o do particularismo, individualismo e desvaloriza��o do ser social.

    Como produto dos modelos de organiza��o do Estado e da produ��o (neoliberalismo e toyotismo), a desvaloriza��o do ser social causa o estranhamento de toda a comunidade social, de maneira tal que a coisifica��o de homens e mulheres que trabalham gera v�rios outros desdobramentos, um complexo de crises que atassalham a subjetividade do trabalhador reduzindo-o a uma mercadoria viva.

Notas

  1. Podemos pensar na organiza��o cl�ssica das escolas ao longo do s�culo XX (carteiras enfileiradas, fixadas ao ch�o), professores e alunos separados, n�o apenas simbolicamente, mas presencialmente na estrutura da sala de aula, elabora��o de curr�culos e planos de ensino separados da escola, aulas divididas em tempos arbitr�rios sem media��es/rela��es entre si (primeira aula de portugu�s, depois aula de matem�tica, depois aula de arte etc.). Obviamente isso produz severos impactos no trabalho docente como veremos mais a frente.

  2. O Estado se torna m�nimo para as quest�es sociais (trabalho, sa�de, educa��o, moradia etc.), mas se torna m�ximo para o capital.

  3. Aqui podemos lembrar a m�xima de Margareth Thatcher �There is no alternative� [N�o h� alternativa], ficando a �Dama de Ferro� conhecida, no Reino Unido, sob o alcunho de TINA [There Is No Alternative].

Bibliografia

  • Anderson, P. (1995). P�s-neoliberalismo: as pol�ticas sociais e o Estado democr�tico. In: E. Sader & P. Gentili (orgs.). Rio de Janeiro: Paz e Terra, p. 9-23.

  • Antunes, R. (2009). Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirma��o e a nega��o do trabalho. 2� ed. S�o Paulo, SP: Boitempo.

  • Marx, K. (2010). Manuscritos econ�mico-filos�ficos. S�o Paulo: Boitempo.

  • Miranda, E. (2004). A mundializa��o financeira frente ao neoliberalismo. Revista Eletr�nica dos P�s-Graduandos em Sociologia Pol�tica da UFSC Vol. 2, n� 1 (2), janeiro-junho, p. 41-51.

  • Peres, M. A. C. (2000). Do taylorismo/fordismo � acumula��o flex�vel toyotista: Novos paradigmas e velhos dilemas. Faculdade Unopec. S�o Paulo. p. 1-1. Dispon�vel em: http://docente.ifrn.edu.br/josesantos/disciplinas-2012.2/fundamentos-sociopoliticos-e-economicos-da-educacao-para-licqui2n/do-fordismo-taylorismo-a-acumulacao-flexivel

  • Ricc, R. Sotero, F. Barbosa, L. (2001). Descentraliza��o e participa��o popular em gest�es municipais. Belo Horizonte.

Outros artigos em Portugu�s

Quais os impactos do fordismo taylorismo e Toyotismo para o trabalhador?

EFDeportes.com, Revista Digital � A�o 21 � N� 217 | Buenos Aires,Junio de 2016  
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Quais os impactos do fordismo Taylorismo e Toyotismo sobre o trabalhador?

No auge do modelo fordista/taylorista, o destaque se dava pelo grande número de trabalhadores que em tempo mínimo construíam parceladamente um automóvel. Já na era da acumulação flexível o número de trabalhadores é reduzido ao mínimo possível e que apesar disso conseguem alcançar o índice máximo de produtividade.

Quais são as consequências do Toyotismo para os trabalhadores?

Críticas ao Toyotismo Com a produtividade em alta, menos mão de obra é necessária, o que gera um grande aumento no desemprego, em função da tecnologia que diminui os postos de trabalho. Portanto, este modelo industrial é um dos principais responsáveis pelo desemprego no setor secundário da economia.

Quais as consequências do modelo taylorista fordista para o trabalhador?

O fordismo teve como consequências, diríamos positivas, a racionalização das tarefas e o aumento do controlo da qualidade dos produtos, o aumento da produtividade, o surgimento de um novo conceito de fábrica, espaço mais amplo capaz de permitir a linha de montagem onde se opera o trabalho em cadeia; e, ao mesmo tempo, ...

Qual o impacto do fordismo no desenvolvimento da sociedade e na vida dos trabalhadores?

Uma das principais e mais marcantes inovações do fordismo foi em relação à linha de montagem, que tinha uma esteira rolante que levava o produto até o operário encarregado de trabalhá-lo. Assim, o operário apenas ficava em seu posto parado, esperando seu produto.