Porque a capoeira é considerada uma estratégia de resistência dos negros?

Introdu��o

    H� um pouco mais de seis anos praticando Capoeira, surgiu o interesse em mostrar a import�ncia dessa arte como instrumento de educa��o, seja como conte�do nas aulas de educa��o f�sica escolar ou como um componente de projetos do curr�culo das escolas.

    A hist�ria da capoeira est� intimamente ligada � hist�ria dos negros no Brasil, pois quando os europeus aqui chegaram, necessitaram encontrar m�o�de-obra barata para a explora��o das terras. Os ind�genas, de imediato capturados, reagiram � escravid�o e n�o suportaram os maus-tratos a que foram submetidos. Os colonizadores precisaram, ent�o, buscar nova m�o - de - obra escrava, e para isso trouxeram negros da �frica. (Fontoura e Guimar�es, 2002).

    Por�m, o negro na condi��o de escravo nunca se submeteu totalmente � viol�ncia do branco, quer seja f�sica ou simb�lica, criando suas pr�prias estrat�gias de resist�ncia, sejam elas no �mbito de sua cultura original, onde conseguiam preservar aspectos da religiosidade, da musica, da medicina, da culin�ria, da l�ngua etc., seja no �mbito da luta, onde a Capoeira exerceu papel fundamental (Castro Junior e Santana Sobrinho, 2000).

Porque a capoeira é considerada uma estratégia de resistência dos negros?

Capoeira, patrim�nio cultural do Brasil

    A Capoeira no princ�pio incorporou o primado do divertimento, do l�dico, da �vadia��o� � n�o no sentido de a��o vagabunda, contraven��o � mas no sentido de brincadeira, divertimento. �A capoeira sempre teve ambiente festeiro� (Tavares, 1964, p.25), pois afinal, os negros de Angola � os primeiros a serem trazidos para o Brasil � �poca da escravid�o � eram propensos aos folguedos e divers�es (Falc�o, 1996).

    A partir da vis�o dos PCNS (Brasil, 1998), pode-se abordar a Capoeira nas dimens�es conceituais, procedimentais e atitudinais do conte�do, levando o aluno a conhecer essa manifesta��o pertencente � nossa cultura (Darido e Rangel, 2004). Contudo, a capoeira difere da grande maioria das outras modalidades de jogo-luta, mais ainda pelo acompanhamento musical, faz parte da cultura brasileira.

    Hoje a capoeira se encontra mais presente nas escolas, fazendo ou n�o parte das aulas de Educa��o F�sica Escolar. Este estudo teve por objetivo refletir, atrav�s de estudo bibliogr�fico, a presen�a da Capoeira dentro do ambiente escolar, sendo ele um conte�do ou n�o da Educa��o F�sica.

Capoeira e Educa��o F�sica escolar

    Segundo Vieira (1995), a Capoeira surgiu com a escravid�o no Brasil, sendo a princ�pio luta de liberta��o dos escravos que fugiam das fazendas, e como n�o dispunham de armas faziam seu pr�prio corpo de arma de luta. Sua pr�tica acontecia nos cativeiros quando os escravos dan�avam em formas de rodas e com isso camuflavam a pr�tica da luta, por isso ficava t�o dif�cil para os capit�es do mato e seus senhores impedirem a sua manifesta��o.

    A Capoeira sempre esteve na marginalidade e chegou a ser proibida pelo C�digo penal da Rep�blica do Brasil, entretanto tais medidas n�o foram suficientes para extermin�-la, pois sua pr�tica persistia em guetos escondidos (Benevenuti de Menezes, 2007).

Do cativeiro aos quilombos

    A forma��o de grupos de escravos fugitivos se deu em toda parte onde houve escravid�o. No Brasil estes grupos foram chamados de quilombos ou mocambos, os quais �s vezes conseguiram congregar centenas e at� milhares de pessoas. (Jos� Reis, 95 e 96).

    Nas matas os negros formaram os quilombos, sendo o Quilombo de Palmares um dos mais importantes, sede maior de todos os outros redutos de negros fugitivos, localizado na Serra da Barriga, no Estado de Alagoas. Segundo Arnt e Banalume Neto (1995, p. 32): �Palmares come�ou a surgir em 1597 e durou at� 1694�.

    Segundo Fontoura e Guimar�es (2002), ap�s a extin��o dos quilombos existentes e principalmente o de Palmares, a capoeira j� era conhecida como meio de ataque e defesa pessoal, mais precisamente nos Estados da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, entre outras localidades onde havia escravos lutando pelo dia de sua liberta��o.

Capoeira Angola

    Capoeira (1998) diz que na Academia de Pastinha se praticava o estilo tradicional, denominado Capoeira Angola. Em seu livro Capoeira Angola, Pastinha (1988, p. 27) asseverou: O nome Capoeira Angola � conseq��ncia de terem sido os escravos angolanos, na Bahia, os que mais se destacaram na sua pr�tica.

    Sobre o aprendizado de Mestre Pastinha, Capoeira (1998, p. 54) disse que foi iniciado, ainda menino, por um negro de Angola chamado Benedito, que constantemente via o menino apanhar de um garoto mais velho. (Fontoura e Guimar�es, 2002).

    Elementos l�dicos e agressivos, dan�a e batalha, vida e morte, medo e alegria, sagacidade, m�sica, brincadeira, ancestralidade e ritualidade constituem o universo da Capoeira Angola, que a caracteriza como uma manifesta��o cultural dif�cil de ser definida num �nico conceito. Essa riqueza de significa��es, quando devidamente contextualizada e historicizada, d� � Capoeira Angola uma identidade muito forte e profunda, constru�da atrav�s de todo um passado de luta por liberta��o, e sobretudo pela afirma��o de uma turma que se recusa a ser subjugada, embora muito se tenha feito em nosso pa�s para que isso se concretizasse (Abib, 2000).

Capoeira Regional

    Em 1932, Get�lio Vargas, com a revolu��o �Nacionalista�, libera a pr�tica de todos os tipos de manifesta��es populares, inclusive a Capoeira, para assim ter o apoio das massas. Tal liberta��o visava a produzir nas elites e no povo uma convic��o compartilhada de nacionalidade. Mas a elite intelectual brasileira tinha o objetivo de embranquecer simbolicamente as manifesta��es negras. (Fontoura e Guimar�es, 2002).

    Assim, na �poca, Manoel dos Reis Machado, conhecido como Mestre Bimba, que influenciado, tamb�m, pela onda nacionalista, cria a Luta regional Baiana, considerada por ele a �evolu��o� da Capoeira Angola, futura Capoeira regional. Esta seria mais aceita pela �sociedade� branca por possuir caracter�sticas diferentes da Capoeira Angola. Mestre Bimba realizou uma revolu��o na Capoeira ao �inventar� a capoeira Regional, que tinha por objetivo tirar a Capoeira da marginalidade, a partir da ressignifica��o parcial da Capoeira Angola (Rangel e Darido, 2008)

Capoeira, patrim�nio cultural brasileiro

    Em Pernambuco, Rio de janeiro e Salvador, ap�s a liberta��o dos escravos, alguns capoeiristas tornaram-se capangas dos senhores e de pol�ticos. Eram muito temidos, pois viviam em uma �poca que a policia mal era armada. Em 1953 Mestre Bimba, e, eximo lutador de Capoeira fez uma apresenta��o para o ent�o Presidente da Rep�blica Get�lio Vargas, que revogou a Capoeira da criminalidade e a sua pr�tica passou a ser a permitida (Campos, 2001).

A capoeira como esporte

    Segundo Campos (2001) no processo de seu crescimento e expans�o, a capoeira vem revelando suas voca��es, seus valores e aptid�es: � hoje ensinada como uma atividade de educa��o f�sica nas for�as armadas e nas escolas; foi para as universidades e para as escolas de 2� grau; vem sendo empregada com �xito not�vel na inser��o social de deficientes f�sicos e mentais, e de menores carentes, abandonados e marginalizados; sua gin�stica, em franco e ininterrupto desenvolvimento, passa a constituir um instrumento de cultura f�sica, mental e espiritual de grande poder; sua filosofia participa com alguns valores fundamentais na forma��o do car�ter de incont�veis praticantes; enfim, sua pr�tica proporciona muita sa�de, prazer e auto-confian�a (Benevenuti, 2007).

Capoeira como luta

    Capoeira nos seus prim�rdios (durante a escravid�o) e no per�odo logo ap�s a liberta��o dos escravos apresentava algumas caracter�sticas muito pr�ximas da luta. Podemos utilizar como exemplos: a luta dos escravos fugitivos e dos Quilombos e os combates entre maltas e a pol�cia. Esse car�ter combativo � caracter�stico especialmente do per�odo inicial da Capoeira.

    Os PCNs (Brasil, 1998, p.27) classificam a Capoeira como um exemplo de conte�do das lutas por considerar que: �As lutas s�o disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugados(s), atrav�s de t�cnicas e estrat�gias de desequil�brio, contus�o, imobiliza��o ou exclus�o de um determinado espa�o na combina��o de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamenta��o espec�fica a fim de punir atitudes de viol�ncia e de deslealdade. Podem ser citados como exemplo de lutas desde brincadeiras de cabo de guerra e bra�o de ferro at� as pr�ticas mais complexas da Capoeira, do jud�, do carat�.

Capoeira como jogo

    Ara�jo (1997) aponta que a Capoeira sofreu diversas transforma��es e acredita que a atividade era guerreira primeiramente, passando a agregar caracter�sticas l�dicas com o passar do tempo. Essa transforma��o ocorre, sobretudo, na d�cada de 1930, n�o subitamente, mas gradualmente, veiculada ao processo de valoriza��o da cultura brasileira. A Capoeira j� n�o mais acontecia esporadicamente, e sim em datas e locais estabelecidos, distantes da marginalidade e conseq�entemente da viol�ncia contida na Capoeira-luta, agora mais pr�ximo da categoria Capoeira-jogo.

    Reis (1996, p.38) faz uma an�lise interessante sobre o car�ter l�dico adotado pela Capoeira: �No passado, o aspecto l�dico representava, sobre tudo, uma estrat�gia pol�tica para ocultar o aspecto combativo, proeminente na capoeira da sociedade escravista�. A Capoeira na sobreviveria se continuasse com suas caracter�sticas essencialmente de luta.

    Outra veicula��o da capoeira com o l�dico apareceu em Ara�jo (1997) no momento em que menciona a introdu��o da musicalidade (a incorpora��o de instrumentos musicais como o berimbau e o pandeiro), a ritualidade e a gestualidade corporal como sendo fatores que determinariam a ludicidade da Capoeira. Deste modo, a m�sica e os movimentos corporais fazem com que exista uma aproxima��o, agora, da Capoeira com a dan�a (Rangel e Darido, 2008).

Capoeira e Educa��o F�sica

    Na rela��o capoeira/Educa��o f�sica muitos aspectos se aproximam e outros destoam. A capoeira n�o pode ser vista apenas como um conte�do eminentemente t�cnico, como geralmente s�o tratadas as demais modalidades desportivas j� consagradas no �mbito da Educa��o F�sica, nem tampouco como uma manifesta��o folcl�rica vista a partir de uma vis�o hist�rica, que a trata como um produto pronto e acabado. A capoeira n�o pode ser entendida somente como produto um produto, ela � tamb�m processo, ou seja, h� que se perceber o modo como ela � socialmente elaborada. A capoeira deve ser vista no �mbito dessas duas perspectivas, enquanto produto (conte�do) e enquanto processo (forma) (Falc�o, 1996).

    A capoeira � constitu�da em oito dimens�es b�sicas, antropologia, sociologia, filosofia, educativa, preparativa, est�tica e l�dica, que fazem perceber como ela � importante. Assim atrav�s destas dimens�es, o jogador de Capoeira est� apto a desenvolver todas as suas habilidades f�sicas, como for�a, coordena��o, resist�ncia e velocidade, sendo suas habilidades f�sicas que podem ser melhoradas com a pr�tica da Capoeira, al�m do seu lado afetivo, cognitivo e motor, como o conjunto da obra a Capoeira � um esporte completo, capaz de mudar e movimentar o seu corpo para atingir um alto grau de satisfa��o pessoal (Benevenuti, 2007).

Considera��es finais

    O maior objetivo e conseguir informa��es e conhecimentos como crit�rio de inclus�o da amostra: Professores de Educa��o F�sica licenciados que trabalham em escolas p�blicas ou privadas, a capoeira e composta por varias dimens�es b�sicas como antropologia, sociologia, filosofia, educativa, preparativa, est�tica e l�dica isso demonstra como ela � importante no �mbito escolar. A Capoeira quando bem trabalhada de forma simples e eficaz, podendo ser trabalha como lutas, dan�as e jogo objetivos bem diferentes em cada aspecto, al�m de estimular a cultura de nosso pa�s.

Bibliografia

  • Benvenuti, L.M. (2007). Capoeira e os benef�cios psicofisiol�gicos. Rio de Janeiro: Lilian Benvenuti Menezes.

  • Castro Junior, L.V., Abib, P.R.J., Santana Sobrinho, J. (2000). Capoeira e os diversos aprendizados no espa�o escolar. Motriviv�ncia, Ano XI, n� 14.

  • Darido, S.C., Rangel, I.C.A. (2008). Educa��o F�sica na escola: implica��es para a pr�tica pedag�gica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

  • Falc�o, J.L.C. (1996). A escolariza��o da capoeira. Brasilia: Royal Court.

  • I�rio, L.S., Darido, S.C. (2005). Educa��o F�sica, capoeira e educa��o f�sica escolar: poss�veis rela��es. Revista Mackenzie de Educa��o F�sica e Esporte, 4, p.137-143.

  • Marconi, M.D.A. e Lakatos, E.M. (2007). T�cnicas de pesquisa. 6� ed. pp. 83-84. S�o Paulo: Atlas.

  • Reis, J.J. (1995/1996). Quilombos e revoltas escravas no Brasil. Revista USP, 28 p.14-39.

  • Ritter Fontoura, A.R. e Guimar�es, A.C.A. (2002). Hist�ria da capoeira. Revista de Educa��o F�sica/UEM, Maring�, vol.13(2), p.141-150.

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Lecturas: Educaci�n F�sica y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2015 Derechos reservados

Por que a capoeira pode ser considerada um movimento de resistência contra a escravidão?

A capoeira iniciou como uma luta para expressar resistência dentro das senzalas. Os escravos criaram a capoeira como uma forma de se proteger da violência e punição dos colonizadores brasileiros. Eles eram frequentemente alvos de agressões e atrocidades dos senhores de engenho.

Qual a relação da capoeira com a resistência dos negros?

A capoeira surgiu nas senzalas como forma de resistência e luta dos escravos contra os maus-tratos e a opressão imposta pelos senhores de engenho.

Como que a capoeira pode ser considerada uma forma de resistência à escravidão?

Porque a capoeira era usada pelos escravos, mas era disfarçada como dança, por isso é um simbolo de resistência, resistência contra a escravidão naquele período.

Qual a importância da capoeira para a cultura negra?

A capoeira, considerada hoje como uma das principais manifestações da arte e da cultura afrobrasileiras, em sua origem, era utilizada como forma de defesa na fuga do cativeiro por negros escravizados, ideia reforçada na fala do grande Mestre Pastinha “a capoeira é a luta de libertação do negro escravo em ânsia de ...