Papel da monarquia na Revolução Puritana

Em 5 de maio de 1640, o rei Carlos I, da Inglaterra, dissolveu o Parlamento depois de apenas três semanas de sessão. O Parlamento havia sido convocado após onze anos (1629 a 1640) de governo pessoal de Carlos I, um monarca absolutista tal como seu antecessor e pai, o rei Jaime I.

Reunidos a partir de 13 de abril, os parlamentares na sua maioria burgueses puritanos, aproveitaram o momento para apresentar as queixas contra os abusos do rei e em discutir os privilégios da Coroa. Irritado com essa posição de confronto, Carlos I dissolveu o Parlamento acirrando ainda mais as tensões entre a Coroa e os deputados puritanos dando início à Revolução Inglesa do século XVII.

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A Revolução Inglesa (1640 a 1688) representou a primeira manifestação de crise do absolutismo monárquico. É considerada a primeira revolução burguesa ocidental, antecipando em 150 anos a Revolução Francesa. Esse movimento revolucionário criou as condições indispensáveis para a Revolução Industrial do século XVIII, abrindo espaço para o avanço do capitalismo.

Ela se desenrolou em quatro fases, como pode ser vista no infográfico a seguir:

  • Revolução Puritana (1640) seguida pela guerra civil (1642 a 1648).
  • República de Oliver Cromwell (1649 a 1658).
  • Restauração da dinastia dos Stuart (1660 a 1688).
  • Revolução Gloriosa (1688) que instituiu a Monarquia Parlamentarista.

Papel da monarquia na Revolução Puritana

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Revolução Puritana (1640)

As relações entre o rei e o Parlamento vinham se deteriorando desde o governo de Jaime I que impôs o anglicanismo e adotou uma política tributária extorsiva – medidas que provocaram forte reação dos burgueses que professavam o puritanismo (versão inglesa do calvinismo).

Os puritanos se consideravam “eleitos de Deus”, defendiam a purificação da Igreja que acusavam de corrompida assim como o Estado. Em nome da “retidão da causa” os puritanos se tornaram fortes opositores do absolutismo monárquico.

Os nobres e a Coroa viam-se ameaçados pela capacidade da burguesia puritana de acumular riquezas. A tensão entre esses grupos chegou a tal ponto que, em 1629, Carlos I dissolveu o Parlamento composto, em grande parte, por burgueses puritanos.

O Parlamento não tinha, então, um grande papel permanente no sistema de governo inglês. Funcionava como um comitê consultivo temporário e só era convocado se e quando o monarca entendesse. Uma vez convocado, a existência do parlamento dependia da vontade do rei que podia dissolvê-lo a qualquer momento. Contudo, apesar deste papel limitado, o Parlamento tinha adquirido ao longo dos séculos poderes de importância suficiente que os monarcas não podiam ignorá-los indefinidamente. O poder mais indispensável do Parlamento era sua capacidade de aumentar as receitas tributárias muito além de todas as outras fontes de receita à disposição da Coroa.

Foi por essa razão que, em fevereiro de 1640, Carlos I convocou o Parlamento para pedir novo aumento de impostos para subsidiar uma guerra contra os escoceses calvinistas. Mas o parlamento tinha mais interesse em combater o absolutismo, os abusos do rei e os privilégios da Coroa. Irritado, Carlos I dissolveu o Parlamento em 5 de maio de 1640, depois de apenas três semanas de sessão. A partir daí, aumentaram as tensões entre a Coroa e os deputados puritanos que acabaram rompendo na Guerra Civil (1642 a 1648) liderada pelo puritano Oliver Cromwell.

Segundo o historiador Christopher Hill:

“A Guerra Civil foi uma guerra de classes, na qual o despotismo de Carlos I foi defendido pelas forças reacionárias da Igreja estabelecida e por proprietários conservadores. O Parlamento derrotou o rei porque poderia apelar ao apoio entusiástico das classes comerciais e industriais da cidade e campo, aos homens e às nobres progressistas e às massas mais amplas da população sempre que pudessem, por livre discussão, entender o que realmente era a luta.” (HILL, 1985)

República de Oliver Cromwell (1649 a 1658)

Vitoriosos, os puritanos acusaram Carlos I de traição contra a Inglaterra ao usar seu poder para atingir objetivos pessoais. Declarado culpado e sentenciado, o rei foi condenado à morte por decapitação. A sentença foi executada em 30 de janeiro de 1649. Foi o primeiro monarca condenado à morte por um parlamento em toda a história.

A monarquia foi extinta e proclamada a República tendo Cromwell como chefe de Estado e chefe de governo.

Papel da monarquia na Revolução Puritana

A execução do rei Carlos I, da Inglaterra (detalhe), óleo de John Weesop, 1649.

A República de Cromwell foi um dos governos mais autoritários da história inglesa. Sufocou o levante de católicos na Irlanda e dos separatistas da Escócia, confiscou terras dos partidários do rei e da Igreja Anglicana vendendo-as para a burguesia.

Cromwell suprimiu de vez as estruturas feudais ainda vigentes, eliminando todos os obstáculos institucionais para o livre desenvolvimento das forças capitalistas. Para fortalecer o comércio exterior, Cromwell promulgou, em 9 de outubro de 1651, os Atos de Navegação, a medida mais importante de seu governo.

Cromwell acabou por se voltar contra o Parlamento. Em 1653, ele o dissolveu com o auxílio de seu Exército e instituiu uma ditadura aberta, que teve como característica principal a execução das lideranças que o ajudaram a formar esse mesmo Exército. Cromwell ficou no poder até 1658, sendo substituído por seu filho, que foi deposto no mesmo ano.

Restauração da dinastia dos Stuart (1660 a 1688)

Após os conturbados anos de Cromwell, a Inglaterra viveu um período de restauração dos poderes da Monarquia, aprovada pelo Parlamento. O filho de Carlos I (o rei executado pela Revolução Puritana) foi convidado a ocupar o poder.

Em 29 de maio de 1660, a população de Londres aclamou Carlos II como rei.

Com Carlos II (1660-1685), as tensões entre a monarquia e o Parlamento voltaram a dominar a cena política. Declarando-se rei por direito divino, Carlos II passou a disputar a soberania com o Parlamento, externou seu ódio ao puritano Oliver Cromwell (mandou desenterrar o corpo e decepou a cabeça dele publicamente) e não escondeu sua simpatia pelo catolicismo.

Jaime II (1685-1689), seu irmão e sucessor, autoritário e católico declarado, foi mais longe: entregou a católicos os mais altos cargos dos reinos, tentou impor o catolicismo aos ingleses desafiando o Parlamento, de maioria protestante (os católicos eram, então, apenas 1/5 da população da Inglaterra). Buscou aliar-se a Luis XIV, da França, o monarca absolutista mais poderoso da Europa.

A Revolução Gloriosa (1688)

O Parlamento reagiu convidando o príncipe holandês Guilherme de Orange (casado com a filha protestante de Jaime II), a ocupar o trono inglês. Em 1688, Guilherme de Orange entrou na Inglaterra com seu Exército, destronou o sogro e, por ato do Parlamento, foi declarado rei. Este movimento ficou conhecido como Revolução Gloriosa.

Jaime fugiu para a França onde foi-lhe permitido viver no castelo de Saint-Germain-en-Laye, a oeste de Paris. Ali ele faleceu poucos anos depois, em 1701.

A fuga de Jaime I foi considerada como abdicação ao trono. Para afastar o perigo do absolutismo, o Parlamento aprovou, em 1689, a Declaração de Direitos (Bill of Rights), vigente na Inglaterra e, posteriormente no Reino Unido, até hoje.

A Declaração de Direitos limitou o poder do rei, conferiu autoridade e garantias ao Parlamento e assegurou os direitos civis e a liberdade individual a todo cidadão inglês (estendido depois, a todos britânicos).  Afirmou, também, que nenhum católico poderia ascender ao trono e nenhum monarca inglês poderia se casar com um católico. Com a Declaração de Direitos, a Inglaterra deixava de ser uma monarquia absoluta para ser uma monarquia parlamentar.

Fonte

  • ARRUDA, José Jobson de. A Grande Revolução Inglesa, 1640-1780. São Paulo: Hucitec, 1996.
  • FLORENZANO, Modesto. As revoluções burguesas. São Paulo: Brasiliense, 1981. (Coleção Tudo é História)
  • FRASER, Antonia. Oliver Cromwell, uma vida. Rio de Janeiro: Record, 2000.
  • HILL, Christopher. O eleito de Deus. Oliver Cromwell e a Revolução Inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
  • _________. A Revolução Inglesa de 1640. Lisboa: Editorial Presença; São Paulo: Livraria Marins Fontes, 1985.
  • _________. O século das revoluções (1603-1714). São Paulo: Unesp, 2012.
  • OSTRENSKY, Eunice. As revoluções do poder. São Paulo: Alameda, 2006.

Saiba mais

  • Oliver Cromwell promulga os Atos de Navegação
  • Entra em vigor o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda
  • As revoluções inglesas do século XVII (infográfico)

Abertura

  • Batalha de Naseby, artista desconhecido. A vitória puritana na Batalha de Naseby, em 14 de junho de 1645, marcou o ponto de virada decisivo na Guerra Civil Inglesa.

O que aconteceu com a monarquia durante a Revolução Puritana?

Consequências da Revolução Puritana e Revolução Gloriosa O rei Carlos I, derrotado na guerra civil, foi preso e condenado à morte. Acabou assim o absolutismo em território inglês, e o Parlamento se fortaleceu politicamente ao limitar as ações do monarca inglês e se tornar o grande centro decisório da Inglaterra.

Qual a relação entre a Revolução Puritana e a monarquia absolutista?

A Revolução Puritana foi consequência do choque de interesses entre o rei inglês, interessado em manter a Inglaterra como uma monarquia absolutista, e o Parlamento, interessado em transformar o país em uma monarquia constitucional de caráter liberal para atender aos seus interesses e ao da burguesia em ascensão.

O que foi a monarquia na Revolução Inglesa?

A Revolução Gloriosa ocorreu em 1688 e foi uma das etapas da Revolução Inglesa, além de ter sido responsável pela queda do absolutismo na Inglaterra. A monarquia absolutista inglesa transformou-se em uma monarquia constitucional, que consolidou o domínio da burguesia na Inglaterra.

Como era a monarquia inglesa antes da Revolução Puritana?

Na monarquia Inglesa, a Magna Carta assinada em 1215 limitava o poder do rei. Tal lei estabelecia que o soberano deveria consultar os representantes da nobreza, do clero e do povo antes de tomar decisões importantes como declarar guerras ou criar novos impostos.