Em que consiste a transfusão de sangue

Mestre em Ecologia e Recursos Naturais (UFSCAR, 2019)
Bacharel em Ciências Biológicas (UNIFESP, 2015)

Ouça este artigo:

O sistema circulatório do corpo humano foi descrito por volta de 1630 pelo médico William Harvey. Através de suas observações, ficou claro que a transmissão de sangue no interior do corpo, irrigando todos os órgãos, era essencial para a manutenção da vida. Pouco anos depois, uma série de experiências foram realizadas na tentativa de transferir sangue entre pessoas, sem resultados positivos. Somente 30 anos depois, através da criação do microscópio, é que as células sanguíneas foram descritas, demonstrando que havia uma porção material que, juntamente com o plasma (parte líquida) formava o sangue. Ficou evidente então que a presença destas células poderia afetar a transferência de sangue entre pacientes.

A primeira transfusão de sangue bem-sucedida ocorreu na Inglaterra no ano de 1665, sendo realizada entre cachorros. Por muito tempo essa técnica permaneceu no campo experimental, sendo considerada perigosa demais para ser praticada em humanos, uma vez que muitas das tentativas causavam reações adversas aos pacientes, sendo letais em casos extremos. Somente em 1818 houve a descrição de uma transfusão de sangue entre pessoas, feita pelo obstetra James Blundell, salvando a vida de uma paciente que sofreu hemorragia pós-parto. Ficou claro desde então que esta técnica poderia ser aplicada em muitos casos para salvar vidas. No entanto, mais estudos foram necessários para que esta prática se popularizasse. Quando os grupos sanguíneos foram descritos, formulando o sistema ABO, entendeu-se que as células de um tipo de sangue específico possuem antígenos que atacam outros tipos sanguíneos reconhecidos como diferentes, o que permitiu compreender porque as transfusões poderiam dar errado.

As primeiras práticas de segurança de transfusão sanguínea envolviam a determinação da tipagem sanguínea do doador e do paciente. Caso houvesse uma mistura compatível, a transfusão era realizada, o que conferiu um maior sucesso à esta técnica. Com o desenvolvimento posterior do sistema Rh (positivo ou negativo) em 1940, as transfusões passaram a ser um procedimento padrão realizado por profissionais da saúde. Outras metodologias acompanharam esta tendência, permitindo o uso de anticoagulantes e resfriamento para preservação a longo prazo de sangue, levando a criação dos primeiros Hemocentros ou Bancos de Sangue. Ao final dos anos 1990, grandes centros mundiais e a Cruz Vermelha recomendam que, antes de ser utilizado, o sangue doado deve ser testado para sífilis, hepatite e HIV.

A prática de transfusão em si envolve a inserção de um conector intravenoso no paciente, que recebera através de uma bolsa de sangue o volume recomendado, o que pode levar algumas horas. Devido a passagem de um grande volume de sangue, é comum sentir dor no local da transfusão por alguns dias depois, sendo necessário também um acompanhamento médico para se assegurar de que não haja nenhum efeito colateral. Outros sintomas comuns associados a transfusões incluem febre ou reações alérgicas (como coceira).

Recomenda-se uma transfusão sanguínea para pacientes que realizam grandes procedimentos cirúrgicos agendados ou de emergência, para pessoas que perdem grandes volumes de sangue devido a ferimentos ou acidentes e pacientes com doenças que causem a redução da quantidade de células no sangue, como no caso da anemia e leucemia.

Referências:

American National Red Cross (2001) American Red Cross. United States, retrieved from the Library of Congress.

Goodnough, L. T., Brecher, M. E., Kanter, M. H., & AuBuchon, J. P. (1999). Transfusion medicine—blood transfusion. New England Journal of Medicine, 340(6), 438-447.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/sistema-circulatorio/transfusao-de-sangue/

A transfusão de sangue é um procedimento médico que consiste na transferência do sangue ou de seus componentes de um doador a um receptor.

Há várias situações em que é necessário fazer uma transfusão, assim como há várias considerações que o especialista deve fazer antes de prescrevê-la. 

Para abordar tudo que envolve esse assunto, elaboramos este artigo, que também traz os 10 mandamentos da transfusão de sangue. Acompanhe!

Um breve histórico sobre a transfusão de sangue

Você sabia que a primeira transfusão de sangue documentada foi mal-sucedida? Pois é, ela aconteceu no século 17, por uma tentativa do médico francês Jean-Baptiste Denis. O médico infundiu sangue de ovelha em uma pessoa. 

No entanto, já era uma terapia em estudo, que só funcionou quando os grupos sanguíneos e a compatibilidade sanguínea foram descobertos. 

Em 1.658 foram descritos os glóbulos vermelhos pela primeira vez, e aproximadamente 250 anos depois, foram identificados os primeiros quatro tipos sanguíneos: A, B, AB e O. Logo foi descoberto o fator Rhesus (Rh), que classificou os grupos sanguíneos em negativo e positivo. 

Armazenar sangue se tornou uma prática entre 1.914 e 1.919, na Primeira Guerra Mundial. 

Já os serviços de coleta de sangue em larga escala foram criados na década de 30. 

Quais situações pedem uma transfusão?

Uma pessoa pode precisar de transfusão de sangue por diversas causas, como na hemofilia, que em situações em que alguns componentes do sangue estão ausentes e ou não funcionam de forma adequada, então o sangue não coagula. 

Outro caso pode ser por causa de um trauma, como a hemorragia. Quando isso acontece, o volume de sangue fica reduzido de forma que o organismo não consiga fazer a reposição de forma rápida. 

Outras vezes é quando a medula óssea não produz hemoglobina suficiente por causa de deficiência da matéria-prima necessária. 

Nesses casos citados, geralmente são realizadas transfusões de componentes do sangue:

  • concentrado de glóbulos vermelhos
  • concentrado de plaquetas
  • plasma fresco congelado e criprecipitado

A transfusão de sangue é regularmente usada em casos de cirurgias, traumatismos, sangramentos gastrintestinais e partos nos quais há necessidade de repor grandes perdas sanguíneas. 

Os pacientes com câncer também recebem, frequentemente, transfusões de sangue. 

Algumas doenças genéticas como a Talassemia e a Doença Falciforme afetam o sangue. Nesses casos, o formato dos glóbulos pode ser afetado, acarretando um funcionamento inadequado e sua consequente destruição. 

Os portadores dessas doenças precisam de suprimentos regulares de sangue seguro para repor as deficiências.

Quem pode doar sangue para transfusões?

O sangue utilizado para a transfusão deve vir de pessoas saudáveis, já que patologias como a Malária e a Doença de Chagas podem ser transmitidas de pessoa a pessoa via transfusão de sangue. 

Outras infecções podem ser igualmente perigosas à vida e também podem ser transmitidas por transfusão de sangue, dentre elas está o HIV/AIDS.

O sangue não só é um tecido vivo como também é um tecido renovável. Pessoas saudáveis têm mecanismos para produzir mais sangue, após a doação. 

Dependendo das condições clínicas, a maioria dos pacientes necessita somente de 1 (um) componente ou 1 (um) derivado, isso quer dizer que mais de um paciente (pode chegar a quatro pacientes) pode se beneficiar de uma única unidade de sangue total, ou seja, um doador pode salvar até 4 (quatro) vidas.

Os 10 mandamentos da transfusão de sangue

1 – Transfusão somente se os benefícios forem maiores que os riscos e se não houver alternativa terapêutica

2 – As indicações não se baseiam apenas em resultados de laboratório

3 – A decisão sobre a transfusão deve ser baseada em uma avaliação clínica e pelas guidelines locais ou regionais

4 – Nem todo paciente anêmico precisa de transfusão

5 – Os riscos, benefícios e alternativas devem ser discutidos com o paciente. Exemplos: uso de sulfato ferroso, aguardar mais um tempo pela recuperação etc. 

6 – O motivo da transfusão deve ser documentado, sobretudo como forma de você refletir sobre a prescrição da transfusão

7 – Em sangramento maciço, o protocolo vermelho faz toda a diferença

8 – Na emergência, principalmente, é importante checar a bolsa certa para o paciente certo

9- Acompanhar sempre as transfusões

10 – Ter treinamento e educação como base para a prática transfusional

Esperamos que tenha gostado do artigo. Como viu, a transfusão de sangue é algo a ser bastante avaliado antes de ser prescrito. Isso você aprende na faculdade de Medicina, mas aprofunda em cursos específicos.

Aqui na EME Doctors temos um portfólio variado de cursos online em que você pode aprofundar tudo que aprende ou aprendeu em sua formação. 

Dúvidas ou mais informações? Fale conosco!

E não deixe de ver nosso vídeo:

O que acontece com quem faz transfusão de sangue?

As complicações não infecciosas são mais frequentes. As principais complicações não infecciosas são: A reação febril não hemolítica associada à transfusão, ou seja, febre ocasionada pela transfusão do sangue. As reações transfusionais alérgicas, em outras palavras, alergia ao sangue.

Quais são os tipos de transfusão de sangue?

Existem dois tipos de transfusão de sangue: transfusão alogênica, que usa sangue doado por outras pessoas, e transfusão autóloga, que usa o sangue da própria pessoa.

Quando a anemia precisa de transfusão de sangue?

Quando a causa é a deficiência nutricional, a anemia pode ser revertida com uma dieta adequada. Em pacientes que sofrem uma forte hemorragia, os médicos optam pela transfusão de sangue.