Como o tratado de versalhes contribuiu para o fortalecimento dos ideais nazifascistas

A CRISE DO CAPITALISMO E A ASCENSÃO DO NAZIFASCISMO

Como o tratado de versalhes contribuiu para o fortalecimento dos ideais nazifascistas

Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/tag/intolerancia/. Acesso em 17/01/2021

  “Em um mundo marcado pela diversidade, a tolerância é um pré-requisito para a paz. […] estimula a construção de sociedades mais inclusivas e, assim, mais resilientes, que são capazes de se inspirar nas ideias, na energia criativa e nos talentos de cada um de seus membros. Frequentemente, a tolerância é […] uma ideia que às vezes se vê ameaçada. […] Eu percebo que crises migratórias, a trágica situação dos refugiados e conflitos armados são utilizados como ferramentas para fomentar o ódio aos outros, estigmatizar minorias e legitimar a discriminação. Eu tenho ouvido o aumento de atitudes racistas e de estereótipos de religiões e culturas, como quando se diz que povos diferentes não podem viver juntos e que o mundo seria um lugar melhor se voltássemos a tempos antigos, quando ‘culturas puras’ viviam sozinhas, protegidas de influências externas, em um passado mitificado que nunca existiu.”
Mensagem de Irina Bokova, diretora-geral da Unesco, por ocasião do Dia Internacional da Tolerância, 16 nov. 2016. Disponível em: . Acesso em: 3 maio 2018.
No passado, o surgimento de teorias racistas e preconceituosas, como a pregada por Adolf Hitler na Alemanha nazista, na qual afirmava a superioridade dos alemães em relação a outros povos, provocou efeitos catastróficos e violentos que nunca serão esquecidos. Apesar disso, ideias semelhantes a estas ainda rondam o pensamento de muitas pessoas por uma série de fatores, como afirmou Irina Bokova, diretora-geral da Unesco, no texto citado.
Apesar de existirem muitas declarações internacionais e leis reiterando a importância da tolerância e da igualdade entre as pessoas, o desrespeito ao outro e ao diferente ainda é um obstáculo a ser superado no mundo todo.

  • Responda em seu caderno I:
  1. Você já ouviu alguma notícia sobre pessoas que sofrem agressão física ou moral por causa de sua origem, de sua orientação sexual, da cor de sua pele ou de sua religião? 
  2. O que cada um de nós poderia fazer para disseminar atitudes tolerantes e de respeito ao próximo?
  3. Você já ouviu falar em totalitarismo? Como você imagina que seja a vida das pessoas em um país governado por um regime totalitário?
 

DINÂMICA E CRISE DO CAPITALISMO

Como o tratado de versalhes contribuiu para o fortalecimento dos ideais nazifascistas

Disponível em: https://miriangasparin.com.br/2019/02/divida-global-e-possivel-prever-a-proxima-grande-crise-mundial/. Acesso em 17/01/2021
Como você estudou, a Primeira Guerra Mundial deixou um saldo negativo na Europa: milhões de perdas humanas e materiais e grandes dificuldades econômicas. Além disso, as insurreições revolucionárias na Alemanha, na Hungria e na Bulgária e a onda de ocupação de fábricas no norte da Itália pareciam anunciar que a revolução socialista tinha chegado ao Ocidente. A partir de 1924, contudo, as insurreições já tinham sido debeladas e a economia europeia começou a apresentar sinais de recuperação.
Ao mesmo tempo, implantou-se na União Soviética um modelo de Estado que se caracterizava, no aspecto político, por um regime ditatorial e centralizador e, no aspecto econômico, por um modelo de economia planificada que obteve um extraordinário sucesso. O rápido crescimento econômico soviético gerou um sentimento de que o socialismo era uma alternativa viável ao capitalismo.
Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos emergiam como o centro do capitalismo mundial e o principal credor dos países europeus esgotados pela Primeira Guerra Mundial. Com a prosperidade econômica, nascia o chamado American way of life (“modo de vida americano”), caracterizado pelo consumo em massa e pela produção em larga escala, estimulados por uma política de crédito bancário livre do controle estatal.
Nos primeiros anos da década de 1920, os Estados Unidos tiveram um crescimento industrial acelerado, impulsionado pelo aumento do consumo interno e pela expansão do mercado externo. Com grande parte do potencial industrial e agrícola dos países europeus arruinada pela guerra, os Estados Unidos assumiram a liderança mundial das exportações.
O cenário mudaria completamente em 1929. A quebra da bolsa de valores de Nova York e os efeitos que ela produziu em todo o mundo capitalista interromperam o breve período de melhora da economia europeia e o grande crescimento econômico estadunidense, com consequências sociais e políticas que durariam vários anos.

  A QUEBRA DA BOLSA DE NOVA YORK
 

Como o tratado de versalhes contribuiu para o fortalecimento dos ideais nazifascistas

Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=306777. Acesso em 17/01/2021
A prosperidade econômica dos Estados Unidos impulsionou a especulação nas bolsas de valores. Com isso, milhares de investidores aplicaram suas economias no mercado de ações, que não tinha nenhuma regulamentação governamental. Muitos chegaram a hipotecar suas casas para comprar ações de empresas, apostando na sua crescente valorização.
No entanto, o crescimento econômico não beneficiava todos os trabalhadores. Os salários não cresciam no mesmo ritmo da produção industrial, e os pequenos proprietários rurais sofriam com os baixos preços dos seus produtos. Além disso, com a crescente mecanização da produção industrial e agrícola, muitos trabalhadores perderam seus empregos.
No final da década de 1920, os produtos industrializados estadunidenses já não eram absorvidos nem pelo mercado interno, que estava saturado, nem pelo externo, já que os países europeus começavam a recuperar sua capacidade de produção industrial e a reduzir as importações. Contudo, as empresas, mesmo à beira da falência, tinham suas ações artificialmente valorizadas na bolsa de valores.
Em outubro de 1929, diante de alguns sinais da depressão que se aproximava, investidores colocaram um grande número de ações à venda. O excesso de ações sem compradores no mercado provocou uma queda brusca do seu valor. No dia 24 daquele mês, a bolsa de valores de Nova York entrou em colapso, paralisando suas atividades e espalhando pânico entre os investidores. As ações perderam praticamente todo o seu valor, levando milhões de investidores à ruína. Sem dinheiro, fábricas e bancos faliram rapidamente.
A quebra da bolsa teve consequências desastrosas para a economia dos Estados Unidos. Entre 1929 e 1932, a produção industrial estadunidense caiu 54%, e o número de desempregados saltou de 400 mil para 12 milhões. A grande depressão econômica que marcou a década de 1930 gerou um clima de pessimismo que se expressou em todos os setores da sociedade.
A crise econômica de 2008
Em 2008, a falência de um importante banco de investimentos nos Estados Unidos espalhou pânico pelo sistema financeiro e teve efeitos econômicos e sociais catastróficos no mundo todo: centenas de empresas faliram e milhões de trabalhadores perderam o emprego. As principais ações tomadas pelos governos para combater a crise incluíram a redução de salários, o congelamento das aposentadorias e a demissão de funcionários públicos, causando uma onda de protestos.
Sinais da crise
Alguns sinais da depressão econômica já podiam ser notados antes de 1929; por exemplo, a desaceleração da demanda de imóveis e de automóveis a partir de 1927, notícias de falência de empresas e do aumento do desemprego em cidades pequenas e médias dos Estados Unidos e de fazendeiros impossibilitados de saldar suas dívidas com os bancos em razão do baixo preço dos produtos agrícolas.

OS EFEITOS MUNDIAIS DA CRISE ECONÔMICA
Nesse quadro de profunda recessão, os Estados Unidos suspenderam importações e cortaram o crédito aos demais países. Assim, praticamente toda a Europa ocidental e a América Latina foram duramente atingidas pela crise.
Nos anos 1930, com o objetivo de combater a depressão econômica, os governos dos Estados Unidos e de vários outros países adotaram medidas de intervenção e regulamentação da economia. Desse modo, a crise econômica significou um duro golpe ao liberalismo econômico e mostrou a necessidade da intervenção estatal para salvar a economia.
Responda em seu caderno II:

  1. Quais são as principais razões que explicam a crise do capitalismo liberal na Europa após a Primeira Guerra Mundial?
  2. Por que o breve período de retomada do crescimento econômico na Europa foi interrompido em 1929?
  3. Por que, nos Estados Unidos, o combate à crise de 1929 exigiu uma mudança no modelo de atuação do Estado adotado até então?
 

O PROGRAMA DE ROOSEVELT: O NEW DEAL
Em 1933, o democrata Franklin Roosevelt tomou posse da presidência dos Estados Unidos com o compromisso de tirar o país da crise. Assim que assumiu o governo, Roosevelt colocou em ação um plano de reorganizar a produção industrial e agrícola para alavancar a economia, que ficou conhecido como New Deal (novo acordo).
O programa estabelecia medidas para limitar a produção e reduzir os estoques agrícolas, visando conter a queda de preços. Também incluía concessão de financiamentos à indústria a juros baixos, incentivos às exportações, redução da jornada de trabalho (com o objetivo de criar novos empregos), fixação de um salário mínimo e grande investimento em obras públicas para gerar empregos.
Os recursos públicos utilizados para a realização desses programas foram garantidos por meio da cobrança de impostos mais altos dos ricos e da emissão de dinheiro, mesmo que essa medida provocasse um processo inflacionário.
Responda em seu caderno III:

  • Qual é a contradição denunciada pela imagem?

Vítimas de uma grande enchente aguardam em fila para conseguir um prato de sopa e pão, na cidade de Louisville, no estado do Kentucky, Estados Unidos, em 1937. No cartaz ao fundo está escrito: “O mais alto padrão de vida do mundo. Não existe um modo (de vida) como o americano”.

Como o tratado de versalhes contribuiu para o fortalecimento dos ideais nazifascistas

Disponível em: https://criticadaeconomia.com/2020/12/capital-mundial-continua-na-uti-com-respirador/. Acesso em 17/01/2021

A CRISE DA DEMOCRACIA NA EUROPA
Na Europa, a pobreza gerada pela crise econômica do pós-guerra e a descrença no liberalismo despertavam na burguesia o temor de novas revoluções proletárias no modelo soviético. Ao longo das décadas de 1920 e 1930, movimentos políticos antidemocráticos utilizaram o clima de inquietação social para instaurar governos autoritários e totalitários.
A onda de regimes ditatoriais teve início em 1922, quando os fascistas chegaram ao poder na Itália. Na Alemanha, Hitler assumiu o poder em 1933. No mesmo ano, António de Oliveira Salazar iniciou em Portugal uma das mais longas ditaduras da história recente na Europa. Na Espanha, após uma guerra civil, instaurou-se uma ditadura sob a liderança de Francisco Franco.
OS REGIMES DITATORIAIS E TOTALITÁRIOS

Como o tratado de versalhes contribuiu para o fortalecimento dos ideais nazifascistas

Disponível em: https://www.todamateria.com.br/regimes-totalitarios-na-europa/. Acesso em 18/01/2021
Os regimes ditatoriais e os totalitários são caracterizados pelo abuso do poder por parte do Estado e pela supressão das liberdades individuais. Contudo, segundo a filósofa alemã Hannah Arendt, existem diferenças importantes entre eles. Nos regimes ditatoriais ou autoritários, o projeto do governo está acima da vontade da nação; a soberania do povo é substituída pela soberania do ditador. Nos regimes totalitários, não apenas as liberdades são suprimidas, mas também a identidade de cada pessoa, a sua espontaneidade, por meio de um processo de condicionamento e do uso sistemático de instrumentos de terror.
Nos regimes totalitários, o governo exerce o controle total sobre a sociedade, impondo determinada ideologia pelo uso da força e pela severa vigilância dos meios de comunicação, do ensino e da vida privada. A eliminação da liberdade, além de ser promovida por meio de métodos de terror, atinge a consciência do próprio indivíduo, apagando todas as marcas de um pensamento autônomo para formar mentes moldadas à ideologia do Estado.
O termo totalitarismo foi utilizado para designar os governos do século XX caracterizados pelo antiliberalismo e pela centralização do poder do Estado na figura de um líder, que é exaltado como a personificação da pátria. O fascismo, na Itália, o nazismo, na Alemanha, e o stalinismo, na União Soviética, são os principais exemplos de regimes totalitários.

  A ASCENSÃO DO FASCISMO NA ITÁLIA
Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Itália não recebeu a compensação territorial prometida em troca do apoio dado aos países da Tríplice Entente (Reino Unido, Rússia e França). Além disso, os italianos enfrentavam escassez de mão de obra, causada pela perda de cerca de 2 milhões de combatentes, entre mortos e mutilados. A situação econômica também era grave, marcada pelo aumento da dívida pública, da inflação e da falência de várias empresas, espalhando o desemprego pelo país.
No início da década de 1920, a Itália vivia uma enorme crise social. Camponeses esfomeados invadiam terras improdutivas, e as greves paralisavam as cidades. Com o intuito de superar a crise, operários desempregados tomaram fábricas falidas e tentaram dirigi-las. O exemplo do sucesso soviético animava os movimentos de esquerda, assim como apavorava a grande burguesia.
Contudo, uma parte da população desempregada se aliou à grande burguesia para formar um movimento político de extrema-direita e ultranacionalista chamado Fasci Italiani di Combattimento. O movimento, que deu origem ao Partido Nacional Fascista, era liderado por Benito Mussolini e conjugava o ódio aos comunistas e o desprezo à democracia liberal. Em 1919, os fascistas participaram pela primeira vez de uma eleição parlamentar, mas não elegeram nenhum deputado. A partir desse fracasso eleitoral, Mussolini decidiu reorganizar o movimento em moldes militares e começou a planejar um golpe de Estado
Os grupos paramilitares fascistas passaram a atacar violentamente organizações partidárias e sindicais em vários pontos do país. O anticomunismo e o ultranacionalismo desses grupos empolgaram a grande burguesia e os grandes proprietários rurais, que passaram a financiá-los.
O fascio littorio
No antigo Império Romano, o fascio littorio (feixe de lictor) era utilizado por funcionários (chamados lictores) a fim de abrir caminho para a passagem dos magistrados. Por isso, a imagem do fascio era associada ao poder e à autoridade. Ele era representado por um machado (símbolo do poder de decisão dos magistrados sobre a vida e a morte dos réus) amarrado a um feixe de varas (emblema da força pela união). Adotado por Mussolini, passou a ser o símbolo do fascismo italiano.
OS FASCISTAS CHEGAM AO PODER
Em 1921, o Partido Fascista já tinha um pequeno exército de filiados. Financiado pela grande burguesia italiana, o partido rapidamente se transformou em uma poderosa organização. Com o movimento consolidado, em outubro de 1922, Mussolini comandou os fascistas na Marcha sobre Roma, demonstrando força e apoio popular e exigindo espaço no poder.
O rei italiano, Vítor Emanuel III, cedeu às pressões e convidou o líder fascista para compor um novo governo. O comando efetivo do país passou a ser exercido por Mussolini, chamado de Duce (comandante).
A partir de 1924, o Estado fascista passou a perseguir violentamente a oposição, instituiu a pena de morte, assumiu o controle da economia, ampliou a censura e deu a Mussolini o poder de indicar pessoas para os cargos executivos na Itália. No ano seguinte, uma nova legislação trabalhista atrelou o movimento sindical ao governo fascista.

  A criação do Estado do Vaticano
Mussolini procurou neutralizar a influência da Igreja Católica na Itália assinando com ela o Tratado de Latrão, em 1929. O acordo criou o Estado do Vaticano, localizado em um bairro de Roma onde ficava a sede da Igreja. Os termos da negociação garantiram a soberania do novo Estado e a predominância da religião católica na Itália. O Vaticano reconhecia, em contrapartida, a soberania do governo italiano sobre seu Estado, além de abandonar a reivindicação de uma compensação financeira por suas perdas territoriais e de propriedade.
FASCISMO ITALIANO: TOTALITÁRIO OU NÃO?
Segundo alguns historiadores, mesmo com seu caráter fortemente ditatorial, o regime fascista italiano não poderia ser, a rigor, considerado totalitário. Isso porque não teria existido, nesse país, o processo de condicionamento ou de coisificação do indivíduo que marcou o totalitarismo na Alemanha de Hitler ou na União Soviética de Stalin. Para outros autores, ao contrário, o fascismo italiano teria sido, sim, totalitário. Mesmo que o governo de Mussolini, por questões culturais ou nacionais, não tenha exercido o controle total sobre a sociedade italiana, a doutrina fascista, em sua essência, é totalitária. Essa análise se apoia na visão que o próprio líder fascista tinha a respeito do regime.
“ [...] para o fascista, tudo está no Estado, e nada de humano nem de espiritual [...] existe fora do Estado. Nesse sentido, o fascismo é totalitário, e o Estado é fascista, síntese e unidade de todo o valor, interpreta e dá poder à vida inteira do povo. Nem agrupamentos – partidos políticos, associações, sindicatos –, nem indivíduos fora do Estado.”
Benito Mussolini [1930]. In: FREITAS, Gustavo de. 900 textos e documentos de história. 2. ed. Lisboa: Plátano, 1977. p. 286. v. 3
A ESCALADA NAZISTA NA ALEMANHA
Após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, em 1918, foi deflagrada uma revolução no país, que obrigou o imperador Guilherme II a abdicar do trono. Com isso, proclamou-se na Alemanha uma república parlamentarista: a República de Weimar.
O nascente governo republicano tinha a difícil tarefa de reconstruir o país. Cerca de 2 milhões de homens foram mortos no conflito e mais de 4 milhões ficaram gravemente feridos. Além disso, havia ainda as cláusulas do Tratado de Versalhes de 1919, que obrigavam a Alemanha a ceder territórios, a pagar pesadas indenizações e a reduzir seu efetivo militar.
O desemprego, a inflação e o crescimento da pobreza geraram um clima de agitação social que preocupava os setores conservadores da sociedade alemã. Antigos aristocratas, oficiais do exército, a grande burguesia industrial e financeira e parte da classe média temiam que o modelo da revolução bolchevique na Rússia chegasse à Alemanha.
Nesse contexto, surgiram diversos movimentos nacionalistas e de extrema- -direita que defendiam medidas radicais para tirar o país da crise. O principal deles era o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazista, liderado por Adolf Hitler.
Os nazistas pregavam a rejeição ao Tratado de Versalhes e à República de Weimar, a quem responsabilizavam pela difícil situação econômica em que a Alemanha se encontrava. Eles também defendiam a construção de um Estado forte e centralizado em torno de um líder, a militarização da sociedade e a conquista de um espaço vital para o povo alemão.
Segundo os nazistas, a população germânica formava uma raça superior, a “raça ariana”, que deveria ser unida em um só império. Assim, o povo alemão precisaria expandir seu território e garantir o espaço vital para seu desenvolvimento e sua reprodução. Para os nazistas, os povos considerados inferiores deveriam ser eliminados, para que não “contaminassem” a “raça ariana”. Assim, ciganos, negros, eslavos, homossexuais, testemunhas de Jeová e, principalmente, judeus passaram a ser perseguidos por membros do partido.
A OCUPAÇÃO DO RUHR E O PUTSCH DE MUNIQUE
Em janeiro de 1923, tropas francesas e belgas ocuparam a região do Vale do Rio Ruhr, principal área industrial da Alemanha. Prevista no Tratado de Versalhes, a ocupação tinha por objetivo pressionar o governo alemão a pagar as indenizações de guerra que o país devia à França.
O resultado da ocupação foi desastroso para a economia alemã: em poucos meses, o marco alemão se desvalorizou enormemente: em março de 1923, um dólar valia 22 mil marcos; no final do mesmo ano, cada dólar custava 4,2 trilhões de marcos. Com a hiperinflação, muitas empresas faliram, aumentando o desemprego e agravando a crise econômica.
Aproveitando o clima geral de descontentamento, os nazistas tentaram, em novembro do mesmo ano, derrubar o governo da região alemã da Baviera, em um episódio que ficou conhecido como o Putsch de Munique. Inspirado na “Marcha sobre Roma” de Mussolini, o golpe esperava contar com o apoio da população para tomar o poder na região e, posteriormente, em toda a Alemanha. Porém, sem o apoio necessário, o golpe fracassou e suas principais lideranças foram presas. No entanto, por atrair a atenção de toda a sociedade alemã, o julgamento dos membros do grupo se transformou em uma oportunidade de disseminar o discurso nazista por todo o país.
Condenado a cinco anos de prisão, Hitler permaneceu apenas nove meses na cadeia. Durante esse período, o líder nazista escreveu o livro Mein Kampf (Minha luta), que contém as principais ideias que formariam a base da ideologia nazista: a superioridade racial germânica, o ódio contra as “raças inferiores”, como os judeus e os eslavos, e a necessidade de eliminar pessoas com deficiência e grupos considerados “degenerados”, como comunistas, homossexuais e representantes da arte de vanguarda.
Na obra, além das ideias racistas e antiliberais, Hitler também defendia a guerra contra os países que impuseram o Tratado de Versalhes à Alemanha e expressava seu desprezo pelos marxistas e pela Rússia soviética, deixando claro que a conquista do espaço vital para o povo alemão exigiria uma guerra contra a Rússia.
A ASCENSÃO DE HITLER AO PODER
Na segunda metade da década de 1920, o governo da República de Weimar parecia ter retomado o caminho da estabilidade. Beneficiando-se de empréstimos concedidos pelos Estados Unidos, iniciou um plano de crescimento e de modernização industrial, que, no início de 1929, já tinha superado os índices de crescimento do período pré-guerra.
No entanto, o crash da bolsa de Nova York em 1929 e a suspensão do crédito estadunidense tiveram efeitos brutais na Alemanha. Sem o investimento estrangeiro, muitas empresas fecharam e o desemprego atingiu índices alarmantes. Em 1932, no auge da crise, havia cerca de 6 milhões de trabalhadores desempregados na Alemanha.
À medida que os efeitos da crise se agravavam, o discurso ultranacionalista do Partido Nazista atraía cada vez mais adeptos. Nas eleições parlamentares de julho de 1932, os nazistas elegeram o maior número de deputados para o Reichstag (Parlamento alemão), consolidando-se como o maior partido do país. Em janeiro de 1933, o presidente da república, Paul von Hindenburg, cedeu às pressões da poderosa burguesia industrial alemã e nomeou Hitler chanceler, ou seja, chefe de governo do país. Para os setores da grande indústria, apenas os nazistas poderiam combater a depressão econômica e estabilizar a vida social e política do país.
No mês seguinte, o prédio do Reichstag foi incendiado e os comunistas foram acusados de serem os responsáveis pelo crime. Pressionado pelos nazistas, Von Hindenburg suprimiu a liberdade de expressão, de opinião, de reunião e de imprensa, entre outras medidas, para combater a “ameaça comunista” na Alemanha. Estava aberto o caminho para a chegada dos nazistas ao poder. Em agosto de 1934, com a morte de Von Hindenburg, Hitler unificou os cargos de presidente da república e de chanceler. Um referendo nacional, realizado duas semanas após a morte do presidente, confirmou Hitler como único líder do país. Dessa maneira, ele assumiu o poder na Alemanha, colocando fim à República de Weimar.
A POLÍTICA NAZISTA
Com o total controle do Estado alemão, Hitler declarou-se Führer do Reich, ou seja, líder do Império Alemão, e intensificou a política de perseguição aos seus opositores. O governante nazista fechou o Parlamento, ordenou a dissolução dos sindicatos e decretou a ilegalidade de todos os partidos políticos da Alemanha, com exceção do Partido Nazista.
O governo nazista promoveu um intenso controle sobre a sociedade alemã. A polícia política do país (Gestapo), a guarda pessoal de Hitler (Schutzstaffel ou SS) e as milícias conhecidas como Forças de Assalto (Sturmabteilung ou SA) eram as responsáveis pelas perseguições aos opositores do regime.
Hitler também utilizou a propaganda para assegurar e ampliar o apoio popular ao nazismo e assim manter o controle sobre a sociedade. Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, foi responsável por difundir a imagem pública de Hitler como salvador da Alemanha e por submeter os meios de comunicação a uma severa censura. Muitos artistas, intelectuais e cientistas deixaram a Alemanha fugindo da perseguição nazista.
Descumprindo as cláusulas do Tratado de Versalhes, Hitler também deu início a uma política de rearmamento do país. A produção armamentista alavancou a economia, aumentando a popularidade do governo. Além disso, as forças armadas foram reorganizadas e o alistamento militar tornou-se obrigatório.
O campo de concentração de Dachau
Os campos de concentração eram centros de confinamento de civis ou de militares detidos como presos políticos ou prisioneiros de guerra. O campo de Dachau, o primeiro construído pelos nazistas, começou a funcionar em 1933, semanas após a nomeação de Hitler como chanceler. Milhares de prisioneiros (a maioria judeus) morreram fuzilados ou asfixiados nas câmaras de gás. Estima-se que mais de 200 mil pessoas tenham ficado presas em Dachau e que quase 42 mil tenham sido executadas no local, muitas delas vítimas de experimentos médicos.
O SALAZARISMO EM PORTUGAL
O regime ditatorial em Portugal iniciou-se com um golpe de Estado em 28 de maio de 1926, sob a liderança do general Gomes da Costa. O novo governo aproximou-se da Igreja, impondo um nacionalismo católico e um intenso sentimento anticomunista. No entanto, até 1930, houve grande instabilidade política no interior do regime. Gradualmente, os militares foram afastados do poder e uma elite civil com ideais inspirados no fascismo italiano passou a ganhar força. Nesse cenário, destacou-se António de Oliveira Salazar, que foi nomeado ministro das Finanças em 1928. Em 1930, surgiu a União Nacional, uma frente política que congregava as diferentes forças que apoiavam a ditadura e que propôs um programa de Estado autoritário e corporativista. Diferentemente do fascismo italiano e do nazismo alemão, em Portugal não foi concebido um partido único, apesar de a União Nacional agir como tal. No mesmo ano, criou-se o Ato Colonial, que reafirmou e reforçou o direito de Portugal de colonizar e “civilizar” os domínios ultramarinos.
Em 1932, Salazar tornou-se presidente do Conselho de Ministros, ganhando amplos poderes. Em 1933, ele outorgou uma nova Constituição para o país, dando início a um regime autoritário denominado Estado Novo, que duraria até 1974. A nova Carta Constitucional afirmava Portugal como um Estado unitário, corporativo, forte e interventor e ratificava o Ato Colonial, mostrando a importância das colônias portuguesas para o desenvolvimento econômico lusitano.
Ainda naquele ano, Salazar criou o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), chefiado por António Ferro. O SPN foi responsável pelo intenso controle e pela censura dos meios de comunicação, assim como por criar um projeto cultural que enaltecia o Estado Novo, o ultranacionalismo e os valores católicos. Nas escolas, o ensino religioso tornou-se obrigatório. Além disso, foram criadas milícias nacionalistas juvenis com o objetivo de combater os comunistas.
Ampliando: o salazarismo
“Como diria Salazar em 1934, ‘não reconhecemos liberdade contra a nação, contra o bem comum, contra a família, contra a moral’. Para não negar a própria nação, o Estado Novo havia de assumir como missão essencial a de reconduzir os portugueses à ‘nova ordem moral’ que a redimia e realizava. É por isso que no Portugal salazarista, à semelhança do que se passava com outras ditaduras […] de natureza fascista e portadoras de um projeto totalitário, o discurso ideológico não se limitou a um simples enunciado, mesmo que exclusivo e unívoco. Constituiu-se como um duplo guia para a ação: uma orientação para a política, em geral, mas, de forma muito particular, uma espécie de catecismo para o ‘resgate das almas’, levado à prática por organismos de propaganda e inculcação ideológica expressamente criados para esse efeito.”
ROSAS, Fernando. O salazarismo e o homem novo: ensaio sobre o Estado Novo e a questão do totalitarismo. Análise social, n. 157, v. XXXV, Lisboa, 2001. p. 1037. Disponível em: . Acesso em: 20 jul. 2018.
O salazarismo foi totalitário?
Muitos historiadores, como Stephen J. Lee e Pierre Milza, consideram que o salazarismo não possuiu as características de um Estado totalitário, como ocorreu na Alemanha nazista e na Itália fascista. Segundo eles, Salazar não tinha uma liderança carismática nem apelava à mobilização das massas como faziam Hitler e Mussolini. Também argumentam que não existiu em Portugal um partido único, uma política expansionista agressiva, uma ideologia totalitária nem condições estruturais que permitissem a emergência de um sistema totalitário, como crise econômica, industrialização acelerada ou uma unificação política tardia. De qualquer forma, há um consenso de que o salazarismo foi um regime autoritário e tendeu a inspirações fascistas, mesmo que de forma periférica.
Responda em seu caderno IV:
De acordo com o texto, o que diferencia o salazarismo do nazismo alemão e do fascismo italiano?

  Autoritarismo versus totalitarismo
O autoritarismo tem como fim controlar e cercear a sociedade civil que, apesar disso, mantém autonomia relativa. Nesse regime, o poder está concentrado nas mãos de um ditador ou de um grupo de ditadores, contudo existe a vigência da lei. O Estado, para “manter a ordem”, limita as liberdades civis, emprega esforços para coagir e controlar a oposição e esvazia os órgãos de representação política – como as câmaras legislativas.

  NA ESPANHA: A GUERRA CIVIL
Em julho de 1936, na Espanha, um grupo de militares nacionalistas, liderados pelo general Francisco Franco, iniciou um golpe de Estado para derrubar o governo da Frente Popular, que reunia comunistas, socialistas e republicanos. O levante franquista foi derrotado pela reação popular, e o país, dividido entre nacionalistas e republicanos, entrou em uma violenta guerra civil.
As forças nacionalistas receberam apoio dos latifundiários e da Igreja, assim como dos governos de Hitler, Mussolini e Salazar. Já os republicanos foram apoiados pelas Brigadas Internacionais, grupos de voluntários formados em diversos países para lutar contra os franquistas. A União Soviética deu apoio aos republicanos, especialmente por meio do Partido Comunista Espanhol, mas o retirou antes mesmo de o conflito terminar.
Aos olhos da opinião pública internacional, o conflito espanhol foi identificado como uma polarização entre a organização nacionalista de caráter fascista e o movimento socialista. Os governos do Reino Unido, da França e dos Estados Unidos declararam-se neutros, atitude que contribuiu para fortalecer os franquistas e expandir o nazifascismo pela Europa.
GUERNICA

Guernica (1937), pintura de Pablo Picasso. Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, Madri, Espanha. Nessa obra, o pintor espanhol representou o horror do bombardeio da Luftwaffe ao vilarejo de Guernica.

Como o tratado de versalhes contribuiu para o fortalecimento dos ideais nazifascistas

Disponível em: https://www.infoescola.com/pintura/guernica/. Acesso em 17/01/2021

 Responda em seu caderno V:

  • Como Picasso representou o bombardeio a Guernica? Que figuras chamam sua atenção? Que sentimentos elas despertam em você?
 

A IMPLANTAÇÃO DA DITADURA FRANQUISTA
Em abril de 1937, a força aérea alemã, a Luftwaffe, com o objetivo de testar novas tecnologias e estratégias de guerra, bombardeou a pequena aldeia basca de Guernica, no norte da Espanha. O vilarejo foi completamente destruído. Mais de mil pessoas morreram e centenas ficaram desabrigadas.
O auxílio nazifascista foi decisivo para a vitória das forças nacionalistas do general Franco em 1939, que instituiu uma ditadura na Espanha e permaneceu no poder até a sua morte, em 1975.
O franquismo caracterizou-se pelo forte nacionalismo católico, pelo anticomunismo e pela perseguição e execução dos opositores ao regime. Assim como em Portugal, a Igreja teve uma grande participação na consolidação do regime espanhol, atuando na censura, no controle do ensino e na repressão moral.

  LEITURA COMPLEMENTAR:
A propaganda e a opinião pública
O texto a seguir faz uma reflexão sobre o uso dos meios de comunicação pelos regimes autoritários e totalitários que se consolidaram na Europa no entreguerras.

  “A primeira metade do século XX foi marcada pela ascensão e consolidação dos regimes [nazista, fascista, salazarista e franquista] que utilizaram os meios de comunicação de massas como instrumentos de propaganda política e de controle da opinião pública.
A propaganda política, entendida como fenômeno da sociedade e da cultura de massas, consolidou-se nas décadas de 1920-1940, com o avanço tecnológico dos meios de comunicação. Valendo-se de ideias e conceitos, a propaganda os transforma em imagens, símbolos, mitos e utopias que são transmitidos pela mídia. A referência básica da propaganda é a sedução, elemento de ordem emocional de grande eficácia na conquista de adesões políticas. Em qualquer regime, a propaganda é estratégica para o exercício do poder, mas adquire uma força muito maior naqueles em que o Estado, graças à censura ou monopólio dos meios de comunicação, exerce rigoroso controle sobre o conteúdo das mensagens, procurando bloquear toda atividade espontânea ou contrária à ideologia oficial. O poder político, nesses casos, conjuga o monopólio da força física e da força simbólica; tenta suprimir, dos imaginários sociais, toda representação do passado, presente e futuro coletivos que seja distinta daquela que atesta a sua legitimidade e cauciona o controle sobre o conjunto da vida coletiva. Em regimes dessa natureza, a propaganda política se torna onipresente, atua no sentido de aquecer as sensibilidades e tende a provocar paixões, visando a assegurar o domínio sobre os corações e mentes das massas.”
PEREIRA, Wagner Pinheiro. Cinema e propaganda política no fascismo, nazismo, salazarismo e franquismo. História: Questões & Debates, Curitiba, n. 38, 2003, p. 102, Editora UFPR. Disponível em: . Acesso em: 2 maio 2018.
Responda em seu caderno VI:

  1. O texto cita um objetivo importante da propaganda. Qual?
  2. Segundo o texto, de que forma os Estados autoritários e totalitários se apropriam dos meios de comunicação? Por que a propaganda é uma estratégia para o exercício do poder?  
  3. Com base no que você estudou neste capítulo, de que forma o nazismo, o fascismo, o salazarismo e o franquismo se identificam com o tema abordado no texto? 
  4. Na sua opinião, o Estado ainda usa os meios de comunicação para se autopromover? Como são as propagandas políticas atuais?  
  5. No dia a dia, somos bombardeados por vários tipos de propaganda que estimulam o consumo. Na sua opinião, essas propagandas utilizam as mesmas estratégias que as propagandas políticas? Por quê?
 

Conteúdo disponível em:
Braick, Patrícia Ramos. Estudar história: das origens do homem à era digital 3. ed. — São Paulo: Moderna, 2018, cap. 5, páginas 84 a 99.

Qual foi a importância do Tratado de Versalhes?

O Tratado de Versalhes foi um documento assinado pelas potências europeias que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e estipulou os termos de paz entre Aliados e a Alemanha, após aquele conflito ter resultado em milhões de mortes.

Quais foram as principais consequências do Tratado de Versalhes?

O Tratado de Versalhes foi um de vários acordos de paz assinados após a Primeira Guerra Mundial. Esse conflito estendeu-se de 1914 a 1918 e resultou na morte de 10 milhões de pessoas, além de uma gigantesca destruição material nos países que se envolveram com nele.

Por que podemos afirmar que o Tratados de Versalhes foi uma das causas que provocou a Segunda Guerra Mundial?

No Tratado de Versalhes foi apurada a quantia da reparação que a Alemanha teria que pagar, chegando-se ao valor de 33 milhões de dólares. Os encargos suportados para pagar essa quantia é a principal causa do fim da República de Weimar e a subida ao poder de Adolf Hitler.

O que foi o Tratado de Versalhes e quais foram suas consequências para a Alemanha?

Com a criação da Liga das Nações, o Tratado de Versalhes foi retificado em 1920. A partir desse tratado, estabeleceu-se que a Alemanha era a única responsável pelo conflito e a ela caberia reparar os prejuízos da guerra. As condições do tratado foram duríssimas e consideradas humilhantes pela Alemanha.