A namorada de patch adams morreu mesmo

A namorada de patch adams morreu mesmo
"Fiquei constrangido pelo filme", diz os médico americano Patch Adams, em entrevista exclusiva Chip Somodevilla/Getty Images/Getty Images

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“O hospital pode ser um lugar extremamente agradável. Os pacientes deveriam nem sentir vontade de ir embora!”

O estilo de trabalhar e de se vestir faz com que o oncologista pediátrico americano Patch Adams, de 70 anos, seja muitas vezes confundindo com um palhaço de circo. Na verdade, ele usa quartos de hospitais para fazer seu espetáculo. Há 40 anos, Patch Adams inspira médicos de todo mundo a desenvolver uma medicina mais humanizada. Adams defende que a piada, quando acompanhada de boas gargalhadas, pode ser uma poderosa aliada no tratamento de doenças. Na década de 70, fundou nos Estados Unidos o Instituto Gesundheit (“saúde”, em alemão), que atende pacientes de graça e integra a medicina tradicional com atividades recreativas, como pintura e teatro. A trajetória do oncologista se transformou em um filme estrelado por Robin Williams: Patch Adams – O Amor É Contagioso. Nesta semana, o médico falou com exclusividade ao site de VEJA, poucos dias antes de sua visita ao Brasil para dar palestras sobre o câncer infantil.

O que o senhor acha da forma como a medicina tem sido ensinada nas universidades? Um lixo. Há 40 anos me correspondo por cartas com muitos alunos de medicina de mais de 120 países e nunca recebi uma mensagem positiva sobre a maneira como têm sido educados. Durante esse tempo todo nada mudou. Os professores são rudes e arrogantes e educam médicos que não gastam tempo suficiente com o paciente. Esses médicos acabam achando normal trabalhar em ambientes de trabalho estressantes. Não há um hospital feliz no mundo. Uma pena. O hospital pode ser um lugar extremamente agradável. Os pacientes deveriam nem sentir vontade de ir embora!

Como um hospital pode ser divertido? Os profissionais devem ser bons — e não me refiro apenas no sentido técnico. Um bom médico é aquele que sabe cultivar a relação com o paciente por meio da troca de amizade, confiança e… humor. Eu acredito e defendo sempre que é possível transformar a morte em algo divertido. Com humor. Tenho tentado fazer isso desde sempre.

Qual é o pior defeito que um médico pode ter? A arrogância. De todos os meus professores da faculdade, 95% deles eram arrogantes. Chegava a ser constrangedor quando eu entrava no quarto de um paciente com alguns deles. Eles ficavam com o paciente por cerca de 5 a 10 minutos. Isso é um médico ruim. As pessoas são complexas e têm doenças complicadas. É impossível conhecer um paciente em apenas 10 minutos.

Seu nome remete imediatamente ao personagem de Robin William em Patch Adams: O Amor é Contagioso, de 1998. Qual é a sua opinião sobre o filme? Eu fiquei constrangido pelo filme. Robin Williams, claro, não teve nada a ver com isso. O problema foi com o diretor (Tom Shadyac). Ele não teve o menor interesse em me conhecer de verdade. É um arrogante que quis vender ingressos. Ele não quis falar do meu trabalho como realmente é. Por exemplo, o meu melhor amigo da faculdade, que morreu seis anos após nossa formatura, se transformou no filme em uma namorada fictícia que morre de forma dramática. Essa versão inventada, obviamente, vende mais. Tive até de pedir desculpas ao filho desse meu amigo pelo que fizeram. Além disso, a cena em que Patch Adams leva uma paciente idosa para nadar em uma piscina de macarrão foi muito mais divertida na vida real.

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A namorada de patch adams morreu mesmo

1. O filme Patch Adams – O amor é contagioso é baseado na história real do médico Hunter “Patch” Adams. Ele próprio se define como um palhaço e embaixador da alegria. Defende a teoria de que, para a cura de doentes, deve existir mais contato humano entre pacientes e médicos. Quando cursava medicina, Patch foi muito criticado pelo seu método de aplicar o riso como forma de recuperação. Chegou a receber o conselho de que “lugar de palhaço é o circo”.

2. Na adolescência, Patch Adams sentia-se desiludido com o mundo em que vivia, que valorizava o poder e a injustiça em detrimento do amor e da compaixão. Nos Estados Unidos dos anos 60, o racismo e a intolerância dominavam a sociedade. Por causa disso, o garoto tentou tirar a própria vida três vezes. Foi então internado em um hospital para doentes mentais.

3. Foi durante sua internação no manicômio que Patch Adams tomou duas importantes decisões: servir a humanidade por meio da Medicina e nunca mais ter um dia ruim.

4. Depois que se formou, Patch fundou o Gesundheit Institute, na Virginia (EUA), com um grupo de 20 colegas. O hospital, primeiro a unir completamente todas as formas de terapia, atendeu mais de 15 mil pacientes em seus primeiros 12 anos de história. O trabalho é tão interessante que há uma fila de milhares de profissionais da saúde esperando uma chance para trabalhar no instituto.

5. Patch Adams organiza de cinco a sete viagens de médicos-palhaços por ano. O grupo costuma agir em regiões pobres e atingidas por guerras.

6. O médico é casado Susan Parenti e tem dois filhos (Zag e Lars). Ele ainda sustenta outras 300 crianças órfãs pelo mundo.

7. Apesar de ganhar cerca de 1 milhão de dólares por ano, Patch Adams só usa o necessário para seu sustento básico. O restante é doado para a caridade. Ele não tem carro, casa própria ou qualquer tipo de seguro.

8. Patch Adams só usa roupas multicoloridas, pois isso ajuda a transmitir alegria a seus pacientes. Em seu guarda-roupa, não há uma única peça de uma cor só.

9. O médico faz 45 minutos de exercício em uma bicicleta ergométrica todas as manhãs. Ele usa o mesmo equipamento há mais de 50 anos.

10. Patch Adams tem uma biblioteca pessoal com 12 mil livros. Dois deles foram escritos por ele: “House Calls: how we can heal the world a visit at time” e “Gesundheit!: Good Health is a Laughter Matter ”.