O que a filosofia estuda resumo

A Filosofia é um modo de problematizar o mundo de maneira crítica e conceitual. Ela é utilizada pelo ser humano para desbravar os confins da racionalidade e do conhecimento.

O que entendemos por Filosofia é um tipo de pensamento organizado, conceitual, crítico e reflexivo. Enquanto conhecimento crítico, esse ramo do saber não aceita como verdadeira qualquer proposição sem antes analisá-la. Já como conhecimento reflexivo, a Filosofia desdobra-se sobre si mesma a fim de criar novos problemas para um melhor entendimento do mundo. É um tipo de pensamento conceitual, pois ela trabalha por meio da formulação e reformulação de conceitos, criando e revisando os significados que nós damos para o mundo.

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Entendendo o conceito de Filosofia

Vários filósofos, de Tales a Foucault, formularam respostas diferentes para a pergunta “o que é a Filosofia?”. Ao tentar responder a essa pergunta, não podemos, simplesmente, apresentar uma síntese de todas essas respostas. Por isso, neste texto, trabalharemos com algumas perspectivas diferentes, deixando claro que o conteúdo aqui expresso não corresponde a uma resposta última e definitiva sobre esse conceito.

De acordo com a definição relativa ao pensamento que se desdobra sobre si mesmo e de maneira conceitual, a Filosofia lida, às vezes, com elementos concretos e, na maioria das vezes, com elementos abstratos. Uma das perguntas mais essenciais dessa área é, justamente, aquela que pergunta pela essência das coisas, ou seja, “o que é?”.

Essa pergunta primordial no trabalho filosófico pode desembocar em outros problemas, como “por que é?” e “como é?”. Isso cria uma espécie de teia de conceitos e de problemas que dão movimento ao trabalho do filósofo, criando, recriando e estabelecendo um plano de conceitos que apresentam os significados do e sobre o mundo.

A Filosofia surgiu no ser humano quando ele saiu de sua zona de conforto e foi capaz de enxergar, enfrentar e problematizar as questões mal resolvidas do mundo, estabelecendo uma atividade desafiadora. Nesse sentido, podemos dizer que ela surgiu em um momento de crise, em que nossa atitude passiva de observador do senso comum ficou em escanteio e nossa atividade e curiosidade tomaram as rédeas do conhecimento.

Não há uma resposta unânime para a pergunta sobre o objeto de estudo da Filosofia na história dessa área de conhecimento. Para os pré-socráticos, o objeto de estudo era o universo e a natureza, estabelecendo o que ficou conhecido como Cosmologia, um estudo primordial que pretendia descobrir qual a origem do universo e de tudo o que existia, sem recorrer aos deuses e a narrativas religiosas e fantasiosas.

De acordo com a teoria de Sócrates, o objeto de estudo da Filosofia seria as questões resultadas da atividade humana no mundo, como a política, o conhecimento e a justiça. Conforme os helênicos, era uma doutrina que deveria buscar a felicidade e o bem viver. Os patrísticos consideravam que a Filosofia deveria estar em consonância com o pensamento cristão, enquanto, para os escolásticos, essa consonância deveria ser mantida, mas os olhares deveriam voltar-se para a observação da natureza.

Os modernos problematizaram as ciências e o modo como o ser humano reflete sobre elas, além de especularem sobre a política de sua época. Os contemporâneos, a partir do século XIX até hoje, utilizaram a Filosofia para pensar questões sobre a sua época, como as implicações éticas sobre a vida, a linguagem, a utilização das tecnologias, o poder político etc.

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Origens da Filosofia

Falando do surgimento da Filosofia no ocidente, podemos remontar a sua origem ao pensador Tales de Mileto, um bem sucedido comerciante da Ásia Menor, que viveu entre 624 e 546 a.C. Em suas viagens, esse filósofo conheceu a astronomia babilônica e a matemática egípcia, de inspiração hindu.

Tales, além de ser o primeiro filósofo, foi também um célebre matemático e astrônomo, tendo localizado a constelação Ursa Menor e previsto a data e o horário de um eclipse solar ocorrido por volta do ano 585 a.C., utilizando apenas a visão e cálculos matemáticos. Porém, alguns historiadores ressaltam a importância do contato dos gregos com o pensamento oriental, afirmando a inseparabilidade entre ambos no período inicial.

Marilena Chaui, professora emérita de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), aposta na tese de que o pensamento oriental anterior e contemporâneo aos gregos deve ser considerado. Ela afirma que

a tese orientalista não é absurda. Como observa o historiador da filosofia Rodolfo Mondolfo, as grandes civilizações orientais mantiveram relações com as civilizações pré-helênicas (egeia, cretense, minoica), e estas, embora derrotadas pelos aqueus e pelos dórios, determinaram formas e conteúdos da vida social, da religião, dos mitos, das artes e técnicas dos gregos homéricos e arcaicos. Heródoto, Aristóteles, Eudemo e Estrabão afirmaram que a geometria e a astronomia eram cultivadas pelos pelos caldeus, egípcios e fenícios; Platão acreditava que o mais antigo e elevado saber encontrava-se com o velho sacerdote do Egitoi.

Isso significa que há uma importância a ser considerada naquilo que pensadores chineses, como Lao Tsé, Confúcio e Mo Tzu fizeram. Também significa que, apesar de os gregos terem criado algo inédito, a sua inspiração apareceu a partir do contato com povos orientais.

O que a filosofia estuda resumo

Confúcio, um dos antigos sábios chineses, esculpido em pedra.

Função da Filosofia

Muitas pessoas perguntam sobre a utilidade da Filosofia, sendo que para as outras ciências e ramos do saber essa pergunta não é frequente. Polêmica e muitas vezes irônica, essa pergunta parece transpassar a ideia de que a essa área é inútil. Em certo sentido e tomando por base o conceito contemporâneo de utilidade, a Filosofia realmente não serve para nada, pois ela não constrói objetos, não cria coisas concretas, não interfere imediatamente no mundo físico e não rende lucro. Assim, ela não tem utilidade.

Segundo Chauiii, costumamos pensar erroneamente que algo que não tem utilidade prática não deve existir. Mas a Filosofia orgulha-se de não fazer parte desse conjunto de ciências práticas que servem apenas de pontes para a evolução das técnicas.

Gilles Deleuze afirma que a Filosofia não é subserviente. Ela não serve de base para as outras ciências e, se em algum momento isso aconteceu, não foi por vontade dela. Esse ramo do saber é autônomo, é crítico, é feito por um pensamento emancipado de outros pensamentos.

a filosofia não serve nem ao Estado, nem à Igreja, que têm outras preocupações. Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para entristecer. Uma filosofia que não entristece a ninguém e não contraria ninguém, não é uma filosofia. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo vergonhoso. Não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formasiii.

A Filosofia é aquele ramo do saber que quanto mais se conhece, mais se fica insatisfeito, já que ela é feita para perturbar, para espantar. A Filosofia não quer gerar conforto, mas quer tirar as pessoas da zona de conforto. É isso que mantém o pensamento em movimento e é isso que gera a evolução intelectual do mundo, mesmo que vagarosamente.

iCHAUI, M. Introdução à História da Filosofia: dos Pré-socráticos a Aristóteles. 2 ed., revista e ampliada. São Paulo: Companhia das Letras, 2011, vol. 1, p. 20.

iiCHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2005, p. 19.

iiiDELEUZE, G. Nietzsche e a Filosofia. Tradução de Ruth Joffily Dias e Edmundo Fernandes Dias. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1976, p. 87.

*Crédito da imagem: Steve Heap / Shutterstock

Podemos dizer que a filosofia tem, aproximadamente, 2600 anos de existência se considerarmos apenas a tradição filosófica ocidental, de origem grega. Se considerarmos a filosofia oriental, que é um pouco diferente da ocidental, temos um saber ainda mais antigo, que pode atingir mais de 5 mil anos de existência, levando-se em conta a filosofia zen budista ou a filosofia hinduísta.

O que importa é que a filosofia representa um tipo de conhecimento ordenado que visa a superar o senso comum e chegar a um resultado cognitivo mais ordenado e confiável. É por essa característica elementar da filosofia que podemos nomeá-la como ancestral da ciência.

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Etimologia da palavra filosofia

A palavra filosofia foi criada no idioma grego antigo, sendo escrita φιλοσοφία, de onde φιλο (filo ou philos) significa “amigo” e σοφία (sofia ou sophia) significa (sabedoria). O filósofo é, portanto, um “amigo da sabedoria”. O termo, segundo Aristóteles, foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo e matemático antigo Pitágoras de Samos para referir-se ao que ele e os seus sectários pitagóricos faziam.

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A filosofia é um conhecimento milenar que se manifestou de diversas maneiras ao longo da história, tendo sua origem na Grécia Antiga.

Conceito de filosofia

A filosofia pode ser construída com base em problemas (problemas filosóficos). Dentro dessa visão, as perguntas expressam os problemas filosóficos. Perguntas que buscam a essência (o que é?) e a causa (por que é?) são as bases da filosofia. Sendo assim, a própria pergunta “o que é a filosofia?” é um problema filosófico.

O livro Filosofando: introdução à filosofia, de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, alega que não existe filosofia, mas filosofias. Não podemos reduzir a filosofia a um único conceito, mas devemos atentar-nos para a diversidade de significados que a filosofia pode apresentar. Se pegarmos, por exemplo, a divisão entre filosofia ocidental (tradição surgida na Grécia) e filosofia oriental (na verdade não é uma vertente filosófica, mas um conjunto de ideias antigas) já podemos entender como a filosofia é diversa e ampla.

O que se chama de filosofia oriental é um conjunto de doutrinas de vida, de modos de viver, sendo algumas delas espiritualistas. O que se chama filosofia no Ocidente começou com o esforço dos gregos antigos por superar a visão mitológica como forma de explicar o mundo. Eles buscavam uma visão racional, baseada em uma boa argumentação e que buscava um sentido lógico no que se afirmava.

O que a filosofia estuda resumo
A cidade de Mileto foi o berço da filosofia ocidental.

Após o início da tradição grega, a filosofia perdurou e passou por inúmeras transformações e adaptações ao longo do tempo. Com a queda do Império Macedônico e a ascensão do Império Romano, as tradições filosóficas gregas foram adaptando-se a um novo estilo de vida.

No século II d.C., novas interpretações sobre a filosofia grega de Platão apareceram, e isso resultou nas bases para o início da filosofia cristã. Os primeiros pensadores cristãos do chamado período patrístico da filosofia, como Santo Agostinho, trouxeram para o exercício filosófico a questão da iluminação divina.

É possível perceber que a filosofia mantém uma plasticidade que a permite adaptar-se aos problemas de cada período histórico. Além disso, a filosofia divide-se em temas específicos, como ética, política, lógica, metafísica etc. Isso provoca uma maior diversificação do que pode ser entendido como filosofia.

Para além das possíveis diferenças e tentando chegar a um consenso sobre o que a filosofia é, podemos dizer que ela é uma fundamentação teórica, racional, que busca pautar-se, pela lógica, na construção de um pensamento embasado. Também pode ser um conjunto de pensamentos e estruturas que fundamentem uma ciência, com é o caso da filosofia do direito, da filosofia da educação, da filosofia da matemática ou da filosofia da ciência.

É consenso quase unânime entre os filósofos, no entanto, que a filosofia não é, em si, uma ciência. Enquanto conjunto de pensamentos organizados, a filosofia foi a primeira estrutura que abriu as portas para preparar o ser humano para o conhecimento científico que se estabeleceu de vez após o século XVI.

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Para que serve a filosofia?

O filósofo francês contemporâneo Gilles Deleuze afirmou que a pergunta “para que serve a filosofia?” pretende-se, muitas vezes, uma pergunta irônica e que deve ser respondida à altura. Para Deleuze, a filosofia não apresenta uma utilidade visível em um mundo capitalista produtivista. Essa mesma visão está presente no livro introdutório Convite à filosofia, da filósofa brasileira Marilena Chaui.

Para a professora emérita da USP, a filosofia não tem utilidade em um mundo que se curva inteiramente ao capital e apenas dá valor àquilo que se apresenta com efeito prático e imediato no mundo. Desse modo, em nosso mundo, só tem valor o objeto, o que é visto, o que existe na prática. A filosofia, que lida com conceitos, com pensamentos e com a problematização, não tem utilidade nesse mundo, e, segundo Chaui, a filosofia orgulha-se disso.

Apesar das acusações de a filosofia ser inútil (e realmente ser sob o ponto de vista apresentado), encontramos a utilidade do pensamento filosófico:

  • na potencialidade que ele traz para o conhecimento;
  • na possibilidade de conhecer-se o mundo e de estabelecer-se padrões para levar à prova o conhecimento obtido;
  • na possibilidade de fazer-se avançar a ciência;
  • na possibilidade de estabelecer-se fundamentos racionais e objetivos para entender-se a ética e a política;
  • na possibilidade da superação do senso comum e da mediocridade do pensamento comum.

A filosofia possibilita o salto para além do óbvio e que permite também entender o óbvio de maneira mais profunda. Ela é feita de problemas, de perguntas, e serve de estímulo ao pensamento.

Origem da filosofia

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Tales de Mileto é considerado o primeiro filósofo. [1]

A tradição filosófica ocidental teve sua origem na Grécia Antiga. Supõe-se que foi Tales de Mileto o primeiro filósofo. O pensador, que viveu entre 625 a.C. e 545 a.C., foi um viajante, comerciante, matemático e astrônomo. Em suas viagens, ele teve contato com a engenharia egípcia, com a matemática egípcia e arábica, e com a astronomia persa.

Conta-se que o filósofo teria formulado o teorema de Tales com base em uma viagem ao Egito e em muita observação das pirâmides. Conta-se também que ele teria explicado as enchentes periódicas do rio Nilo, antes explicadas de maneira religiosa e mitológica. Também diz-se que Tales teria previsto um eclipse solar por volta do ano de 585 a.C. utilizando apenas seus conhecimentos astronômicos e matemáticos. Os historiadores especulam que esse período seria o de maturidade intelectual do filósofo e o provável momento de nascimento da filosofia. 

Tales era habitante da cidade de Mileto, na região então compreendida como Jônia, composição da chamada Ásia Menor. A filosofia nasceu e floresceu no local, sendo que os primeiros herdeiros do pensamento de Tales foram Anaximandro e Anaxímenes, também habitantes de Mileto.

A partir de então, a filosofia foi sendo construída e modificada por todo pensador que se dedicou a conhecer o mundo e sua origem de maneira mais ordenada e racional. Apesar das diferenças dentro dele, esse primeiro movimento filosófico tinha um assunto em comum: a cosmologia.

A cosmologia dos primeiros filósofos foi o esforço de compreender-se a verdadeira origem do Universo. A palavra cosmologia significa, em tradução direta, estudo do Universo, e ela veio concorrer com a cosmogonia da mitologia dos antigos gregos. Cosmogonia significa, também em tradução direta, gênese (ou criação) do Universo.

Cosmogonias são visões míticas que apresentam uma narrativa de origem do Universo atrelada a algum ou alguns seres ou entidades sobrenaturais. No caso da mitologia grega, o surgimento do Universo estava ligado aos titãs e deuses gregos. A visão dos primeiros filósofos era contraposta à visão mitológica, pois ela enxergava que a origem não estava nos deuses e deusas, nem em qualquer entidade sobrenatural, mas na própria natureza.

Muito se especula sobre o porquê da origem da filosofia ser na Grécia, e, de fato, muitos foram os fatores que possibilitaram o florescimento de um pensamento tão original. Os orientais já faziam uma sistematização de conhecimentos que podemos chamar de filosofia, e isso foi passado para os gregos pelo contato com os persas. No entanto, o que os gregos fizeram com o conhecimento filosófico foi além do que os orientais faziam.

Isso evidencia que foi fator marcante o cosmopolitismo das colônias gregas possibilitado por serem um lugar privilegiado na região do mar Mediterrâneo, lugar de encontro de vários povos e várias culturas. Dois outros motivos de tal cosmopolitismo eram o comércio e a utilização de moeda, o que aumentava o fluxo de pessoas nas cidades. Também podemos eleger como fator central a democracia que surgia em Atenas e ecoava em outras cidades gregas, pois a democracia estimulava o livre debate de ideias, algo essencial para a existência da filosofia.

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Filosofia de vida

A expressão “filosofia de vida” não necessariamente compreende uma área de estudo da filosofia. O significado da expressão é bem comum e corriqueiro: chama-se filosofia de vida, basicamente, o modo como se vive e as aspirações que uma pessoa leva para sua vida.

Crédito da imagem

[1] Naci Yavuz / Shutterstock