Quais foram as formas de trabalho forçado estabelecidas na América espanhola?

Quando discutimos os tipos de relações de trabalho instituídos no ambiente colonial, costumamos definir que a adoção da mão-de-obra escrava africana foi predominantemente utilizada pelos portugueses. Em contrapartida, os espanhóis preferiram implementar modalidades de trabalho compulsório recompensado por algum tipo de pagamento às populações indígenas envolvidas nesse tipo de prática.

Caso fosse proposta uma comparação, como os alunos poderiam analisar as diferenças que marcaram o uso da força de trabalho nas Américas portuguesa e espanhola? Partindo desse tipo de indagação, o professor pode iniciar um rico debate onde os alunos poderão dar sua opinião sobre o assunto. Para que seja possível tal análise, recomendamos que o docente elabore um quadro-resumo com as características de cada um dos contextos escolhidos.

Passada essa etapa em que as informações são recolhidas coletivamente, podemos lançar perguntas que instiguem o olhar em contraponto sobre cada uma dessas experiências coloniais. Se porventura os alunos não manifestarem espontaneamente algum tipo de comparação possível, cabe ao mediador da aula lançar algumas perguntas que possam assegurar a condução da atividade e o alcance dos objetivos traçados para esse tipo de exercício.

Recomendamos que o professor pergunte à classe se houve um modelo de colonização onde a exploração da força de trabalho tenha sido mais intensa. Esperando a resposta dos alunos, podemos projetar que a maioria chegue à conclusão de que o modelo lusitano era mais opressivo, tendo em vista a adoção do trabalho escravo e as péssimas condições de vida dos escravizados. Dessa forma, essa ala da turma passaria a justificar os sistemas de encomienda e repartimiento como mais “justos” ou “brandos”.

Após conduzir a análise para esse âmbito, o professor pode colocar em pauta uma citação do Frei Bartolomé de Las Casas sobre a relação entre os índios e os colonizadores espanhóis. Para tanto, recomendamos a reprodução e leitura do seguinte depoimento feito pelo clérigo espanhol:

“E ainda hoje em dia, outra coisa não fazem (os espanhóis) ali se não despedaçar, matar, afligir, atormentar e destruir este povo... A ilha de São João e de Jamaica, ambas muito grandes e muito férteis estão desoladas ... quanto à grande terra firme, estamos certos de que nossos espanhóis, por suas crueldades e execráveis ações, despovoaram e desolaram mais de dez reinos, maiores que toda a Espanha.” (LAS CASAS, Bartolomé. O Paraíso Destruído. Porto Alegre: L & PM, 1985.)

Por meio da leitura desse depoimento, podemos estabelecer outra compreensão que vai além dos dados fornecidos pela informação do quadro comparativo. Sendo Las Casas um partícipe direto do processo de colonização da América, pode muito bem observar as desigualdades e abusos que marcaram a conquista do Novo Mundo. Dessa forma, a impressão inicial dos alunos passa a ir de encontro com as impressões da personagem histórica inserida nesse exercício.

Não basta aqui sugerir que Bartolomé não pode ser questionado pelo simples fato de ter vivenciado aquela época. Contudo, apoiado em outros documentos que também questionam essa mesma temática, é possível mostrar à classe que as relações de trabalho adotadas pelos espanhóis não pode ser minimizada no momento em que não adotaram a mão-de-obra escrava. Para reforçar tal perspectiva, é valido lembrar que a escravidão foi utilizada no ambiente espanhol quando a escassez de indígenas era alarmante.

Dessa forma, o professor de História tem condições de salientar que a presença minoritária do trabalho escravo não abrandou a dizimação e toda a miséria que atingiram as populações nativas do espaço colonial espanhol. Tomando outras feições, os índios da América Hispânica foram semelhantemente massacrados pelo interesse mercantil de seus colonizadores.

Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

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A colonização espanhola na América se caracterizou pela modificação da estrutura política, econômica e religiosa das sociedades que habitavam naquele território.

Os espanhóis introduziram no continente americano uma nova religião, idioma, organização econômica e social.

Por sua parte, levaram uma série de produtos desconhecidos para Europa como a batata, o milho e o chocolate. Além disso, as fronteiras do mundo conhecido se alargaram e se modificaram para sempre.

Colonização Espanhola na América

Após a conquista era preciso ocupar o território americano. Afinal, os reis precisavam dominar mais regiões e mercados para legitimar sua existência. Igualmente, se queria expandir a fé católica.

O poder político garantia a difusão da fé, enquanto a Igreja Católica legalizava a apropriação dos territórios. Por sua parte, a burguesia financiava a tomada dos bens alheios em nome do rei.

A Capitulação era o instrumento que permitia a execução desses interesses. Neste documento, ficava estabelecido os deveres de cada uma das partes que participavam na ocupação do novo domínio.

Assim, estava especificado detalhes como o capital a ser empregado, as condições básicas da expedição e se definia o quanto de dinheiro seria aportado pela Coroa e pelos particulares.

Economia das Colônias Espanholas

Quais foram as formas de trabalho forçado estabelecidas na América espanhola?
Os indígenas tinham que pagar tributos aos espanhóis em forma de trabalho ou produtos

Ao estabelecerem-se na América, os espanhóis se depararam com populações organizadas e regidas por leis há muito consagradas.

Deste modo, além de suas próprias regras, como a encomienda, os colonizadores empregaram os costumes locais para aproveitar a mão de obra indígena, como a mita.

Encomienda

A encomienda era uma instituição em vigor nos reinos de Castela e foi adaptada nas Índias (América).

A encomienda permitia ao encomendero, um fidalgo espanhol, a cobrar tributos na forma de trabalho ou de bens materiais à determinada população indígena. Em troca, o encomendero deveria evangelizá-las, cuidá-las e defendê-las.

As encomiendas eram hereditárias, mas não perpétuas. Os abusos cometidos por muitos encomenderos levou várias ordens religiosas a protestarem junto ao rei.

De fato, a Coroa espanhola tentou aboli-la cinquenta anos após sua instituição, gerando revolta em vários pontos dos Vice-Reinos.

Também a própria população indígena se rebelava contra este sistema, como foi o caso da revolta liderada pela indígena Bartolina Sisa (1750-1783), na atual Bolívia.

Mita

No Vice-Reino do Peru, principalmente, os colonizadores aproveitam a mita, uma criação inca, a fim de garantir o trabalho dos indígenas para seus propósitos.

A mita consistia numa prestação de trabalho que a população masculina fazia ao Inca. Geralmente, tratava-se de ajudar na construção de templos e caminhos. Em contrapartida, recebiam proteção e oferendas aos deuses.

Os espanhóis usaram esta mesma ideia em todo território do Vice-Reino do Peru. Desta maneira, as tribos indígenas eram confinadas às reduções e aí recebiam o catecismo. A fim de pagar por esses custos, deviam realizar a mita.

Esta, geralmente, consistia no emprego de parte da população na exploração de minas de prata durante um ano.

Embora o trabalho nas minas fosse regulado e deveria ser realizado apenas por três semanas, o fato é que as duras condições de trabalho mataram muitos indígenas que foram empregados ali como mão de obra.

Veja também: Incas

Administração da América Espanhola

Quais foram as formas de trabalho forçado estabelecidas na América espanhola?
Aspecto do Vice-Reinos e Capitanias Gerais da América espanhola

Para controlar o vasto território que conquistara, os espanhóis criaram, inicialmente, dois Vice-Reinos, diretamente ligados à Coroa: o Vice-Reino da Nova Espanha e o Vice-Reino do Peru. Também foram estabelecidas a Capitania Geral de Cuba, Capitania Geral de Porto Rico e a Capitania Geral de Santo Domingo.

Importante ressaltar que estes territórios eram considerados como uma própria extensão do reino espanhol, daí o nome de “vice-reino”.

A metrópole possuía as seguintes instituições para administrar a colônia:

Casa de Contratação

Responsável por registrar todas as pessoas que se dirigiam e se estabeleciam nas Índias (América). Igualmente, anotavam as mercadorias, provinham os pilotos de mapas de navegação e ainda exerciam a justiça. Inicialmente, tinha sua sede em Sevilha e, mais tarde, em Cádiz.

Conselho das Índias

Auxiliava o rei a tomar decisões relativas aos seus domínios na América em termos de justiça, economia e até durante a guerra.

Real Audiência

Eram os tribunais de justiça estabelecidos nos Vice-Reinos e que julgavam os crimes cometidos por seus habitantes.

Vice-Reinos e Capitanias Gerais

Com as reformas iluministas empreendidas pelo rei Carlos III (1716-1788), no século XVIII, os vice-reinos foram desmembrados em quatro e foram criadas mais Capitanias Gerais.

O objetivo era encontrar uma forma de melhorar a administração colonial.

Vice-Reinos: territórios de grande extensão e população, eram os mais rentáveis para a Coroa espanhola. Estavam governados por um vice-rei. Eram eles: Vice-Reino da Nova-Espanha, Peru, Nova-Granada e Prata.

Capitanias Gerais: foram estabelecidas em zonas de maior conflito com a população indígena ou que eram alvo de ataques de piratas. Foram elas: Guatemala (que abarcava os atuais países de Guatemala, Honduras, El Salvador e Costa Rica), Cuba, Venezuela, Chile, Santo Domingo e Porto Rico.

Cargos Políticos nas Colônias Espanholas

As colônias eram administradas por funcionários nomeados pelo próprio soberano.

  • Vice-Rei: era o cargo mais alto dentro desta estrutura e ocupado por um nobre ou fidalgo diretamente indicado pelo Rei. Possuía autoridade máxima e dele dependiam algumas Capitanias Gerais.
  • Capitão-Geral: título utilizado por quem estava à frente das Capitanias Gerais.
  • Governadores: auxiliavam o vice-rei ou o capitão-geral a administrar o território.
  • Cabildo: eram uma espécie de conselho formados pelos proprietários e homens de destaque da sociedade, inclusive o clero, e se reuniam num edifício de mesmo nome.

Sociedade nas Colônias Hispânicas

Quais foram as formas de trabalho forçado estabelecidas na América espanhola?
Série de quadros pintados no México no século XVIII explicando a mestiçagem entre os povos que habitavam as colônias hispano-americanas

A sociedade colonial na América espanhola estava marcada pela cor da pele. Com o passar do tempo, devido às uniões inter-raciais, o local de nascimento seria mais importante que o grau de mestiçagem. Assim temos:

Chapetones

Assim chamados os espanhóis recém-chegados nas colônias hispânicas. Ocupavam os altos cargos como Vice-Rei, Capitães Gerais, Governadores, Alcades ou Intendentes (prefeitos), bispos e arcebispos, superiores de várias ordens religiosas.

No entanto, suas prerrogativas não eram hereditárias, pois se tivessem filhos nascidos fora da metrópole, estes seriam considerados criollos e não gozavam da mesma posição social que os progenitores.

Criollos

Eram os filhos de espanhóis nascidos na América. Não podiam ocupar os altos cargos, mas participavam do Cabildo e tinham uma posição social acomodada.

Os criollos exerciam várias atividades e eram profissionais como advogados, comerciantes, mas também encomenderos, exploradores de minas, fazendeiros, etc.

Ao contrário do significado em língua portuguesa, a palavra criollo, em espanhol, não representa uma pessoa de cor negra. Indica aqueles brancos que nasceram na América e não no Reino da Espanha.

Negros Escravizados

Os africanos escravizados eram trazidos por traficantes ingleses e portugueses que contavam com a participação de investidores espanhóis.

As pessoas escravizadas foram utilizadas como mão de obra para substituir a população indígena dizimada no Caribe e forçados a trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar, tabaco, cacau, algodão, dentre outros cultivos.

A escravidão negra não foi homogênea nos domínios espanhóis na América. Foi intensamente empregada na região caribenha, mas com menos força no Vice-Reino do Peru, por exemplo.

Por outra parte, quase não se sente sua presença na região do rio da Prata.

Indígenas

A colonização espanhola supôs o desaparecimento da antiga forma de vida dos povos nativos.

A economia foi reorientada para o mercado externo e os indígenas trabalharam especialmente nas minas de prata, ouro e mercúrio, mas também eram empregados no serviço doméstico e na agricultura.

Com o passar do tempo, o idioma original foi sendo substituído pelo castelhano e a religião passou a ser o catolicismo. Igualmente, se desenvolve uma crença que mistura práticas pagãs com o cristianismo.

Mesmo com todas essas mudanças, alguns costumes se mantiveram e outros se mesclaram criando uma nova forma de pensar e viver. Outros, infelizmente, foram perdidos para sempre.

Mestiços

Esta era uma sociedade em que a cor da pele determinava seu lugar na hierarquia social.

Segundo os costumes coloniais, a união entre um espanhol e uma indígena davam origem ao mestiço. Apesar disso, os mestiços eram aceitos porque eram criados num ambiente culturalmente branco.

Com o passar do tempo, indígenas, brancos, negros foram se unindo e gerando filhos. Isso provocou o surgimento de pessoas que não se encaixavam em nenhuma das categorias citadas acima.

Assim, passou a surgir uma série de palavras específicas para cada uma dessas uniões. Podemos citar: mulato, torna-atrás, mourisco, lobo, zambaio, coiote, cambujo, chamizo, etc.

Era um modo de estabelecer novas categorias, mas ainda assim o status de cada mestiço era ambíguo e dependia de quão branca fosse a cor da pele e seus costumes.

Países Colonizados pela Espanha

São muitos os territórios que foram ocupados pelos espanhóis na América. Vejamos:

Uruguai, Paraguai, Bolívia, Argentina, Chile, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Panamá, Honduras, Cuba, República Dominicana, Costa Rica, Nicarágua, Guatemala e México.

Além disso, os espanhóis povoaram algumas ilhas do Caribe que depois passaram às mãos de outros colonizadores como Jamaica, Trindade e Tobago, Guadalupe ou São Cristóvão e Neves.

Igualmente, grande parte do que hoje se denomina Estados Unidos formava parte do Vice-Reino da Nova Espanha e englobava os atuais estados de Califórnia, Texas, Florida, Nevada, Colorado, Utah, Arizona, Texas, Oregon, Novo México, Washington, e partes de Idaho, Montana, Wyoming, Kansas, Oklahoma e Louisiana.

Quais foram as formas de trabalho forçado estabelecidas na América espanhola?

Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.

Quais foram as formas de trabalho forçado na América espanhola?

Uma das modalidades de trabalho utilizada pelos espanhóis foi a mita, que também era conhecida pelos nomes de “repartimiento” e “cuatéquil”. Nesse sistema, amplamente empregado na extração e beneficiamento de minérios, os índios eram escalados por sorteio para uma temporada de serviços compulsórios.

Qual era a principal força de trabalho da América espanhola?

O fator mais importante pela colonização espanhola foi a mineração. A base da economia espanhola eram as riquezas que provinham, especialmente da Bolívia, a prata e também o ouro de outras colônias.

Como se deu a relação de trabalho na América espanhola?

A escravidão não era permitida, tendo em vista os interesses religiosos que a Igreja tinha na conversão da população nativa. Dessa forma, a Coroa Espanhola resolveu adotar outras modalidades de trabalho compulsório que resolvessem essa questão. Para tanto, utilizaram dos sistemas de repartimiento e da encomineda.

Como se deu a escravidão na América espanhola?

No sistema espanhol, o trabalho servil nos latifúndios agroexportadores - chamado de encomienda -, os nativos distribuídos, pela coroa, na condição de escravizados, eram forçados a se converterem à fé católica, e a Casa de Contratação era a responsável por arrecadar e fiscalizar os impostos.