Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Introdu��o

De acordo com Nicolini (2003), Closs, Arambaru e Antunes (2009), o ensino chamado de tradicional, fundamentado na metodologia de aceitar e memorizar o conte�do, impossibilita que os alunos usem a criatividade para resolver problemas, n�o contribui na percep��o acerca de um fen�meno administrativo e desestimula a vis�o cr�tica das teorias que lhes s�o ensinadas. Freire (2014) critica e recusa o modelo “banc�rio” meramente transferidor de conte�do que, segundo ele, deforma a necess�ria criatividade tanto do educando quanto do educador. Vencer o tradicionalismo pedag�gico implica a presen�a de educadores e educandos criadores, instigadores e inquietos.

Coto, Neto e Pacheco (2009) complementam essa vis�o ao afirmarem que, no ensino tradicional, baseado somente na transmiss�o de saberes pelos professores, o aluno � passivo durante todo processo de aprendizagem. Para os autores, esse m�todo de ensino n�o consegue desenvolver estudantes com “[...] coragem para correr riscos e habilidades para resolver novos problemas.” Al�m disso, segundo Bono (2000, apud COTO; NETO; PACHECO, 2009), os estudantes devem ser preparados para inovar e desenvolver um pensamento construtivo.

No ensino superior, a �nfase deve ser dada �s a��es dos alunos, e a aprendizagem deve estar centrada na participa��o e parceria dos pr�prios educandos, a fim de incentiv�-los e motiv�-los em rela��o ao conhecimento. (MASETTO, 2012). O professor n�o deve ser um obst�culo. Pelo contr�rio, nas palavras de Freire (2014, p. 28), “[...] na verdadeira aprendizagem os educandos v�o se transformando em reais sujeitos da constru��o e reconstru��o do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo.” Masetto (2012) defende que trabalhar com pesquisa, projetos e novas tecnologias s�o caminhos que podem incentivar e facilitar o desenvolvimento da parceria e a coparticipa��o entre professor e aluno. As t�cnicas mais eficazes para o sucesso do processo de ensino-aprendizagem s�o as din�micas de grupo, estrat�gias participativas, t�cnicas que colocam os alunos em contato com a realidade.

No que tange ao ensino da Administra��o, faz-se necess�ria uma ferramenta pedag�gica que deixe os alunos o mais pr�ximo poss�vel do que ser� enfrentado nas organiza��es, que os fa�a desenvolver o senso cr�tico e amplie seus conhecimentos. Diante desse cen�rio, o m�todo do estudo de caso como ferramenta pedag�gica vem sendo adotado por algumas institui��es de ensino para ensinar a complexidade dos mais diversos problemas de gest�o, trazendo-os pr�ximos da realidade, para que os alunos se coloquem no papel de gestores. O m�todo vem ganhando for�a em fun��o das transforma��es aceleradas no campo das profiss�es, em que a capacidade de resolu��o de problemas � fundamental para os novos perfis profissionais.

Atentando-se a essa orienta��o, destaca-se cada vez mais a necessidade de diminuir a dist�ncia entre o que � ensinado na sala de aula e a pr�tica no ambiente organizacional. Roesch (2007, p. 12) destaca que “[...] o caso para ensino � um entre poucos m�todos de ensino-aprendizagem que possibilita um casamento entre teoria e pr�tica, t�o necess�rio para a �rea de Administra��o.” Enquanto Lima (2003) enfatiza que, como ferramenta pedag�gica, o estudo de caso � o que melhor atende ao princ�pio construtivista de aprendizagem, propiciando um aprendizado mais ativo, reflexivo, colaborativo.

Na maioria das institui��es de ensino, os casos s�o explorados de forma transversal. Segundo Iizuka (2008), muitos deles s�o encontrados em livros did�ticos de Administra��o, mas raramente retratam a realidade brasileira. Dificilmente s�o trabalhados casos que discutem a gest�o de forma integrada, trazendo para sala de aula relatos sobre os desafios, oportunidades e as situa��es vividas nas organiza��es.

Diante desse contexto, o presente estudo ir� explorar exatamente um caso de uma Institui��o de Ensino Superior (IES), que passou a incluir em sua grade curricular uma disciplina espec�fica que trabalha com a resolu��o de casos que retratem a realidade das organiza��es. Os resultados deste estudo podem servir de base para outras IES que almejam inserir em suas grades curriculares uma disciplina que utilize exclusivamente o m�todo de caso como ferramenta de ensino.

Conceituando caso

Menezes (2009) afirma que a proximidade dos termos estudo de caso e m�todo pode, casualmente, levar a uma confus�o conceitual. O primeiro � uma estrat�gia metodol�gica para se conduzir uma pesquisa emp�rica, exigindo uma prepara��o pr�via por parte do pesquisador e a organiza��o de um planejamento da pesquisa. Pode ser utilizada em diversos campos de pesquisa, tais como na ci�ncia pol�tica, na administra��o p�blica e de empresas, na psicologia e sociologia, dentre outros.

O segundo, m�todo do caso, refere-se � ferramenta pedag�gica utilizada, de maneira geral, na educa��o de advogados, m�dicos, juristas e administradores, dentre outros profissionais. No m�todo do caso os estudantes confrontam a teoria com a pr�tica a partir de situa��es reais. Apesar de ainda ser inovadora, essa t�cnica did�tica possui uma longa trajet�ria, tendo nascido, efetivamente, nos fins do s�culo XIX. � necess�rio ficar claro que o m�todo do caso n�o se constitui de fatos fict�cios. A an�lise ocorre a partir de casos reais. (MENEZES, 2009).

Segundo Ellet:

Casos s�o representa��es da realidade que colocam o leitor no papel de participante da situa��o. A sua unidade de an�lise varia consideravelmente, desde um �nico indiv�duo ou organiza��o a toda uma na��o ou mesmo ao mundo. Sua exposi��o pode se estender de uma p�gina a cinquenta ou mais, embora todos tenham um prop�sito em comum: representar a realidade, descrever uma situa��o com todos os fatos transversais e delimita��es – incluindo impropriedades, quest�es secund�rias, falsos ju�zos e informa��es incompletas ou em quantidade demasiada. (ELLET, 2008, p. 21).

As situa��es reais de neg�cio s�o fluidas. H� aspectos do problema que s�o claros; por�m, h� aspectos confusos e d�bios. H� informa��es excessivas, mas h� tamb�m, em outros momentos, insuficientes. Os casos pretendem retratar essa fluidez. Ellet (2008) afirma que a pr�tica de trabalhar na resolu��o de casos que retratam a realidade no mundo empresarial oferece aos estudantes o equivalente aos laborat�rios utilizados para ensinar cientistas e m�dicos, uma vez que a teoria � colocada em pr�tica. Para cumprir essa fun��o, um caso deve fazer analogia com a realidade e ser substituto da experi�ncia direta de uma situa��o de neg�cio. Nesse sentido, para esse autor, um caso deve apresentar tr�s caracter�sticas fundamentais: tratar de uma quest�o ou mais quest�es empresariais significativas, discutir informa��es suficientes para embasar conclus�es e n�o apresentar conclus�es j� manifestas.

A leitura de um caso precisa ser atenta, uma vez que s�o exigidos leitores mais ativos, que estejam prontos para indagar quest�es sobre o dilema apresentado, leitores que questionem e tenham um senso cr�tico agu�ado para discutir e debater opini�es.

Os casos mais comuns e utilizados s�o os Casos Harvard ou Cl�ssicos, que apresentam essa denomina��o porque a universidade americana foi pioneira na utiliza��o desse m�todo de ensino. Foram desenvolvidos conforme uma filosofia de ensino e mant�m at� os dias de hoje suas caracter�sticas originais. Inicialmente, foram adotados na Escola de Direito, no final do s�culo XIX, e modificou-se radicalmente a metodologia de ensino norte-americana. Antes deles, os estudantes memorizavam a mat�ria sistematicamente apresentada nos manuais de Direito. A mudan�a foi radical: da memoriza��o para a an�lise dos casos. Tamb�m na �rea de administra��o a escola americana foi pioneira. A Harvard Business School introduziu o m�todo na �rea de administra��o no in�cio do s�culo XX. (CONVERSE, 1945 apud IKEDA; VELUDO-DE-OLIVEIRA; CAMPOMAR, 2006; MENEZES, 2009).

J� os Casos Vivos retratam uma tipologia especial de caso. “Consistem de informa��es sobre fatos ou situa��es que se sucederam h� pouco tempo ou que ainda est�o ocorrendo. Os palestrantes que os apresentam s�o pessoas diretamente relacionadas ao caso, conhecedores de sua origem, detalhes, evolu��o etc. Os casos vivos tamb�m t�m a vantagem de poder ser acompanhados concomitantemente ao desenrolar dos fatos, o que traz implica��es positivas � aprendizagem.” (NU�EZ, 2003; KENNEDY et al., 2001 apud IKEDA; VELUDO-DE-OLIVEIRA; CAMPOMAR, 2006, p. 149).

Procedimentos metodol�gicos

A pesquisa emp�rica utilizou como estrat�gia metodol�gica o estudo de caso �nico. O maior conhecimento sobre casos particulares oportuniza ajustes em entendimentos cristalizados a respeito de uma determinada realidade. � poss�vel ainda que o caso seja utilizado como mecanismo de interpreta��o e gera��o de significado nas organiza��es, por meio da constru��o de interpreta��es compartilhadas, conhecimento v�lido e aumento do desempenho organizacional. (ZANNI et al., 2011).

A unidade de an�lise escolhida foi a Faculdade FIA de Administra��o e Neg�cios (FFIA), institui��o de ensino superior localizada no munic�pio de S�o Paulo, capital do Estado de S�o Paulo, em fun��o da grande preocupa��o que essa institui��o possui com a educa��o e com o profissional que est� come�ando sua atua��o executiva dentro das organiza��es. O modelo do curso de gradua��o oferecido pela Faculdade FIA busca preparar melhor esse profissional, utilizando metodologias de ensino que propiciem deix�-lo mais pr�ximo do que � vivenciado no ambiente organizacional.

A faculdade � mantida pela Funda��o Instituto de Administra��o, pessoa jur�dica de direito privado sem fins lucrativos, constitu�da em 10 de junho de 1980 e oferta servi�os educacionais com padr�o de excel�ncia. (FIA, 2011, p. 07). Pelo compromisso com a qualidade de seus cursos e corpo docente, a institui��o aparece frequentemente em rankings internacionais. O seu MBA Executivo foi eleito pelo jornal brit�nico Financial Times (2011) como o 25� melhor das Am�ricas, o �nico de uma institui��o brasileira que aparece nesta classifica��o. A institui��o tamb�m recebeu o importante t�tulo de “Escola mais inovadora da Am�rica do Sul”, pela European CEO, publica��o realizada em um editorial composto por jornalistas e correspondentes dos ve�culos mais influentes do mundo em 2014. A Funda��o tamb�m foi listada no ranking da Revista Voc� S/A em 2010 com os melhores MBAs do Brasil, liderando v�rias categorias pesquisadas para o ranking.

A Faculdade FIA oferece o curso superior em Administra��o com dura��o de oito semestres, sendo que os quatro primeiros s�o ministrados em per�odo integral, e oferta cinquenta vagas por semestre. Seu corpo docente � composto por professores com n�vel de mestrado e doutorado em Administra��o e �reas relacionadas, que contam com experi�ncias na doc�ncia em cursos de MBA e p�s-gradua��o lato sensu oferecidos pela FIA. Para obten��o dos dados, o estudo de caso foi estruturado em tr�s etapas combinando instrumentos de coleta que permitem obter uma vis�o ampla do fen�meno estudado: a) entrevista qualitativa com docente das disciplinas Resolu��o de Casos I e II na institui��o objeto de estudo, b) um estudo observacional nas aulas das disciplinas e c) um question�rio quantitativo com alunos da gradua��o para analisar a percep��o dos estudantes quanto ao emprego desse m�todo em uma disciplina regular do curso de administra��o.

Na primeira etapa foi realizado um levantamento qualitativo por meio de uma entrevista semiestruturada, cujo objetivo principal foi analisar como se deu a implementa��o das disciplinas Resolu��o de Casos I e II na institui��o objeto de estudo (a Faculdade FIA de Administra��o), analisando a forma como ela foi estruturada e como � atualmente ministrada. A entrevistada, que h� 4 anos � a professora respons�vel pela disciplina, assumiu e reformulou a estrutura e seu formato.

Na segunda etapa foi empregada a observa��o com objetivo de capturar informa��es, percep��es e comportamentos em tempo real do fen�meno estudado. A amostra foi selecionada de forma aleat�ria, na qual foram escolhidas duas aulas da disciplina Resolu��o de Casos, ministradas pela docente que foi entrevistada na primeira etapa descrita acima.

Por fim, na terceira etapa foi utilizado um question�rio com 19 quest�es, sendo 16 fechadas e 3 abertas, que teve como principal objetivo extrair a percep��o dos alunos quanto � metodologia de ensino baseada no m�todo de caso. O campo de amostragem se delimitou aos alunos da gradua��o em Administra��o da Faculdade FIA do 3� ao 8� semestre, que tiveram as disciplinas de Resolu��o de Casos I e II. Os dados foram coletados em seis turmas da gradua��o, com uma m�dia aproximada de 20 alunos por turma, totalizando 84 respondentes.

O objetivo da utiliza��o dos tr�s instrumentos de coleta de dados foi proporcionar melhor qualidade das informa��es coletadas por meio da triangula��o de fontes de evid�ncia, de modo que o estudo de caso ganhasse maior profundidade.

An�lise dos resultados

Implementa��o do m�todo de caso

Nesta primeira etapa o objetivo principal consistiu em analisar o processo de implementa��o das disciplinas Resolu��o de Casos I e II na Faculdade FIA de Administra��o, reunindo informa��es de como elas foram estruturadas e ministradas.

Em junho de 2013, a docente entrevistada foi convidada para assumir as disciplinas Resolu��o de Casos de Gest�o I (3� semestre) e II (4� semestre) na gradua��o em Administra��o de Empresas da Faculdade FIA. A ementa da disciplina permitia certa flexibilidade no seu conte�do, e a professora, durante dois meses, concentrou-se no planejamento das atividades que seriam desenvolvidas e na din�mica das aulas.

Ap�s an�lise em peri�dicos e livros de doc�ncia no ensino superior, a docente optou por mesclar casos de gest�o te�ricos (Harvard, GV, ESPM, etc.) e Casos Vivos, pelas seguintes raz�es:

• possibilidade de discuss�o de casos internacionais (a maioria dos casos te�ricos) e brasileiros (casos vivos), esses �ltimos mais pr�ximos da realidade e conhecimento dos alunos;

• possibilidade de discuss�o de casos reais e an�lise de problemas que de fato as empresas enfrentaram ou ainda enfrentam, sendo contados pelos pr�prios executivos que vivenciaram ou vivenciam tais situa��es (casos vivos);

• possibilidade de discuss�o com executivos de mercado na sala de aula, que enfrentaram ou enfrentam tais problemas, aproximando a teoria da pr�tica, na percep��o dos alunos, e motivando-os no envolvimento e an�lise dos casos.

Durante a entrevista a docente refor�ou:

Eu fiz gradua��o em administra��o em uma das principais institui��es de ensino do Brasil e refer�ncia internacional. Mesmo assim, quando sa� da faculdade, sentia-me despreparada para enfrentar a vida real. Ainda que tenha estudado diversos casos na gradua��o, a maioria eram te�ricos de empresas internacionais e que nem sempre eu as conhecia. Ou ent�o eram casos conhecidos, mas com problemas fict�cios. Mesmo tendo feito alguns est�gios, tamb�m n�o sentia seguran�a para lidar com problemas complexos, porque nem sempre as atividades envolvidas exigiam muita reflex�o e capacidade anal�tica [...] Na verdade o objetivo maior da gradua��o � dar o instrumental ao aluno, apresentar os principais conceitos te�ricos; de todo modo, a aplica��o n�o deve ser esquecida ou deixada para segundo plano, porque no final das contas, estamos preparando futuros profissionais para trabalharem em empresas, administrarem neg�cios e enfrentarem situa��es que exigir�o lidar com m�ltiplos desafios. Passados anos depois de minha forma��o, tendo estudado muito e exercido fun��es no meio empresarial, cheguei � conclus�o que a academia precisa criar alternativas para tornar o ensino mais din�mico, pr�tico, minimizando o distanciamento entre a teoria e a pr�tica [...] De alguma forma, tentei implementar nessa disciplina, com o aval da coordena��o da escola, esse olhar mais pr�tico. Trouxe casos de Harvard, reais, por�m distantes geogr�fica e temporalmente, entre outros te�ricos do g�nero para discuss�o, mas tamb�m casos reais contempor�neos, apresentados por executivos que vivenciam aqueles problemas apresentados em sala. Muitos deles ainda no momento da apresenta��o n�o t�m as respostas para aqueles desafios. E isso acaba motivando muito os alunos, que acabam entrando na vida real do executivo. E, de acordo com a din�mica que fazemos em sala, eles t�m uma semana para pensar, analisar, fazer pesquisa de mercado na tentativa de encontrar algumas sa�das para o problema apresentado. Muitas vezes as ideias dos alunos s�o t�o interessantes, que poderiam de fato serem implementadas pelo executivo. Essa � a ideia. (ENTREVISTA REALIZADA, 2015).

Para a elabora��o da din�mica dos casos vivos, a docente contou com a ajuda de diversos executivos. Pelo fato de tamb�m ministrar aulas no MBA e Mestrado, al�m de exercer fun��o executiva na pr�pria institui��o, na gest�o comercial com empresas de m�dio e grande porte, a docente tinha f�cil acesso aos executivos que poderiam apresentar o caso na gradua��o.

Desde que a docente assumiu as disciplinas Resolu��o de Casos de Gest�o I e II em 2013, vinte e oito (28) executivos estiveram na institui��o apresentando seus casos. Alguns deles o apresentaram novamente nos semestres seguintes para diferentes turmas.

Para a docente, planejar o cronograma das atividades com anteced�ncia foi fator crucial para o sucesso da disciplina. Um m�s antes das aulas come�arem, ela j� tinha todos os casos agendados. No primeiro dia do curso apresentava o plano de aula, o cronograma dos casos te�ricos e vivos e j� fazia a divis�o dos casos entre os grupos. Em uma turma de 20 alunos (m�dia de alunos por turma) eram formados por volta de 6 a 7 grupos.

No primeiro dia de aula eu apresentava os casos que ir�amos ver ao longo da disciplina, mas deixava claro que esses poderiam mudar, j� que eu dependia da agenda complicada desses executivos. Em 2015, por exemplo, n�o sei se foi coincid�ncia ou n�o com a crise econ�mica brasileira, mas praticamente todos os executivos agendados em uma das turmas me ligaram para mudar ou cancelar sua participa��o. Em uma noite um deles teve um problema de sa�de, me ligou por volta das 22:00 horas do dia anterior dizendo que n�o tinha condi��es de apresentar o caso. Mas depois ele conseguir ir, para a minha sorte. E eu estava muito preocupada, pois tinha ligado para v�rios conhecidos mais pr�ximos e ningu�m podia comparecer j� no dia seguinte. Em uma outra situa��o, outro executivo me ligou um dia antes dizendo que tinha tido um problema s�rio na empresa e n�o poderia se ausentar. Tive que acionar minha rede de contatos, mas ainda bem que consegui um substituto. At� hoje n�o tive um caso cancelado. Em algumas turmas, n�o tive problema algum, isso �, o cronograma foi seguido integralmente com a sugest�o de casos do in�cio do semestre. De todo modo, aprendi, com a experi�ncia de quase tr�s anos ministrando essa disciplina, que tenho que ter sempre alguma carta na manga, um plano B, em caso de necessidade de substitui��o imediata de um palestrante. (ENTREVISTA REALIZADA, 2015).

Quando assumiu a disciplina, a docente tinha receio de n�o conseguir executivos predispostos a apresentarem seus casos � gradua��o. Mas, como dito anteriormente, ela possu�a uma ampla rede de contatos, e muitos deles tinham vontade e interesse em compartilhar um pouco do seu conhecimento com estudantes em in�cio de carreira. A cada convite era explicada a estrutura (roteiro) e din�mica da aula:

• Estrutura da apresenta��o do Caso Vivo - a apresenta��o deveria ser feita em powerpoint e se aproximar do seguinte roteiro:

a. Apresenta��o da empresa: n�meros (unidades, locais de atua��o, funcion�rios, dados de mercado, produtos comercializados, p�blico alvo, etc), apresenta��o de v�deo institucional, no caso de ajudar a entender melhor o caso.

b. Apresenta��o do cen�rio de mercado: economia, concorrentes, competi��o, mercado internacional, neg�cio atual da empresa.

c. Apresenta��o de dados espec�ficos do caso: dados do caso propriamente dito, apresenta��o do caso e problema central a ser analisado.

d. Fechamento do caso com as quest�es chaves para discuss�o: tr�s (3) a cinco (5) perguntas chave para os alunos refletirem e discutirem, inicialmente fora da sala de aula, por uma semana.

• Din�mica da Apresenta��o do Caso Vivo:

a. A apresenta��o era feita em uma hora e vinte pelo executivo. Os alunos poderiam interagir a qualquer momento. Nos 10 minutos finais, abria-se a sess�o para as perguntas dos alunos (d�vidas/curiosidades).

b. O �ltimo slide da apresenta��o envolvia as quest�es chave para discuss�o - perguntas n�o �bvias, de dif�cil resposta, quest�es-problema que a empresa enfrenta ou enfrentou. Os alunos tinham uma (1) semana para levantar informa��es adicionais sobre o caso, pesquisar lojas, fazer pesquisa de campo, etc.

c. A discuss�o do caso em sala s� ocorria ap�s uma semana da apresenta��o feita pelo executivo. �s vezes ele retornava e participava da discuss�o em conjunto com a professora e alunos da turma. Em outros momentos, a pr�pria professora conduzia a plen�ria, sem a participa��o do executivo.

O processo de aprendizagem dos casos vivos envolvia tr�s est�gios: 1) Prepara��o Individual, 2) Discuss�o em Grupos e 3) Discuss�o em Plen�ria. Ap�s a apresenta��o do caso pelo executivo, os alunos tinham que trabalhar individualmente (prepara��o individual) e, posteriormente, em grupo (discuss�o em grupos), por uma semana para resolver os problemas apresentados. Essa discuss�o (individual e entre os integrantes do grupo) era fundamental para: ampliar o “campo de vis�o”; possibilitar a an�lise sob novas perspectivas; ter um entendimento coletivo do caso.

Todos os grupos deveriam entregar na semana seguinte um relat�rio do caso, seguindo a estrutura passada em sala pela professora nos cinco primeiros minutos de aula:

1. Descri��o do contexto – qual o dilema do caso?;

2. Resumo – lista das informa��es importantes do caso;

3. Alternativas poss�veis - que a equipe entende que poderiam resolver o dilema;

4. Decis�o do grupo sobre o dilema e argumentos para embasar a decis�o.

Embora todos os grupos devessem entregar um relat�rio, apenas um deles era escolhido para apresentar o caso. A distribui��o dos casos entre os grupos era feita no primeiro dia de aula, ent�o todos sabiam quando teriam que fazer suas apresenta��es.

Na aula seguinte � apresenta��o do caso pelo executivo, o grupo selecionado tinha quarenta minutos para relatar o caso, trazendo informa��es adicionais. Para a resolu��o do caso era necess�rio o uso de fontes m�ltiplas: pesquisas de campo com executivos, consumidores, levantamento em dados secund�rios, pesquisa em estabelecimento/lojas, an�lise de dados econ�micos e financeiros, uso de f�rmulas/teorias vistas em outras aulas do curso. Isso era necess�rio para a resolu��o do caso em quest�o.

Durante a apresenta��o do grupo em sala (discuss�o em plen�ria), a professora envolvia os demais grupos para que tamb�m apresentassem suas opini�es e ideias. Essa etapa tinha os seguintes objetivos: a) entendimento completo e minucioso do caso; b) aprendizado al�m do n�vel alcan�ado na prepara��o individual ou na discuss�o em grupo.

No processo de aprendizagem do estudo de caso, o professor e os alunos assumem pap�is distintos:

• Aluno: papel de protagonista – agente ativo no processo de aprendizagem. Deve ter postura respons�vel para os estudos, se preparando com anteced�ncia;

• Professor: papel de moderador - deve estimular e instigar o racioc�nio dos alunos, intermediando as discuss�es e o racioc�nio anal�tico. Exerce o papel de “advogado do diabo”, mantendo o foco e fazendo avan�ar a discuss�o. N�o � sua tarefa ajudar a classe a atingir um consenso, j� que existem diferentes percep��es de mundo e diversas formas de se resolver um problema de gest�o.

Comportamento e atitudes de alunos e docentes durante a discuss�o do caso

Com o estudo observacional realizado na segunda etapa, foi poss�vel capturar informa��es e comportamentos dos alunos e professor sob a utiliza��o do m�todo de caso como ferramenta de ensino.

A observa��o foi feita em duas partes; na primeira etapa foi feita uma imers�o inicial, na qual foi registrado o que foi considerado apropriado para este estudo.

a) Parte 1: Imers�o Inicial

Nesta imers�o, foi poss�vel relacionar os fatos observados com as caracter�sticas do caso vivo apresentadas pela literatura.

Epis�dio: Aula de Resolu��o de Casos – Apresenta��o do Caso Vivo Santa Dose

Data/Hor�ria: 29 de maio de 2016/ Hora: 10h �s 11h40

Participantes: Alunos da gradua��o em Administra��o, professora e palestrante convidado

Local: Faculdade FIA de Administra��o

O caso vivo apresentado nesse dia foi o da Santa Dose, uma marca de cacha�a aromatizada, que � um produto f�cil de beber devido ao baixo teor alco�lico, com receita que re�ne 4 elementos: cacha�a de alambique, que � envelhecida de 3 a 5 anos, em barril de carvalho, combinada com mel e lim�o naturais. O caso foi apresentado pela gestora que gerencia as principais marcas da Brown-Forman.

A palestrante come�a a apresenta��o fazendo uma descri��o do mercado de destilados, especifica��es da categoria de cacha�a e hist�ria da cria��o do produto. Al�m disso, a palestrante tamb�m fez uma descri��o detalhada do p�blico alvo da empresa, trazendo v�rios dados sobre esse p�blico, como: perfil, sexo, idade e classe social. Tamb�m foram apresentadas as estrat�gias de comunica��o da empresa, objetivos da marca e meios de sua consolida��o no mercado de destilados.

Ao final da apresenta��o do caso, a palestrante deixou tr�s perguntas para nortear os alunos, alternativas que poderiam ajudar a empresa a enfrentar os atuais dilemas em rela��o aos seus concorrentes, aumentar sua participa��o de mercado e poss�veis estrat�gias de comunica��o e divulga��o para alcan�ar de forma mais efetiva seu p�blico-alvo.

Com essa imers�o inicial foi poss�vel evidenciar, na observa��o, algumas das caracter�sticas apresentadas pela literatura. A modalidade de caso vivo � um tipo de caso que traz grandes vantagens ao aprendizado, pois os alunos acompanham a evolu��o e hist�ria do caso concomitantemente com o desenrolar dos fatos. (NU�EZ, 2003 apud IKEDA; VELUDO-DE-OLIVEIRA; CAMPOMAR, 2006).

b) Parte 2: Imers�o Focal

Ap�s a imers�o inicial, a imers�o focal foi realizada na aula 2, na qual a professora discutiu o caso com os alunos. Cada caso apresentado nas disciplinas de Resolu��o de Casos I e II � trabalhado em duas etapas. Na primeira aula h� uma apresenta��o do caso por um palestrante convidado, que traz a contextualiza��o, informa��es e dilemas sobre o caso. J� na segunda aula, discute-se a resolu��o do caso, isto �, as respostas dos alunos sobre os dilemas apresentados pelos palestrantes convidados.

Para a segunda etapa do estudo observacional, foram tra�ados alguns focos de observa��o, com isso foi tra�ado um formato de observa��o, focando na an�lise dos pontos mais relevantes para o estudo.

Epis�dio: Aula de Resolu��o de Casos – Discuss�o do Caso Vivo Santa Dose

Data/Hor�rio: 06 de maio de 2016/Hora: 10h �s 11h40

Participantes: Alunos da gradua��o em Administra��o e professora

Local: Faculdade FIA de Administra��o

1. Temas principais - Resumo do que acontece no epis�dio etc.

No dia da discuss�o do caso, todos os grupos devem entregar um relat�rio com as respostas ao dilema, seguindo uma estrutura passada pela professora no in�cio do semestre. Entretanto, um grupo apresenta a resolu��o do caso. No in�cio do semestre foram definidos os grupos que ficariam respons�veis pela apresenta��o de cada um dos casos estudados durante o semestre. Cada grupo tem uma semana para se preparar para essa apresenta��o. Os demais alunos n�o apresentam o caso, mas participam ativamente das discuss�es.

O grupo respons�vel pelo caso Santa Dose come�a fazendo uma apresenta��o de informa��es complementares para contextualiza��o, nesse caso, em espec�fico, informa��es sobre a constru��o da marca, inova��es do produto e compara��o com os concorrentes. A professora e uma aluna fazem intera��o durante a apresenta��o.

Depois da apresenta��o pr�via sobre a empresa, os alunos respons�veis pela apresenta��o do caso dedicam-se a responder as quest�es propostas pela palestrante. O grupo apresenta para a sala suas repostas e sugest�es que poderiam ser adotadas pela empresa.

2. Postura do professor - Resumo de como ele media as discuss�es e estimula o debate.

A professora faz coment�rios durante a apresenta��o dos alunos, resgata alguns pontos do caso, informa��es importantes para embasar algumas respostas. Ela estimula os demais grupos a participarem da discuss�o, expondo suas ideias. Aos poucos a professora vai convidando cada um dos alunos a darem suas contribui��es. Durante as discuss�es a professora traz informa��es adicionais sobre o caso e novas alternativas que estimulam a reflex�o dos alunos sobre os as poss�veis tomadas de decis�o, buscando fazer um “link” com conte�dos te�ricos vistos ao longo do curso de gradua��o. A professora tamb�m traz informa��es sobre outros casos de sucesso, exemplificando as alternativas que a empresa poderia utilizar.

Os alunos v�o trazendo suas ideias para discuss�o conjunta, durante essa troca de ideias a professora vai fazendo algumas interven��es, dizendo que algumas das sugest�es feitas pelos alunos precisariam ter mais embasamento te�rico e fundamenta��o em dados, para uma an�lise cr�tica da situa��o. A professora ainda ressalta que sentiu falta de maior aprofundamento e an�lise para desenho das alternativas poss�veis para resolu��o dos dilemas enfrentados pela empresa. Mas tamb�m diz que surgiram ideias muito interessantes.

3. Postura do aluno em rela��o a participa��o – Resumo do envolvimento e engajamento

Os demais alunos que n�o est�o participando da apresenta��o do caso come�am com suas contribui��es expondo suas ideias para os dilemas enfrentados pela empresa. Inicialmente a participa��o dos alunos se d� conforme a professora os chama para a discuss�o, posteriormente, a intera��o dos alunos come�a a ser espont�nea conforme a discuss�o avan�a. Percebe-se nitidamente a empolga��o de alguns alunos em expor suas ideias.

Com o desenrolar da discuss�o, cada aluno exp�e seus pontos de vistas e debate suas reflex�es com os demais colegas. Nos pontos em que h� discord�ncia entre alguns pontos de vistas, os alunos discutem sobre os pr�s e contras de cada alternativa. As contribui��es e participa��o dos alunos aumentam cada vez mais com o avan�o da discuss�o.

4. Entendimento sobre a din�mica.

Com a imers�o focal, foi poss�vel observar como se d� o processo de aprendizagem sob uma abordagem construtivista, na qual os estudantes devem estar capacitados para inovar e desenvolver um pensamento construtivo. (BONO, 2000 apud COTO; NETO; PACHECO, 2009).

5. Percep��o dos alunos sobre a utilidade do M�todo de Caso.

Nesta �ltima etapa foi analisada a percep��o dos alunos quanto � utiliza��o da metodologia de casos como ferramenta de ensino-aprendizagem. O question�rio aplicado aos alunos da gradua��o continha 16 quest�es fechadas e estruturadas em uma escala intervalar de 1 a 10, sendo que, quanto mais pr�ximo de 1, menor era a concord�ncia dos alunos em rela��o �s afirma��es feitas e, quanto mais pr�ximo de 10, maior era o n�vel de concord�ncia. Em uma an�lise geral dos dados coletados, foram utilizadas t�cnicas de estat�stica descritiva, objetivando analisar a dispers�o, maiores ocorr�ncias e vari�ncias entre os dados. A tabela 1 traz os desvios padr�o, vari�ncia, mediana e moda para cada umas das quest�es.

Tabela 1

Estat�stica descritiva - question�rio com alunos da gradua��o FIA

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Com o desvio padr�o e a vari�ncia torna-se poss�vel analisar a dispers�o dos dados em rela��o � m�dia. Quanto maior a vari�ncia e o desvio padr�o, maior a dispers�o entre os dados e mais longe eles est�o em rela��o ao valor esperado. Com isso, podem-se observar em cada uma das quest�es que os dados coletados n�o apresentam grandes varia��es entre si.

Por meio da estat�stica descritiva, pode-se analisar que para todas as quest�es houve certa concord�ncia dos alunos em rela��o �s afirma��es realizadas. Essa constata��o fica mais f�cil de ser observada quando os dados s�o colocados em desenho esquem�tico (figura 2).

Na representa��o gr�fica (figura 2), as quest�es est�o apresentadas como X1; X2... X16 e a escala de concord�ncia de 1 a 10 est� tra�ada na linha vertical. A an�lise gr�fica por meio do Box Plot “[...] utiliza cinco medidas estat�sticas: valor m�nimo, valor m�ximo, mediana, primeiro e terceiro quartil da vari�vel quantitativa. Este conjunto de medidas oferece a ideia da posi��o, dispers�o, assimetria, caudas e dados discrepantes.” (GUEDES et al., 2005, p. 44). Com essa representa��o esquem�tica, � poss�vel visualizar que n�o houve grandes dispers�es entre as respostas para cada uma das quest�es, indicando pouca variabilidade na escala de concord�ncia. Isso revela que a maioria dos alunos concordou com as proposi��es te�ricas feitas com base na literatura e que foram aplicadas no question�rio, com objetivo de avaliar as opini�es e percep��o dos alunos em rela��o a metodologia construtivista baseada em estudos de casos.

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 2
Box Plot - Concord�ncia das respostas dos alunos em cada quest�o.
elaborado pela autora.

Como meio de facilitar o processo de an�lise dos dados, a escala do question�rio delimitada entre 0 a 10 foi dividida em cinco grupos, de acordo com os n�veis de concord�ncia, sendo que o grupo 1 e 2 indica baixo n�vel de concord�ncia, e o grupo 9 e 10 indica maior n�vel de concord�ncia dos alunos em rela��o �s afirma��es feitas no question�rio. Dessa forma, as respostas foram classificadas dentro da configura��o exposta na tabela 2.

Tabela 2

Agrupamento da escala de concord�ncia em cinco macrogrupos.

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Obteve-se um total de 84 question�rios respondidos. O ap�ndice 3 mostra a tabula��o dos dados coletados. Ao final, foi poss�vel elaborar a tabela 3 e a figura 3, que trazem a representa��o tabular e gr�fica dos percentuais de respostas de cada quest�o atribu�dos para cada um dos cinco grupos de concord�ncia utilizados para facilitar o processo de an�lise. Na tabela 3 tamb�m foram descritas as vari�veis analisadas em cada quest�o aplicada no question�rio.

Tabela 3

Percentuais de respostas por grupos de an�lise - question�rio com alunos da gradua��o FIA.

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 3
Representa��o gr�fica dos percentuais de respostas,
elaborado pela autora.

Com os resultados obtidos, � poss�vel estruturar a an�lise de percep��o dos alunos sobre alguns t�picos importantes analisados nesta pesquisa. Os resultados foram separados em algumas unidades de an�lise espec�ficas para a interpreta��o do estudo realizado.

a) Percep��o quanto � abordagem de ensino tradicional

Por meio da tabela 3 foi poss�vel observar que o percentual de discord�ncia dos alunos em rela��o � afirma��o feita no question�rio foi pequeno em todas as 16 quest�es fechadas. Segundo os autores Coto, Neto e Pacheco (2009), na metodologia tradicional o aluno � passivo durante todo processo de aprendizagem, pois o m�todo � baseado somente na transmiss�o dos saberes dos professores. Esse aspecto foi abordado nas quest�es 1 e 2 do question�rio, nas quais foram feitas compara��es entre a abordagem tradicional e a construtivista, e p�de-se notar que houve grande concord�ncia dos alunos em ambas quest�es.

A primeira quest�o afirmava que a abordagem tradicional faz com que o aluno desempenhe um papel passivo na sala de aula enquanto o professor exp�e o conhecimento, ao contr�rio da abordagem construtivista, que faz com que o aluno desempenhe um papel mais ativo no processo de aprendizagem. Conforme � poss�vel observar na tabela 3, nessa quest�o, 38% das respostas obtidas ficaram concentradas no grupo com n�vel de concord�ncia entre 7 e 8, enquanto 48% das respostas apresentaram alto n�vel de concord�ncia, pois ficaram concentradas no grupo 9 e 10.

A segunda quest�o trouxe a afirma��o de que o ensino tradicional tem como foco a aceita��o e memoriza��o do conte�do ensinado, enquanto o foco da abordagem construtivista � a constru��o conjunta do conhecimento. Para essa quest�o o percentual de resposta no grupo 7 e 8 foi 38%, enquanto no grupo 9 e 10 foi de 52%.

Os resultados demonstram que a maioria dos alunos concorda com a vis�o de Nicolini (2003), que defende que a abordagem tradicionalista � baseada no recebimento, aceita��o e memoriza��o do conte�do, impossibilitando que os alunos usem a criatividade para resolver problemas.

b) Percep��o quanto � abordagem de ensino construtivista

As quest�es 3 e 4 trouxeram afirma��es que buscaram analisar o n�vel de concord�ncia dos alunos em rela��o � sua postura diante da abordagem construtivista. A quest�o tr�s afirmava que na abordagem de ensino construtivista h� um espa�o maior para participa��o do aluno no processo de aprendizagem, o que permite que ele reflita mais sobre os conte�dos ensinados ao mesmo tempo em que proporciona um aprendizado mais ativo e colaborativo. Aqui se p�de observar alto n�vel de concord�ncia dos alunos em rela��o a essa afirma��o, em que 62% das respostas ficaram concentradas no grupo 9 e 10.

Na quest�o 4 foi abordada a vari�vel da integra��o entre alunos e professores, que � mais efetiva no ensino construtivista, uma vez que ambos colaboram efetivamente para constru��o do conhecimento. A concord�ncia dos alunos para essa quest�o esteve concentrada no grupo 9 e 10, com a representatividade de 61%.

Esses dados revelam que houve grande concord�ncia dos alunos quanto � teoria descrita por Lima (2003), que diz que abordagem construtivista � a que melhor propicia um aprendizado mais ativo, reflexivo, colaborativo.

Analisando algumas caracter�sticas do m�todo estudo de caso, as quest�es 6 e 7 investigam a percep��o dos alunos quanto ao processo de aprendizagem individual e os ben�ficos das discuss�es em grupo com a utiliza��o de casos para ensino.

A aprendizagem individual no m�todo de caso � baseada na discuss�o em grupos, o que faz com que o aluno participe mais das discuss�es na sala de aula e aumente sua contribui��o. Esse � o conceito que foi abordado na quest�o 6, na qual 53% das respostas obtidas no question�rio ficaram agrupadas entre os n�veis de concord�ncia 9 e 10 e 31% entre 7 e 8.

A quest�o 7 analisou os benef�cios das discuss�es em grupo, que permitem que o aluno amplie sua vis�o sobre um determinado problema estudado e mapeie melhor as alternativas de decis�o sobre ele. Nessa quest�o o n�vel de concord�ncia dos alunos teve representa��o significativa no grupo 9 e 10, com 72% das repostas obtidas.

A literatura evidenciada por Roesch (2007) traz que o m�todo de caso � o que melhor possibilita o alinhamento entre teoria e pr�tica, e a integra��o entre a sala de aula e a viv�ncia no mundo empresarial, que � muito necess�ria em um curso de administra��o. Com as respostas obtidas, p�de-se observar que h� grande concord�ncia dos alunos em rela��o a essa teoria.

c) Percep��o quanto � utiliza��o de casos para ensino

Conforme conceitos apresentados pela literatura de Corey (1998), a utiliza��o de casos contribui fortemente para o desenvolvimento de compet�ncias gerencias importantes no ambiente organizacional, como a capacidade de identifica��o e defini��o dos problemas, coleta e interpreta��o de dados relevantes, formula��o de estrat�gias, tomadas de decis�es e trabalho em grupo. Esse aspecto foi analisado na quest�o 5, que investiga como se d� o desenvolvimento do aluno e a integra��o entre teoria e pr�tica com a utiliza��o da metodologia de casos.

O m�todo de estudo de caso promove o desenvolvimento da capacidade da a��o do aluno, uma vez que o processo de coleta de informa��es para resolu��o dos casos exige uma atitude proativa. Esse ponto � abordado na quest�o 5, e os resultados obtidos revelam alta concord�ncia dos alunos - 64% das repostas ficaram concentradas no grupo 9 e 10.

A quest�o 8 explorou a percep��o dos alunos sobre a integra��o entre a teoria e pr�tica proporcionada pelas disciplinas Resolu��o de Casos I e II. P�de-se observar que a maioria considera essa disciplina importante no curso, j� que 70 % das respostas ficaram concentradas no grupo 9 e 10.

As quest�es 10 e 11 buscaram capturar a impress�o dos alunos no que se refere �s vantagens oferecidas pelo m�todo de estudo caso considerando a tipologia de casos vivos e de casos cl�ssicos de Harvard no processo de ensino-aprendizagem. Conforme aponta Nu�ez (2003 apud IKEDA; VELUDO-DE-OLIVEIRA; CAMPOMAR, 2006), os casos vivos t�m a vantagem de poderem ser acompanhados concomitantemente ao desenrolar dos fatos, o que traz implica��es positivas � aprendizagem e proporciona um aprendizado mais ativo e reflexivo, conforme apresentado na quest�o 13, que apresentou percentuais de concord�ncia dos alunos em rela��o a essas vantagens de 37% no grupo 7 e 8 e 57% no grupo 9 e 10.

A viv�ncia com casos reais, ainda que na sala de aula, prepara o aluno para enfrentar os futuros desafios como administrador/gestor. A concord�ncia dos alunos em rela��o �s vantagens oferecidas por esse tipo de caso foi muito alta. Isso pode ser observado nas respostas da quest�o 10, que tiveram uma concentra��o de 75% no grupo 9 e 10. Al�m disso, a quest�o 12 do question�rio traz a afirma��o de que a utiliza��o de casos vivos deixa o aluno mais pr�ximo das situa��es vividas no ambiente organizacional, uma vez que trazem situa��es que se sucederam h� pouco tempo ou que ainda est�o ocorrendo nas empresas. Observa-se que o n�vel de concord�ncia dos alunos em rela��o a essa quest�o tamb�m foi alto, com representatividade de 70% no grupo 9 e 10.

As tr�s �ltimas quest�es do question�rio com os alunos eram abertas, para que eles demostrassem livremente suas opini�es sobre a experi�ncia com o aprendizado baseado na metodologia de casos. O processo de an�lise dessas quest�es se deu com a utiliza��o das ferramentas de consulta do software NVivo, com as quais � poss�vel desenhar nuvens das palavras que apareceram com maior frequ�ncia dentro das 84 respostas coletadas nos question�rios, conforme representado na figura 4:

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 4
nuvem das palavras que apareceram com maior frequ�ncia quando perguntado sobre ter uma disciplina espec�fica de casos na grade curricular em Administra��o.
elaborado pela autora.

Atrav�s da figura 4, pode-se observar que a palavra que mais aparece nas respostas obtidas � a palavra “importante”, pois � a que est� em maior destaque na nuvem de palavras apresentada. Isso indica que, ainda que a disciplina seja recente nos cursos de Administra��o, ela j� � considerada importante na grade curricular do curso pelos alunos da amostra selecionada. Conforme aponta a literatura apresentada por Iizuka (2008), na maioria das institui��es os casos s�o explorados de forma transversal, j� que muitos deles s�o encontrados em livros did�ticos de administra��o e que raramente retratam a realidade brasileira; na maioria das vezes, s�o preparados para confirma��o de uma teoria discutida em sala, n�o retratando a administra��o de forma integrada e n�o trazendo para sala de aula relatos sobre os desafios, oportunidades e as situa��es vividas nas organiza��es. Nesse sentido, a disciplina de Resolu��o de Casos se faz importante na medida em que trata exclusivamente de casos de gest�o que discutem a realidade nas organiza��es e buscam integrar alguns conte�dos vistos durante o curso, deixando o aluno cada vez mais pr�ximo da realidade empresarial.

Na literatura utilizada, Roesch (2007, p. 12) destaca que “[...] o caso para ensino � um entre poucos m�todos de ensino-aprendizagem que possibilita um “casamento” entre teoria e pr�tica, t�o necess�rio para a �rea de Administra��o.” Essa rela��o tamb�m � analisada na �rvore de palavras originada pelas respostas dos pesquisados, apresentada na figura 5.

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 5
�rvore de palavras sobre como � essencial ter uma disciplina espec�fica de casos na grade curricular em administra��o.
elaborado pela autora.

Pode-se perceber, pela figura 5, que os alunos consideram a disciplina essencial, porque ela permite a aplica��o dos conhecimentos adquiridos e o desenvolvimento do aluno, ao mesmo tempo em que oferece uma vis�o da realidade que ser� vivenciada no �mbito organizacional quando se tornar um executivo. A disciplina Resolu��o de Casos tamb�m � considerada essencial porque traz casos pr�ticos para sala de aula, o que permite uma vis�o mais ampla do ambiente empresarial e promove maior integra��o entre as disciplinas. Nesse sentido, tamb�m � poss�vel analisar como os pesquisados enxergam a import�ncia da metodologia construtivista na constru��o de um aprendizado mais efetivo e melhor preparo para ingresso no mercado de trabalho. Com base na figura 6, percebe-se que os alunos da amostra selecionada consideram a disciplina Resolu��o de Casos muito importante para seu pr�prio desenvolvimento, para aplica��o da teoria na pr�tica, conhecimento da din�mica empresarial e melhor entendimento sobre o mundo corporativo. Al�m disso, a capacidade anal�tica para tomada de decis�o, senso cr�tico para resolu��o de problemas e capacidade para realiza��o de trabalho em grupo, s�o habilidades muito exigidas no ambiente empresarial. Pelos dados coletados pode-se depreender que a abordagem construtivista baseada na resolu��o de casos promove o desenvolvimento dessas habilidades t�o requeridas no mercado de trabalho.

A literatura apresentada por Corey (1998) revela que a utiliza��o de casos contribui fortemente para o desenvolvimento de compet�ncias gerenciais importantes no ambiente organizacional. Com os dados coletados, percebe-se que palavras como “capacidade”, “experi�ncia”, “discuss�es”, “problemas”, “situa��es” e “saber” apareceram com frequ�ncia nas respostas dos alunos participantes da amostra. Analisando a nuvem de palavras na figura 7 pode-se visualizar de forma mais clara essa constata��o.

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 7
nuvem de palavras - import�ncia das discuss�es dos estudos de casos na prepara��o do aluno antes da atua��o no mundo empresarial.
elaborado pela autora

A teoria apresentada por Ellet (2001) defende que a pr�tica de trabalhar na resolu��o de casos que retratam a realidade vivenciada no mundo empresarial oferece aos estudantes de Administra��o uma experi�ncia pr�tica equivalente � que os m�dicos e cientistas desfrutam em laborat�rios de pesquisa. Na figura 7 nota-se que as palavras “mundo empresarial” apareceram com frequ�ncia nas repostas dos pesquisados.

Com a �rvore de palavras representada na figura 8 pode-se ter uma vis�o das percep��es dos alunos sobre como a metodologia de casos os prepara para atua��o no mundo empresarial.

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 8
�rvore de palavras sobre a import�ncia das discuss�es dos estudos de caso na prepara��o do aluno antes da atua��o no mundo empresarial.
elaborado pela autora

� poss�vel observar na figura 8 que os alunos da amostra selecionada consideram importante as discuss�es dos estudos de casos, pois os ajudam a conhecer melhor as situa��es reais do mundo empresarial, aprender a solucionar problemas e simular o processo de tomada de decis�o. Al�m disso, essas discuss�es promovem uma adapta��o mais confort�vel ao ingressar no mundo empresarial, deixando o aluno mais confiante, e tamb�m oferecem a oportunidade de vivenciar experi�ncias pr�ticas do ambiente organizacional. Dos dados coletados, depreende-se ainda que as discuss�es dos casos exercitam a capacidade cr�tica e a capacidade de interpreta��o de problemas, os quais muitas vezes n�o est�o apresentados de forma clara, t�o requerido no mundo empresarial.

Com isso, evidencia-se que algumas das vantagens da utiliza��o do m�todo de caso como ferramenta de ensino est�o refletidas no desenvolvimento da capacidade de a��o, aprendizagem individual baseada na discuss�o em grupos e forma��o de esquema pr�prio de resolu��o de problema, segundo Oliveira, Muritiba e Limongi-Fran�a (2004). Por meio dos dados coletados, percebe-se que essas vantagens se comprovam, uma vez que os alunos se sentem mais bem preparados e confiantes para atua��o no ambiente corporativo. Nesse sentido, a ferramenta atua com o exerc�cio da capacidade cr�tica, desenvolvimento da capacidade de argumenta��o e crit�rios de an�lise.

A �ltima quest�o do question�rio aplicado – Pela sua experi�ncia na disciplina Resolu��o de Casos, voc� faria outra disciplina nesse formato? – buscou interpretar o sentimento dos alunos quanto ao m�todo construtivista empregado na disciplina, para analisar os pontos positivos e negativos advindos da utiliza��o dessa metodologia. A nuvem de palavras representada pela figura 9 traz de forma ilustrativa a representa��o das 50 palavras mais frequentes dentre as repostas da amostra selecionada:

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 9
nuvem de palavras - se os alunos fariam outra disciplina baseada na metodologia de casos.
elaborado pela autora.

Com essa representa��o (figura 9), fica claro que a experi�ncia com a metodologia de ensino construtivista foi positiva para a maioria dos alunos. Percebe-se que a palavra “sim” ganhou destaque entre as respostas obtidas. Al�m disso, tamb�m se p�de depreender que a disciplina Resolu��o de Casos teve uma contribui��o importante para o aprendizado dos alunos da amostra selecionada, fazendo com que eles adquirissem boas experi�ncias, muitas das quais poder�o facilmente ser aplicadas no ambiente organizacional.

Da figura 10 podem ser extra�dos alguns motivos que levariam os alunos a cursar outras disciplinas baseadas na metodologia construtivista:

Quais as vantagens de utilizar a metodologia de estudo de caso como ferramenta de ensino aprendizagem?

Figura 10
�rvore de palavras sobre o que levaria os alunos da amostra a cursarem outras disciplinas baseadas na metodologia construtivista.
elaborado pela autora.

Observa-se na figura 10 que muitos s�o os fatores que levariam os alunos a cursarem outras disciplinas no formato da disciplina de Resolu��o de Casos. Por meio dos dados coletados, evidencia-se que a abordagem construtivista, baseada na metodologia de casos, confronta a teoria atrav�s de meios pr�ticos de aprendizado, que buscam ativar e desenvolver a capacidade de an�lise cr�tica e argumenta��o dos estudantes, deixando-os mais pr�ximos da realidade organizacional. � interessante notar, tamb�m, que h� o interesse por parte dos alunos para que outras disciplinas sejam ministradas nesse mesmo formato. Al�m disso, os alunos consideram que a disciplina facilita o aprendizado, na medida em que oferece uma forma melhor de adquirir os conhecimentos necess�rios para se obter sucesso no mercado de trabalho.

Embora existam muitos fatores positivos que ressaltam a efetividade do aprendizado apresentado pela metodologia de casos, os dados coletados tamb�m revelam algumas sugest�es para melhor aplica��o deste m�todo, como, por exemplo, o uso de casos mais espec�ficos para cada uma das �reas que englobam o curso de Administra��o. Com isso, faz-se importante relatar que ainda que muitos considerem a ideia de cursar outras disciplinas no mesmo formato, h� algumas ressalvas para melhorar o processo: “Faria, contudo, buscando entreter mais os alunos para que os casos n�o se tornem cansativos.”; “Sim, mas gostaria de focar em tipos de casos mais espec�ficos, por exemplo, financeiro, estrat�gia etc.” e “Faria, por�m, nos primeiros anos da faculdade apenas.”

Considera��es finais

Este artigo contou com uma pesquisa qualitativa, baseada em um estudo de caso �nico, no qual foram utilizadas m�ltiplas fontes de evid�ncias com objetivo de “mergulhar” profundamente no problema de pesquisa e responder � quest�o do estudo de forma mais efetiva.

O estudo se prop�s a analisar como o m�todo de caso pode auxiliar a integra��o entre o que se ensina na sala de aula e o que se vivencia no ambiente organizacional. Para atingir esse objetivo geral, foram criados alguns objetivos espec�ficos que delimitaram o escopo desta pesquisa: analisar as abordagens de ensino da administra��o, no que se refere ao conceito tradicionalista e ao ensino construtivista; analisar como o m�todo de estudo de caso promove a integra��o entre teoria e pr�tica, no ensino superior em Administra��o; analisar como o m�todo de estudo de caso aumenta a participa��o e o engajamento dos alunos na sala de aula; explicar as diferentes tipologias dos casos utilizadas como m�todo de ensino, evidenciadas na literatura; relatar experi�ncias dos alunos e professores adquiridas com a ado��o de casos como t�cnica de aprendizagem, no ensino superior em Administra��o; propor a��es que viabilizem o melhor aproveitamento do m�todo de estudo de caso como t�cnica de aprendizagem no ensino da Administra��o em Institui��es de Ensino Superior (IES).

No tocante �s abordagens utilizadas como m�todo de ensino, a abordagem tradicional impossibilita que os alunos usem a criatividade para resolver problemas, desestimulando a vis�o cr�tica para a sua resolu��o, pois se baseia em uma metodologia que visa aceitar, receber e memorizar os conte�dos. (NICOLINI, 2003; CLOSS; ARAMBARU; ANTUNES, 2009). Em contrapartida, a abordagem construtivista visa um aprendizado mais ativo, reflexivo e colaborativo (LIMA, 2003), contribuindo para maior desenvolvimento e preparo do alunado no enfrentamento dos desafios que encontrar� no mercado de trabalho. Al�m disso, os problemas do mundo organizacional exigem an�lises criteriosas para um melhor desenho das alternativas poss�veis, pois an�lises mais cr�ticas, com embasamento te�rico e fundamenta��o em dados, permitem que as decis�es sejam tomadas de forma mais assertiva. A abordagem construtivista � a que melhor prepara o aluno para o que se vivencia no ambiente organizacional.

No que se refere ao m�todo de caso, ele atende ao princ�pio construtivista de aprendizagem e contribui significativamente para a forma��o do administrador. Ficou evidente no estudo que a utiliza��o de casos contribui fortemente para o desenvolvimento de compet�ncias gerencias importantes no ambiente empresarial, promovendo maior integra��o entre a teoria e pr�tica, pois desenvolve nos alunos a capacidade de identifica��o e defini��o dos problemas, coleta e interpreta��o de dados relevantes, formula��o de estrat�gias, tomadas de decis�es e trabalho em grupo. (COREY, 1998). Os casos vivos, por exemplo, aumentam a participa��o do aluno na sala de aula. Esse tipo de caso discute problemas que a empresa est� enfrentando simultaneamente com o desenrolar dos fatos, ao tempo em que convida os alunos a analisar e investigar o caso de forma cr�tica, assumindo o papel do tomador de decis�o, estimulando a cria��o de alternativas para resolu��o do problema. As alternativas s�o discutidas e colocadas “na mesa” nos debates em sala de aula. Essa pr�tica permite a constru��o de um processo de aprendizagem ativo, no qual os alunos s�o mais motivados a aprender.

Foi poss�vel notar tamb�m que a ado��o da metodologia de caso no ensino da Administra��o trouxe contribui��es positivas tanto para o professor quanto para os alunos, uma vez que o professor acaba interagindo mais com alunos � medida que faz a intermedia��o nas discuss�es e debates na sala de aula. Na entrevista realizada, foi dito que o professor atua como moderador, estimulando e instigando o racioc�nio dos alunos; j� os alunos assumem o papel de protagonistas, sendo agentes ativos no processo de aprendizagem.

Com isso, conclui-se que a metodologia de caso auxilia a integra��o entre o que se aprende na sala de aula e o que se vivencia no ambiente organizacional, pois proporciona aos alunos um aprendizado mais ativo e reflexivo, fazendo-os desenvolver habilidades para detec��o, investiga��o e resolu��o de problemas, ampliando o campo de vis�o das alternativas para a tomada de decis�o. Dessa forma, como proposta de a��o para melhor aproveitamento do m�todo de caso como ferramenta de ensino-aprendizagem no ensino superior em Administra��o, fica registrada a utiliza��o de casos que promova maior integra��o entre as disciplinas estudadas durante o curso.

Como limita��es deste estudo, ficam relatadas:

• O objeto de estudo desta pesquisa tem objetivos diferentes dos da maioria das escolas de ensino superior; as salas comportam poucos alunos e isso permite maior efetividade na utiliza��o do m�todo de caso. Os resultados aqui obtidos aplicam-se a faculdades com modelos de gest�o semelhantes ao da Faculdade FIA de Administra��o;

• A pesquisa baseou-se em um estudo de caso, n�o criando oportunidade para generaliza��es a respeito dos resultados obtidos.

• Como sugest�es para novos estudos, ficam apontados:

• Estudos sobre a efetividade da aplica��o do m�todo de caso em outras institui��es de ensino superior que t�m um modelo de gest�o diferenciado em rela��o � Faculdade FIA de Administra��o;

• Estudos sobre a inser��o do m�todo de caso em institui��es de ensino superior que n�o utilizam essa ferramenta como t�cnica de ensino-aprendizagem.

Quais as vantagens de um estudo de caso?

As principais vantagens do estudo de caso, então, podem ser assim definidas: permite investigar a evolução de um fenômeno atual, ao longo do tempo, em profundidade, utilizando-se de fontes múltiplas de evidência e possibilitando, inclusive, considerar dados de natureza quantitativa.

Quais as vantagens é desvantagens em fazer um estudo de caso?

Vantagens: as provas resultantes de casos múltiplos são consideradas mais convincentes, e o estudo global é visto como sendo mais robusto. Desvantagem: o fundamento lógico para projetos de caso único, não pode ser satisfeito por casos múltiplos.

Qual a importância de um estudo de caso?

O Estudo de Caso oferece a possibilidade de alargamento da visão, apreendendo o indivíduo em sua integridade e em seu contexto. A estratégia permite a análise da dinâmica dos processos em sua complexidade, o que constitui sua condição específica de contribuição à construção do conhecimento científico.

Qual a importância da metodologia para o processo de aprendizagem?

A importância da escolha da metodologia A metodologia escolhida guiará os professores nesse processo, indicando novas formas de ensino e, às vezes, até mesmo novos recursos de aprendizagem. Além disso, é fundamental para tranquilizar os pais a respeito do que é transmitido aos seus filhos.