Quais as consequências da colonização europeia para a América Latina?

Résumés

Este trabalho mostra, com textos do Brasil, México e Peru, como através da linguagem se manifestou o mal-estar de se viver em colônias, e como termos fundamentais do léxico histórico-sociológico –pátria, América– são empregados com um sentido novo ; é a identidade dos povos que começa a se exprimir. Nesse percurso me detenho nas primeiras revoltas e no surgimento de uma nova mentalidade. Ao mesmo tempo reviso o pensamento de alguns latinoamericanos em relação aos vínculos pós independência tentando dar um perfil da realidade atual de América latina.

Cet article, à partir de documents brésiliens, mexicains et péruviens, illustre comment, à travers le langage, s'est manifesté le mal-être de la vie coloniale et comment des termes fondamentaux du lexique historique et sociologique − patrie, Amérique – furent employés dans une signification nouvelle ; ainsi a commencé à s'exprimer l'identité des peuples. Cette étude privilégie les premières révoltes et l'apparition de nouvelles mentalités. En même temps, elle revisite la pensée de quelques intellectuels latino-américains du siècle des indépendances et tente de mettre en évidence quelques caractéristiques de la réalité latino-américaine actuelle.

Based upon Brazilian, Mexican and Peruvian documents, this article illustrates how, through the language, the uneasiness of colonial life revealed itself and how the fundamental terms of historical and sociological vocabulary –fatherland, America– were employed with a different meaning ; that’s how countries’ identity first started to express itself. This study favours the first rebellions and the arrival of new mentalities. At the same time, it revisits the ideas of a few Latin Americans intellectuals belonging to the independence century and tries to display some characteristics of contemporary Latin America’s reality.

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Texte intégral

1As comemorações pelo bicentenário da independência de vários países de nosso continente é ocasião para recuar no tempo e lembrar os feitos que possibilitaram que na primeira década do XIX fossem dados os primeiros passos na configuração de novos Estados. Como toda mudança estrutural, esse foi um longo processo que começou a se desenvolver desde que os europeus pisaram o solo americano, que além de extenso, tem sido um caminho complexo com heranças presentes até hoje. A seguir, me detenho nas marcas de identidade na linguagem onde os habitantes manifestam o desconforto de viver em colônias, as primeiras críticas e as sérias conseqüências para as sociedades atuais.

Os que da lá vieram e os que cá nasceram

2Quando se dá o esgotamento do sistema mercantil e quando o regime de exclusividade do comércio colapsa, cada uma das regiões submetidas aos países europeus começa a enfrentar longas lutas para conseguir sua descentralização econômica e política.

3No entanto, é pertinente salientar que pesquisas históricas não tão recentes nas diversas nações latino-americanas têm mudado a equivocada opinião de que a separação das metrópoles começa apenas no final do século XVIII. Se os movimentos de libertação tiveram início naquela época com enfrentamentos bélicos, o processo de gestação de uma nova mentalidade vinha acontecendo desde muito tempo antes. Os ares libertários e a luta por um ideário menos absolutista tiveram sua origem séculos atrás, quando o homem nascido no continente começa a perceber o que significa «viver em colônias ». Esse sentimento refere-se à tomada de consciência da injusta situação frente aos privilégios concedidos, nos postos de trabalho, às pessoas de origem européia, em contraste com o desprezo pelos nascidos no continente.

  • 1 Comentarios reales (1609), caps. IX, XXIV. Ele era filho de um capitão espanhol e de uma inca.
  • 2 Cf. S. Almarza, «Variaciones en la noción de patria en la época colonial», Cuadernos Americanos, Mé (...)
  • 3 Apud, Fernando A. Novais, «Condições da privacidade na colônia», Aproximações. Estudos de história (...)

4Essa luta pela igualdade começa a se exprimir com sutis manifestações na linguagem registrada nos escritos às autoridades, sem, no entanto, chegar a formar um grupo de opinião. Ao deter-se no significado com que foi empregado, aqui no continente, o termo pátria desde o século XVII, observamos que está impregnado de uma carga afetiva e de uma marca de identidade para as pessoas nascidas na América. A utilização desta palavra vai revelando diversos matizes : às vezes é restrito –refere-se apenas ao lugar de nascimento–, em outras ocasiões, indica uma maior abrangência, como no texto do Inca Garcilaso de la Vega, que afirma claramente que sua pátria é o império inca1, querendo destacar assim um sentimento de pertencimento às terras que conformaram o vasto domínio incaico. Para certas mentes mais lúcidas, a pátria, já no século dezessete, não é a Espanha ; considerase como pátria o continente americano como um todo, ou uma América setentrional versus uma meridional2. Nas terras luso-americanas também aparecem as primeiras diferenças entre «os que de lá vieram » e os «que cá nasceram », como manifesta o autor do Diálogo das grandezas do Brasil (1618)3.

5Outro aspecto da mentalidade de alguns luso-brasileiros e dos criollos –os nascidos no continente no mundo hispânico– reflete-se em como eles percebiam e alertavam sobre a enorme diferença entre a opulência de que gozavam os homens vindos da Península e a pobreza que devia enfrentar o povo. Frente a essa situação, começam a aparecer manifestações contrárias a essa realidade. Surgem brilhantes reflexões tentando explicar porque as riquezas que saíam do continente não ficavam nem em Lisboa, nem Sevilha e iam parar imediatamente na GrãBretanha, em Flandres, ou eram depositadas nos cofres dos banqueiros alemães.

  • 4 Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Apud Laura de Mello e Souza, Desclassificado (...)

6Os centros mineiros de prata e ouro, tanto do México, de Minas Gerais e de Potosi sofreram conflitos imensos entre os seus donos e os trabalhadores. A historiografia tradicional ofereceu uma imagem distorcida das grandes riquezas que elas produziam e o fausto com que se vivia nessas cidades, porém há testemunhas de que a riqueza passava «em pó e em moeda para os reinos estranhos » e só a menor parte é que ficava «em Portugal e nas cidades do Brasil », comentava Antonil em 17114.

  • 5 S. Almarza, Pensamiento crítico hispanoamericano. arbitristas del siglo XVIII. Madrid, Pliegos, 199 (...)
  • 6 Apud Laura de Mello e Souza, Desclassificados do ouro. A pobreza mineira no século XVIII, op. cit., (...)

7No vice-reinado do Peru, outro perspicaz cidadão, o escritor Peralta Barnuevo, com o auxílio de um silogismo, demonstrava, em 1740, que «Inglaterra é mantida pela opulência, a opulência é mantida pelo comércio, o comércio é mantido pelo Peru, o Peru é mantido pela cidade de Lima, logo Lima é quem mantém a Inglaterra »5. Do mesmo modo, no povoado de Vila Rica, Tiradentes queixava-se de que seu lugar de nascimento era desgraçado, «porque se tirando dele tanto ouro e diamantes, nada lhe ficava, e tudo saía e os pobres filhos da América, sempre famintos, e sem nada de seu »6.

  • 7 Apud Alfredo Bosi, História concisa da literatura brasileira, São Paulo, Cultrix, 1986, p. 67.
  • 8 S. Almarza, «Las enfermedades políticas de la Nueva España», Cuadernos Hispanoamericanos, Madrid, 4 (...)

8O desconforto frente a essa situação injusta não fez mais que aumentar no decorrer do século dezoito. As palavras de repúdio de dois esclarecidos americanos, entre muitas outras vozes, um em Ouro Preto o outro no México, confirmam como foi amadurecendo a consciência sobre o sistema colonial implantado. Ambos se manifestam indignados frente ao saque das riquezas de suas regiões : «os europeus estavam sugando toda a substância da Colônia », diz Alvarenga Peixoto7, senhor de lavras, poeta do sul de Minas desterrado na África por suas posições durante o movimento da Inconfidência. Do mesmo teor são as expressões do mexicano Hipólito Villarroel, que afirma rotundamente que o estrangeiro é quem «sugou todos os tesouros das Américas »8. Em certa medida, estas colocações precedem as análises mais complexas de economistas, historiadores e sociólogos atuais, que explicam que o incremento das riquezas dos países capitalistas tem como base a exploração das matérias-primas da periferia menos desenvolvida. Poderíamos falar, quem sabe, de um estágio primitivo das bem conhecidas teorias da dependência.

9Um espírito insurgente foi brotando, e se manifestou numa corrente de pensamento reformista, iniciada por um grupo de pessoas que vivia imerso em seu tempo histórico. Quero dizer com isto que eram indivíduos que formavam uma elite e que tiveram a possibilidade de avaliar a sua realidade de colônias exploradas e pobres. Tinham lido e julgado as idéias propostas pelos enciclopedistas e ilustrados europeus. Por isso, antes das grandes revoluções do século XVIII (o movimento das treze colônias anglo-saxônicas em 1776 e a Revolução Francesa de 1789), já se sentia nas colônias um desconforto que se traduziria nos movimentos libertários desse fim do século no Caribe, e do começo do seguinte no resto do continente.

  • 9 Com o acervo trazido pela família real portuguesa, funda-se a Biblioteca Real em 1810, no Rio de Ja (...)

10As portas de entrada das novas idéias foram várias, desde os indianos que regressavam de seus estudos em Madri insuflados do ideário iluminista, ou os estrangeirados, como foram denominados os divulgadores do pensamento ilustrado nas terras lusitanas, até os comerciantes que clandestinamente embarcavam caixotes de livros proibidos para as colônias. Nada mais atraente para se imbuir dos primórdios dos movimentos libertários e conhecer a mentalidade daquela época que examinar as obras que eram lidas e que compunham as bibliotecas privadas e os acervos guardados pelas ordens religiosas, assim como os conventos e os monastérios que eram depositários dos mais importantes estoques de livros naquela época9. Conhecer o que se lia nesse período é um passeio para apreciar os diversos interesses que circulavam nos centros de maior vida comercial, como foram as grandes urbes que já contavam com uma intensa efervescência cultural.

  • 10 Eduardo Frieiro, O diabo na livraria do cônego, Belo Horizonte, Itatiaia, 1957, p. 53.
  • 11 Paul-J.Guinard, La presse espagnole de 1737 à 1791, Paris, Centre de Recherches Hispaniques, 1973.

11Nas principais cidades da América lusitana –Bahia, Ouro Preto, Pernambuco, Rio de Janeiro– circulava o jornal oficial Gazeta de Lisboa10 e, no mundo hispânico, eram conhecidos vários periódicos –El correo de los ciegos e o Semanario erudito– ambos de leitura constante, já que contavam com vários assinantes em diversas cidades coloniais. Outra publicação esperada ansiosamente nas colônias espanholas era El espíritu de los mejores diarios, cujo objetivo foi dar a conhecer o «espírito » da imprensa estrangeira, isto é, resenhar os principais artigos dos pensadores e filósofos liberais. Nas suas páginas encontram-se trechos dos textos de Rousseau, Mably, Locke e Bacon11 junto às obras de Montesquieu, de Voltaire, de Diderot e d´Alembert como também do ex-jesuíta Guillaume de Raynal.

12Do Raynal, vou me deter de maneira muito breve na obra Histoire philosophique et politique des établissements et du commerce des européens dans les deux Indes (1770), talvez seja o texto da Ilustração mais comentado na Europa e também no Novo Mundo. Como seu título indica, a sua reflexão abarca as «duas Índias », e as diatribes que atingiram a todas as nações européias que subjugavam outros povos. Suas posições eram radicalmente anti-colonialistas e anti-clericais. Ele fez uma brilhante análise em relação à mudança de mentalidade que o surgimento da América, como novo espaço de civilização ocidental, suscitou no cenário mundial. Foi muito lúcido em nomear explicitamente nossas regiões como «grandes empórios comerciais » e por isso essa obra acabou sendo queimada na França e proibida pela Inquisição no continente americano. No entanto, foi lida clandestinamente nas colônias.

  • 12 Antonello Gerbi, Viejas polémicas sobre el Nuevo Mundo, Banco de Crédito del Perú, 1946, p. 37-66.
  • 13 Uma síntese da extensa literatura sobre este tema encontra-se em Federico Álvarez Arregui, «El deba (...)

13Mas se por um lado este ilustrado historiador percebeu o significado comercial que a América representou para a Europa, por outro lado foi bastante ortodoxo em seguir as idéias de seus contemporâneos mais polêmicos, como o naturalista francês Buffon e o holandês Cornelius De Pauw, que consideravam que o continente americano tinha uma geografia imatura e que seus habitantes pertenciam a grupos étnicos inferiores12. É fácil perceber que, por trás das equivocadas colocações destes homens «das luzes », ocultam-se os interesses das potências européias preocupadas e desejosas de substituir Espanha e Portugal nos domínios americanos13. Foi constante a competição que existiu entre as nações para liderar a hegemonia colonial.

  • 14 Célia Nunes dos Santos «A Inconfidência Mineira», Anais do Museu Paulista, tomo XX, (1966). p. 237.
  • 15 S. Almarza, Pensamiento crítico..., op. cit., p. 48.

14Os livros proibidos nas colônias não somente eram lidos quando publicados, como também circulavam em forma de manuscrito em francês ou em versões já traduzidas. O Contrato social (1762) de Rousseau, por exemplo, foi traduzido para o espanhol pelo advogado argentino Mariano Moreno em 1810, em Buenos Aires, e o inconfidente brasileiro Cláudio Manuel da Costa traduziu a Riqueza das nações (1776) de Adam Smith14. Quando a França revolucionária lança ao mundo a Declaração dos direitos do homem (1789) e depois a Constituição francesa (1791), ambos foram rapidamente vertidos ao espanhol e circularam livremente pelas colônias. O tradutor foi o colombiano Antonio Nariño, perseguido, acusado e feito prisioneiro pela administração espanhola. No entanto, em sua defesa, argumenta que aqueles textos circulavam livremente e já haviam sido discutidos no periódico El espíritu de los mejores diarios, jornal que andava até «nas mãos de crianças e de mulheres »15, afirma Nariño.

  • 16 S. Almarza, «La Declaración de los Derechos del Hombre en Chile», Mapocho, Santiago, vol. 38 (1995) (...)

15Ambos documentos franceses foram o pilar ideológico das grandes transformações sócio-políticas no mundo Ocidental, pois marcaram o fim do Antigo Regime, e, assim, abriram caminho à uma época de importantes questionamentos. Essas leituras tiveram significativa influência no pensamento libertário dos homens americanos que, como já disse anteriormente, vinha sendo construído vagarosamente desde os primórdios da colonização. Quando nos adentramos nos pormenores de cada uma das regiões que formam a América Latina e percebemos como a expansão do tráfico comercial foi gerando centros urbanos e novos grupos sociais de funcionários e intelectuais, vemos que o nosso continente não ficou marginalizado com relação às idéias e às polêmicas surgidas nas grandes metrópoles. Por exemplo, os «alvoroços da França », como chamaram os vice-reis espanhóis o movimento revolucionário francês, assustaram de tal forma as autoridades das colônias, que estas começaram a passar voz de alarme umas às outras, sem entender muito bem como os «papéis de uma Assembléia da França » poderiam ter chegado aos mais longínquos povoados do novo mundo, como foi o caso da mina de Potosi16.

16Assim, foi se fortalecendo nas colônias uma nova mentalidade que assinalava a formação de um pensamento independentista, que começou a brotar muito antes da luta armada. A incubação do germe libertário, anseio inerente do ser humano em qualquer época, é um tema, a meu ver, dos mais instigantes e que vem sendo explorado com rigorosa atenção. Atualmente, os arquivos começam a nos entregar novos materiais sobre aquele momento histórico que se encontravam à espera de pesquisas mais exaustivas. Além disso, o novo olhar revisa a perspectiva assumida sobre as diversas forças políticas e sociais que entraram em jogo para que as colônias se separassem das metrópoles.

  • 17 A economia de povoamento estava orientada para a subsistência interna e não estava conduzida para e (...)

17Todas as colônias americanas, independentemente de suas metrópoles, estão vinculadas historicamente –com exceção das 13 colônias inglesas que cresceram sendo territórios mais de povoamento que de exploração17–, pois foram concebidas como tais, e se desenvolveram subjugando sociedades organizadas, passando por processos de conquista das populações nativas e vivendo uma ruptura com os centros hegemônicos para com o tempo, desenvolverem uma relação de dependência econômica com a Grã-Bretanha e com os Estados Unidos. Por isso ao abordar as independências das colônias, faço alusão apenas às vastas terras que foram colonizadas pelas monarquias ibéricas.

18Uma diferença determinante para o futuro das nações a serem constituídas é o momento em que as colônias de Espanha e a de Portugal se separam de suas respectivas metrópoles. A primeira pergunta é por que a possessão de Portugal, com seu imenso território, forma uma só nação e as dependentes da Espanha terminam por constituir 19 Estados, embora em datas diferentes ? Sem dúvida, a conjuntura econômica européia foi um fator crucial que teve repercussões importantes nas duas Américas –a espanhola e a lusitana– no que diz respeito à separação das monarquias. A Revolução industrial estava numa etapa de amadurecimento e a Grã-Bretanha se viu na necessidade peremptória de expandir seus produtos manufaturados para ampliar seus mercados, por isso incentivou o comércio livre e a liberação dos portos.

19Quando a França imperial de Napoleão Bonaparte ocupa Lisboa, em 1807, e toma Madri no ano seguinte, colocando no poder seu irmão José, a imediata desestruturação política de ambas nações européias incentiva as burguesias americanas a continuar os movimentos de separação. Os grupos da elite refletiam que sem um rei que governe, os súditos não estarão obrigados a obedecer. Essa premissa terminou se convertendo no clamor generalizado para levar adiante o «grito » de independência no povoado de Dolores, no México, o levantamento de Caracas e a criação das primeiras «juntas » insurgentes, tanto em Buenos Aires como em Santiago.

20Em relação ao Brasil, a invasão napoleônica teve como conseqüência a transferência da monarquia para terras americanas e a colônia viveu uma original e peculiar mudança, ao passar de um sistema colonial a um governo monárquico. Talvez a vinda da casa real dos Bragança, com o apoio dos ingleses, tenha conseguido alcançar a coesão de seu povo, a despeito das várias tentativas separatistas na Bahia e em Pernambuco, fazendo com que suas catorze capitanias não chegassem a se desmembrar.

  • 18 Para se ter uma idéia da vastidão dos vice-reinos, o do Peru, no século XVII, era formado pelo terr (...)
  • 19 A cidade de Córdoba, na Argentina, no entanto, teve sua primeira universidade no século XVII. Entre (...)

21Nas colônias espanholas, os imensos territórios que tinham formado uma só unidade, organizada em quatro vice-reinos –Nueva España, Peru18, Nueva Granada e Rio de la Plata– passaram de um sistema colonial unificado a um republicano, dando origem aos estados nacionais. Na explicação desse processo, há diversos fatores que se entretecem. As causas são variadas. No que se refere ao aspecto político, os poderosos interesses das burguesias locais eram um incentivo para isolar e dominar suas localidades, sem motivação alguma para a construção de uma unidade. Em relação ao comércio, havia uma grande diversificação na produção de matérias-primas que cada localidade negociava. Na região do Caribe, primava a cana-de-açúcar ; no México, as minas de ouro e prata ; em Buenos Aires, prosperava um lucrativo comércio de gado, carne salgada e couro com Inglaterra através do Atlântico e também pelo interior, seguindo as sinuosas rotas andinas. Junto a esses motivos, outro fator que levou à desagregação dessas colônias foi o obstáculo exercido pela própria geografia. As regiões andinas –Equador, Peru, Bolívia, Chile–, naquela época, eram extremamente longínquas para as comunidades da região do Prata, por exemplo, e os territórios da Colômbia e da Venezuela –a partir de uma perspectiva sul-americana– ficavam distantes demais para advogarem por interesses comuns. Portanto, o objetivo político, os interesses comerciais locais, a realidade geográfica e o crescimento cultural desigual das diversas localidades –Santo Domingo com universidade desde 1538, México e Lima desde 1551, enquanto Santiago e Buenos Aires tiveram universidades só no século XVIII19–, foram fatores decisivos para a divisão da América espanhola em diversos países.

A hora da revolta

  • 20 Ver Ives Bénot, « La chaîne des insurrections d’esclaves dans les caraïbes de 1789 à 1791 ». Marcel (...)

22Os primeiros levantamentos contra os senhores se deram nas colônias francesas do Caribe, lugar onde o açúcar foi uma das culturas agrícolas mais expandidas chegando a ser a principal fonte de riqueza daquela região. Houve manifestações de rebeldia desde agosto de 1789 na Martinica, em Guyane, Guadalupe e, no Haiti, cenário da insurreição de Saint Domingue, em 1791, pelo ex-escravo Toussaint L’Ouverture. A revolta do povo haitiano foi a única que teve êxito dentro da cadeia de manifestações contra a escravidão que se deu no Caribe20. Esses movimentos de insurreição foram o germe dos futuros levantes ; assim o Haiti passou à história como a segunda nação do continente americano, depois dos Estados Unidos, a conseguir a separação de uma metrópole européia em 1804.

23O espírito abolicionista no continente começou a fervilhar quando, em 1807, a super potência da época, a Grã-Bretanha, acabou com a escravidão e com o tráfico negreiro em suas colônias, abraçando os princípios liberais daquela época e apostando numa maior eficiência do trabalho livre na produção de mercadorias. É a necessidade de satisfazer seus próprios interesses comerciais que leva a maior nação hegemônica a acabar com a escravidão e pressionar outras a fazê-lo, como aconteceu com o Brasil.

  • 21 Francisco Iglesias, «Introdução» ao O abolicionismo, Silviano Santiago (org.), Intérpretes do Brasi (...)

24Nos domínios de origem hispânica, a abolição se deu entre 1810 e 1815 como uma reivindicação dos patriotas, grupo que lutou a favor da independência e contra os espanhóis ou partidários deles –chamados de realistas. Entretanto, o processo de desestruturação do sistema escravista, que tinha persistido durante séculos como alicerce da economia colonial, foi complexo e lento. Uma vez abolido oficialmente, teve início o mercado clandestino e o contrabando voltou a tornar o produto lucrativo para as economias locais e nacionais. No Caribe, especificamente em Porto Rico e Cuba, onde subsistiu uma economia de monocultura, a escravidão foi fundamental e continuou por décadas (a abolição só aconteceu em 1873 e 1880, respectivamente). No Brasil, após a liberdade de ventre (1871), as discussões entre os conservadores e liberais foram se radicalizando. Na década de 80, José do Patrocínio funda a Gazeta da tarde e, meses depois, aparece o jornal Abolicionista, junto ao surgimento de Sociedades contra a escravidão, no Rio de Janeiro, Ceará e Rio Grande do Sul, o que vai aos poucos transformando a causa abolicionista numa força plausível21.

Os novos vínculos

  • 22 O Estado argentino dominou sua população nativa em 1880 e o chileno só em 1883 logrou se impor aos (...)

25A maioria das jovens nações viveu, nas primeiras décadas do século XIX, uma luta bélica constante no interior de suas regiões, tanto com as populações aborígines, quanto com o remanescente das forças leais ao monarca22. Ademais, não foi fácil organizar, junto aos interesses das burguesias locais, uma administração centralizada. Some-se a esse panorama uma carência de políticas comerciais coerentes para negociar com uma consolidada e próspera indústria européia após a Revolução industrial.

26No que diz respeito ao Brasil, os ingleses foram os principais beneficiários do decreto ordenado por dom João VI, em 1808, em relação ao fim do monopólio comercial que se vivia com os portugueses. Assim, os portos brasileiros se abriram ainda mais para o comércio internacional. Também Buenos Aires, pela posição estratégica para o comércio com o interior, foi alvo dos ingleses desde muito cedo, chegando estes a ocupar a cidade em 1806, expulsando de lá o vice-rei espanhol. Mas a cidade foi recuperada no ano seguinte. Pelo oceano Pacífico, o porto de Valparaíso, no Chile, foi praticamente tomado pelos ingleses, que desenvolveram um dinâmico comércio, possibilitando a construção de vias férreas, a entrada da máquina a vapor, o crescimento do transporte urbano, as telecomunicações e o estabelecimento de frigoríficos para a conservação da indústria pecuária.

27Em relação ao capital financeiro, muitas das nações latino-americanas contraíram neste período seus primeiros empréstimos dos banqueiros ingleses, mas as jovens economias, vendo-se diante da impossibilidade de saldar suas dívidas, absorviam novos créditos e juros mais altos. Deste modo, a amarração de todos os nossos países à economia européia foi se desenvolvendo como um círculo vicioso de empréstimo-jurodependência.

28Os estudos econômicos recentes coincidem ao afirmar que a GrãBretanha foi também o mais relevante investidor estrangeiro na América Latina desde as primeiras décadas do século XIX até a Primeira Guerra Mundial. O interesse britânico durante esse período manifesta-se tanto pelos empréstimos para o fortalecimento da infra-estrutura para os governos, como já disse, quanto pelos investimentos em companhias de mineração. O Brasil, por exemplo, recebeu capital britânico para as suas minas de ouro no início do século e as salitreiras no norte do Chile foram exploradas não só com o capital inglês, mas também com uma gestão administrativa dependente totalmente dos britânicos.

  • 23 A Guiana se torna independente em 1966 e Belize obteve a sua autonomia só em 1981.

29Fica claro, então, que a grande aliada das independências americanas foi a Grã-Bretanha, que continuou estendendo seus vínculos com a região nos diversos estados nacionais. O comércio inglês foi se expandindo por todos os países latino-americanos, em especial na América Central e nas ilhas caribenhas, que permaneceram como colônias até o século XX, como foi o caso da Jamaica, Trinidad e Tobago e Barbados, que romperam os laços políticos com a metrópole apenas em 1962. Somente vários anos depois, em 1974, Granada consegue a sua independência. Os pequenos países continentais do Caribe, a Guiana e Belize também estiveram marcados pelo domínio inglês até o século XX23.

  • 24 Eric Hobsbawn, Industry and Empire, Penguin, London, 1968.
  • 25 Cultura e imperialismo (1993), São Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 24.
  • 26 Ibid, p. 38. Na América Latina, Porto Rico é um estado associado dos Estados Unidos; a Guiana Franc (...)

30O encrave inglês no continente, como vemos, foi imprescindível para a entrada de produtos manufaturados para toda a América Latina. Nossos países foram a salvação da indústria britânica de algodão na primeira metade do século XIX, e foi nesse processo que o continente acabou se tornando o maior mercado para as exportações inglesas24. Sobre este mesmo tema, tendo aos ingleses como foco e refletindo sobre seu poder imperial nas diversas épocas da história, o estudioso palestino norte-americano Edward Said, que analisou detidamente os liames entre império e colônia, tem razão quando conclui que a Inglaterra «é uma classe imperial por si só, maior, mais grandiosa e mais importante do que qualquer outra »25. Ao examinar a penetração cultural dos ingleses, Said mostra dados aterradores da presença imperial no mundo. Em 1800, as potências ocidentais dominavam 35 % da superfície do planeta ; em 1878 esse número sobe para 67 % e em 1914 a Europa tinha 85 % do mundo em forma de colônias, protetorados, domínios, territórios e associação de territórios26.

31Vale se perguntar como atuam as forças imperialistas ? Como se dá essa rotatividade ? Por que em nosso caso foram os portugueses e espanhóis que dominaram num primeiro momento e depois os ingleses ? Sabemos que as forças imperialistas não atuam de acordo com uma linearidade matemática, isto é, entra uma e sai a outra. Ao contrário, são processos, alianças e interseções paralelas e superpostas e correspondem a variados fatores como proximidade geográfica, conjunturas internacionais, ideologias, poder e especialmente interesses comerciais. É o caso da ingerência norte-americana que interfere, desde o início do século XIX, na América Latina. E, desde essa época, intelectuais latinoamericanos começam a se preocupar com o que alguns denominavam o «colosso do norte ».

  • 27 S. Almarza, «As advertências dos pensadores latino-americanos em face do poderio dos Estados Unidos (...)
  • 28 Citado em Spanish American Commercial Union, «Banquet in Honor of Delegates of the International Am (...)

32A política externa dos Estados Unidos inquietou certos grupos de pensadores que observavam o crescimento dessa nação com cautela e, dependendo da conjuntura, com apreciações bastante diversas. Imediatamente após romper com a Inglaterra, as treze colônias conformaram a grande federação dos Estados Unidos. Nesse momento, a nova nação foi vista como modelo de liberdade e procurada como paradigma político, mas com o tempo foi considerada um verdadeiro perigo imperialista27. Depois que as diversas nações latino-americanas já estavam relativamente fortalecidas geográfica e politicamente, o desenvolvimento dos Estados Unidos deixa bastante intranquilo certo grupo de ideólogos. É interessante perceber, nesse momento de crescimento das elites intelectuais latino-americanas, como um grupo de pensadores vincula a idéia de progresso ao conceito de civilização –oposto à barbárie– que a Europa havia cunhado para distinguir o Velho do Novo continente. Quando o Brasil proclama a República, o representante imperial do país em Nova York, Salvador de Mendonça, explica aos americanos que o movimento republicano «é o resultado lógico do progresso e da evolução histórica do meu país, no caminho ascendente da liberdade e da civilização »28.

  • 29 Viajes, F. Friedmann de Golgberg (ed.), México, Kapeluz, 1978, p. 30. A tradução é minha.
  • 30 Roberto Fernández Retamar, Calibán y otros ensayos, La Habana, Arte y Literatura, 1979, p. 242.

33Um dos expoentes máximos do conceito de civilização e que passou à história como o baluarte de uma elite civilizatória em relação estreita com o progresso é Domingo Faustino Sarmiento. Este argentino, antes de apaixonar-se pelos Estados Unidos, foi um fanático admirador da velha Europa, a qual utilizava como exemplo para confrontar as cidades do interior da Argentina com a européia Buenos Aires em sua polêmica obra Civilização e barbárie (1859). Mas, com o tempo, decepciona-se com ela –«demasiado quieta », disse– e propõe como modelo de república para nossos países os Estados Unidos. Nas suas viagens pelos diversos continentes, convence-se de que a América do Norte é «o belo ideal de grandeza das nações modernas »29. Essa emulação dos americanos do norte não foi apenas um entusiasmo da juventude de Sarmiento. Em sua obra mais amadurecida, após uma intensa vida de homem público, ele corrobora essa idéia, proclamando que a América do Sul ficará atrás e «perderá sua providencial missão de sucursal da civilização moderna ». É chocante essa confissão, especialmente pela conotação de subserviência que Sarmiento atribui, como anseio, aos países do cone sul. Depois de viajar pela América do norte, não hesitou em declarar «não detenhamos os Estados Unidos em sua marcha. Alcancemo-los. Sejamos os Estados Unidos »30. Esse superlativo entusiasmo oitocentista tem produzido consequências funestas para toda a região.

  • 31 Dentre outras, podemos mencionar o Clube Libertad y Progreso, de Buenos Aires, a Sociedad Defensore (...)
  • 32 La América en peligro, Caracas, Ayacucho, nº 129. 1985. El evangelio americano, Buenos Aires, Améri (...)
  • 33 Congresso de Panamá em 1826, convocado por Simón Bolívar; o de 1847-1848, convocado pelo Peru; em 1 (...)

34Mas não foi só esse o pensamento vigente na América naquela época. Ao contrário, o continente vivia uma enorme efervescência intelectual e crítica, proveniente de grupos liberais que questionavam a situação da América ibérica versus a América anglo-saxônica. O crescimento tecnológico e comercial daquela nação serviu, no entanto, de incentivo para que os latino-americanos estivessem alerta sobre as ameaças que os Estados Unidos poderiam representar para as novas repúblicas. Surgem, a partir de 1862 em algumas cidades latino-americanas e por motivos similares, embora em conjunturas diversas, várias associações de grupos liberais –sociedades patrióticas, clubes, juntas, ligas– que tinham como propósito a defesa da independência geográfica e cultural dos países ao sul do rio Bravo31. Como exemplo desses ideólogos, destaco Francisco Bilbao, que com sugestivos textos –La América en peligro (1862) e El evangelio americano (1864)32– repudia com veemência a missão que os anglo-americanos se outorgaram, qual titãs, diz, de serem eles os árbitros da terra. Crítico impetuoso da colonização cultural chamou a atenção, por exemplo, para o fato de que na América «só se lêem livros franceses » e se desconhecem nossos próprios escritores. Por outro lado, os governos latino-americanos mobilizaram-se junto a grupos da sociedade civil organizada chamando a congressos pan-americanos, que lamentavelmente terminaram sem resultados práticos, pois as iniciativas nunca foram levadas adiante33.

35Nesse momento de análise, sobressai um grande analista político e jornalista, o escritor cubano José Martí, que se destacara durante quinze anos na imprensa tanto dos Estados Unidos como da América espanhola. Em relação à política estadunidense para a América Latina, o alcance do conhecimento martiano é enorme, pois, morando em Nova York desde 1889, pôde conviver e assistir ao nascente capitalismo monopolista. Ele não se cansava de repetir em cartas dirigidas aos governos latino-americanos e em crônicas para a imprensa –Sarmiento as denominou de «bramidos »–, que os objetivos primeiros, inevitáveis e sem concessões de tudo o que os Estados Unidos faziam era cuidar de seus próprios interesses.

  • 34 Carta de Nova York de 2 de novembro de 1889, Obras completas, La Habana, Imprenta Nacional de Cuba, (...)
  • 35 Nossa América, trad. M. A. Almeida Triber. São Paulo: HUCITEC, 1983. Nesta mesma época escrevem Jos (...)

36Nessa época, Martí já usava o termo imperialista para designar aquele país. Junto com prevenir, preocupou-se com afinco na preparação e no significado que teria para a América Latina a Conferência Internacional Americana, realizada em Washington entre os anos 1889-1890, considerado o primeiro evento pan-americano. Chamou os latinoamericanos a fazerem um minucioso exame e uma vigilância extrema a respeito dos propósitos dos Estados Unidos, pois aquele país –disse Martí em carta a La Nación de Buenos Aires– está repleto de «produtos invendíveis » e também determinado a «ampliar seus domínios na América ». Era tal o perigo que via o cubano, tanto econômico quanto geopolítico, que chega a defender a necessidade de ser declarada uma segunda independência34. Foi nessa delicada conjuntura que ele escreve o ensaio Nossa América (1891), documento convocatório que visa a construir uma cultura americana própria e assim se diferenciar da anglosaxônica que vê avançar aceleradamente35.

  • 36 Rubens Ricupero, Rio Branco. O Brasil no mundo, Rio de Janeiro, Contraponto, Petrobrás, 2000, p. 36 (...)

37No Brasil, o poderio dos Estados Unidos foi avaliado pelo chanceler Rio Branco. Ao conviver longos anos com a sociedade européia, após haver morado em Paris, Londres e Berlim, ele sabia da preponderância da Europa na comunidade internacional. Entretanto, bastante cedo dimensionou a projeção dos Estados Unidos : «há no Novo Mundo uma grande e poderosa nação » com a que devemos contar no futuro, escreveu este diplomata36. É preciso lembrar que os Estados Unidos eram os maiores importadores de café, de cacau e de borracha desde a segunda metade do século XIX, e que 36 % de todas as exportações brasileiras tinham o mesmo destino na segunda década do século.

  • 37 Op. cit., p. 55.

38Dentro da visão progressista de Rio Branco, segundo a qual se devia trabalhar por um Brasil de destaque dentro das nações latino-americanas, parecia acertada a sugestão de se tecer uma aliança tácita com os Estados Unidos. O Barão, entretanto, não chegou a deslumbrar-se com a nação do Norte. Ao perceber que o Brasil e os demais países hispanoamericanos estavam sendo injustiçados na II Conferencia de Haia, em 1907, ao não se pautarem os países europeus no princípio da igualdade jurídica das nações, dá instruções especiais para a votação ao enviado Rui Barbosa, e o Brasil, então, vota contrariamente em três das quatro propostas apoiadas pelos Estados Unidos, não se alinhando automaticamente, no dizer de Rubens Ricupero37.

  • 38 São Paulo, Brasiliense, 1958, p. 93-94. Prado foi um monarquista convicto e grande opositor da Repú (...)
  • 39 Apud Flora Sussekind, Introdução, Manuel Bonfim, A América Latina, Intérpretes do Brasil, op. cit., (...)
  • 40 Manuel Bonfim, A América Latina, Interpretes do Brasil, op. cit., vol. 1, p. 628-885.

39Pensadores mais ousados também se deixaram ouvir nessa centúria, assim a sociedade brasileira foi posta sobre aviso em relação a que não existe «país latino-americano que não tenha sofrido as insolências e às vezes a rapinagem dos Estados Unidos », como manifestava Eduardo Prado em A ilusão americana (1893)38. Mesmo Joaquim Nabuco chegou a propor uma Liga Liberal do Continente, como medida de proteção pelo temor que produzia a doutrina Monroe – fundada no lema «a América para os americanos ». Nabuco assinalava que esta aliança liberal poderia estar a cargo de um grupo de «homens cuja cultura rivaliza com a mais brilhante cultura européia »39. Já entrado o século XX, as reflexões sobre a própria América Latina e os nexos inevitáveis entre as metrópoles européias e o país do Norte aumentam. Manuel Bonfim, por exemplo, em seu estudo A América Latina (1905), deixa entrever a consciência que tem do momento histórico em que vive. Como ele mesmo explica, «foram nove anos de observação e leituras antes de vertê-las nesse livro ». No seu longo texto, começa apresentando o «passado funesto » desse parasitismo social que foi a colonização, e o descompasso em que as nações latino-americanas se encontram40. Bonfim assinala os males de origem, mas parece-me também visível em seu pensamento que essa situação, apesar de inevitável, teria soluções possíveis.

40A ingerência tutelar do governo norte-americano em relação à América Latina vem desde inícios do século XIX, embora a interferência mais explícita na região se acentue depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Na conjuntura do pós-guerra, dá-se uma mudança radical nas divisões geopolíticas do hemisfério. Os governos da Inglaterra, dos Estados Unidos e da União Soviética se reúnem em Yalta (Ucrânia) e acordam as áreas de domínio de cada uma delas, uma parte controlada pela União Soviética e outra pelos norte-americanos. Para os nossos países, deu-se continuidade ao vínculo que se vinha gestando desde anos atrás em relação aos interesses dos norte-americanos e, como conseqüência, a América Latina tornou-se uma região sob a sua influência (o back yard da nação do norte, de acordo com o jargão dos burocratas).

  • 41 A figura do tio Mac Pato, os clichês contra os comunistas cunhando frases tais como «alimentam-se d (...)
  • 42 Não há consenso sobre o ano exato do início e o fim da guerra fria, mas, como em todo acontecer his (...)

41A partir dos anos 50 do século passado, os Estados Unidos e a União Soviética enfrentam-se numa luta escancarada pelo poderio armamentista e pelo controle ideológico do mundo. Os meios de comunicação representam um papel fundamental na sustentação dos valores destas duas ideologias e nossos países experimentam uma forte propaganda em favor da mentalidade norte-americana41. O mundo ficou polarizado não apenas em termos geopolíticos e econômicos, mas também dividido entre o bem e o mal, entre o capitalismo e o comunismo, confrontando o Estado à vida familiar. Vivia-se o período da guerra fria42.

42Naqueles anos, os olhos do governo estadunidense estão postos nas frágeis democracias latino-americanas e a região passa por uma constante desestabilização. Os interesses norte-americanos, unidos às conveniências das burguesias nacionais, possibilitaram a chegada ao poder de governos ditatoriais, que como verdadeiros fantoches dos desejos estadunidenses conduziram diversos países. Na década de cinqüenta, algumas nações experimentaram governos autoritários, tanto militares como civis. Darei apenas alguns nomes para ilustrar a endemia política vivida pela região. Cuba sofreu a presença de Fulgêncio Batista nos bastidores dos governos desde 1934. Após se eleger presidente na década de quarenta, toma o poder em 1952, até que é derrotado pela Revolução Cubana. A Venezuela é governada pelo general Marcos Pérez Jiménez de 1952 a 1958 ; a Colômbia, pelo general Rojas Pinilla de 1953 a 1957 ; a República Dominicana, governada pelo militar Rafael Leonidas Trujillo, de 1931 até 1961 ; e a Nicarágua, dominada pela dinastia que começou com o comandante da Guarda Nacional Anastásio Somoza, ao qual sucederam seu filho e seu neto. A família Somoza permanece dona do país entre 1936 e 1979.

43Levando em conta o panorama descrito, pode-se advertir, então, que a independência de nossos países significou, na verdade, passar das mãos das metrópoles que dirigiram a conquista e a colonização –Espanha e Portugal– às metrópoles que exploraram as matérias-primas –Inglaterra e Estados Unidos– para, na atualidade, assentar-se sobre uma total dependência do capital externo mediado pelas empresas transnacionais.

44Com o processo de declínio dos regimes socialistas na Europa e a queda do regime na União Soviética, no começo da década de noventa, surge uma nova ordem mundial liderada por um único país, os Estados Unidos. A América Latina continua altamente dependente, como conseqüência do processo histórico descrito, contando com uma pesada dívida externa com Estados Unidos e alguns países europeus, que foi se acumulando progressivamente até chegar à década de oitenta, com um crescimento nulo das economias regionais e uma dívida impagável, conjuntura que tem sido chamada, para efeitos econômicos, de a «década perdida ». Frente a essa situação, os países da região são obrigados a se submeter às ordens do Fundo Monetário Internacional (FMI), organismo que pauta, hoje, a agenda social dos governos democráticos latino-americanos.

45Nos anos noventa, o fluxo de investimentos estrangeiros na América Latina foi sem precedentes. Em 1999, por exemplo, a afluência de capital se quintuplicou em relação aos primeiros anos da década, e os Estados Unidos continuaram sendo o principal investidor na região até meados dos noventa, ocasião em que também o capital europeu registra um grande crescimento, especialmente da Espanha, que se converte no segundo maior investidor na região, destacando-se nas áreas de telecomunicações, de energia, no sistema bancário e no comércio varejista.

A herança que carregamos

  • 43 Cf. Fernando A. Novais, «A evolução da sociedade brasileira...» op. cit.

46Como conclusão a este recuo histórico, nos perguntamos quais são as marcas deixadas, na formação socio-política dos estados nacionais, pelo sistema colonial que funcionou eficientemente durante tanto tempo ? As forças sociais alicerçadas na dicotomia existente entre os senhores (os possuidores) que no projeto de sociedade nacional se agrupam na aristocracia rural ou mineira, dependendo do tipo de economia, e os escravos (os possuídos), que continuaram subjugados sem nenhuma possibilidade de mobilidade entre estes dois grupos. Pesquisas recentes sugerem que dentro do grupo dominante houve uma grande mobilidade. Portanto, o projeto nacional que cada país foi desenvolvendo se fundamenta nas bases da estratificação social estabelecida na colônia. Em nível político, a hegemonia de uma autoridade monárquica absolutista se reverte na formação de um Estado nacional forte e com uma presença acentuada nos afazeres de cada grupo social43.

  • 44 Jorge Romero Rodríguez, «Entramos negros, salimos afrodescendientes», Revista Futuros nº 5, 2004, v (...)
  • 45 «Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina»Estudos Avançados, Instituto de Estudos Avanç (...)
  • 46 IBGE. Síntese dos indicadores sociais. Uma análise das condições de vida da população brasileira, R (...)

47Na atualidade, em toda a América Latina, contam-se 150 milhões de pessoas afrodescendentes, das quais 92 % vivem abaixo da linha da pobreza44. Então, tentando responder à pergunta acima colocada, sobre que traços sociais coloniais estão reproduzidos na estrutura das sociedades de hoje, vale se deter na situação socioeconômica da grande massa da população e observar que ainda existe uma alarmante distância entre ricos e pobres. Realidade que é apreciada em relação à educação, em relação à saúde e em relação ao salário. A mobilidade social entre os dois pólos, desde os tempos coloniais, tem sido mínima e as populações de maior marginalidade nas sociedades atuais são os indígenas e os negros. Nesse sentido concordamos com a reflexão de Aníbal Quijano quando afirma que a divisão social do trabalho nos séculos coloniais foi «por um bom tempo uma expressão da classificação racial da população », os «negros » eram escravos e os «índios » eram servos45. Essa mesma dicotomia social se manifesta nos indicadores sociais da América Latina. Em relação à educação, por exemplo, entre os cerca de «15 milhões de analfabetos brasileiros se encontram mais de 10 milhões de pretos e pardos » e a nível universitário o «porcentual de brancos que aparecem como estudantes de educação superior é de 56  %, o de pretos e pardos alcança apenas 22 % ». Números que indicam as pegadas profundas que a estratificação social deixou estabelecida pelo sistema colonial46.

  • 47 Joaquim Nabuco, O abolicionismo (1883), Silviano Santiago (org.), «Introdução», Intérpretes do Bras (...)

48As cidades latino-americanas são um mosaico de separação social, reminiscência e reflexo da divisão da sociedade colonial que se formou dentro dos paradigmas da exclusão entre indígenas, negros e europeus. Certíssimas as palavras de Joaquim Nabuco, quando dizia, no século XIX, que a tarefa mais difícil para as futuras gerações seria a de apagar todos os efeitos do regime escravista, que foi deixando as suas pegadas durante quatro séculos. A visão de futuro de Nabuco em relação a «que não basta acabar com a escravidão é preciso destruir a obra da escravidão »47 não parece ter-se completado na América Latina.

49Como vemos, o sistema colonial deixou uma marca indelével no nosso continente, aliás, como aconteceu no continente africano e asiático, pois as hegemonias, essas complexas relações que gera a sociedade, são legados que não se extinguem. A mentalidade de dominar e aceitar a dominação estão infiltradas em toda a estrutura da sociedade latino-americana, começando pela preponderância das línguas deixadas pelo conquistador, a divisão sócio racial exibida por nossas sociedades, até as fronteiras urbanísticas das grandes cidades. A brecha escandalosa existente entre os ricos e os mais necessitados, entre os que têm acesso aos estudos e a grande massa de analfabetos é apenas uma amostra e uma advertência desse legado. No entanto, o que aparece como mais assustador é a carência de políticas públicas sistemáticas para acabar com essas ignomínias sociais. Pareceria –mas quero acreditar que não– que os estados nacionais já se acomodaram nesse panorama que apresenta a América Latina do século XXI.

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Notes

1 Comentarios reales (1609), caps. IX, XXIV. Ele era filho de um capitão espanhol e de uma inca.

2 Cf. S. Almarza, «Variaciones en la noción de patria en la época colonial», Cuadernos Americanos, México, DF., vol. CCLXII, n. 5 (1985), p. 186-196.

3 Apud, Fernando A. Novais, «Condições da privacidade na colônia», Aproximações. Estudos de história e historiografia, Cosac Naify, São Paulo, 2005 p. 214.

4 Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Apud Laura de Mello e Souza, Desclassificados do ouro. A pobreza mineira no século XVIII, Rio de Janeiro, Graal, 2 ed. 1986, p. 39.

5 S. Almarza, Pensamiento crítico hispanoamericano. arbitristas del siglo XVIII. Madrid, Pliegos, 1991, p. 88. As traduções ao português de textos em espanhol são de minha autoria.

6 Apud Laura de Mello e Souza, Desclassificados do ouro. A pobreza mineira no século XVIII, op. cit., p. 41.

7 Apud Alfredo Bosi, História concisa da literatura brasileira, São Paulo, Cultrix, 1986, p. 67.

8 S. Almarza, «Las enfermedades políticas de la Nueva España», Cuadernos Hispanoamericanos, Madrid, 443 (1987), p. 139.

9 Com o acervo trazido pela família real portuguesa, funda-se a Biblioteca Real em 1810, no Rio de Janeiro; aberta ao público quatro anos depois. No mundo hispânico, a primeira biblioteca pública foi criada por José de San Martín em 1821. Cf. S. Almarza, Pensamiento crítico..., op. cit., p. 132-137. Também Helena Esser dos Reis e Maria Constança P. Pissarra, «Jean-Jacques Rousseau e o iluminismo brasileiro», Fragmentos de Cultura, Goiânia, vol. 13 (especial), 2003, p. 223-236.

10 Eduardo Frieiro, O diabo na livraria do cônego, Belo Horizonte, Itatiaia, 1957, p. 53.

11 Paul-J.Guinard, La presse espagnole de 1737 à 1791, Paris, Centre de Recherches Hispaniques, 1973.

12 Antonello Gerbi, Viejas polémicas sobre el Nuevo Mundo, Banco de Crédito del Perú, 1946, p. 37-66.

13 Uma síntese da extensa literatura sobre este tema encontra-se em Federico Álvarez Arregui, «El debate del Nuevo Mundo», Ana Pizarro (org.) América Latina, palavra, literatura e cultura, Campinas, UNICAMP, 1994, vol. 2, p. 35-66.

14 Célia Nunes dos Santos «A Inconfidência Mineira», Anais do Museu Paulista, tomo XX, (1966). p. 237.

15 S. Almarza, Pensamiento crítico..., op. cit., p. 48.

16 S. Almarza, «La Declaración de los Derechos del Hombre en Chile», Mapocho, Santiago, vol. 38 (1995), p. 123-133.

17 A economia de povoamento estava orientada para a subsistência interna e não estava conduzida para enriquecer a metrópole, como era o caso nas colônias de exploração.

18 Para se ter uma idéia da vastidão dos vice-reinos, o do Peru, no século XVII, era formado pelo território que hoje ocupam Peru, Colômbia, Equador, Panamá, Bolívia, Buenos Aires, Chile e parte do Brasil (algumas áreas de Rio Grande do Sul, Mato Groso do Sul, Mato Groso, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima).

19 A cidade de Córdoba, na Argentina, no entanto, teve sua primeira universidade no século XVII. Entre 1631 e 1791, as cidades de Sucre, na Bolívia, San Carlos, na Guatemala, Caracas, La Habana e Quito já tinham fundado suas universidades.

20 Ver Ives Bénot, « La chaîne des insurrections d’esclaves dans les caraïbes de 1789 à 1791 ». Marcel Dorigny (ed.) Les abolitions de l’esclavage, Saint-Denis, Presses Universitaires de Vincennes/ Paris, Unesco, 1995, p. 179-186.

21 Francisco Iglesias, «Introdução» ao O abolicionismo, Silviano Santiago (org.), Intérpretes do Brasil, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2000, vol. 1, p. 12.

22 O Estado argentino dominou sua população nativa em 1880 e o chileno só em 1883 logrou se impor aos mapuche.

23 A Guiana se torna independente em 1966 e Belize obteve a sua autonomia só em 1981.

24 Eric Hobsbawn, Industry and Empire, Penguin, London, 1968.

25 Cultura e imperialismo (1993), São Paulo, Companhia das Letras, 1995, p. 24.

26 Ibid, p. 38. Na América Latina, Porto Rico é um estado associado dos Estados Unidos; a Guiana Francesa é um departamento de ultramar da França; Belize, Jamaica e Trinidad e Tobago formam parte da commonwealth. Paradoxalmente são territórios autônomos, ainda que o chefe de Estado seja a rainha da Inglaterra, representada por uma autoridade local.

27 S. Almarza, «As advertências dos pensadores latino-americanos em face do poderio dos Estados Unidos», Humanidades, Brasília, vol. 10, 1994, 181-191.

28 Citado em Spanish American Commercial Union, «Banquet in Honor of Delegates of the International American Conference» (N.York, Press of El Avisador Hispano-Americano, 1890), p. 43.

29 Viajes, F. Friedmann de Golgberg (ed.), México, Kapeluz, 1978, p. 30. A tradução é minha.

30 Roberto Fernández Retamar, Calibán y otros ensayos, La Habana, Arte y Literatura, 1979, p. 242.

31 Dentre outras, podemos mencionar o Clube Libertad y Progreso, de Buenos Aires, a Sociedad Defensores de la Independencia Americana, de Lima, a Sociedad de Unión Americana, de Potosí e a Junta Patriótica, de México. Cf. Ricaurte Soler, Idea y cuestión nacional latinoamericana, México, Siglo XXI, 1987, p. 189-190.

32 La América en peligro, Caracas, Ayacucho, nº 129. 1985. El evangelio americano, Buenos Aires, América, 1943.

33 Congresso de Panamá em 1826, convocado por Simón Bolívar; o de 1847-1848, convocado pelo Peru; em 1856, convocado pela Venezuela, e o de Lima, em 1864.

34 Carta de Nova York de 2 de novembro de 1889, Obras completas, La Habana, Imprenta Nacional de Cuba, 1963 t. 6, p. 46.

35 Nossa América, trad. M. A. Almeida Triber. São Paulo: HUCITEC, 1983. Nesta mesma época escrevem José Victorino Lastarria, La América (1867), José Enrique Rodó. Ariel (1900). Cf. Leopoldo Zea, El pensamiento latinoamericano, Barcelona, Ariel, 1976 e Fuentes de la cultura latinoamericana, México, FCE, 1993, 2 vols.

36 Rubens Ricupero, Rio Branco. O Brasil no mundo, Rio de Janeiro, Contraponto, Petrobrás, 2000, p. 36.

37 Op. cit., p. 55.

38 São Paulo, Brasiliense, 1958, p. 93-94. Prado foi um monarquista convicto e grande opositor da República. Na sua análise dos Estados Unidos, critica a vulgaridade do sistema republicano atual em contraste com os valores puritanos dos anglo-saxões na época das treze colônias. Ele via no republicanismo uma degradação.

39 Apud Flora Sussekind, Introdução, Manuel Bonfim, A América Latina, Intérpretes do Brasil, op. cit., vol. 1, p. 612.

40 Manuel Bonfim, A América Latina, Interpretes do Brasil, op. cit., vol. 1, p. 628-885.

41 A figura do tio Mac Pato, os clichês contra os comunistas cunhando frases tais como «alimentam-se de crianças»; «tiram os filhos da tutela dos pais».

42 Não há consenso sobre o ano exato do início e o fim da guerra fria, mas, como em todo acontecer histórico, estamos diante de um processo gradual que pode ser situado entre o fim da segunda guerra e a queda da União Soviética, em 1991, quando da criação dos estados nacionais nessa região.

43 Cf. Fernando A. Novais, «A evolução da sociedade brasileira...» op. cit.

44 Jorge Romero Rodríguez, «Entramos negros, salimos afrodescendientes», Revista Futuros nº 5, 2004, vol. II, http://www.revistafuturos.info

45 «Dom Quixote e os moinhos de vento na América Latina»Estudos Avançados, Instituto de Estudos Avançados da USP (São Paulo), vol. 19, nº 55, Set./Dez. 2005. Dossiê América Latina, p. 20.

46 IBGE. Síntese dos indicadores sociais. Uma análise das condições de vida da população brasileira, Rio de Janeiro, 2007, v. 21, p. 182 -183.

47 Joaquim Nabuco, O abolicionismo (1883), Silviano Santiago (org.), «Introdução», Intérpretes do Brasil, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2000, vol. 1, p. XIV.

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Pour citer cet article

Référence papier

Sara Almarza, « O legado do sistema colonial na América Latina  », Caravelle, 94 | 2010, 121-140.

Référence électronique

Sara Almarza, « O legado do sistema colonial na América Latina  », Caravelle [En ligne], 94 | 2010, mis en ligne le 01 avril 2010, consulté le 16 août 2022. URL : http://journals.openedition.org/caravelle/7801 ; DOI : https://doi.org/10.4000/caravelle.7801

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Quais foram as consequências do processo de colonização europeia na América Latina?

A conquista, a colonização e a administração da América pelos espanhóis permitiram a formação de uma sociedade classificada em superiores e inferiores; de senhores e dominados em que a divisão em classes coincidia com a diferenciação étnica.

Qual foi a consequência da colonização europeia?

Eles foram escravizados, torturados e perderam suas terras. Só para você ter noção, existiam originalmente mais de 3 milhões de indígenas no Brasil, e agora existem aproximadamente 900.000, ou seja, mais de 2 milhões foram mortos. Por isso, temos que mudar. Não podemos esquecer nosso passado, para nunca o repetir.

Como foi a colonização europeia na América Latina?

Os europeus iniciaram, efetivamente, sua colonização da América depois da descoberta da rota marítima para a Índia no século XV. A Índia era a fonte da seda e das especiarias, produtos que tinham um grande valor comercial na Europa. Ao navegarem para oeste, os navegadores europeus encontraram a América.

Quais foram as consequências do colonialismo nas Américas?

As potências imperialistas foram beneficiadas, uma vez que conseguiram atingir seus objetivos, conquistando matéria e mão-de-obra barata. Já as potências coloniais, que buscavam ocupar territórios, fez surgir uma série de conflitos que mais tarde resultaram em guerras.