Já podeis, da Pátria filhos
Ver contente a mãe gentil
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil
Já raiou a liberdade
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil
Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil
Houve mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil
Houve mão mais poderosa
Houve
mão mais poderosa
Zombou deles o Brasil
Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Não temais ímpias falanges
Que apresentam face hostil
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil
Vossos peitos, vossos braços
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil
Brava gente brasileira!
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria
livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Parabéns, ó brasileiro
Já, com garbo varonil
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil
Do universo entre as nações
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil
Brava gente brasileira
Longe vá, temor servil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil
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PASQUALE CIPRO NETO
"Já podeis, da pátria filhos, ver..."A letra do Hino da Independência está escrita na variedade culta, formal, e, digamos, um tanto antiga
O FERIADÃO DE 7 de setembro está aí, e, como de costume, o que menos importa para 99,99% das pessoas é o motivo do feriado, o que ele significa etc. O que importa mesmo é o feriado em si -e no aumentativo, se possível, que ninguém é de ferro.
Posto isso, vou atrever-me a "estragar" o feriadão, lembrando não o motivo pelo qual ele ocorre (motivo que
parece óbvio, creio), mas algo que certamente está guardado no fundo do baú da memória dos mais velhos: a letra do Hino da Independência. Digo "dos mais velhos" porque não sei se a garotada de hoje aprende isso na escola ou, se aprende, se memoriza a letra e a melodia.
Pois bem, caro leitor, lembra o começo desse hino? Vamos lá: "Já podeis, da pátria filhos, / Ver contente a mãe gentil / Já raiou a liberdade / No Horizonte do Brasil". Os mais velhos certamente lembramos que era comum uma
brincadeira advinda sabe Deus se da mordacidade inerente ao espírito infanto-juvenil ou se da dificuldade diante do vocabulário e da sintaxe um tanto "esdrúxulos" dessa e de outras letras de hinos. A brincadeira em questão era a do japonês ("Japonês tem cinco filhos / O primeiro sapateiro...").
Mas deixemos para lá o japonês, seus cinco filhos e a tentativa de "simplificação" (ou de ridicularização) da letra e fiquemos com alguns dos passos típicos desse tipo de texto. Logo em "Já podeis, da
pátria filhos, ver contente a mãe gentil" se nota o recurso ao emprego do hipérbato, figura que consiste na inversão da ordem natural das palavras. Na ordem direta, o trecho "da pátria filhos" passa a "filhos da pátria", expressão que funciona como vocativo (termo que representa o ser ao qual o emissor se dirige).
Por ser independente, o vocativo é móvel, ou seja, não tem propriamente uma posição definida na sequência dos termos, embora seja mais comum que apareça no início do enunciado,
como se vê neste trecho de "Marina", de Dorival Caymmi: "Marina, você já é bonita com o que Deus lhe deu". Nada impede, porém, o "passeio" do termo "Marina" pela frase: "Você, Marina, já é bonita com o que Deus lhe deu"; "Você já é bonita, Marina, com o que Deus lhe deu"; "Você já é bonita com o que Deus lhe deu, Marina".
O caro leitor certamente notou que, por onde andou, o termo "Marina" carregou consigo a(s) vírgula(s), obrigatória(s) para isolar o vocativo. Sem a(s) vírgula(s), muito
vocativo vira sujeito, como se vê neste exemplo, de "Deixa a Vida me Levar" (canção de Serginho Meriti), um dos grandes sucessos de Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar / Vida (,) leva eu". E então? Com vírgula ou sem vírgula? Depende, uai! Sem vírgula, a vida me leva; com vírgula, eu peço à vida que me leve.
Antes que algum purista questione o que faz na letra o pronome reto "eu" como objeto direto ("leva eu"), vou logo dizendo que, francamente, isso não são horas de rabugice. A
construção presente na letra retrata um fato mais do que comum em certos dialetos do Brasil, portanto...
Pois a letra do Hino da Independência obviamente está escrita em outra variedade de língua -a culta, formal (mais do que formal), e, digamos, um tanto antiga, razão pela qual nela ocorrem certos preciosismos vocabulares e sintáticos. Um desses preciosismos está no emprego da segunda do plural ("vós", em "podeis" e em outras passagens).
Vamos, pois, à ordem direta do início da letra:
"Filhos da pátria, já podeis ver contente a mãe gentil" (ou "Já podeis ver contente a mãe gentil, filhos..." ou faça você a sua, caro leitor). E que os filhos da pátria possamos mesmo partilhar desse contentamento da Mãe gentil, nem sempre tão gentil conosco. É isso.
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