A Revolução Francesa, modelo clássico de revolução burguesa, foi um movimento social e político que transformou profundamente a França de 1789 a 1799. Sob o lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, a burguesia revoltou-se contra a monarquia e, com o apoio popular, tomou o poder, pondo fim aos privilégios da nobreza e do clero e livrando-se das
instituições feudais do Antigo Regime. A revolução também criou as condições para que a França caminhasse rumo ao capitalismo industrial. A Revolução Francesa é o auge de um movimento revolucionário que consolida uma sociedade capitalista, liberal e burguesa. Atinge outros países, como a Inglaterra e os Estados Unidos, e chega à França com ideais mais bem delineados. Os movimentos pela independência da América Espanhola também são reflexos
dessas transformações. No fim do século XVIII, a população francesa formava uma sociedade de estamentos, resquício da Idade Média, mas já se percebia uma divisão de classes. O clero compunha o Primeiro Estado; a nobreza, o Segundo Estado. Eles eram os mais privilegiados, sustentados pelos impostos pagos pelo Terceiro Estado, que correspondia a cerca
de 98% dos habitantes e era composto de burgueses, trabalhadores urbanos e camponeses. À época, o país enfrentava sérias dificuldades econômicas. Além de endividada externamente, a França via sua agricultura sofrer com secas e sua indústria minguar por causa da concorrência inglesa. Como solução, os ministros do rei Luís XVI, influenciados pelo liberalismo, propuseram cobrar impostos da nobreza e do clero, até então isentos de
tributos. As classes dominantes pressionaram contra o projeto, e a situação política ficou tensa. Em 1789, o rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais. Nesse órgão, cada Estado tinha direito a um voto, o que garantia o domínio da nobreza e do clero, seus tradicionais aliados. Cansado de não ter voz ativa, e ao ver a aristocracia abalada pela crise econômica, o
Terceiro Estado se rebelou: proclamou-se a Assembleia Nacional Constituinte, dedicando-se à elaboração de uma nova Constituição para a França.O levante burguês
Em um processo cheio de reviravoltas, a burguesia francesa guilhotinou o
absolutismo na França, tomou o poder e soprou ventos liberais por todo o planeta
Antecedentes
Assembleia Nacional Constituinte
A população envolveu-se. Em 14 de julho, os parisienses tomaram a Bastilha – prisão que simbolizava o poder monárquico –, no episódio que marcou o início da revolução. Grande parte da nobreza fugiu do país, e os revolucionários avançaram para o interior, atacando seus castelos. Em agosto, a Assembleia Constituinte aprovou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que estipulava liberdades individuais e estabelecia a igualdade de todos perante a lei.
Assembleia Nacional Legislativa
Em 1791 foi finalizada a Constituição. O texto conservava a monarquia, mas instituía a divisão do Estado nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, proclamava a igualdade civil e confiscava os bens da Igreja.
Foi eleita a Assembleia Nacional Legislativa, com voto censitário (condicionado à renda), de modo que a maioria dos membros pertencia à elite burguesa. Os deputados dividiam-se em três grupos. Os girondinos, representantes da alta burguesia, sentados à direita do plenário, eram mais conservadores e combatiam a ascensão dos sansculottes (os que não usavam culotes, traje da nobreza, ou seja, o povo). Os jacobinos, à esquerda, representavam a média e pequena burguesia, eram apoiados pelas camadas populares e buscavam ampliar a participação do povo no governo. Os deputados do centro, a maioria, eram apelidados de grupo do pântano e oscilavam entre jacobinos e girondinos.
Preocupadas com os eventos ocorridos no país vizinho, Áustria e Prússia invadiram a França, em 1792. Os dois países foram apoiados pela nobreza francesa refugiada e pelo próprio Luís XVI, que sonhava em voltar ao poder. Diante da tentativa de fuga de Luís XVI para se juntar aos nobres emigrados e do agravamento das ameaças contrarrevolucionárias, os jacobinos, liderados por Robespierre, Jean Paul Marat e Danton, conseguiram aprovar as propostas de extinção da monarquia, a prisão do rei e a implantação da República. Com o apoio dos sansculottes, derrotaram os exércitos leais às monarquias absolutistas europeias e radicalizaram a oposição aos nobres.
Convenção
A pressão popular fez com que se formasse uma nova Assembleia para preparar outra Constituição. A Convenção, como ficou conhecida, funcionou entre 1792 e 1795, passou a controlar os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e era dirigida pelo Comitê de Salvação Pública. Fortalecidos, os jacobinos proclamaram a República em 20 de setembro de 1792. No ano seguinte, guilhotinaram Luís XVI, capturado durante a guerra.
Diretório
Os novos líderes decidiram redigir outra Constituição, instituindo o governo do Diretório (1795-1799), que consolidou as aspirações burguesas. Nesse período, o país sofreu ameaças externas, e, para manter seus privilégios, a burguesia entregou o poder ao general Napoleão Bonaparte. Popular por suas conquistas militares, ele deu um golpe de Estado em 1799 – o 18 Brumário –, instalando um novo governo, o Consulado. Nesse sistema, a nação era administrada por três cônsules, dos quais Napoleão era o mais influente. Em 1804, o general coroou-se imperador. Prosseguiu a expansão territorial, formando um grandioso império que incluía a Áustria, a Holanda, a Suíça, a Itália, a Bélgica e a Península Ibérica. Também implantou o Código Civil, que confirmou a vitória da revolução e influenciou a legislação de quase todos os países europeus no século XIX.
Derrota de Napoleão
Napoleão foi derrotado por uma coalizão de potências europeias em 1815. No mesmo ano, representantes dessas potências reuniram-se no Congresso de Viena para redefinir o mapa político da Europa e do mundo. Sob a liderança do Reino Unido, da Áustria, da Prússia e da Rússia, os territórios do Império Napoleônico foram redistribuídos entre os países vencedores, restaurando dinastias e fronteiras alteradas pelas guerras napoleônicas. A Santa Aliança, organização política internacional, é fundada com o objetivo de manter a França sob vigilância, deter novos movimentos revolucionários e garantir o equilíbrio de poder estabelecido entre as grandes potências europeias.
Revoluções Liberais
Após a derrota de Napoleão, a dinastia dos Bourbon foi restaurada sob o comando de Luís XVIII. A França estabeleceu-se como uma monarquia constitucional, combinando elementos do Antigo Regime com algumas conquistas liberais da Revolução. Após a morte de Luís XVIII, em 1824, Carlos X assumiu o poder. Nessa época, a França estava dividida politicamente entre os defensores do absolutismo, os apoiadores dos princípios da revolução e aqueles que queriam a volta de Napoleão Bonaparte.
Com o apoio dos absolutistas, Carlos X adotou uma série de medidas com o intuito de restaurar o regime autocrático. Em 1830, contrariado com a vitória dos deputados liberais, Carlos X fechou o Parlamento, o que foi o estopim para as Revoluções Liberais. Liderados pela burguesia, o povo parisiense insurgiu-se contra o rei no levante conhecido como os Três Dias Gloriosos. As revoltas derrubaram o último Bourbon e levaram ao trono um Orleans. Luís Felipe I assumiu o poder com o apoio da burguesia e prometeu respeitar a ordem constitucional.
A Revolução Liberal estimulou outras insurreições na Europa. A Bélgica libertou-se dos Países Baixos e a Grécia tornou-se um Estado independente. Agitações nacionalistas também ocorreram na Polônia, na Alemanha e na Itália. As mudanças trazidas pela Revolução Francesa tinham vindo para ficar.
Corte fugida
Inimiga da Inglaterra, a França de Napoleão decretou, em 1806, o bloqueio continental, impedindo a Europa de comercializar com os britânicos. Com a economia subordinada à Inglaterra, Portugal relutou em aderir ao bloqueio. Napoleão, então, ordenou a invasão do reino ibérico, provocando a vinda da família real portuguesa ao Brasil, em 1808. Isso apressaria nossa independência, ocorrida em 1822 (veja mais na pág.94).
Começava o Período do Terror, que durou de 1793 a 1794. Sob o comando de Robespierre, foi criado o Tribunal Revolucionário, encarregado de prender e julgar traidores. Milhares de pessoas foram guilhotinadas, incluindo jacobinos acusados de conspiração, como Danton e o jornalista Desmoulins. O governo jacobino foi popular, mas as perseguições levaram à perda do apoio do povo. Os membros da Convenção acabaram se voltando contra Robespierre, que foi preso e executado. Assim, chegava ao fim a supremacia jacobina. Os girondinos, em aliança com o grupo do pântano, instalaram novamente no poder a alta burguesia.