Distribuição geográfica das principais produções agrícolas em Angola

De  Serge Rombi  •  Últimas notícias: 17/02/2021

Distribuição geográfica das principais produções agrícolas em Angola

O setor agrícola, em Angola, está em expansão. Apesar da crise sanitária, uma empresa angolana criou, em poucos meses, uma vasta cooperativa agrícola com ambições internacionais.

"Estamos no Porto Amboim, na estrada que dá para a fazenda Kaundo, onde já desbravámos mais de 500 hectares de terreno e temos 400 hectares já em alta produção", contou à euronews João Macedo, presidente da cooperativa agrícola Novagrolider.

Terras férteis e microclima favorável

Há apenas um ano, as vastas terras da província de Cuanza Sul, a sul de Luanda, estavam abandonadas.Hoje, o empresário espera tirar partido de dez mil hectares de terra rica e fértil e de um microclima favorável. 

"Esta terra aqui é uma das melhores que já vi. Depois de fazer análises, vi que não havia melhor em Angola", sublinhou João Macedo.

Em seis meses, o projeto foi lançado e começou a dar frutos, apesar da pandemia.

“O problema da Covid-19 afeta algumas coisas, mas, não de uma forma que nos impeça de fazer o que queríamos. Já colhemos melões, melancias, abóboras, tomates, etc. Daqui a algum tempo, começaremos a colher mangas e uvas. E vamos produzir muito mais", garantiu João Macedo.

A diversificação da economia angolana

Para atenuar os efeitos dos choques petrolíferos, Angola aposta na diversificação da economia, em particular, no sector agrícola, que está em pleno crescimento. A cooperativa agrícola de Porto Amboim era um projeto há muito aguardado pelos habitantes.

"Mais de doze empresários já passaram por aqui. Desistiam sempre. O problema era o acesso. Viam a nossa estrada e desistiam. Até que, um dia, caiu do céu um empresário que chegou e disse: eu faço a estrada", contou Zefa Marimbi, administradora municipal de Capolo, em Porto Amboim.

O presidente da Novagrolider mandou construir uma estrada de 25 quilómetros. Um investimento privado determinante para o sucesso da empresa.

"As pessoas agora despertaram e perceberam que, afinal, Porto Amboim existia, graças à nova empresa Novagrolider. A juventude já tem um emprego. A comunidade já ganha qualquer coisa. Temos áreas muito secas. O empresário tem feito muitos esforços para levar a água a esta população", sublinhou Zefa Marimbi.

A aposta na exportação para novos mercados

A cooperativa agrícola emprega cerca de 400 pessoas. O objetivo do projeto é chegar aos 1500 trabalhadores. 

“Hoje, os frutos de Angola ainda são desconhecidos. Mas num futuro próximo, Angola vai começar a aparecer porque a fruta de Angola é boa e está de acordo com as normas internacionais. O que falta é a caminhada, anos de estrada, para que as pessoas conheçam a fruta angolana", afirmou Aldenicio Lino, gestor de produção da empresa angolana que já trabalhou na maior região de exportação de fruta do Brasil.

A empresa exporta para Portugal e Espanha e espera conquistar mercados como a Namíbia, a Itália e a Polónia.

“Quem come uma fruta de Angola gosta. Tivemos feedback nas redes sociais. As pessoas publicaram uma foto a dizer que tinham comprado uma fruta angolana e que era um belíssima fruta!" concluiu Aldenicio Lino.

Distribuição geográfica das principais produções agrícolas em Angola

Resumo:
A agropecuária é um dos sectores em que Angola tem mais vantagens competitivas para diversificar a economia, podendo transformar-se no seu novo “petróleo”. É fundamental seguir um Plano de Desenvolvimento da Agropecuária em que o Estado tenha um papel impulsionador e o sector privado nacional e estrangeiro venha a ser o grande ator, a par dos pequenos agricultores. Neste estudo é enunciada uma estratégia para o desenvolvimento acelerado do sector, tornando Angola autossuficiente e também exportadora do ponto de vista alimentar.

Introdução

Angola não é só petróleo e diamantes. Aliás, a instabilidade do preço do petróleo aliada à intenção política do novo governo de cortar com as práticas corruptas do passado, e à criação de um modelo económico de desenvolvimento assente na competição e diversificação da economia, impõe que se olhe para outros sectores da economia angolana como fontes de crescimento.

Figura n. º1- Excessiva oscilação do preço do petróleo em Maio/Junho 2020 (Fonte: https://oilprice.com/oil-price-charts/46)

Distribuição geográfica das principais produções agrícolas em Angola

Um dos sectores mais promissores e com mais potencial é a agropecuária. Há neste momento uma conjugação de fatores que a tornam uma das apostas mais rentáveis para o investimento em Angola.

Até ao momento este sector não tem tido um peso especial no PIB angolano, como se verá no quadro abaixo, razão pela qual o seu potencial de crescimento é enorme.

Fig. n.º 2 A agropecuária no PIB de Angola (2014 e 2017). Fonte BNA

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O que se verifica neste quadro é que a participação do sector Agropecuário no PIB tem vindo a aumentar percentualmente desde 2014 (linha laranja), embora o seu contributo em termos de Valor Acrescentado Bruto (linha azul) e o seu crescimento homólogo tenha sido manifestamente desanimador, em linha com a restante economia. Temos aqui um problema de produtividade e de menorização deste sector. Ora esta situação tem resultado de uma política errada, tendo em conta as potencialidades naturais de Angola nesta área, bem como o passado económico que já foi de sucesso.

Há que desenvolver uma estratégia adequada para o sector agropecuário. Esta estratégia vê a agricultura e a pecuária como o motor do crescimento, com base nas suas potencialidades concretas. No fundo, um novo “petróleo” para Angola, mas agora bem utilizado.

Vantagens comparativas naturais para a Agropecuária

Em primeiro lugar, o país tem riqueza e condições naturais, que agora podem ser perfeitamente exploradas. Angola é um dos países do mundo com maior potencial na agricultura, dispondo de mais de 40 milhões de hectares de terras aráveis, abundantes recursos hídricos, e energia solar radiante ao longo de todo o ano.

Na verdade, os dados apontam para que Angola tenha capacidade para ser exportadora de alimentos para a crescente população mundial, pois conta com uma área de 53 milhões de hectares aráveis, dos quais pouco mais de 10 % estão a ser utilizados para o efeito, apresentando-se o país como o 16º no mundo em termos de potencial agrícola. Portanto, de importador de alimentos pode, devido às suas condições naturais, vir a tornar-se um grande exportador de alimentos.

Esta potencialidade é reforçada pela existência de diversas vantagens comparativas angolanas. Além das acima mencionadas, merecem ainda destaque a existência de terras com chuvas adequadas, topografia plana, rios de bom caudal que permitem captação para irrigação, altitude para boas produções agrícolas de vários cereais. Devido às condições favoráveis em boa parte do território, é possível realizar uma colheita anual sob regime de chuvas (sequeiro) e 2,5 colheitas anuais em projetos com regadio. A pequena distância até aos portos (de 400 a 1.000 km) e a proximidade com o mercado asiático e africano, oferece a Angola o menor custo de frete como vantagem competitiva, quando comparada com outros países onde as áreas agrícolas podem chegar a estar afastadas 1.500 km dos portos.

Figura n.º 3- Vantagens comparativas para a agropecuária em Angola

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Contudo, a fertilidade dos solos é baixa, pois cerca de 45,35% dos solos são ferralíticos. As pesquisas levadas a cabo no passado, pelo então Instituto de Investigação Agronómica de Angola, mostraram que 92% dos solos angolanos apresentavam carências de azoto, e 94% tinham carência de fósforo. O azoto e o fósforo são os dois nutrientes cuja ausência mais limita a produtividade dos solos tropicais, e em particular dos angolanos. No entanto, no período colonial, a agricultura teve um papel muito relevante na economia, satisfazendo a maior parte das necessidades alimentares do mercado nacional, e exportando a produção das culturas de rendimento: café, algodão, sisal e banana. Os estudiosos atuais fundamentam o sucesso desta produção agrícola no conhecimento científico e técnico dos solos de Angola, através da especialização dos engenheiros agrónomos de então em questões de pedologia e em problemas respeitantes à fertilidade dos solos.[1]

Mas o mesmo e mais aperfeiçoadamente pode ser feito hoje.  “Essencialmente a agricultura nos solos de Angola só difere das áreas com solos mais férteis na correção da pobreza natural de nutrientes e de sua acidez. Uma vez superada essa limitação, a agricultura angolana equiparar-se-á à escala mundial”.[2] Portanto, a baixa fertilidade dos solos pode ser corrigida adequadamente, e não constitui um obstáculo insuperável ao desenvolvimento do sector.

Criação de clima político favorável

Como já referimos, no passado Angola chegou a ser um dos maiores exportadores mundiais de café, algodão, sisal, milho, mandioca e banana.

Tendo Angola excelentes condições naturais, como se enunciou acima, a chave do seu futuro sucesso remete para as políticas públicas, a boa gestão e a correta utilização de tecnologias agrárias. E é neste âmbito que estão a surgir desenvolvimentos promissores.

Há uma nova abertura ao investimento estrangeiro, que se está a traduzir em várias medidas legais que obedecem a dois vetores: por um lado, permitir que esse investimento surja em Angola sem restrições protecionistas que obrigavam a sócios locais; por outro, a simplificação administrativa e burocrática na instalação de empresas e atividades económicas no país. Existe uma tentativa séria do governo de criar um ambiente político, legal e burocrático favorável ao investidor estrangeiro e de diversificação da economia.[3] Neste âmbito terão especial destaque as privatizações. Inseridos no pacote de privatizações, além das terras para cultivo e pasto, estão previstos incentivos equivalentes a cerca de 2 mil milhões, entre garantias e linhas de crédito asseguradas junto de bancos, FMI, BNA, Banco Africano de Desenvolvimento e Banco Mundial. Na área da agroindústria, o governo pôs a concurso 17 ativos entre matadouros, entrepostos frigoríficos e fábricas de transformação de tomate e banana, com uma referência de licitação de $61,1 milhões. Na agropecuária há várias fazendas à venda, com fábricas, silos e secadores num total de 43 mil hectares, e a referência para licitação é de $110 milhões. Na verdade, uma boa parte das privatizações ocorridas até ao momento são na agroindústria.

UM PLANO AGROPECUÁRIO PARA ANGOLA

Face ao exposto, é facilmente percetível que é fundamental gizar e implementar um Plano Agropecuário[4] ambicioso para Angola. Esse Plano terá como desígnios:

Produção de alimentos para consumo interno e exportação

Neste âmbito, deverá ser promovida a produção dos seguintes produtos:[5]

  • milho e transformação em fuba, rações;
  • mandioca e transformação em fuba; farinha torrada; tapioca; etc;
  • arroz;
  • feijão;
  • soja, transformar em óleo e produtos para uso humano e para rações;
  • girassol, transformar em óleo e produtos para uso humano e para rações;
  • amendoim, transformar em óleo e componentes alimentares;        
  • batata rena;
  • batata doce;
  • café, processamento e torrefação;
  • frutas tropicais, produto in natura e fornecimento para fabricação de sumos;                                                                                                                    
  • gado bovino para corte, produção de carne e cortes processados, e pele;
  • gado bovino para leite, produção de leite e derivados; 
  • gado suíno para corte, produção de carne e pele;
  • aves para corte, produção de carne de frango e cortes processados;
  • avicultura de postura, produção de ovos.

Crescimento económico e aumento do bem-estar da população, em especial a rural

O sucesso do Plano implicará a geração de novos empregos e negócios, a fixação de populações rurais e qualificação da sua mão de obra, o que implica menor êxodo rural e consequente diminuição da pressão sobre a infraestrutura urbana. Há que enfatizar o potencial de criação de autoemprego e de novos empregos que este Plano contém.

Como objetivo último, o crescimento económico do país sem estar assente no petróleo, e o incremento das exportações, que permite obter mais divisas. Também a segurança alimentar fica assegurada.

Pressupostos físicos do Plano

O objetivo físico do Plano é alcançar 836.866 hectares cultivados com grãos (corresponde a 0,67% da superfície do País) e 3,9 milhões de hectares em pastagens (corresponde a 3,1 % da superfície do País).

Uma estimativa bastante aproximada da necessidade de produtos e respetivas áreas a serem cultivadas, para suprir as necessidades eliminando as importações, é dada pelo quadro seguinte:

Figura n.º 4 – Necessidade de produtos agrícolas

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Figura n.º 5- Necessidades de produção animal

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O valor agregado da produção adicional, dependendo das oscilações dos preços no mercado, oscilará entre 2,5 mil milhões e 4 mil milhões de USD.

Figura n.º 6 – Objetivos básicos do Plano agropecuário

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No início da década de 70, Angola chegou a ter 200.000 juntas de bois que eram responsáveis pelo cultivo de 1,2 milhões de hectares, pelo que, mais de 40 anos depois, com os avanços da maquinaria, equipamentos agrícolas, e das tecnologias de produção, não é uma meta ousada prever o cultivo de 836.866 hectares em grãos (soma das tabelas em área para lavoura, não incluindo pastagens ), e 213.134 hectares em outras culturas, tanto para exportação como para consumo interno (café; cana; soja; algodão), totalizando 1.050.000 hectares cultivados.

Regras de Política e Planeamento

 O que está em causa não é a falta de condições agrícolas, de solos adequados, de elementos geográficos. Tudo isso existe. O fundamental é uma adequada política e gestão de solos e da produção.

O aumento da produção agrícola pode ser alcançado através da expansão da área cultivada, ou através da intensificação, isto é, aumento da produtividade da terra cultivada. Em Angola, dever-se-á optar por uma abordagem conjunta, de modo a adotar uma exploração sustentável e não destruidora do ambiente, procurando-se que não haja um excesso de utilização do solo, nem um exagero de conquista de novos solos para a agricultura que perturbem os equilíbrios do ecossistema.

Regras político-administrativas

Em termos político-administrativos, além da abertura geral ao investimento privado e estrangeiro e a criação de um clima seguro para os negócios que abordamos no início deste texto, existem duas regras fundamentais a seguir:

– A primeira é a da definição clara e garantida por lei dos direitos de propriedade de cada um, quer em caso de propriedades coletivas quer pertencentes a aldeias ou clãs, a sua especificidade e atribuição transparente de direitos e deveres.

– Em segundo lugar, é preciso adaptar a máquina administrativa a este esforço, e assim, antes de qualquer intervenção rural, ao nível da Administração Pública deve-se proceder à remoção de obstáculos administrativos e burocráticos associados ao registo e emissão de licenças comerciais, com vista a simplificar drasticamente o fornecimento de licenças comerciais de exportação e de importação.

Figura n.º 7 – Regras político-administrativas

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Gestão agropecuária

Este Plano agropecuário, que visa tornar Angola um país autossuficiente e exportador de bens alimentares, desenvolver-se-á por três eixos práticos:

1 – Privatização

Há que privatizar as empresas agropecuárias. Neste âmbito estão as quatro fazendas agropecuárias de Camaiangala, Longa, Sanza Pombo e Cuimba, com aproximadamente 45 mil hectares, que entraram num processo de privatização e estão avaliadas em cerca de USD 110 milhões. O Presidente da República foi claro ao declarar que, no sector agrícola, o Estado tinha tido maus resultados em grandes fazendas que não produzem quase nada. Afirmando que não se deve persistir no erro, devem-se privatizar essas empresas do sector agrícola.

2 – Agricultura familiar e pequenos agricultores

A produtividade dos “pequenos agricultores” por meio da difusão de fertilizantes e sementes melhoradas, juntamente com o estabelecimento de esquemas de crédito e a expansão das infraestruturas – sistema rodoviário, melhoria da atenção primária à saúde, educação primária e abastecimento de água – será um dos eixos essenciais da nova estratégia agro-pecuária.

Aqui o objetivo é empregar a mão de obra familiar em pequenas propriedades até 50 ha de área. Podem ser implantadas nas aldeias e comunas, com forte apoio técnico, com o planeamento de produtos a serem cultivados, dependendo das condições naturais e das necessidades do País.

Neste módulo de produção, utilizando mão de obra familiar e com utilização intensiva de pequenas áreas de 5 a 50 ha, visa-se o abastecimento interno, e num futuro próximo a exportação de frutas. Recomenda-se o início do projeto com as culturas de milho, feijão, mandioca, legumes, verduras e frutas em geral. A fruticultura de exportação poderá ser explorada por pequenos e médios produtores, trazendo receitas ao País e melhoria da renda média no campo.

Note-se que, para ter sucesso, esta iniciativa terá de contar com técnicas modernas de cultivo que aumentem a produtividade das terras. Para que essas técnicas cheguem ao destino é necessária adequada formação e financiamento, em termos que descreveremos adiante em capítulo próprio.

Figura n.º 8- Eixos de Desenvolvimento agropecuário

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Grandes fazendas

Produção de grãos

As grandes fazendas permitirão as economias de escala e a utilização de tecnologia que assegura uma elevada produtividade. Pretende-se criar 83 fazendas de 10.000 hectares cada uma, num total de 830.000 hectares. Estas grandes explorações serão adjudicadas ao sector privado, obedecendo a uma parametrização clara que é a necessidade destas fazendas contarem com a mais avançada tecnologia. Havendo uma utilização intensiva de irrigação, esta permitirá a existência de 2,5 colheitas por ano.

Pecuária

Angola tem uma grande área de capim nativo que poderá ser utilizado com sucesso na produção pecuária, com resultados económicos muito positivos. Para se interromper as importações há necessidade de um acréscimo no rebanho de 3,8 milhões de cabeças, com genética predominante zebuína, por apresentar boa conversão alimentar das pastagens tropicais e ter boas taxas reprodutivas no clima tropical. Calculando-se uma taxa de lotação de 1 animal por hectare, há uma necessidade de 3,8 milhões de hectares de pastagens entre nativas e cultivadas.  Para as áreas semiáridas do Sul, devem-se calcular 5 hectares por bovino, mas a menor oferta de alimento diminui as taxas reprodutivas com relação ao planalto onde o regime de chuvas é de maior volume, proporcionando melhor desempenho para o rebanho.

Há a necessidade de abate anual de 763.000 bois, para se interromper as importações. Portanto, é necessário um acréscimo no rebanho atual de 3,8 milhões de cabeças, entre vacas, touros, vitelos, e bois até 2 anos. No 1º ano implementam-se as infraestruturas, e no 2º ano importam-se os animais.[6] Poderá haver importação num primeiro momento um rebanho de 200.000 vacas e 7.000 touros em 30 fazendas de 20.000 hectares cada, planeando sucessivamente as futuras expansões.

Naquilo que se refere ao leite, para atender à atual procura deverão ser implantadas 56 fazendas com capacidade de produção de 10.000 litros por dia cada uma, com produção intensiva sob sistema de free stall (confinamento). Cada fazenda terá 500 vacas em lactação, com média de produção de 20 litros por vaca. O custo estimado de implantação por fazenda, a ser confirmado por estudo de viabilidade económica, é de USD 6,89 milhões por fazenda, portanto para o país ser autossuficiente em leite há uma necessidade de investimento da ordem de USD 385 milhões. As regiões mais adequadas para esta produção seriam Kwanza Sul, Huambo, Bié, Huila.[7]    

A carne de frango é a carne mais consumida em Angola, com um consumo de 8,3 kg/habitante/ano; pelos dados das Alfândegas as importações de 2011 resultaram num consumo de 13,9 kg/habitante/ano. Para suprimir as importações é necessário o abate de 448.025 frangos por dia, com estrutura de criação de 2400 naves de 800 m² para criação, fábrica de ração e matadouros montados.

O Estado investirá, como se verá abaixo no ordenamento do território, através de benefícios fiscais, delimitação de parcelas, infraestruturas e formação, e assegurará em parte programas de financiamento, mas competirá aos investidores privados lançarem estes projetos.

Figura n.º 9 –  Quadro das Grandes Fazendas a implantar

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Formação e financiamento

Financiamento

Será estabelecido um esquema de financiamento original através duma instituição financeira paraestatal resultante de uma parceria entre Estado/ Organizações Internacionais e Empresas. Os empréstimos não serão em dinheiro, mas em equipamento, tecnologia, etc. Cedem-se os utensílios necessários à produção. Esta abordagem pragmática torna mais fácil a recuperação e a garantia da sua utilização.

Formação

A formação terá os seguintes objetivos:

– Preparar e qualificar mão de obra nacional em várias especialidades e níveis;

– Introduzir know-how adequado, com tecnologias, técnicas e mão de obra qualificada;

Quanto à formação, será estabelecido um programa alargado de aprendizagem com dois vetores essenciais: o básico do cultivo da terra, e o técnico. O vetor básico será alargado a todos os potenciais agricultores, sobretudo jovens desempregados, e consistirá no ensino do manejo dos utensílios e técnicas básicas da agropecuária. Será estabelecida uma rede público-privada por todo o país para treino dos agricultores.

A mesma rede também se encarregará de proporcionar o ensino médio técnico para criar peritos agrícolas que introduzam as técnicas adequadas para aumentar a produtividade da terra.

Esta rede será impulsionada pelo governo, mas tenderá a basear-se nos contributos da sociedade civil e também em parceiras externas com instituições brasileiras, uma vez que o Brasil é líder mundial na produção agropecuária em clima tropical. Portugal, pela sua experiência bem-sucedida no passado na agricultura angolana, será outra fonte de parcerias.

Papel do Estado e investimento privado e estrangeiro

Este Plano assume que o Estado tem um papel fundamental, mas não poderá fazer tudo, bem pelo contrário. O Estado apontará os caminhos estratégicos, criará as redes de formação, promoverá a instituição financeira de base, dará o enquadramento legal, estabelecerá as regras e prioridades no ordenamento do território, mas não será o investidor único, nem o principal. Os investidores serão privados, quer nacionais, quer estrangeiros, que se adequarão às linhas estratégicas do Plano.

Estratégia global e enquadramento legal

Competirá ao Estado definir a estratégia global inicial para o relançamento do sector agropecuário indicando os passos essenciais a dar, procedendo ao devido enquadramento legal, definindo os direitos de propriedade, promovendo a desburocratização e criando um clima favorável ao investimento.

Rede de Formação

O Estado será o promotor e coordenador da rede de formação agropecuária, articulando com os vários atores públicos, privados e internacionais, uma vasta rede autónoma e modular de centros de ensino e formação agrícola.

Instituto Financeiro de Desenvolvimento Agropecuário

O Estado estabelecerá esta instituição financeira e dar-lhe-á os meios para começar a agir, além de ir buscar os sócios privados e internacionais para o desenvolvimento do projeto. Note-se que o fulcro não é emprestar dinheiro, mas sim maquinaria, equipamento e sementes. Assim, poder-se-ão associar algumas empresas fabricantes industriais para a cedência de equipamento ou sementes.

Ordenamento do Território

O Estado indicará as zonas do território em que cada uma das atividades agrícolas ou pecuárias se poderá desenvolver, desenhando e emparcelando as áreas geográficas das grandes fazendas que serão adjudicadas ao sector privado e internacional para exploração económica.

Privatizações

Todas as explorações agrícolas e pecuárias estatais que sejam deficitárias serão privatizadas.

Infraestruturas

Esta tarefa tradicional do Estado continuar-lhe-á cometida, cabendo-lhe, entre outras tarefas, construir e financiar Centros de Investigação adequados ao Plano, bem como silos, redes de frio, e promover a exploração de minas de calcário para permitir a fertilização dos solos – mais concretamente aplicar calcário ao solo (a sua calagem), etapa do preparo do solo para o cultivo agrícola em que materiais de carácter básico são adicionados ao solo para neutralizar a sua acidez.

Figura n.º 10 – Atividades do Estado

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O investimento privado e estrangeiro terá um papel fundamental neste plano, pois será o efetivo motor e agente de inovação no projeto. O Estado funcionará como catalisador e kick-start, mas depois competirá aos empresários e pequenos agricultores trabalhar afincadamente para o sucesso do Plano.

Planeamento e ordenamento do território

Dos estudos já efetuados considera-se que as Províncias com maior aptidão para a agricultura e a pecuária em larga escala, com melhor índice de chuvas e solos, são Malange, Kwanza Norte, Kwanza Sul, Uíge, Huambo, Bié e Huila. Províncias onde a cultura da soja e pecuária de corte poderiam ser desenvolvidas devido às suas características são: Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico. Províncias da zona costeira onde se poderá desenvolver ou a fruticultura tropical irrigada, ou a pecuária de corte extensiva: Cabinda, Zaire, Bengo, Luanda, Benguela, Namibe, Cunene, Kwando Kubango.

Em termos de afetação da produção, vislumbra-se a seguinte distribuição:

Bengo, Kwanza Norte e Zaire: milho, feijão, caju, mandioca, frutos tropicais, amendoim, girassol, bovinos, caprino, aves, fábrica de fuba, fábrica de sumos, fábrica de óleo, fábrica de ração.

Infraestruturas necessárias: matadouro, centro de investigação, minas de calcário, rede de frio, silos.

Kwanza Sul, Huambo e Bié: milho, feijão, soja, trigo, batata rena, frutas de clima temperado, gado bovino e caprino, aves, fábrica de fuba de milho, fábrica de óleo, fábrica de lacticínios.

Infraestruturas: matadouro, centro de investigação, rede de frio, fábrica de adubo, silo.

Uíge e Malange: milho, feijão, arroz, algodão, frutas tropicais, gado bovino e caprino, aves, transf. milho, fábrica de sumos, fábrica de alimentos.

Infraestruturas: matadouro, centro de investigação, minas de calcário, rede de frio, silos.

Moxico e Lunda Norte:  arroz, batata rena, batata doce, amendoim, bovinos, caprinos, aves, fábrica de alimentos, fábrica de óleo.

Infraestruturas: matadouro, minas de calcário, silos, rede de frio.

Kwando Kubango: cebola e alho, frutas de clima temperado, bovinos, caprinos, fábrica de alimentos.

Infraestruturas: matadouro, centro de investigação, rede frio.


[1] Cfr. Jorge Delfim, Angola. A acidez do solo e a calagem, disponível em https://www.researchgate.net/publication/339508031_ANGOLA_ACIDEZ_DO_SOLO_E_A_CALAGEM 

[2] Jorge Delfim, idem.

[3] Ver o nosso estudo, A nova atratividade para o investimento internacional em Angola https://www.cedesa.pt/2020/03/09/a-nova-atractividade-para-o-investimento-internacional-em-angola/

[4] Baseado nos aspetos técnicos reportados em Rodolfo Wartto Cyrineu e Carlos E. F. Salgado, Plano Agro-Pecuário para Angola, Suporte Rural, Luanda, 2014.

[5] Idem, p. 9.

[6] Rodolfo Wartto Cyrineu e Carlos E. F. Salgado, Plano Agro-Pecuário para Angola, Suporte Rural, Luanda, 2014, p. 17 e ss.

[7] Idem.

Como é a agricultura de Angola?

Angola dispõe de matérias-primas agrícolas que podem contribuir para a entrada de divisas no país. Café, algodão, sisal e açúcar, entre outros, constituem um potencial por explorar.

Qual é a importância da prática da agricultura?

A importância da agricultura é, assim, indiscutível, pois é a partir dela que se produzem os alimentos e os produtos primários utilizados pelas indústrias, pelo comércio e pelo setor de serviços, tornando-se a base para a manutenção da economia mundial.

Como é praticada a agricultura tradicional?

Geralmente, a agricultura tradicional é praticada em pequenas propriedades rurais e se baseia na policultura, isto é, no cultivo de vários produtos no mesmo local, mediante o uso de técnicas artesanais e instrumentos de trabalho muito simples (enxadas, arados, animais de tração etc.).

Qual é o conceito de agricultura?

Este período é caracterizado por sistemas agrícolas mais complexos, cultivo de uma maior diversidade de legumes, cereais e frutos, e, criação e domesticação de mais espécies animais (principalmente de aves).