Profissionais de enfermagem desempenham um papel central nos programas de vacinação e no cuidado aos que adoecem. Os países devem dobrar os investimentos e melhorar as políticas para apoiar a “espinha dorsal” dos sistemas de saúde
Washington D.C., 4 de maio de 2022 (OPAS) – À medida que os casos de COVID-19 e as hospitalizações pela doença voltam a aumentar nas Américas – 12,7% desde a semana passada –, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, pediu aos países que aumentem urgentemente investimentos para desenvolver e reter a força de trabalho da enfermagem.
“Em todas as Américas, os profissionais de enfermagem enfrentaram bravamente o peso da pandemia e muitos lutaram contra o esgotamento e as condições de saúde mental”, com alguns saindo da área e outros deixando a força de trabalho, disse a diretora na coletiva de imprensa da OPAS realizada nesta quarta-feira (4).
Profissionais de enfermagem são a espinha dorsal da força de trabalho em saúde, especialmente durante a pandemia, representando 56% da equipe de saúde e fornecendo serviços de atenção primária, apoio à saúde mental e proteção do bem-estar de indivíduos, comunidades e famílias.
Antes do Dia Internacional da Enfermagem, comemorado em 12 de maio, Etienne agradeceu aos profissionais da área por desempenharem um papel central na atenção às pessoas com COVID-19 e por terem sido fundamentais para o lançamento de 1,8 bilhão de doses da vacina contra a doença na região.
“Hoje, os profissionais de enfermagem carregam a dupla carga de cuidar de pacientes com COVID-19 e recuperar as pessoas que perderam os exames de rotina nos últimos dois anos”, ressalta a diretora da OPAS.
Com um déficit de enfermeiras e enfermeiros estimado em 1,8 milhão até 2030 nas Américas, é essencial que “dobremos nossos investimentos no aumento de nossa força de trabalho de enfermagem e cuidemos dos profissionais existentes para que possam continuar cuidando de nós”, acrescentou Etienne.
A diretora da OPAS pediu aos países que implementem políticas claras para desenvolver e reter a força de trabalho em saúde, inclusive por meio da remuneração adequada, desenvolvimento de oportunidades de liderança sênior e elevando enfermeiras e parteiras dentro dos governos e dos Ministérios da Saúde.
Apoiar a saúde mental dos profissionais de enfermagem também é crucial. Um estudo da OPAS sobre profissionais de saúde e COVID-19 mostra que quase um quarto dos trabalhadores entrevistados em 2020 apresentavam sintomas de episódio depressivo.
Alguns países estão abordando esta questão implementando serviços de saúde mental e linhas diretas. A OPAS está lançando um curso de autocuidado voltado especificamente para profissionais de saúde e, na sexta-feira, 6 de maio, lançará uma Comissão de Alto Nível sobre Saúde Mental e COVID-19 para examinar mais de perto o impacto da pandemia na saúde mental nas Américas.
Em relação à situação da COVID-19, mais de 616 mil novos casos foram notificados nas Américas na semana passada, com mais de 4,2 mil mortes. No Caribe, o número de novas infecções aumentou 15,4% e as mortes aumentaram pela terceira semana consecutiva – 39,6%.
Embora as mortes continuem diminuindo na América Central, o número de novas infecções aumentou 53,4%, com três dos sete países notificando aumentos.
Na América do Norte, os casos aumentaram 27,1% nos Estados Unidos, enquanto Canadá e México registraram declínios em novas infecções.
A América do Sul registrou uma redução geral de 8% nos casos, embora sete países tenham notificado um aumento de novas infecções.
DOI: //www.dx.doi.org/10.5935/2446-5682.20200001
Editorial
Os Desafios da Enfermagem no Enfrentamento a COVID-19
Os Desafios da Enfermagem no Enfrentamento a COVID-19
Viviane Tannuri Ferreira Lima Falcão
Enfermeira. Doutora em Biologia Celular e Estrutural. Diretora e docente da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhoras das Graças. Universidade de Pernambuco. Recife, PE, Brasil. E-mail:
Endereço para correspondência
Viviane Tannuri Ferreira Lima Falcão
Universidade de Pernambuco
Recife, PE, Brasil
E-mail:
Recebido em 05/05/2020
Aceito em 25/06/2020
O ano de 2020 selou um momento de grande importância para enfermagem mundial e brasileira, além de celebramos o bicentenário de Florence Nithtingale, precursora da enfermagem moderna, e finalizamos a campanha Nursing Now, que destacou o papel crucial da enfermagem na agenda global em face as mudanças demográficas e epidemiológicas, a Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhecendo o trabalho realizado por enfermeiros e parteiros em todo o mundo, definiu o ano de 2020 como o Ano Internacional da Enfermagem e Obstetrícia, reiterando a importância de enfermeiros e parteiros, para atingir a meta de cobertura universal da saúde em 2030 (1).
E nesse movimento na enfermagem mundial, os continentes, um após o outro, foram surpreendidos por uma grave pandemia de proporções ainda não mensuradas, causada por uma doença infecciosa que tem por patógeno o novo coronavírus (SARS-CoV-2), chamada de COVID-19. Essa doença, por sua enorme abrangência, vem sendo considerada um dos mais importantes problemas mundiais de saúde pública dos últimos 100 anos, sendo comparada apenas a gripe espanhola, que infectou ¼ da população mundial da época e matou milhões de pessoas, entre os anos de 1918 e 1919 (2).
A COVID-19 que teve o seu início na cidade Wuhan, região central da China, em pouco tempo se disseminou pelo resto do país, atingiu a Ásia e em menos de dois meses abrangeu todos os continentes (3). A população mundial viveu e ainda vive dias difíceis devido à alta transmissibilidade e letalidade do SARS-CoV-2. Como até o momento não foi descoberto um tratamento eficaz que possa curar a doença, as medidas protetivas como, a higienização adequada das mãos e do ambiente, o uso de máscaras, o distanciamento social, a quarentena e o isolamento, passaram a ser fundamentais na luta contra o vírus. Entretanto, manter tais medidas parece não ser tão fácil, especialmente em nosso país onde a pandemia evidenciou, sobremaneira, as fortes diferenças sociais existentes. As repercussões da doença, especialmente no que diz respeito à quantidade de leitos e de respiradores artificiais disponíveis, expuseram problemas estruturais e assistenciais da saúde no mundo e também no Brasil.
A medida que a epidemia avança, e acelera o número de casos e óbitos, observam-se hospitais lotados, profissionais da saúde sobrecarregados, dificuldade ou mesmo escassez de equipamentos de proteção individual (EPI), problemas no estabelecimento de fluxos para a assistência, horas ininterruptas de trabalho (4). Além disso, os profissionais da saúde, entre eles os enfermeiros, iniciaram um processo de adoecimento importante, alguns perdendo a vida, outros passando muitos dias em internação hospitalar ou em isolamento residencial o que demandou a desmontagem de escalas de trabalho e a tomada de decisão para substituição desses profissionais, que necessitam ter um treinamento específico para trabalhar com o paciente crítico e com uma doença infeciosa de grande transmissibilidade.
Falar de desafios para a enfermagem é falar de um espaço comum. Lutamos permanentemente por melhores condições de trabalho e emprego, por salários dignos, por uma jornada de trabalho condizente com a atividade que desempenhamos, por uma formação emancipadora e de qualidade.
Vivemos enormes desafios a cada dia e em cada procedimento realizado. As condições desfavoráveis para o desenvolvimento da nossa práxis, denuncia, e talvez seja a representação mais expressiva da baixa valorização da profissão (3).
Em todos os campos de atuação do enfermeiro, seja na saúde/assistência, gestão/liderança, ciência, pesquisa, educação, empreendedorismo e inovação tecnológica, experimentamos nesse breve período a necessidade de nos reinventar, estabelecer novos mecanismos, reestruturar a engrenagem do cuidado, protegendo a vida de quem cuida e daquele que é cuidado. Os velhos desafios se juntaram aos novos e junto a eles desvendou-se para todos, as fragilidades já apontadas, a necessidade de investimentos, de políticas claras para a saúde, a importância do aumento da cobertura na atenção básica, a criação e aperfeiçoamento de protocolos assistenciais que atendam às necessidades da comunidade, família e indivíduo, a fragilidade do plano de cargos e salários dos profissionais da saúde, dos enfermeiros e equipe e uma política clara que defina o futuro dessa profissão.
Na educação da enfermagem é impossível prever os danos, se já tínhamos vulnerabilidades, agora elas estão ainda mais evidentes. Como buscar um caminho que esteja dentro das normas preconizadas de biossegurança, e atender o recomendado nas Diretrizes Curriculares dos Cursos de Enfermagem? Como estabelecer parâmetros que garantam um ensino de qualidade, com parcos investimentos? Como desenvolver o ensino hibrido sem condições de equidade no acesso à internet, a locais apropriados de estudo, a equipamentos que permitam o uso de tecnologias da informação? Como fazer pesquisa e ciência com menos investimentos? São muitas variáveis a serem avaliadas, são muitos questionamentos ainda sem respostas.
Nesses tempos de pandemia os profissionais de enfermagem, foram reconhecidos e homenageados pelo trabalho fundamental que desenvolvem no planejamento da assistência como organizadores e estruturadores do cuidado, em todos os níveis de atenção a saúde. Mais e agora? Conseguiremos abrir canais de diálogo que nos permitam efetivamente incluir pautas de discussão sobre o contexto vivido em nossa profissão? Não seria esse o momento de reafirmarmos o nosso protagonismo frente ao importante papel na promoção e manutenção da saúde das populações? Eis aqui o nosso maior desafio!
REFERÊNCIAS
1. Salvage J. Uma nova história da Enfermagem. Rev. Enf. Ref. [Internet]. 2018 [acesso em 2020 Jun 08]; serIV(17):3-12. Disponível em: //www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-02832018000200001&lng=pt.
2. Mediros EAS. A luta dos profissionais de saúde no enfrentamento da COVID-19. Acta Paul Enferm. 2020;33: e-EDT20200003. Disponível em: //doi.org/10.37689/acta-ape/2020edt0003.
3. Pires Brito S, Braga I, Cunha C, Palácio M, Takenami I. Pandemia da COVID-19: o maior desafio do século XXI. Vigilância Sanitária Em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia. 2020; 8(2):54-63. Disponível em: //doi.org/10.22239/2317-269x.01531.
4. Miranda FMA, Santana L de L, Pizzolato AC, Saquis LMM. Condições de trabalho e o impacto na saúde dos profissionais de enfermagem frente a Covid-19. Cogitare enferm. [Internet]. 2020 [acesso em 06 jun 2020];25. Disponível em: //dx.doi.org/10.5380/ce.v25i0.72702.