Por que tomar colageno hidrolisado

O colágeno é uma proteína produzida naturalmente pelo corpo humano a partir da alimentação. Aliás, 25% de toda a proteína presente em nosso organismo é representada por ele. Quando falamos na substância, logo pensamos na sua importância para a beleza da pele, já que ela ajuda a formar e renovar fibras de sustentação da cútis. Mas as funções vão além e incluem manter a saúde de músculos, tendões, articulações e até das artérias.

Com a idade, mais ou menos depois dos 30 anos, o nosso corpo vai perdendo a capacidade de fabricar essa molécula com a mesma destreza. É nesse momento, e principalmente de olho em sua atuação na parte estética, que os suplementos de colágeno começam a seduzir o consumidor.

Mas não basta sair comprando um potinho de pílula ou gomas na farmácia. O tema é complexo.

Para começar, o colágeno é uma molécula muito grande. Para ser absorvida, ela precisa passar pela hidrólise, que é basicamente uma “quebra”. Dessa maneira, é transformada em partes menores, os aminoácidos – sobretudo lisina e prolina.

Daí porque é tão comum encontrar suplementos de colágeno hidrolisado – significa que já passaram por essa mudança.

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Há, ainda, os peptídeos de colágeno bioativos: nesse caso, essas “quebras” são feitas com a intenção de chegar a aminoácidos específicos, que trabalhem diretamente no órgão alvo, como pele, músculos, articulações, etc.

“Também conhecidos como componentes peptídeos, eles são o colágeno formado por fragmentos com menor peso molecular para que a substância seja mais facilmente absorvida no organismo”, esclarece Tiago Lazzaretti, médico do esporte do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

Garantia de benefício?

Segundo alguns especialistas, esses processos não bastam para assegurar o total aproveitamento do colágeno, independentemente do objetivo.

“Além de passar pela hidrólise, a lisina e prolina dependem de alguns micronutrientes para serem captadas e surtirem efeito”, defende Juliano Burckhardt, médico cardiologista, geriatra e nutrólogo, membro titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

A vitamina C é o principal deles. Mas os minerais zinco, ferro e selênio também auxiliam na missão, segundo o médico.

Só que tem mais um detalhe: Burckhardt conta que não adianta estar com os micronutrientes em dia se houver um monte de açúcar na circulação. Isso valeria inclusive para a versão encontrada nas frutas.

“O excesso de frutose quebra a função da lisina. Então, se houver exagero no consumo de alimentos como laranja e acerola com a intenção de aumentar os níveis de vitamina C, por exemplo, a conta não vai bater”, avalia o geriatra.

Já a dermatologista Lilia Guadanhim, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entende que a questão não é bem assim. Ela se baseia em alguns trabalhos relacionados ao colágeno em ação na pele para constatar que a substância não é tão dependente de outros nutrientes.

“Estudos com substâncias análogas ao colágeno, e que tiveram resultados satisfatórios para a pele, avaliaram sua ação de forma isolada, e não em conjunto com outros nutrientes”, observa a médica.

Em um ponto todos concordam: tomar suplementos demais e sem controle pode sobrecarregar alguns órgãos e surtir um efeito bem diferente do esperado. Ou seja, o ideal é contar com orientação de um especialista.

O real impacto na pele

Ainda que os estudos sobre o efeito do colágeno na qualidade da pele sejam mais otimistas, é preciso alinhar as expectativas na hora de transpor resultados do laboratório para a vida real, aconselha Lilia, estudiosa do tema.

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“Um estudo alemão apontou um aumento de 7% na elasticidade da pele com a utilização do colágeno. Isso é um baita resultado para nós, mas é difícil saber se a pessoa perceberá esse efeito quando se olhar no espelho”, exemplifica.

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Por isso, não dá para encarar as pílulas de colágeno como a “fórmula da beleza invencível”, defende ela. “O protetor solar ainda é o melhor método antienvelhecimento”, crava a médica. Para Lilia, cremes anti-idade, tratamentos não invasivos e um estilo de vida saudável também precisam estar nesse combo.

Para quem quiser investir no colágeno mesmo assim, outro recado: a dose faz toda a diferença. Nesse sentido, contar com um dermatologista é essencial para não jogar dinheiro fora. É que várias pílulas ofertam menos de 1 grama da substância – teor que não traria vantagem.

“Ao comprar um pote de cápsulas, na maioria das vezes a pessoa terá de tomar seis ou sete unidades por dia para chegar na dose necessária”, calcula Lilia. “Daí porque têm surgido opções em sachês”, comenta.

Uma das empresas que produz os peptídeos bioativos em pó é a Aché. “O produto vem com 2,5 gramas, dosagem indicada pela Anvisa. Basta diluí-lo na água ou misturar a sucos quando o gosto começar a enjoar”, explica Andrea Bauer Bannach, dermatologista da linha Profuse, desenvolvida pela Aché.

A Gelita, que também oferece diversos tipos de colágeno, tem estudo avaliando a repercussão do uso de 2,5 gramas de um de seus produtos diariamente, durante quatro semanas.

“Houve aumento significativo da elasticidade da pele, de até 10%, em comparação com o tratamento realizado com placebo. Os resultados continuaram a ser observados quatro semanas após a última ingestão do produto”, informa Georgia Alvares Castro Fernandes, nutricionista e consultora da marca.

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Vale a pena para os músculos?

Como contamos, o colágeno não participa só da estrutura da pele. Ele também chama a atenção de quem quer ou precisa manter a integridade dos músculos, como idosos com sintomas de sarcopenia (perda de força muscular) e praticantes de exercícios.

Há uma série de estudos que investigam o papel do consumo de colágeno em conjunto à atividade física. Mas os resultados são controversos.

Um deles, publicado no The British Journal of Nutrition, avaliou 53 homens diagnosticados com diferentes níveis de sarcopenia. Eles foram divididos em dois grupos: um tomou os peptídeos bioativos, e outro ficou com placebo. Após um programa de três meses, os pesquisadores entenderam que os suplementados proporcionaram bons resultados.

“Há provas de que a substância traz um ganho de força em até 12 semanas, quando associada a treinos de resistência realizados, no mínimo, três vezes por semana”, diz Georgia, consultora técnica da Gelita.

Contudo, para o médico do esporte Tiago Lazzaretti, da USP, esse ganho não é tão significativo assim em comparação a quem se dedica somente a fazer exercícios. E ele também cita estudos.

Um deles foi feito por especialistas da Australian Institute of Sport, que acompanharam um programa de exercícios de fortalecimento muscular para pessoas com tendinopatias. Os participantes foram divididos em grupos que tomaram ou não o suplemento, e em períodos diferentes. “Chegou-se à conclusão de que a suplementação traz uma possibilidade de melhora, mas nada foi confirmado”, avalia Lazzaretti. 

O professor ainda cita uma revisão italiana publicada no Muscles, Ligaments and Tendors Journals, em que os autores entendem que os estudos que relacionam colágeno, músculos e ligamentos não fornecem indícios concretos de sua eficácia.

Esses levantamentos refletem um pouco do que ele vê no consultório. “Há casos em que receitamos o colágeno, dentro de uma dosagem e formato específicos. Algumas pessoas sentem diferença, mas esse resultado pode ser considerado um efeito placebo. Não consigo assegurar que a suplementação foi responsável por essa melhora”, avalia o profissional.

Se você tem 30 anos ou mais, provavelmente já deve ter ouvido falar do colágeno como forma de tratamento do envelhecimento da pele para amenizar as indesejadas rugas ou linhas de expressão. Uma das perguntas comuns nos consultórios de dermatologia é: tomar colágeno melhora mesmo a elasticidade da pele?

Antes de responder a essa pergunta, vamos primeiro entender o que é e para que ele serve.

O colágeno é uma proteína produzida naturalmente pelo corpo, e que corresponde a aproximadamente 30% de todas as proteínas presentes no organismo. Ao contrário do que muita gente pensa, ele não está só na pele, mas também em tendões, cartilagens, articulações, músculos, ossos, tecido conjuntivo e vasos sanguíneos.

Na pele, ele é uma substância essencial para manter sua estrutura e firmeza.

O colágeno também pode ser encontrado em alimentos como a carne e a gelatina, dermocosméticos tópicos ou suplementos alimentares.

O que nos leva de volta à pergunta inicial. A resposta é sim, mas é importante esclarecer que estamos falando da suplementação oral de colágeno hidrolisado, também chamado de peptídeos de colágeno, em que a cadeia de aminoácidos que forma o colágeno é quebrada em pedaços menores.

O colágeno não hidrolisado, como o presente no mocotó, por exemplo, é uma molécula de alto peso, que não consegue ser absorvida e não tem papel biológico.

Estudos clínicos mostram que tomar peptídeos de colágeno por 8 a 12 semanas aumentou a elasticidade da pele em 7%, a hidratação da pele em 28%, a densidade de colágeno da pele em 8,8%, reduziu o volume das rugas da região em volta dos olhos em 20,1%, diminuiu em 11% as ondulações da celulite, entre outros benefícios.

Segundo o Food and Drug Administration (órgão regulador americano), os peptídeos de colágeno são classificados como GRAS (generally recognized as safe), isto é, são seguros. Não há contraindicações descritas relacionadas ao seu uso.

De acordo com as especialistas ouvidas por VivaBem, tomar o colágeno ajuda na elasticidade e na hidratação na pele, mas somente a suplementação oral não é suficiente para repor tudo que é perdido com o envelhecimento.

Ou seja, se você estiver incomodada com o bigode chinês, rugas da testa ou a flacidez do pescoço, não espere que a suplementação sozinha vá melhorar completamente todas as queixas.

Na prática, o resultado só será mais nítido se associado a outros tratamentos, principalmente estéticos, como por exemplo, o ultrassom microfocado, o microagulhamento com ou sem radiofrequência, peeling, uso de lasers, fios de sustentação e de injetáveis, entre outros.

Mas para quem não quer gastar dinheiro com tratamento estético, existem outras formas de reduzir a degradação do colágeno, umas delas é usar o filtro solar diariamente. Simples, não?

Caso você esteja pensando em tomar colágeno para melhorar a pele, é importante buscar a ajuda de um médico dermatologista para que ele avalie o seu caso, te ajude na decisão, te oriente na indicação de qual usar, por quanto tempo e o que esperar do tratamento.

Fontes: Flavianne Sobral Cardoso Chagas, dermatologista, médica colaboradora do Ambulatório de Cosmiatria do hospital da UFS (Universidade Federal do Sergipe) e membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) - regional Sergipe; Lilia Guadanhim, dermatologista, doutora pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro da SBD; e Clarissa da Hora, dermatologista do Hospital da Pele (SP) e professora do curso de dermatologia e cirurgia dermatológica das faculdades BWS (SP).

Referências:

Proksch E, Segger D, Degwert J, et al. Oral Intake of Specific Bioactive Collagen Peptides Reduces Skin Wrinkles and Increases Dermal Matrix Synthesis. Skin Pharmacol Physiol 2014;27(3):113-9.

Proksch E, Segger D, Degwert J, et al. Oral Supplementation of Specific Collagen Peptides Has Beneficial Effects on Human Skin Physiology: A double-blind, placebo-controlled study. Skin Pharmacol Physiol 2014;27:47-55.

Schunck M, Zague V, Oesser S et al. Dietary supplementation with specific collagen peptides has a body mass index-dependent beneficial effect on cellulite morphology. J Med Food. 2015;18(12):1340-8.

J Cosmet Dermatol. 2015 Dec;14(4):291-301. doi: 10.1111/jocd.12174. Epub 2015 Sep 12. The effect of oral collagen peptide supplementation on skin moisture and the dermal collagen network: evidence from an ex vivo model and randomized, placebo-controlled clinical trials.

Jérome Asserin 1 , Elian Lati 2 , Toshiaki Shioya 3 , Janne Prawitt 4 Affiliations expand PMID: 26362110 DOI: 10.1111/jocd.12174.

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