O trecho “os animais não podem pagar condomínios!” foi escrito com letras maiores no texto para

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS PRÁTICAS DE LETRAMENTO (IN)VISIBILIZADAS NA PROVA BRASIL Midiam Araújo Gomes NATAL/RN 2015

MIDIAM ARAÚJO GOMES PRÁTICAS DE LETRAMENTO (IN)VISIBILIZADAS NA PROVA BRASIL Projeto de intervenção apresentado à Banca de Defesa do Mestrado Profissional em Letras PROFLETRAS, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada. Orientadora: Profª Drª Glícia Azevedo Tinoco NATAL/RN 2015

MIDIAM ARAÚJO GOMES PRÁTICAS DE LETRAMENTO (IN)VISIBILIZADAS NA PROVA BRASIL Projeto de intervenção apresentado à Banca de Defesa do Mestrado Profissional em Letras PROFLETRAS, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Linguística Aplicada. Aprovada em 14 de dezembro de 2015. BANCA EXAMINADORA Profª Drª Glícia Marili Azevedo de Medeiros Tinoco Orientadora UFRN Profª Drª Márcia Candeia Rodrigues Examinadora Externa UFCG Profª Drª Maria Hozanete Alves de Lima Examinadora Interna UFRN

UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Catalogação da Publicação na Fonte Gomes, Midiam Araújo. Práticas de letramento invisibilizadas na prova Brasil / Midiam Araújo Gomes. - Natal, RN, 2016. 167 f.: il. Orientadora: Prof.ª Drª. Glícia Marili Azevedo de Medeiros Tinoco. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Mestrado Profissional em Letras. 1. Prática de leitura - Dissertação. 2. Letramento - Dissertação. 3. Prova Brasil - Dissertação. I. Tinoco, Glícia Marili Azevedo de Medeiros. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 81 33

AGRADECIMENTOS Escrever estes agradecimentos é trazer à memória e reviver tantas pessoas que cruzaram o meu caminho e acrescentaram, não só conhecimento, mas acima de tudo esperanças. Assim, por acreditar que a fé em Deus não interfere no caminho da ciência, ao contrário, fortalece a caminhada e reaviva as esperanças, insisto em ter fé e em acreditar que, sem ela, é impossível viver. Por isso, agradeço a Deus, por me presentear com a oportunidade de realizar este estudo. Para chegar aqui muitas coisas me moveram e me envolveram. Entre elas, uma afirmação que minha mãe (cuja instrução escolar é pouca, mas a grandeza espiritual é muita) me dirigia quando eu era criança e precisava caminhar seis quilômetros embaixo de sol escaldante para chegar à escola: minha filha, quem quer já tem a metade!. A essa mulher, Maria de Lourdes, que assumiu perante Deus e os homens o dom da criação, da doação e do amor incondicional para educar sete filhos com o trabalho da agricultura familiar, minha eterna gratidão, que nunca será suficiente diante da sua resiliência para estar ao nosso lado. A meu pai, Abílio Gomes de Lima, pela leveza na alma para seguir esta vida que, tantas vezes, é difícil demais, agradeço. Ele sempre encarou a vida como uma grande e deliciosa aventura. Sempre riu das dificuldades e as encarou com bom humor e muito trabalho. Criou, com suor e sangue de suas próprias mãos, seus filhos e alguns netos com a agricultura, com as carradas de lenha levadas para as padarias, com as muitas carvoeiras. Mesmo sem estudo, sempre nos incentivou dizendo que estudar é sempre a melhor opção. Meu querido velhinho, pai de seis mulheres e de um homem, mesmo sendo machista para algumas coisas, criou seus sete filhos enchendo-os de fé em Deus, coragem, força e trabalho, independente de qualquer coisa... Ao senhor, meu muito obrigada! Aos meus queridos filhos, Miguel Fernandes e Joaquim Fernandes, por extraírem de mim o meu melhor e me fazerem superar as minhas limitações e dificuldades, também agradeço. Ao meu marido, Silas Filho, por acreditar no meu trabalho docente e me incentivar a continuar, mesmo diante das dificuldades do dia a dia, em especial, quando do nascimento do nosso segundo filho, coadjuvante nesta empreitada de estudo, agradeço demais. Às minhas irmãs e irmão (e aos sobrinhos também), pela parceria de sempre: obrigada! Sei que, apesar dos pequenos desentendimentos, somos unidos por uma força maior: o amor!

À minha irmã, Cida e à sua família, que foi meu braço direito, meu acalanto, meu aconchego, agradeço com muito carinho pela responsabilidade, pela disponibilidade e pela alegria com que cuidou dos meus pequenos nas muitas horas em que estive ausente. Sem ela, eu não teria conseguido chegar até aqui. Além desses encontros que se resumem a uma instância familiar, agradeço com muito carinho ao colega e Professor Francisco Morais, que me ensinou, ainda menina, a extrair da Escola Estadual Almirante Tamandaré o seu melhor: o conhecimento que os jovens professores compartilhavam com seus alunos e com outros professores. Em função disso, agradeço também a colaboração ímpar dos meus atuais companheiros de trabalho nessa Instituição de Ensino: Larissa Sabino e Francisco Canindé. Ressalto a importância dos alunos do 9 o A da Escola Estadual Almirante Tamandaré, participantes desta pesquisa, com os quais aprendo todos os dias a buscar estratégias de ensino que sejam compatíveis com a vida. Nessa jornada de muitos encontros na UFRN, agradeço a competência e as contribuições da Prof a Tânia Aires da Costa e da Prof a Araceli Benevides, que me deram valiosas sugestões na fase de qualificação desta pesquisa; o companheirismo das minhas colegas de mestrado, Adriana Oliveira, Francisca Waldenira e Francisca Vaneise, com as quais tive o prazer de compartilhar as dores e as alegrias dessa jornada. Ao grupo de orientação no mestrado, Jaciara Aquino, Liana Lemos, Luciana França, Maria do Céu, Michel Fontoura, Maria José, Vaneíse, meus sinceros agradecimentos pelo tempo dedicado a ser um grupo de verdade. Por fim, não menos importante, agradeço o compromisso, a dedicação, o empenho, a disponibilidade da Prof a Maria Hozanete Alves e da Prof a Marcia Candeia Rodrigues por contribuírem significativamente para esse empreendimento, participando da minha Banca de Defesa. Assim, por entender que a gratidão é um sentimento especial por pessoas que nos ajudaram em momentos de necessidade ou que serviram de apoio e suporte em horas difíceis, tenho muito a agradecer a todas as pessoas que me acompanharam nessa caminhada, através do conhecimento partilhado, do apoio, dos sorrisos, das palavras de incentivos, do reconhecimento. Muito obrigada!

AGRADECIMENTO ESPECIAL [...] E não há melhor resposta que o espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida [...] João Cabral de Melo Neto À minha orientadora, Prof a Dr a Glícia Azevedo Tinoco, pelo potencial e pela teimosia para lapidar pedras e realçar belezas; pela insistência em nos fazer acreditar que juntos podemos mais; pela seriedade e pelo compromisso com os quais desenvolve seu trabalho docente; pela dedicação e pelo envolvimento incessantes para nos fazer fabricar, agradeço imensamente! Hoje não sou mais a mesma professora, há em mim uma nova vida explodida, graças ao seu trabalho, por isso, mais uma vez, obrigada!

RESUMO Ressignificar o processo de ensino-aprendizagem da leitura por meio de um projeto de letramento com vistas ao desenvolvimento de competências leitoras de estudantes do 9 ano de uma escola pública no município de Extremoz, no Rio Grande do Norte, é o objetivo geral deste projeto de intervenção. Isso porque entendemos que o domínio das competências que envolvem as práticas de ler pode possibilitar, a cada aluno, maior sucesso escolar e uma melhora considerável na autoestima; à escola, um melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e também melhor imagem perante a sociedade; aos professores, o resgate do sentimento de dever cumprido; ao Brasil, a inserção de cidadãos mais preparados para lidar com a escrita no mundo da escola, dos instrumentos nacionais de avaliação, dos negócios, da economia, entre outras esferas de atividade humana. Para tanto, tomamos como ponto de partida a análise de um dos instrumentos avaliativos adotados pelo Governo Federal: a Prova Brasil. Tendo como pressuposto que uma análise do que é exigido nessa avaliação pode nos oferecer pistas dos descompassos existentes entre o que se ensina e o que se aprende na escola citada, de um lado, e, de outro, o que se avalia nesse dispositivo, fizemos a análise do modelo disponibilizado em 2011 pelo Instituto de Estudos e Pesquisas (INEP), a avaliação diagnóstica da importância da leitura e da escrita na vida dos adolescentes do 9 o ano do ensino fundamental da escola em que atuamos. Em seguida, desenvolvemos oficinas de leitura e escrita; aplicamos simulados com questões disponibilizadas no site do INEP que compõem o modelo didático da Prova Brasil; fizemos a análise dos resultados dos simulados e, em seguida, entrevistas com os alunos, divididos em pequenos grupos. Nessa empreitada investigativa, fundamentamo-nos na concepção dialógica de língua(gem), especificamente em Bakhtin ([1929] 2009) e em Stam (1992) e nos estudos de letramento (KLEIMAN [1995] 2008; TINOCO, 2008) e na vertente metodológica advinda da Linguística Aplicada (MOITA LOPES, 1996). O percurso investigativo desenvolvido ofereceu subsídios tanto para um redirecionamento de ações/estratégias de ensino quanto para a elucidação de práticas (in)visibilizadas que envolvem a participação dos alunos na Prova Brasil, bem como contribuiu para o desenvolvimento de competências e habilidades que essas práticas exigem e analisou os impactos que um projeto de intervenção, especificamente voltado para a Prova Brasil, pode trazer aos resultados a serem alcançados pelos estudantes que acompanhamos. Palavras-chave: Prática de leitura. Letramento. Prova Brasil.

ABSTRACT Reframe the teaching-learning process of reading through a literacy project aimed to develop readers skills of students in the 9th grade at a public school in the municipality of Extremoz in Rio Grande do Norte, is the general objective of this project intervention. That's because we understand that the area of skills involving practices of reading may enable every student, higher school success and a considerable improvement in self-esteem; to school, a better Development Index of Basic Education (IDEB) and also better image in society; teachers, the rescue of the sense of accomplishment; Brazil, the inclusion of more citizens prepared to deal with writing the world of school, the national assessment tools, business, economics, among other spheres of human activity. To this end, we take as a starting point the analysis of the evaluation tools adopted by the Federal Government: Proof Brazil. It being understood that an analysis of what is required in this assessment can offer us clues existing mismatches between what is taught and what is learned in the mentioned school, on the one hand, and on the other, which is assessed on that device, we the analysis of the form made available in 2011 by the Institute for Studies and Research (INEP), the diagnostic evaluation of the importance of reading and writing in the lives of teenagers from the 9th grade level of the school in which we operate. Then develop reading and writing workshops; apply simulated with issues available in the INEP site who make up the educational model of the trial Brazil; We did the analysis of the results of simulated and then interviews with the students, divided into small groups. This investigative endeavor, base ourselves on the dialogical conception of language (gem), specifically in Bakhtin (2009) and Stam (1992) and in studies of literacy (KLEIMAN, 2008; TINOCO, 2008) and arising methodological aspect of Applied Linguistics (MOITA LOPES, 1996). The investigative course developed offered subsidies for either a redirection of shares / teaching strategies and for the elucidation of practices (in) visualized involving the participation of students in Brazil Exam, as well as skills and abilities that these practices require and the impacts that an intervention project specifically focused on Brazil Exam can bring the results to be achieved by students who follow. Keywords: Reading Practice. Literacy. Prova Brasil.

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Prova Brasil (2011): descritores e percentual de aproveitamento da EEAT...54 Quadro 2 - Descritores repetidos... 56 Quadro 3 - Reprodução da questão 04 da Prova Brasil (2011) bloco 3... 59 Quadro 4 - Reprodução da questão 01 da Prova Brasil (2011) bloco 3... 60 Quadro 5 - Reprodução da questão 12 da Prova Brasil (2011) bloco 3... 61 Quadro 6 - Reprodução da questão 02 da Prova Brasil (2011) bloco 3... 63 Quadro 7 - Reprodução da questão 05 da Prova Brasil (2011) bloco 3... 65 Quadro 8 - Reprodução das questões 08 e 09 da Prova Brasil (2011) bloco 3... 67 Quadro 9 - Reprodução da questão 04 da Prova Brasil (2011) bloco 4... 71 Quadro 10 - Reprodução da questão 08 da Prova Brasil (2011) bloco 4... 72 Quadro 11 - Quadro informativo sobre os textos da ordem do narrar Oficina 1... 75 Quadro 12 - Orientações para escolha do livro na biblioteca Oficina 1... 76 Quadro 13 - Práticas de leitura e escrita realizadas pelos alunos Oficina 1... 79 Quadro 14 - Quadro informativo sobre os textos da ordem do argumentar Oficina 3... 83 Quadro 15 - Reprodução da questão 03 do Simulado 3 bloco 3... 89 Quadro 16 - Reprodução da questão 10 do Simulado 3 bloco 4... 91 Quadro 17 - Reprodução da questão 10 do Simulado 3 bloco 3... 92

LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Lagoa de Extremoz... 23 Figura 2 - Mapa do Rio Grande do Norte: divisão metropolitana de Natal... 24 Figura 3 - Entrada principal da EEAT... 25 Figura 4 - Primeira oficina de leitura... 74 Figura 5 - Primeira oficina de leitura... 74 Figura 6 - Escolha do livro na biblioteca da escola... 77 Figura 7 - Segunda oficina de leitura... 81 Figura 8 - Segunda oficina de leitura... 81 Figura 9 - Simulado 3 Prova Brasil... 88

LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Resultados e Metas do IDEB... 28 Tabela 2 - Distorção idade-série... 29 Tabela 3 - Necessidades de professores na EEAT... 29

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - IDEB Observado e metas projetadas (2005-2013)... 27 Gráfico 2 - Média do IDEB (2013) das escolas de Extremoz/RN... 28 Gráfico 3 - Percentual de acertos do simulado 1 Bloco 3... 59 Gráfico 4 - Descritores e percentual de aproveitamento dos alunos no simulado 1... 66 Gráfico 5 - Percentual de acertos no simulado 1 e 2... 70 Gráfico 6 - Acervos de leituras acessados pelos alunos com frequência... 78 Gráfico 7 - Percentual de acerto dos alunos Descritor 16... 82 Gráfico 8 - Percentual de aproveitamento dos alunos nos simulados 1, 2 e 3... 93 Gráfico 9 - Percentual de gabaritos preenchidos inadequadamente... 94

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Avaliação Nacional do Rendimento Escolar...ANRESC Escola Estadual Almirante Tamandaré...EEAT Educação de Jovens e Adultos...EJA Exame Nacional do Ensino Médio...ENEM Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística...IBGE Instituto Brasil de Pesquisa e Ensino Superior...IBRAPES Instituto Nacional de Educação e Pesquisa...INEP Linguística Aplicada...LA Ministério da Educação...MEC Necessidades Educacionais Especiais...NEE Programa Dinheiro Direto na Escola... PDDE Plano de Desenvolvimento da Educação...PDE Plano Político Pedagógico...PPP Programa Internacional de Avaliação de Estudantes...PISA Sistema de Acompanhamento de Pessoal...SAGEP Secretaria de Educação, Cultura e Desportos do Rio Grande do Norte...SEEC Sistema Integrado de Gestão Educacional...SIGEDUC Universidade Aberta do Brasil...UAB Universidade Federal do Rio Grande do Norte...UFRN Universidade Potiguar...UNP Universidade Estadual Vale do Acaraú...UVA

SUMÁRIO 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS... 12 2 PRESUSPOSTOS METODOLÓGICOS... 16 2.1 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA NA LINGUÍSTICA APLICADA... 16 2.2 NATUREZA DA PESQUISA... 18 2.3 OBJETO E INSTRUMENTOS DE PESQUISA... 19 2.4 CENÁRIO DA INVESTIGAÇÃO... 20 2.4.1 Macrocenário: Prova Brasil... 21 2.4.2 Mesocenário: Extremoz... 23 2.4.3 Microcenário: turma de 9 o ano da Escola Almirante Tamandaré... 25 2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COLABORADORES... 30 2.6 CAMINHOS PERCORRIDOS NA GERAÇÃO DOS DADOS... 32 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 35 3.1 CONCEPÇÕES DE LÍNGUA(GEM)... 35 3.2 ESTUDOS DE LETRAMENTO... 37 4 ANÁLISE DOS DADOS... 44 4.1 QUESTIONÁRIO CONTEXTUAL... 48 4.2 PROVA BRASIL (2011)... 53 4.3 SIMULADO 1... 57 4.4 SIMULADO 2... 68 4.5 OFICINAS DE LEITURA... 73 4.5.1 Primeira oficina de leitura: gêneros da ordem do narrar... 74 4.5.2 Segunda oficina de leitura: o projeto do dizer... 80 4.5.3 Terceira oficina de leitura: gêneros da ordem do argumentar... 82 4.6 SIMULADO 3... 84 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 95 REFERÊNCIAS... 100 APÊNDICES... 103 ANEXOS... 130

12 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Muito já se divulgou sobre a "crise" da escola pública. A mídia impressa, televisiva e digital tem-se ocupado bastante com a exemplificação de fracassos escolares Brasil afora. Para se ter uma ideia disso, basta ler artigos de Cláudio de Moura e Castro e de Gustavo Ioschpe, na revista Veja, ou assistir ao Jornal Nacional ou ao Fantástico, da Rede Globo, ou ainda ler os mais variados hipertextos que circulam na internet, por exemplo. De fato, esse discurso já está de tal forma incorporado ao senso comum que a imagem de escola pública que se tem é, na maioria das vezes, associada ao insucesso. Nessa mesma direção, avaliações nacionais (Exame Nacional do Ensino Médio ENEM, Prova Brasil) e internacionais (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes PISA) oferecem dados quantitativos (e oficiais) sobre o descompasso que existe entre o que esses dispositivos entendem ser necessário que os estudantes aprendam na escola, o que as escolas públicas brasileiras ensinam e o que, de fato, os estudantes aprendem. Todavia, o Governo Federal, por meio do Ministério da Educação (MEC), tem procurado garantir à população brasileira o direito não só a matricular-se em uma escola pública, mas também ao aprendizado de qualidade (BRASIL, 2011). Em razão disso, foi lançado em 2007 o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) com o objetivo de melhorar substancialmente a educação oferecida pelas instituições públicas de ensino. Essa iniciativa precisa ser reforçada no contexto escolar para alcançar êxito e, de fato, provocar mudanças significativas na educação brasileira. No entanto, ainda são poucos os projetos de intervenção que, fundamentados academicamente, reflitam sobre as causas do tão propalado fracasso da escola pública e em menor número ainda os que se ocupem de estratégias de recondução desse "estado de coisas", visando ao sucesso. Do ponto de vista governamental, objetivando identificar quais as escolas que apresentam maiores fragilidades no desempenho escolar e que, por isso mesmo, necessitam de maior atenção e apoio financeiro e de gestão, o PDE dispõe de um instrumento denominado Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Esse índice é medido a partir da combinação de dois indicadores: o fluxo escolar (passagem dos alunos pelas séries sem repetição, avaliado pelo programa Educacenso) e o desempenho dos estudantes (avaliado pela Prova Brasil nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática).

13 O nosso exercício profissional, por sua vez, nos permite acompanhar de perto a expectativa de diferentes agentes sociais de que as escolas alcancem uma nota positiva no IDEB ou ao menos a meta estabelecida pelo Governo Federal. Para esses agentes sociais e toda a comunidade escolar, atingir essa meta (ou até mesmo ultrapassá-la) vincula-se ao sentimento de dever cumprido. Alcançar essa expectativa implica, inclusive, corroborar o cumprimento da finalidade básica da escola: desenvolver as competências cognitivas e as práticas sociais relevantes para o exercício da cidadania, em especial, as relacionadas à leitura e à escrita, através de um ensino eficiente, que subsidie seus estudantes para conquistar melhores condições de vida. Todavia, poucas são as experiências exitosas para alcançar esse fim. No entanto, cientes dessa finalidade, a Escola Estadual Almirante Tamandaré (doravante EEAT) campo de nossa intervenção, vem procurando alternativas didáticas que possam contribuir para a melhoria e a qualidade do ensino oferecido e, consequentemente, à melhora do desempenho dos seus alunos na Prova Brasil. Ressaltemos, por relevante, que essa instituição de ensino apresenta o IDEB mais baixo (2,9 em 2013) entre todas as escolas estaduais e municipais da cidade de Extremoz. É exatamente nesse contexto que entra nosso projeto de intervenção. Porém, dada a amplitude conceitual contida na Prova Brasil, na qual são exigidos conhecimentos de Língua Portuguesa e de Matemática, bem como a nossa formação específica na área de Letras, focalizaremos especificamente a linguagem e, exclusivamente, a relacionada às provas de Língua Portuguesa. Nesse sentido, no projeto de intervenção desenvolvido, investimos na ressignificação de práticas de leitura de estudantes do 9 o ano por meio de um projeto de letramento (KLEIMAN, 2000) que visa, colateralmente, o alcance de melhor IDEB para a EEAT. Para tanto, buscamos construir uma comunidade de aprendizagem (AFONSO, 2001) que alie esforços em torno da ressignificação de saberes em prol da Prova Brasil, em um trabalho colaborativo e de interação entre os indivíduos que partilhem objetivos comuns, construindo um sentimento de responsabilidade coletiva para alcançá-los. Todavia, essa busca ultrapassa os limites da Prova Brasil, bem como a sala de aula e os espaços físicos da escola, exatamente porque a leitura assume um significado na vida de cada adolescente envolvido nesse projeto, que passa a ver a leitura e a escrita como um instrumento de legitimação da cidadania e, consequentemente, de mudança de vida, mudança social.

14 Nesse processo, contamos como ponto favorável o fato de exercermos, há nove anos, o papel de professora da escola supracitada e, agora, o de pesquisadora. Essa vivência nos oferece condições suficientes para traçar um retrato do que, de fato, é ensinado nas aulas de Língua Portuguesa para as séries finais do ensino fundamental. Entendemos, pois, que uma análise do que é exigido na Prova Brasil pode nos oferecer pistas dos descompassos existentes entre o que se ensina e o que se aprende na escola citada, de um lado, e, de outro, o que se avalia nesse dispositivo. Pensamos que entender esse descompasso implica, primeiro, analisar criteriosamente os desafios que a Prova Brasil nos oferece. Segundo, compreender as melhores estratégias de ensino para que nossos alunos sejam capazes de obter sucesso nesse dispositivo de avaliação e, por fim, avaliar, diante dos desafios que a sociedade grafocêntrica nos apresenta, como podemos entender a interferência da Prova Brasil nas práticas de leitura desses estudantes. Nessa construção colaborativa, quatro perguntas nos inquietaram: (i) de que maneira um projeto de letramento, com foco na Prova Brasil, mostra-se eficaz na ressignificação de práticas de leitura de estudantes do 9 o ano?; (ii) que conhecimentos são requeridos pela Prova Brasil?; (iii) que práticas de letramento (in)visibilizadas subjazem desse instrumento de avaliação nacional?; (iv) como é possível desenvolver estratégias que aprimorem práticas de leitura dos alunos do 9 o ano da escola em que atuamos? Esses questionamentos nos conduziram à formulação de objetivos que nortearam esta pesquisa de natureza etnográfica e interpretativista. Nesse sentido, diante do objetivo geral de ressignificar práticas de leitura de estudantes do 9 o ano por meio de um projeto de letramento que toma por macrocenário a Prova Brasil, elencamos, como objetivos específicos, os que se seguem: (i) mapear os conhecimentos requeridos pela Prova Brasil; (ii) identificar as práticas de letramento (in)visibilizadas que subjazem desse instrumento de avaliação nacional; (iii) desenvolver estratégias que aprimorem práticas de leitura dos participantes deste projeto. Isso posto, para darmos melhor visibilidade ao trabalho realizado, organizamos esta dissertação em cinco capítulos. Nesta introdução, esclarecemos as razões do olhar científico que se lança sobre o objeto de pesquisa escolhido, bem como as questões e os objetivos que nos movem. O capítulo dois é dedicado à descrição dos pressupostos metodológicos empregados neste trabalho. Iniciamos contextualizando a pesquisa na Linguística Aplicada (L.A), passando à descrição da vertente etnográfica da pesquisa que realizamos, em seguida, apresentamos o objeto de estudo e os instrumentos para geração de dados. Mais adiante, fazemos a descrição do nosso cenário investigativo: (i) a Prova Brasil; (ii) a cidade de

15 Extremoz e (iii) a turma do 9 o ano da EEAT. Por fim, apresentamos a caracterização dos colaboradores e os caminhos percorridos para a geração de dados. No capítulo três, explicitamos a base teórico-metodológica que fundamenta este trabalho. No início, discorremos sobre a concepção dialógica de língua(gem), especificamente em Bakhtin ([1929] 2009) e em Stan (1992); depois, tratamos de conceitos também basilares para esta pesquisa: os estudos de letramento (KLEIMAN 1995; TINOCO, 2008). A seguir, no capítulo quatro, passamos à análise dos dados gerados a partir de seis atividades: (i) o questionário socioeconômico; (ii) a Prova Brasil (2011); (iii) o simulado 1; (iv) o simulado 2; (v) as oficinas de leitura e (vi) o simulado 3. No capítulo cinco, apresentamos algumas considerações, e, por fim, indicamos nossas referências e expomos os apêndices e os anexos da pesquisa.

16 2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS 2.1 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA NA LINGUÍSTICA APLICADA A natureza situada do ensino da leitura com foco na Prova Brasil levou-nos a buscar na área de Linguística Aplicada (LA) os construtos necessários para cumprirmos esta empreitada acadêmica. Isso se justifica pelo fato de a LA se apresentar como: [...] uma área de investigação aplicada, mediadora, interdisciplinar, centrada na resolução de problemas de uso da linguagem, que tem um foco na linguagem de natureza processual, que colabora como o avanço do conhecimento teórico, e que utiliza métodos de investigação de natureza positivista e interpretativista (MOITA LOPES, 1996, p. 22). Nesse sentido, assumimos um posicionamento investigativo sobre os problemas de uso da linguagem, em especial, a leitura, que estão imbuídos na Prova Brasil, bem como o fato de que trabalhar com a leitura, por sua natureza processual e interdisciplinar, pode promover mudanças na realidade observada, aproximando os conhecimentos teóricos das práticas dentro e fora da sala de aula. Dito isso, é importante ressaltar que o processo de ação-reflexão pode nos levar a refletir se as atividades desenvolvidas, a partir desse instrumento de avalição (Prova Brasil), se constituem como ferramentas para ressignificar as práticas de leitura dos colaboradores e, também, se é possível formar uma comunidade de aprendizagem para influenciar nos resultados dessa prova, além de despertar o interesse e o compromisso dos estudantes para participação nessa avaliação. Isso posto, consideramos que, para uma investigação apropriada de nosso objeto de estudo, a pesquisadora, que também é a professora da turma, precisa estar envolvida com a investigação crítica de sua própria prática, gerando conhecimento sobre a sala de aula para buscar promover mudanças no contexto educacional. É válido ressaltar ainda que essa investigação crítica permite a interação entre professor e aluno, o que leva à construção de um conhecimento comum entre eles. Este conhecimento é construído conjuntamente em sala de aula através de um processo que envolve controle, negociação, compreensão e falhas na compreensão entre aluno e professor

17 até que passa a fazer parte do conhecimento compartilhado na sala de aula (MOITA LOPES, 1996, p. 96). Nesse sentido, assumimos a visão interpretativista/qualitativa de pesquisa na qual o conhecimento é um processo para o qual colaboram aqueles envolvidos na prática da sala de aula, ou seja, o conhecimento é uma construção social (MOITA LOPES, 1996, p. 96). Dessa forma, os dados gerados não devem ser mensurados e categorizados por si, mas interpretados, visto que emergem da complexidade e da dinamicidade da interação entre o pesquisador, seu objeto de estudo e os colaboradores da pesquisa. Nessa direção, optamos por uma abordagem que não apenas investigue o que ocorre na sala de aula, mas, sobretudo, enfatize o processo de ensino/aprendizagem, levando em consideração o que está acontecendo fora dos muros da escola, o que as ações observadas e propostas significam para os sujeitos nelas envolvidos e quais as relações existentes entre as ações propostas nesse trabalho e a vida social mais ampla dos estudantes envolvidos. Assim, a pesquisa de vertente etnográfica parece se encaixar perfeitamente no nosso projeto, uma vez que [...] interessa-se pelo estudo dos processos sociointeracionais enquanto elementos geradores da construção do conhecimento, isto é, da cognição. Esse interesse pelo estudo da interação em contexto de aprendizagem ou no contexto de ação da sala de aula de línguas é parte de um interesse mais amplo em várias áreas de investigação (análise do discurso, estudos cognitivistas, educacionais etc.) pela questão da interação, baseando-se na premissa de que o significado, a compreensão e a aprendizagem devem ser definidos em relação a contextos de ação, onde atores reais interagem na construção do significado, do conhecimento e da aprendizagem, ou seja, tanto a aprendizagem quanto o significado são definidos como formas de coparticipação social (MOITA LOPES, 1996, p. 88). Assim, por entendemos que a escola deve contribuir significativamente para o desenvolvimento do aluno através de sua inserção no mundo atual, visivelmente marcado pelo papel que a escrita assume nas relações sociais, buscamos fundamentação metodológica na Linguística Aplicada que usa não só os conhecimentos teóricos advindos dela, mas, acima de tudo, dialoga com as descobertas de outros campos do saber, tais como a Antropologia, a Teoria Educacional, a Psicologia, a Sociologia, mantendo uma forte característica multidisciplinar, para atingir nossos objetivos.

18 2.2 NATUREZA DA PESQUISA A pesquisa que desenvolvemos se caracteriza por ser qualitativa. Ela prioriza as relações que se estabelecem entre os indivíduos e o objeto de estudo, em sua dimensão subjetiva, abstrata, ligada às questões históricas, culturais e sociais que, dificilmente, poderiam ser descritas numericamente. Considerando que nosso objetivo não está em analisar a nota do IDEB (o número), mas entender o cenário, os sujeitos e os caminhos que levam a essa nota, adotamos esse tipo de pesquisa como um dos eixos metodológicos. Além disso, este estudo pode ser caracterizado como um projeto de intervenção/pesquisa-ação, uma vez que esses conceitos não se excluem. Ao contrário, definem a maneira pela qual se relacionam, no processo de colaboração, o pesquisador e os demais envolvidos, com o fim comum de produzir conhecimentos novos e até mesmo instrumentos úteis para o processo de ensino-aprendizagem. Nessa direção, Monceau (2005, p. 471) afirma que as práticas de intervenção e as práticas de pesquisa-ação enfrentam desafios semelhantes. As maneiras pelas quais seus protagonistas pensam sobre elas frequentemente se cruzam e suas origens se mesclam. Nesse sentido, é evidente que a pesquisa-ação tem efeitos de intervenção e como tal produz conhecimentos. No entanto, para efeito de categorização desse trabalho, optamos pelo termo projeto de intervenção visto que a pesquisadora faz parte do quadro de funcionários da instituição pesquisada e o objeto de pesquisa foi identificado a partir de um mal-estar sentido por profissionais da EEAT, o que influencia na intensidade das ações propostas para solucionar o problema. Em suma, no desenrolar deste projeto de intervenção, como no de uma pesquisa-ação, espera-se que o processo gere conhecimento em/sobre a sala de aula, além de desenvolver ações situadas que podem levar ao avanço educacional, já que envolve o professor na reflexão crítica do seu trabalho (MOITA LOPES, 1996). Assim, num processo contínuo e coletivo de ação-reflexão, tem-se a oportunidade para transformar a realidade a que se propõe este trabalho.

19 2.3 OBJETO E INSTRUMENTOS DE PESQUISA O presente projeto de intervenção está estreitamente relacionado ao nosso interesse de contribuir para a ressignificação de práticas de leitura dos alunos das séries finais do ensino fundamental II da EEAT. Dada a natureza situada deste trabalho, resolvemos tomar como objeto maior a Prova Brasil devido a esse instrumento de avaliação nacional marcar tão profundamente o insucesso da referida instituição de ensino quanto ao desempenho de seus estudantes em relação as competência para ler e interagir com os mais variados gêneros discursivos. Compreender esse aparente insucesso do processo de ensino-aprendizagem da EEAT, principalmente no que tange ao ensino de língua portuguesa, verificando o que a Prova Brasil exige, pode subsidiar o desenvolvimento de ações que venham dirimir o descompasso que existe entre esses dispositivos (ensino de LP x Prova Brasil). Isso se reveste de grande relevância porque entendemos que o ensino da leitura e da escrita como prática social deve possibilitar, a cada aluno, sucesso escolar e melhora considerável na autoestima; à escola, melhores índices e também melhor imagem perante a sociedade; aos professores, o sentimento de dever cumprido; ao Brasil, a inserção de cidadãos mais preparados para lidar com a escrita no mundo da escola, dos negócios, da economia, entre outras esferas de atividade humana. Para trilhar esse caminho, uma longa jornada foi percorrida. Nessa estrada, as marcas deixadas pelas idas e vindas delinearam esse projeto de intervenção que, a partir de agora, descrevemos com base nos dados gerados pela aplicação de alguns instrumentos de pesquisa, são eles: (i) questionários; (ii) modelo 2011 da Prova Brasil e questões disponibilizadas no banco de dados do INEP; (iii) simulados; (iv) sessões reflexivas; (v) anotações de aulas e/ou reuniões; (vi) formulário de análise das questões e dos descritores da Prova Brasil; (vi) relatórios emitidos pelo SIGEDUC, INEP e PDDE. No decorrer desse projeto, tais instrumentos se dividiram em dois agrupamentos de ação de linguagem: o primeiro se volta para o trabalho feito com os estudantes do 9 o ano e o segundo para o desenvolvimento de subsídios para nossa própria (e paulatina) ação-reflexãoação.

20 Para iniciar a geração de dados junto aos estudantes, fizemos a aplicação de um questionário (ver apêndice A). Com o objetivo de coletar informações sobre alguns aspectos da vida escolar e das condições socioeconômicas e culturais dos discentes. Esse instrumento foi elaborado com base no questionário 1 utilizado pelo INEP, ano 2013, que faz parte da Prova Brasil. Outro instrumento de pesquisa utilizado foi o simulado com questões da Prova Brasil. Foram três simulados que tiveram a finalidade de identificar as principais dificuldades encontradas pelos alunos para responderem as questões de leitura do exame. Um terceiro instrumento foi a gravação em áudio de sessões reflexivas. Nessas sessões, dividimos os trinta e nove colaboradores em grupos compostos por seis pessoas com o intuito de entendermos quais estratégias de leituras os alunos mobilizavam para, nos itens do simulado, escolherem uma opção de resposta e não outra, haja vista que a Prova Brasil é uma avaliação de múltipla escolha. Adotamos como critério para o agrupamento dos estudantes o percentual de acertos nos descritores repetidos, assim, por exemplo, um grupo era composto por alunos que acertaram a marcação nas duas vezes que o descritor 1 apareceu; o outro era composto por alunos que erraram uma e acertaram a outra; e um terceiro por estudantes que erraram as duas marcações. Paralelamente, para subsidiar nossa própria ação-reflexão-ação, utilizamos anotações de aulas e/ou reuniões; formulário de análise das questões e dos descritores da Prova Brasil; relatos do corpo docente, relatórios emitidos pelo SIGEDUC, INEP e PDDE. 2.4 CENÁRIO DA INVESTIGAÇÃO O cenário desta pesquisa está diretamente ligado ao processo de ação-reflexão dos baixos índices alcançados pela EEAT, uma das principais instituições de ensino da cidade de Extremoz, na Prova Brasil. Nesse sentido, enquanto território para reflexão e ressignificação do processo ensino-aprendizagem da leitura, a prova em questão, a cidade e a escola compõem o cenário educacional que passamos a descrever. 1 Disponível em: <//portal.inep.gov.br/web/saeb/questionarios-contextuais>. Acesso em: 9 mar. 2014.

21 2.4.1 Macrocenário: Prova Brasil A Prova Brasil é resultante de um complexo de ações governamentais que visam à democratização do ensino. Essas ações, no geral, vêm trazendo benefícios para a população brasileira, principalmente para as pessoas de classes sociais menos favorecidas. A essência dessas iniciativas do Governo Federal é promover o acesso universal ao ensino fundamental de nove anos (antigo primeiro grau) na tentativa de diminuir as desigualdades sociais. Entretanto, por vários fatores, esse direito assegurado constitucionalmente não garante que a educação oferecida nas escolas públicas seja equitativa e de boa qualidade. Em busca de qualificar a educação brasileira, foi lançado em 2007 o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), que se organiza em torno de quatro eixos: educação básica; educação superior; educação profissional e alfabetização. O PDE tem por objetivo criar condições não só de acesso à escola, mas, antes de tudo, garantir que a educação oferecida seja capaz de contribuir para o desenvolvimento de brasileiros que ajam crítica e reflexivamente no contexto em que se inserem, como cidadãos cônscios de seu papel num mundo cada vez mais globalizado. No que tange à educação básica, as metas do PDE contribuem para que as escolas e secretarias de educação possam viabilizar o atendimento de qualidade aos alunos. Isso porque, para conseguirmos atingir as metas traçadas para a educação brasileira, é necessário, em primeiro lugar, que as iniciativas do MEC possam beneficiar as crianças na sala de aula, oferecendo oportunidades de aprendizagem relevantes para todos. Assim, para identificar quais são as escolas que apresentam maiores fragilidades no desempenho escolar, o PDE dispõe de um instrumento denominado Índice da Educação Básica (IDEB). Com a publicação do IDEB de cada escola, a sociedade pode acompanhar as políticas implementadas pelas diferentes esferas do governo. O IDEB combina dois indicadores: a aprovação dos estudantes nas séries do ensino básico e o desempenho deles na Prova Brasil nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática. A Prova Brasil e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) são avaliações para diagnóstico, em larga escala, desenvolvidas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC) que têm o objetivo de avaliar a qualidade do ensino oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados e questionários socioeconômicos. Diferentemente das provas aplicadas

22 costumeiramente em sala de aula, a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc Prova Brasil) foi construída metodologicamente para avaliar sistemas de ensino e não alunos. Nos testes aplicados a cada dois anos na quarta e na oitava séries (quinto e nono anos) do ensino fundamental, os estudantes devem demonstrar proficiência nas questões de linguagem e matemática. A mesma prova é aplicada em todo o Brasil e, dessa forma, é possível avaliar a qualidade da escola e do nível educacional do município. No questionário contextual, aplicado em conjunto, os estudantes fornecem informações sobre fatores de contexto que podem estar associados ao desempenho. Professores e diretores das turmas e escolas avaliadas também respondem a questionários que coletam dados demográficos, perfil profissional e de condições de trabalho. A partir das informações do Saeb e da Prova Brasil, o MEC e as secretarias estaduais e municipais de Educação podem definir ações voltadas ao aprimoramento da qualidade da educação no país e a redução das desigualdades existentes, promovendo, por exemplo, a correção de distorções e debilidades identificadas, direcionando recursos técnicos e financeiros para áreas apontadas como prioritárias. Para os professores, os resultados permitem verificar, nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática, as habilidades que foram desenvolvidas e quais ainda precisam de um esforço adicional. Dessa forma, os educadores contam com informações sobre as dificuldades apresentadas pelos estudantes, criando-se espaço de diálogo e reflexão em busca de melhores estratégias de ensino e aprendizagem, com vista à elevação da qualidade de ensino. As provas são aplicadas por profissionais de uma empresa contratada exclusivamente para esse fim. Esses aplicadores são treinados para manter a padronização dos testes em âmbito nacional. Para os alunos do 9 o ano do Ensino Fundamental e do 3 o ano do Ensino Médio, os aplicadores fazem apenas a leitura das orientações do teste, cabendo aos próprios alunos a leitura dos procedimentos para preenchimento do formulário de respostas e a interpretação das questões. O tempo total estipulado para a realização das provas é de 2 horas e 30 minutos, divido em cinco partes. As primeiras quatro partes (de 25 minutos cada) são para responder aos blocos composto por 13 questões de múltipla escolha com foco em uma resposta correta; dentre quatro alternativas apresentadas, os últimos 50 minutos do tempo são destinados para a marcação do gabarito e o preenchimento do questionário contextual.

23 Assim, como a Prova Brasil é dividida em quatro blocos, dois de Matemática e dois de Língua Portuguesa, para efeitos didáticos na realização desse projeto, dividimos a aplicação dos blocos de Língua Portuguesa em duas etapas, que denominados de simulado 1 e 2. Esse procedimento metodológico foi adotado levando em consideração os seguintes motivos: a) primeiro contato dos colaboradores com esse tipo de avaliação; b) nenhuma oficina de leitura fora realizada até então; c) nosso interesse não era mensurar o tempo para a realização da atividade, e sim mapear as dificuldades que os alunos apresentavam para responderem ao exame, independentemente do tempo; d) diagnosticar as dificuldades mais recorrentes para a elaboração das oficinas de leitura. Feita essa explanação geral sobre a Prova Brasil, focalizaremos, no capítulo de análise, especificamente o caderno de Língua Portuguesa tanto para mapear os conhecimentos requeridos quanto para identificar as práticas de letramento (in)visibilizadas que subjazem desse instrumento de avaliação nacional. 2.4.2 Mesocenário: Extremoz Extremoz é uma cidade antiga. Nasceu no século XVII, permeada por lendas que até hoje circundam o imaginário dos moradores mais velhos. Esse patrimônio cultural envolve o maior símbolo da cidade: a Lagoa de Extremoz. Figura 1 - Lagoa de Extremoz. Fonte: Natan Mota (2015).

24 Essa cidade foi a primeira Vila da Capitania do Rio Grande do Norte. Na época, era um importante centro econômico da região, inicialmente com a criação de gado e depois com o cultivo da cana-de-açúcar. Hoje, a cidade faz parte da região metropolitana de Natal, ficando a 20 km aproximadamente de distância da capital do Rio Grande do Norte. O município tem uma população estimada em 25 mil pessoas. Segundo o IBGE (2010), a estimativa para 2015 é o aumento de mais de 2.500 pessoas, atingindo o número total de 27.525 habitantes. Tal aumento populacional ocorreu especialmente na área urbana, formada por cinco conjuntos habitacionais populares, dentre os quais, o mais popular, é composto por, aproximadamente, 790 casas. Essa crescente urbanização da cidade de Extremoz, como em outros municípios do Brasil, está sendo impulsionada pelos investimentos Federais, como o projeto Minha Casa, Minha vida. Figura 2 - Mapa do Rio Grande do Norte: divisão metropolitana de Natal. Fonte: mapasblog A economia do município é composta basicamente por atividades ligadas à agropecuária, comércio, indústria e serviços. A cidade de Extremoz é considerada um gerador de turismo, principalmente por causa da Praia de Genipabu, conhecida mundialmente. Por se localizar próxima a capital, boa parte de seus moradores trabalham em Natal. Tendo em vista o crescimento populacional, o número de escolas não comporta a quantidade de alunos que desejam se matricular na rede estadual ou municipal de ensino. Atualmente, essa rede é constituída por vinte escolas municipais, seis estaduais e um polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB), que funciona em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

25 2.4.3 Microcenário: turma de 9 o ano da Escola Almirante Tamandaré A Escola Estadual Almirante Tamandaré (EEAT), campo da nossa intervenção, é uma das principais instituições de ensino do município de Extremoz. Está localizada na Rua Almirante Newton Braga n o 145, Conjunto Estrela do Mar, na zona urbana. Além desse espaço, possui mais dois anexos. O mais antigo está localizado na comunidade de Vila de Fátima, na zona rural. O mais recente funciona na Escola Técnica Estadual Professor Hélio Vasconcelos, que se localiza no Conjunto Jardins de Extremoz, atendendo somente às turmas do 1 o ano do ensino médio no turno da manhã. Figura 3: Entrada Principal da EEAT. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Essa instituição de ensino foi construída em 1981, por iniciativa da Marinha do Brasil, a fim de atender às famílias dos marinheiros vindas do Rio de Janeiro/RJ para residir no primeiro conjunto habitacional da cidade, chamado Estrela do Mar, também construído por ela. A escola recebeu esse nome em homenagem ao patrono da Marinha de Guerra do Brasil: o Marechal Joaquim Marques Lisboa, mais conhecido como Almirante Tamandaré. Diante do contexto em que fora construída, era uma referência no município. Em 1982, começou a atender alunos do 1 o ao 8 o ano do Ensino Fundamental. Durante o primeiro ano de atividade, a Escola foi mantida pela Marinha e, no ano seguinte, o prédio foi doado para a Secretaria de Educação, Cultura e Desportos do Rio Grande do Norte (SEEC), tendo sido regulamentada através do Ato de criação n o 8.724, publicado no Diário Oficial n o 5.664, de 27/09/83.

26 Por ser uma escola de referência na região e por atender a uma grande demanda de alunos, a instituição passou a oferecer, em l984, a educação de jovens e adultos e, em 1987, o Ensino Médio, sendo pioneira no município de Extremoz nessa modalidade de educação. Por volta do ano de 2005, a falta de professores e uma gestão pouco compromissada deixaram marcas profundas na escola, que perdeu, consequentemente, seu status de referência e passou a ser uma instituição pouco atrativa para a comunidade de seu entorno. Nos últimos seis anos, a escola vem se libertando desse estigma. Hoje, por estar localizada no meio de três conjuntos habitacionais, por ter uma estrutura relativamente boa e por oferecer o ensino médio, essa instituição de ensino está voltando a ser uma referência no município. O público atendido pela escola advém dos conjuntos habitacionais, da zona rural e das comunidades vizinhas. Os estudantes pertencem à famílias de média e baixa renda. Em sua maioria, são filhos de militares da marinha, pequenos comerciantes, operários, funcionários públicos e agricultores. Em 2015, a Escola Estadual Almirante Tamandaré oferta educação básica no ensino fundamental II (6 o ao 9 o ano), ensino médio e EJA. O anexo (zona rural) funciona apenas no horário noturno com as turmas de ensino médio regular e EJA. Por falta de espaço para receber a demanda de alunos, que só aumenta a cada ano, em 2015, os estudantes que estão no 1 o ano do ensino médio foram acomodados em outro anexo que funciona no turno matutino a 1 km de distância da sede. No tocante à estrutura física, essa escola possui onze salas de aula todas com portas de vidro - uma biblioteca, uma sala de recursos multifuncionais, uma sala multiuso, um laboratório de ciências, seis banheiros (um feminino, um masculino, dois para pessoas com necessidades especiais e dois para funcionários), uma sala dos professores, uma cozinha, um almoxarifado, uma sala para a direção, uma secretaria e uma quadra de esportes. Além disso, todas as salas de aula e as dependências administrativas da escola são climatizadas. No que se refere a equipamentos, possui vinte e um computadores distribuídos na secretaria, na direção, na sala dos professores e no laboratório de informática. Possui também um notebook, quatorze projetores de multimídia, uma copiadora, um DVD player, um televisor, duas caixas de som, um microfone e um aparelho de som portátil. Quanto ao corpo discente, segundo dados do Sistema Integrado de Gestão Educacional (SIGEDUC), a Escola Almirante Tamandaré contabiliza atualmente 1.576 alunos matriculados, distribuídos da seguinte forma: 741 nos anos finais do ensino fundamental, 642

27 no ensino médio e 193 na EJA ensino médio. Desse total, 24 apresentam necessidades educacionais especiais (NEE). De acordo com dados do Sistema de Acompanhamento de Pessoal (SAGEP), a Escola tem, em seu quadro, trinta e sete profissionais que trabalham diretamente com o processo de ensino-aprendizagem. Desse total, 100% têm graduação, 28% já concluíram algum curso de especialização e 8% estão cursando o mestrado. Em relação aos professores de Língua Portuguesa, a escola dispõe de sete profissionais, sendo que dois deles estão assumindo outras funções (direção e vice-direção) e outro está afastado (licença saúde). Apesar da crescente melhoria (principalmente na estrutura física) que a Escola vem apresentando desde 2009, o IDEB dela é o mais baixo de Extremoz. De 2005 a 2013, atingiu a meta estabelecida pelo Governo para o município apenas uma vez, precisamente em 2007. Gráfico 1 - IDEB observado e metas projetadas (2005-2013). Fonte: IDEB (2013). Em 2013, conforme mostra o gráfico 1, a instituição atingiu a média 2.9. Mesmo assim, continua abaixo da meta estabelecida pelo Governo (3,2) e abaixo da média alcançada por todas as escolas municipais e estaduais do município de Extremoz, conforme mostra o gráfico 2.

28 Gráfico 2 - Média do IDEB (2013) das escolas de Extremoz/RN. Fonte: IDEB (2013). No entanto, há de se considerar que, apesar de ter a nota mais baixa do município, a EEAT cresceu quatro pontos em 2013, enquanto a média do Brasil, do Estado do Rio Grande do Norte e do município de Extremoz caiu em relação a 2011 (ver tabela 1). Tabela 1 - Resultados e Metas do IDEB ANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ESFERA IDEB OBSERVADO META 2005 2007 2009 2011 2013 2013 2015 IDEB Brasil 3.5 3.8 4.0 4.1 4.0 4.1 4.5 IDEB Estado 2.6 2.7 2.9 3.4 3.1 3.4 3.8 IDEB Município 2.7 2.7 3.0 3.1 2.9 3.5 3.9 IDEB E.E. ALM. TAMANDARÉ 2.4 2.4 2.2 2.5 2.9 3.2 3.6 Fonte: INEP (2015). Esses resultados podem ser fruto do esforço que a ação conjunta de gestores, professores, pais e alunos, desde 2009, vêm fazendo para melhorar a escola e superar a crise vivida por ela antes desse período. No entanto, e, apesar dessa melhoria, um dado preocupante é que, em 2012, a escola apresentou uma média elevada em relação aos outros entes federativos no que se refere à distorção idade x série. Isso porque mais da metade dos alunos matriculados no ensino fundamental (54,7%) está fora da faixa etária. Em 2013, esse número aumentou para 68,5%, o que significa um aumento de 13,8% em relação ao ano anterior, estando muito acima da média nacional, estadual e municipal (ver tabela 2).

29 Tabela 2 - Distorção idade-série DISTORÇÃO IDADE-SÉRIE (MÉDIA, EM %) ANO REFERÊNCIA: 2011 ESFERA ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO MÉDIO Brasil 22.0 31.1 Estado 29.9 43.5 Município 37.9 47.4 E. E. Alm. Tamandaré 54.7 60.8 Fonte: Relatório do PDDE (2014). É importante lembrar que esses dados interferem diretamente no resultado do IDEB, já que a combinação utilizada para produzir esse índice é o fluxo escolar (passagem dos alunos pelas séries sem repetir) e o desempenho dos estudantes nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Constata-se também que, até agosto de 2015, a escola tinha 245 horas/aula ociosas, isto é, sem professor, conforme mostra a tabela 3. Tabela 3: Necessidades de professores na EEAT COMPONENTE CURRICULAR CH TOTAL Arte 9 Ciências 12 Educação Física 24 Ensino Religioso 16 Física 10 Geografia 46 História 24 Língua Espanhola 12 Língua Inglesa 16 Língua Portuguesa 40 Matemática 36 Total 245 Fonte: SIGEDUC (ago. 2015). Faltando apenas quatro meses para finalização do ano letivo e diante das reinvindicações realizadas pela sociedade, inclusive, várias audiências públicas sobre a falta de professores nas escolas do município, nas quais a escola participou efetivamente, o Governo Estadual enviou professores para suprir parcialmente essa demanda. Faltam ainda professores de língua portuguesa, geografia, história, inglês e educação física para completar o quadro de profissionais da referida instituição de ensino.

30 Paralelamente a todas essas questões, a escola sofre com as constantes quedas e oscilações no fornecimento de energia e com curtos-circuitos em razão das precárias instalações elétricas que, além de serem bastante antigas, encontram-se sobrecarregadas com as instalações de novos equipamentos, como aparelhos de ar condicionado, computadores. A combinação desses fatores negativos acima relacionados deixa fragilizado o processo de ensino-aprendizagem da escola. No entanto, a equipe de professores, coordenadores, pais e alunos, junto à gestão escolar, vêm unindo esforços para buscar soluções que viabilizem as condições necessárias para uma educação que valorize as potencialidades de cada um dos sujeitos envolvidos, procurando legitimar as ações que podem desencadear mudanças, tendo em vista a construção e a apropriação de conhecimento, valores e práticas sociais. 2.5 CARACTERIZAÇÃO DOS COLABORADORES Para realização deste projeto de intervenção, contamos com a participação de um total de 42 colaboradores que estão cursando o último ano do ensino fundamental no ano de 2015. Além deles, contamos com a colaboração do diretor e da coordenadora pedagógica geral. Esse grupo se dispôs voluntariamente a participar deste estudo e nos autorizou (conforme os termos do apêndice E) a utilizar entrevistas, questionários, fotos e textos para composição do nosso corpus. Salientamos que, conforme consta no apêndice, à época da assinatura dos termos de autorização, a dissertação tinha como nome provisório Desafios da Prova Brasil via projeto de letramento. Em seguida, faremos uma breve descrição de nossos colaboradores de pesquisa, levando em consideração o papel que cada um ocupa nesse trabalho. O diretor da EEAT é formado em Letras pela Universidade Potiguar (UNP). Ele é servidor efetivo na Rede Estadual de Ensino há oito anos e tem desenvolvido suas atividades durante todo esse período na mencionada escola. A coordenadora pedagógica geral tem demostrado engajamento com as questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem, em especial para formação de leitores. Formou-se em Pedagogia pela Ibrapes UVA. Está cursando uma especialização em Gestão de Políticas Públicas na UFRN e trabalha na educação há três anos.

31 Os alunos da escola, que compõem o maior grupo, são provenientes da zona urbana do município de Extremoz, em especial, dos conjuntos habitacionais populares, onde a escola ocupa posição estratégica por se localizar no meio deles. Eles são, ao todo, quarenta e dois alunos de uma turma de 9 o ano (turno matutino), que se submeterão, no corrente ano, à aplicação da Prova Brasil. Esse trabalho se iniciou em 2014 quando esses colaboradores ainda estavam no 8 o ano. Os dados gerados pelo questionário do aluno (apêndice A) demonstram que esse grupo de colaboradores é constituído por vinte e quatro meninas e dezoito meninos, com idade entre 14 e 15 anos. Desse universo, 87,8% nunca repetiram o mesmo ano escolar, isto é, não foram reprovados; 73,2% começaram a frequentar a escola no maternal; 75,6% estudam na escola pública desde a quinta série; 95,15% dos responsáveis (homens e mulheres) por essas crianças sabem ler e escrever; 56,1% dos alunos não têm acesso à internet em casa. Um dado que sobressai dessa caracterização é o fato de que a totalidade dos pais e/ou responsáveis pelos alunos afirma incentivá-los a estudar, a frequentar a escola com assiduidade, a ler e a escrever. No entanto, apenas 70,7% mostram interesse em saber o que acontece na escola e/ou demonstram conversar com os filhos sobre o assunto. Quanto às práticas de leitura, 39% dos estudantes envolvidos declaram ler com frequência em casa, enquanto que 58,5% assistem à TV, navegam na internet ou jogam vídeo game por mais de duas horas seguidas; 17,1 % desenvolvem mais de duas horas de atividades domésticas variadas. Em relação à situação socioeconômica desses estudantes, 36,6% participam do programa Bolsa Família; 58,6% vivem com renda igual ou superior a 2 salários mínimos provenientes da remuneração dos pais, que desenvolvem profissões diversificadas. São professores, biólogos, domésticas, agentes de saúde, cuidadores de cavalos, empresários, caseiro, pedreiro, sendo que 90,2% deles moram na zona urbana. Esses dados, a nosso ver, rompem com o estereótipo de que, na escola pública, só tem estudantes advindos de famílias de baixa renda 2, que não gostam de ler nem de estudar ou que vivem em situação de risco. Na EEAT, há adolescentes nessa situação, todavia, o que se destaca é o protagonismo que eles e os outros apresentam nas ações desenvolvidas no projeto e na escola, o que, em alguns aspectos, conforme demonstraremos no capítulo quatro, supera as expectativas da pesquisadora envolvida. 2 De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, é classificado como baixa renda a população pertencente às classes D e E, ou seja, que tem renda familiar inferior a R$1.115 ou US$641 (de acordo com a cotação do dólar de 1º de janeiro de 2010 US$1,00 = R$1,74) ou seja, aproximadamente U$ 5 por dia por pessoa.

32 2.6 CAMINHOS PERCORRIDOS NA GERAÇÃO DOS DADOS A geração de dados deste projeto de intervenção contemplou o período de janeiro de 2014 a setembro de 2015. Em 2014, o ano letivo iniciou-se cedo na efervescência do maior evento midiático do ano a Copa do Mundo no Brasil. Ademais, para efeito de clareza, é importante ressaltar que os alunos que hoje estão no 9 o ano são os mesmos que, em 2014, estavam no 8 o ano, quando se iniciaram as atividades deste projeto. É válido mencionar ainda que, no total, a escola tem cinco turmas de 9 o ano (duas no turno matutino e três no turno vespertino). Optamos por trabalhar com apenas uma turma para que a dimensão do corpus desta pesquisa não ultrapassasse o limite do tempo para a análise dos dados gerados. Isso não significa dizer que as demais turmas que não estão envolvidas diretamente tenham ficado de fora do processo. Ao contrário, os professores de Língua Portuguesa e de Matemática desses alunos foram mobilizados para que o trabalho fosse também realizado com eles. Conforme aponta Kleiman (1999), a sala de aula é o ambiente privilegiado para a interação através da linguagem entre professor e alunos. Assim, buscando a construção de laços de confiança entre a pesquisadora/professora e os demais participantes condição necessária para o desenvolvimento de uma pesquisa de intervenção feito a nossa iniciamos a nossa pesquisa. Dessa maneira, ao menos duas vezes por semana, estávamos com os alunos nas aulas de Língua Portuguesa. Inicialmente, para sondar o que eles pensavam sobre leitura, Prova Brasil e a nota da Escola no IDEB, provocamos um debate sobre esse ponto e nos restringimos a ouvir nossos alunos. Nesse debate, algumas assertivas nos surpreenderam, exemplo de: a gente sabe ler, mas às vezes não consegue entender o que os professores pedem nas provas ; as notas são baixas nas provas porque a gente não entende o que estão pedindo pra gente fazer. Esse debate provocou nosso interesse para saber a opinião dos professores sobre o potencial de leitura dos alunos da EEAT. Feita a provocação em reunião com os professores, ouvimos alguns dizerem que os alunos não sabiam ler. Diante dessa afirmação, o que pudemos observar é que ler tem significados diferentes para os grupos díspares. Para os estudantes, ler significa o processo de decodificação das palavras e frases, enquanto que para os professores ler assume o sentido de compreender e interpretar textos escritos de diversos tipos com diferentes intenções e objetivos.

33 Ao compararmos essas informações com os dados oficiais fornecidos pelo INEP, observamos que, de fato, há um descompasso entre aquilo que os estudantes dizem saber, o que os professores idealizam que eles saibam e o que a Prova Brasil quer que os alunos demonstrem saber. Cientes dessa contradição e em busca de caminhos para o desenvolvimento desta pesquisa, procuramos fazer uma análise dos dados oficiais fornecidos pelo INEP, no que se refere ao IDEB da EEAT para apresentarmos a todos os envolvidos (professores, coordenadores e alunos). Tomamos como pressuposto inicial nosso conhecimento prévio sobre a situação de nossa escola quanto à proficiência em leitura medida pela Prova Brasil; depois, conforme o projeto foi se desenvolvendo, fomos criando estratégias para identificar quais eram as maiores dificuldades dos alunos e da própria escola quando se refere à participação nessa avaliação nacional. Algumas dessas estratégias merecem destaque. Uma delas foi a aplicação do questionário contextual que trouxe dados quantitativos sobre a vida escolar e as práticas de leitura, desmistificando o que o senso comum pensa: na escola pública, a maioria dos alunos estão em situação de risco e eles não gostam de ler nem de escrever. A título de ilustração, destacamos os dados do questionário que demonstram que apenas 12% dos alunos dizem não gostar de ler, enquanto que 95,2% consideram a leitura muito importante para suas vidas. Esses números nos ajudam a refletir sobre o processo de naturalização de estereótipos que são histórico, cultural e socialmente construídos. O que talvez falte para esses alunos seja a explicitação de objetivos de leitura e de estratégias para que possam ler mais e com proficiência. Nesse sentido, Solé (1998, p. 44) afirma que: [...] é imprescindível o leitor encontrar sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a leitura, e para isso tem de conhecer o que vai ler e para que fará isso; também deve dispor de recursos - conhecimento prévio relevante, confiança nas próprias possibilidades como leitor, disponibilidade de ajudas necessárias, etc que permitam abordar a tarefa com garantias de êxito; exige também que ele se sinta motivado e que seu interesse seja mantido ao longo da leitura. Nessa perspectiva, destaca-se a necessidade de propiciar às crianças, jovens e adultos as possibilidades de envolvimento efetivo em práticas sociais de leitura e escrita, como as realizadas neste projeto de intervenção. Além disso, a aplicação do questionário evidenciou uma das práticas de letramento (in)visibilizadas na realização da Prova Brasil: a marcação do gabarito. Se partirmos do pressuposto de que o invisibilizado é algo que está lá, mas não está dado, temos de pensar em

34 estratégias para torná-lo visível. Em relação à Prova Brasil, pressupõe-se que o aluno do 9 o saiba preencher adequadamente um gabarito, até porque esse instrumento é parte constitutiva das avaliações nacionais; no entanto, a escola, muitas vezes, não ensina como fazer isso, e os alunos têm demonstrado dificuldades para lidar com essa prática. A segunda atividade em destaque, que envolveu a participação de todos os colaboradores, foi a realização de três simulados com base nos modelos de questões disponibilizadas pelo MEC. Esses simulados nos possibilitaram mapear as maiores dificuldades dos alunos em relação ao domínio da leitura. Destacamos ainda outras ações que, de igual modo, foram importantes para o desenvolvimento deste projeto de intervenção, tais como: as oficinas de leituras, a exposição dos dados da pesquisa para os professores, a realização de um simulado com toda a escola, a leitura e a discussão de livros sobre temas variados, a utilização do espaço da biblioteca escolar para a realização de aulas, a realização de um sarau, a produção de vídeos.

35 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para a fundamentação deste projeto de intervenção, baseamo-nos em dois vértices principais. O primeiro é a concepção de língua(gem) na perspectiva bakhtiniana, que concebe a linguagem [...] não só como um sistema abstrato, mas também como uma criação coletiva, parte de um diálogo cumulativo entre o eu e o outro, entre muitos eus e muitos outros (STAN, 1992, p. 12). Decorrente da concepção dialógica da língua(gem), tomamos a leitura como prática social, uma atividade de produção de sentido em que os sujeitos e seus conhecimentos são privilegiados em processos de interação constante. O segundo vértice advém dos estudos de letramento que compreendem a participação dos indivíduos nas práticas sociais em que se usa a escrita como tecnologia para a interação social e a busca de soluções para os problemas coletivos (KLEIMAN, 2000). 3.1 CONCEPÇÕES DE LÍNGUA(GEM) A ideia de que a língua(gem) se constitui na interação com o outro, em constante colaboração conforme a teoria dialógica da língua(gem) proposta pelo Círculo de Bakhtin se confirma, por exemplo, na participação mútua dos alunos no processo de aprendizagem, conforme salienta a interação entre aluna e professora: - Professora, o que quer dizer essa palavra? ((pergunta Maria Elisângela 3, aluna do 8 o ano, apontando para a palavra hesitação, presente na Prova Brasil modelo 2011.)) - Essa palavra quer dizer incerteza, dúvida. - Ah, professora, agora sim, consigo responder à questão. Registro de anotação da aula do dia 23 de abril de 2014. Nessa perspectiva, a língua não pode ser entendida como um código estático, mas como algo vivo, produto de um trabalho histórico, cultural e de experiências com o mundo e com o outro. De fato, a linguagem é uma criação coletiva, parte de um diálogo cumulativo entre o eu e o outro, dotado de significados. Para o círculo bakthiniano, Toda 3 Para preservação da face de nossos colaboradores, utilizamos pseudônimos.

36 comunicação impõe um aprendizado da linguagem do outro (STAM, 1992, p. 12) e é exatamente isso o que podemos verificar no breve diálogo da aluna com a professora. Vale notar que nem co-texto nem decodificação foi suficiente para Maria Elisângela atribuir um sentido para a palavra hesitação, pois lhe faltava a experiência prévia com esse vocábulo, o que é construído em contato com o outro, no caso, com a professora. É por isso que a concepção dialógica da língua(gem) reposiciona a importância da língua vista como um modelo abstrato ideal, um sistema sincrônico homogêneo que rejeita as manifestações individuais (fala) e enfatiza, em seu lugar, a língua, no seu uso prático, inseparável de seu conteúdo ideológico ou relativo à vida (BAKHTIN, [1929] 2009, p.99), isto é, o discurso vivido e partilhado por seres humanos em interação social seja este falado ou escrito. Assim, a língua/linguagem é entendida como um processo de interação social, e como nenhuma sociedade humana prescinde de comunicação, nenhuma existe sem uma língua. A linguagem é, pois, no sentido mais amplo, um fenômeno ideológico por excelência [...], e o meio mais puro e mais sensível de interação social (BAKHTIN, [1929] 2009, p.31). Dessa compreensão de língua(gem) como um construto dialógico e interacional podemos compreender que a palavra é imprescindível à vida social, seja sob a forma de discurso interno, seja como texto escrito, e tem a capacidade de registrar todas as fases transitórias do processo social. De acordo com essa concepção, é através da linguagem que os indivíduos se tornam conscientes e começam a agir sobre o mundo, com e contra os outros. Aqui, não podemos deixar de destacar as relações de poder que perpassam pela/e através da linguagem. Para Bakhtin, a linguagem é um campo de batalha social que entra nos arranjos hierárquicos de poder, dessa forma, [...] não são apenas palavras o que pronunciamos ou escutamos, mas verdades ou mentiras, coisas boas ou más, importante ou triviais, agradáveis ou desagradáveis, etc. A palavra está carregada de um conteúdo de um sentido ideológico ou vivencial. É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida (BAKHTIN, [1929] 2009, p. 99). Por essas palavras, torna-se possível compreender as relações de poder presentes na interação humana, em especial na linguagem, o que nos faz entender porque é tão caro para a sociedade moderna alcançar o domínio das técnicas de externalização da linguagem, como por exemplo, as práticas de escrita e as multifaces da leitura. O domínio dessas técnicas se

37 apresenta como uma ferramenta eficaz de engajamento, de mudança social, de interação, de força e de envolvimento com o mundo tecnológico no qual estamos inseridos. Compreender a língua da maneira como a temos apresentado até aqui nos faz pensar que o relacionamento com uma situação social determinada, nesse caso, as práticas de leituras dos alunos do 9 ano, pode ser imbuído de significados que se constroem na interação entre os sujeitos envolvidos (professor-aluno, aluno-professor, aluno-aluno). Para Bakhtin ([1929] 2009, p. 117) [...] toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apoia sobre mim numa extremidade, na outra apoia-se sobre o meu interlocutor. A palavra é o território comum do locutor e do interlocutor. Dessa forma, observamos que, à medida que os papéis de locutor e de ouvinte se interpolam, as teias de aprendizagem vão se tecendo e quando nós ensinamos, aprendemos e, quando aprendemos, ensinamos. Essa troca entre professor e alunos nos faz compreender que somos sujeitos com histórias e vivências singulares em constante (re)construção e que a linguagem é um elemento eminentemente dialógico que dinamiza as transformações sociais. Outro conceito fundante para esse projeto é o de gênero discursivo, por entendermos que os textos apresentam, além da materialização de seus elementos linguístico-textuais, os aspectos sócio-histórico-ideológicos da situação enunciativa a que estão vinculados (BAKHTIN, ([1952-53] 2011). 3.2 ESTUDOS DE LETRAMENTO A escrita em nossa sociedade exerce um papel preponderante e a escola, instituição legítima para o seu ensino-aprendizagem, ainda não tem sido capaz de garantir o domínio pleno dessa tecnologia a todos que a frequentam. Assim, se por um lado, entendemos que o domínio da leitura e da escrita pode garantir a participação plena dos indivíduos na sociedade grafocêntrica, por outro, temos de pensar que a escola deve desenvolver estratégias eficazes de ensino e aprendizagem que habilitem o estudante para essa participação.

38 No tocante à Prova Brasil, é preciso desenvolver ações para superar o descompasso que existe entre o que é ensinado na escola, o que é cobrado nas avaliações de rendimento e o que realmente tem significado para os alunos. Por isso, a leitura e a escrita devem ser entendidas [...] como uma prática sociocultural, situada, voltada, particularmente, para agir no mundo (OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2011, p. 13). Todavia, é perceptível que, nas discussões sobre leitura na escola, a declaração mais comum dos professores é que seus alunos não gostam de ler. Talvez isso ocorra porque, na maioria das vezes, essas leituras não fazem sentido para eles, ou seja, não são situadas ou não apresentam objetivos específicos para os envolvidos. São práticas desmotivadoras, realizadas por obrigatoriedade e, em geral, não acrescentam conhecimento à vida desses adolescentes. É o ler para demonstrar ao professor que sabe ler. Apenas isso. Nesse sentido, Solé (1998, p. 42) afirma: Para que alguém possa se envolver na atividade que o levará a compreender um texto escrito, é imprescindível verificar que esta tem sentido. Para poder atribuir sentido à realização de uma tarefa, é preciso que se saiba o que se deve fazer e o que se pretende com ela; que a pessoa que a realizar se sinta competente para efetuá-la e que a tarefa em si resulte motivadora. Para tanto, é preciso que o professor conheça as características e dimensões do ato de ler para propor tarefas que não trivializem essa atividade, ou que limitem o potencial do leitor de engajar suas capacidades intelectuais, afinal, compreender um texto não parece uma tarefa fácil, porque o próprio objeto a ser compreendido é complexo, ou, alternativamente, porque não conseguimos relacionar o objeto a um todo maior que o torne coerente, ou, ainda, porque o objeto parece indistinto, com tantas e variadas dimensões que não sabemos por onde começar a apreendêlo. De fato, a compreensão de um texto escrito envolve a compreensão de frases e sentenças, de argumentos, de provas formais e informais, de objetivos, de intenções, muitas vezes de ações e de motivações, isto é, abrange muitas das possíveis dimensões do ato de compreender. (KLEIMAN, 1989, pág. 10) Talvez a complexidade do objeto a ser compreendido, alinhado a falta de objetivos em relação à leitura no contexto escolar, explique o fato de que para grande parte das crianças o texto escrito é ininteligível, constituindo-se o maior obstáculo ao sucesso escolar. Kleiman (1989) afirma que a leitura que não surge de uma necessidade para chegar a um proposito não é propriamente leitura; quando lemos porque outra pessoa nos manda ler, como acontece frequentemente na escola, estamos apenas exercendo atividades mecânicas

39 que pouco têm a ver com significado e sentido. Aliás, essa leitura desmotivada não conduz à aprendizagem. Nesse contexto, é preciso que o professor crie oportunidades que permitam o desenvolvimento desse processo cognitivo que envolve o conhecimento linguístico, o conhecimento textual e o conhecimento de mundo que são ativados durante a leitura para poder chegar ao momento da compreensão, fazendo com que a leitura atinja a dimensão interacional. Essa dimensão interacional da leitura, quando está sob o controle e reflexão consciente do leitor torna esse sujeito na interação não apenas um leitor proficiente, mas também, muito mais importante, um leitor crítico. (KLEIMAN, 1989, pág. 11) É esse leitor proficiente, crítico, socialmente posicionado que desejamos formar, assim, na perspectiva da leitura, assumida nesse projeto de intervenção, o leitor é um sujeito ativo que processa o texto e lhe acrescenta seus conhecimentos, experiências e esquemas prévios. A leitura é um ato social, entre dois sujeitos leitor e autor que interagem entre si, obedecendo a objetivos e necessidades socialmente determinados. (KLEIMAN, 1989, p. 10). Isso posto, é possível constatar que se faz necessário ressignificar o trabalho com a leitura e a escrita de modo que os alunos sejam capazes de dar conta das demandas sociais que envolvam essas atividades, inseridas aí, aquelas advindas das avaliações sistêmicas existentes em nosso país, a exemplo, da Prova Brasil. Assim, com vistas a alcançar esse objetivo, consequentemente a ressignificação do processo de ensino/aprendizagem da leitura e da escrita, buscamos nos apropriar de alguns conceitos centrais dos estudos de letramento. O primeiro deles é o próprio conceito de letramento. Na sequência, veremos: práticas e eventos de letramento; projeto e agentes de letramento. Inicialmente, é necessário compreender que o conceito de letramento é complexo, podendo assumir ora um enfoque mais individual, ora mais social. No primeiro caso, remete ao desenvolvimento da capacidade metalinguística em relação à própria linguagem. Esse enfoque está relacionado às práticas específicas da escola que classificam o sujeito como alfabetizado ou não-alfabetizado, estabelecendo a divisão da sociedade em grupos orais e letrados, não dando espaço, muitas vezes, para que o sujeito desenvolva outras competências, tais como compreender fenômenos sociais relevantes, enfrentar situações-problema, elaborar propostas de intervenção na sociedade a partir dos seus conhecimentos, reconhecer a visão de mundo e crenças que estão imbuídos nos mais variados textos.

40 Esse caráter individual, competitivo e dissociado da situação, dá ênfase à existência de um sujeito independente do tempo e do espaço, para desenvolver a aprendizagem, em especial, da leitura e da escrita como um fim em si próprias. Nessa concepção, a escrita é um produto completo em si mesmo, que não está preso ao contexto de sua produção. Em oposição a esse conceito, Kleiman (2000) define letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para alcançar objetivos específicos. Esse enfoque social permite afirmar que os sujeitos envolvidos nessas práticas constroem relações colaborativas e coletivas que variam segundo a situação em que realizam as atividades de uso da língua escrita. São, portanto, práticas situadas, heterogêneas, variando segundo o objetivo que o grupo deseja alcançar. Essa concepção considera que as práticas de letramento, no plural, são social e culturalmente determinadas, e, como tal, os significados específicos que a escrita assume para um grupo social dependem do contexto e instituições em que ela foi adquirida (KLEIMAN, 1995, p. 21), pois considera a pluralidade e a diferença como elementos essenciais para dar sentido à situação, tanto em relação à interação entre os participantes como em relação aos processos e estratégias interpretativas e de utilização da escrita. Logo, compreendemos que as práticas de letramentos socialmente situadas são perpassadas pelas relações de poder que as sustentam e que se estabelecem entre as instituições sociais e seus integrantes, bem como são flexíveis, pois mudam de tempos em tempos para atender ao propósito dessas instituições. Essa abertura a mudanças mostra o caráter situado dos eventos de letramento que nascem das práticas sociais e são modelados por elas. Dessa forma, letramento é um processo contínuo, permeado por práticas sociais que se utilizam da escrita e da leitura para alcançar seus objetivos. Todavia, é importante salientar que o vocábulo prática não assume, nesse contexto, o sentido de aprender a fazer algo pela repetição, ou, como acontece na maioria das escolas, decorar um texto e escrevê-lo para mostrar ao professor que sabe fazer isso. A noção de práticas que quereremos enfatizar é algo mais subjetivo, abstrato, intrinsecamente ligado às questões históricas, culturais e sociais de um indivíduo que se utiliza do letramento para expor ideias, pensamentos, desejos, sentimentos. Assim, por mais que esse indivíduo realize práticas de letramento, algumas podem não ser passíveis de mensuração, pois podem não estar inteiramente contidas em atividades e tarefas observáveis. Isso se justifica, conforme salienta Barton e Hamilton (2000), ao afirmar que as práticas de letramento não podem ser limitadas a eventos de letramento simplesmente,

41 uma vez que os eventos são episódios observáveis que nascem de práticas e são modelados por elas, enquanto que as práticas de letramento são o que as pessoas fazem com o letramento. Entretanto, práticas não são unidades observáveis de comportamento, uma vez que elas também envolvem valores, atitudes, sentimentos e relações sociais, desta forma são bem mais abrangentes e subjetivas. A distinção que estamos estabelecendo entre evento de letramento e prática de letramento é resultante da compreensão de que a interação dos participantes, a partir de um texto escrito, é central nos eventos de letramento, enquanto que as práticas de letramento, envolvem não só o texto, mas toda a história, costumes, cultura, crenças e hábitos de uma determinada comunidade, por isso têm maior amplitude. Segundo Barton e Hamilton (2000), as práticas são moldadas por regras sociais que regulam o uso e a distribuição de textos, prescrevendo quem pode produzir e ter acesso a eles, e, para se ter um evento, onde o letramento é vivenciado e aprendido, esses domínios precisam ser estruturados e os contextos modelados, assim pressupõe-se que o público participante de um evento de letramento compartilha formas características de falar, agir, valorizar, interpretar e usar a linguagem escrita num determinado espaço e tempo, enfatizando a natureza situada do letramento, que sempre existe em um contexto social. Em suma, o letramento é mais bem compreendido como um conjunto de práticas sociais, observáveis em eventos que são mediados por textos escritos (BARTON; HAMILTON, 2000). Os eventos de letramento apresentam elementos básicos, tais como: (i) participantes, essencialmente humanos; (ii) ambiente, o lugar onde acontece; (iii) os artefatos, materiais usados para realizar o evento, principalmente o texto escrito; (iv) as atividades, leitura e escrita; (v) e o tempo, a hora que essa atividade acontece. Outro conceito fundante para este trabalho acadêmico é o de projeto de letramento. Segundo Kleiman (2000, p. 238), um projeto de letramento compreende [...] um conjunto de atividades que se origina de um interesse real na vida dos alunos e cuja realização envolve o uso da escrita, isto é, a leitura de textos que, de fato, circulam na sociedade e a produção de textos que serão lidos, em um trabalho coletivo de alunos e professor, cada um segundo sua capacidade. O projeto de letramento é uma prática social em que a escrita é utilizada para atingir algum outro fim, que vai além da mera aprendizagem da escrita (a aprendizagem dos aspectos formais apenas), transformando objetivos circulares como "escrever para aprender a escrever" e "ler para aprender a ler" em ler e escrever para compreender e aprender aquilo que for relevante para o desenvolvimento e a realização do projeto.

42 Com isso, salientamos que, embora haja diferentes concepções de projeto, propostas por estudiosos principalmente da área da Educação, optamos por trabalhar com a concepção de projetos de letramento por entender que a leitura e a escrita podem ser utilizadas para além da mera aprendizagem do bem escrever, ultrapassando os muros da escola, em um trabalho amplamente colaborativo para alcançar objetivos relevantes para os grupos envolvidos, tendo pois, a linguagem como prática social no processo de ensino-aprendizagem. Assim, dado que o objetivo geral do projeto que ora desenvolvemos é ressignificar o ensino e a aprendizagem da leitura dos alunos do 9 o ano da EEAT e dado também que, metodologicamente, isso se efetiva através da reflexão, da colaboração mútua, da ação conjunta de uma comunidade de aprendizagem, fazendo com que o processo de ensinar e aprender seja significativo e proporcione mudanças na vida das pessoas envolvidas, o projeto de letramento preenche os requisitos de que precisamos e se apresenta como um modelo didático eficaz para alcançar esse fim. Corroborando essa perspectiva, Tinoco (2008, p. 161) explica que Os projetos de letramento focalizam a leitura e a escrita a partir de uma abordagem que permite vislumbrar os usos sociais da escrita na escola e fora dela, bem como o papel sociopolítico da esfera escolar junto a outras instituições sociais. [...] É nesse sentido que defendemos serem os projetos de letramento um modelo didático promissor para o almejado processo de ressignificação do ensino da escrita. Vinculados a práticas em que a leitura e a escrita são ferramentas para agir socialmente, eles favorecem a aprendizagem significativa por meio da colaboração mútua, da negociação de responsabilidades e do consequente reposicionamento identitário de estudantes, professores e demais participantes. Esse reposicionamento dos sujeitos envolvidos nos projetos de letramento possibilita o exercício da cidadania, entendida aqui como [...] algo que se constrói somente a partir do engajamento cívico, isto é, da ação recíproca do homem motivado por propósitos comuns e pela vontade de crescer em comunhão (OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2011, p. 36). É nessa perspectiva que os projetos de letramento (KLEIMAN, 2000) se balizam, pois objetivam resolver um problema coletivo a partir de ações cooperativas, que levem em conta as potencialidades do grupo, da coletividade para atingir seus interesses. Embora não se trate de um conceito advindo dos estudos de letramento, coaduna-se bem com o exposto até aqui a concepção de comunidade de aprendizagem (AFONSO, 2001). Isso ocorre porque pensar que o conhecimento se desenvolve por meio da aprendizagem enquanto processo social é compactuar com as práticas coletivas, colaborativas e de ajuda

43 mútua entre os membros de uma equipe para o desenvolvimento eficaz de atividades construtivas de aprendizagem. Nessa perspectiva, Afonso (2001) afirma que as comunidades de aprendizagem constituem um ambiente intelectual, social, cultural e psicológico, que sustentam a aprendizagem enquanto promovem a interação, a colaboração e a construção de um sentimento de pertença entre os membros. Trabalhar em equipe é, portanto, uma premissa para o sucesso das organizações em geral. Para isso, desenvolver a capacidade de trabalhar e de aprender a aprender em equipe são questões cruciais também para o processo de ensino-aprendizagem, sobretudo nas organizações educativas, promovendo o desenvolvimento de competências e a construção social do conhecimento. Para que isso aconteça, é preciso que o professor atue como agente de letramento, que segundo Kleiman (2006, p. 82), é [...] um mobilizador dos sistemas de conhecimento pertinentes, dos recursos, das capacidades dos membros da comunidade: no caso da escola, seria um promotor das capacidades e recursos de seus alunos e suas redes comunicativas para que participem das práticas sociais e letramento, as práticas de uso da escrita situadas, das diversas instituições. Essa relação entre o que precisa ser feito e a motivação para fazer nos faz perceber que o ensino da leitura e da escrita deve ser algo cotidiano, útil e sugestivo. Sua aprendizagem deve ser construída através de atividades compartilhadas, com o auxílio do outro numa interação constante, entre o eu, o outro e o mundo, perpassando as práticas escolares, situando-se na vida comum, diária e comunitária. Para tanto, é necessário que as práticas escolares sejam ressignificadas, rompendo-se, assim, com o modelo marcado pelo predomínio da voz do professor, detentor do conhecimento, em detrimento da voz dos alunos que é suprimida, ou seja, o aluno fica fora do processo de ensino-aprendizagem, perpetuando a existência de um sujeito alienado, enquanto a sociedade e a própria escola exigem um cidadão crítico, participativo, inserido no contexto. Nesse sentido, Kleiman (1999, p. 14) afirma que [...]critica-se o aluno por não saber estabelecer relações entre o que aprendeu na escola e a realidade. Dá-se ênfase ao trabalho individual e lamenta-se a inexistência do espírito coletivo, da solidariedade. Todavia, nos projetos de letramento, o professor é um dos agentes de letramento que apresenta ações estratégicas para redimensionar o que é individual para colaborativo, e, sendo colaborativo envolve a participação de todos: professor, alunos, agentes fora do contexto

44 escolar no processo de ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva, os papéis de agente de letramento se alternam, pois todos os participantes da interação também mobilizam recursos de outras situações e práticas sociais para construção do saber. Dessa forma, de acordo com Kleiman (2006), o professor pode ser um agente de letramento por excelência, pois é capaz de mobilizar as capacidades e habilidades do grupo, fazendo emergir, nas interações com os educandos, seus conhecimentos de livros e outros recursos escritos, assim como aqueles das suas redes comunicativas familiares, religiosas e outras, com o objetivo de atribuir sentido à palavra escrita. De maneira sintética, podemos dizer que o trabalho coletivo oferece uma saída criativa em resposta à crise de valores e de utopias, pois constitui-se numa resposta local e soberana à crise na educação, posicionando-se contra o conformismo (KLEIMAN, 1999). Assim, os estudos de letramento, que entendem a escrita e a leitura como práticas sociais, podem colaborar para a formação de um leitor proficiente, crítico e socialmente posicionado por meio de um projeto de letramento que convoca a escola a pensar conteúdos e a organizar seus espaços de forma que cultivem uma comunidade de aprendizagem na qual os alunos possam colaborar entre si e com professores a fim de colocar questões, investigar assuntos e resolver problemas.

45 4 ANÁLISE DOS DADOS Este capítulo, dedicado à análise dos dados gerados, tem por finalidade responder a quatro perguntas de pesquisa: (i) de que maneira um projeto de letramento, com foco na Prova Brasil, mostra-se eficaz na ressignificação de práticas de leitura de estudantes do 9 o ano?; (ii) que conhecimentos são requeridos pela Prova Brasil?; (iii) que práticas de letramento (in)visibilizadas subjazem desse instrumento de avaliação nacional?; (iv) como é possível desenvolver estratégias que aprimorem práticas de leitura dos alunos do 9 o ano da escola em que atuamos? Para respondermos a essas perguntas e, assim, cumprirmos os objetivos a que nos propomos, precisamos, inicialmente, discutir três conceitos muito utilizados pelo INEP na avaliação em questão. O primeiro deles é o conceito de proficiência. O segundo é o de competência e, por fim, trataremos do conceito de habilidades. Assim, antes de nos ater ao conceito de proficiência, é interessante observar que o dicionário Michaelis (2001, p. 714) atribui ao verbete proficiente o seguinte significado: aquele que executa alguma tarefa com competência, conhecimento e habilidade. Essa acepção deixa transparecer que, para o sujeito ser proficiente, ele precisa de três elementos fundantes: competência, habilidade e conhecimento. Em se tratando de leitura, proficiente é aquele que maneja com destreza as habilidades de decodificação e aporta ao texto objetivos, ideias e experiências prévias; que realiza o processo de previsão e inferência contínua; que se apoia na informação proporcionada pelo texto e na própria experiência para encontrar evidência ou rejeitar as previsões e inferências antes mencionadas. Dessa forma, como o ato de ler vai além da mera decifragem de códigos, o leitor proficiente atribui sentido enquanto lê; [...] ele não só associa a palavra ao significado como também a liberta da cadeia verbal da qual faz parte cotidianamente (RODANI apud KLEIMAN, 2013, p. 11). Além disso, é preciso que o sujeito seja, segundo Solé (1998), capaz de aprender a partir dos textos. Por isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalizações que permitam transferir o que foi aprendido para outros diferentes contextos.

46 Em relação à Prova Brasil, a proficiência em leitura está imbricada ao domínio da competência leitora de tal forma que pode ser evidenciada a partir da quantidade de acertos no exame. É a partir da identificação dos itens que os alunos de determinada proficiência acertaram no exame que será possível compreender quais seriam as fragilidades que deveriam ser superadas (BRASIL, 2011). Outro conceito igualmente importante para trabalhar com a Prova Brasil é o de competência. Segundo Jovem (2013), o termo competência nasceu no meio profissional e econômico, estando intrinsecamente ligado à capacidade laboral dos trabalhadores para atender ao contexto social do mercado de trabalho. Segundo essa autora, no Brasil, o conceito foi utilizado pela primeira vez na Educação, no início da década de 1990, sendo incorporado à reforma em torno da mudança do termo qualificação para competência, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) sob a forma do decreto n o 2.208/97. Assim, por ser um termo utilizado em várias áreas de atuação, há certa confusão quanto aos conceitos utilizados para caracterizá-lo. Diversos autores atribuem definições diferenciadas acerca do seu uso de acordo com a visão que eles possuem, ligados, muitas vezes, ao campo em que atuam (JOVEM, 2013, p.26). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), por sua vez, orientam que ao longo dos oito anos do ensino fundamental, espera-se que os alunos adquiram progressivamente uma competência em relação à linguagem possibilitando-lhes resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a participação plena no mundo letrado (BRASIL, 1997, p. 28). Partindo dessa orientação, podemos afirmar que competência é a capacidade que o indivíduo tem de saber fazer algo que possibilite sua vivência, de forma satisfatória, na sociedade. Em outras palavras, é a mobilização dos conhecimentos (saberes), habilidades e atitudes para o agir de forma bem sucedida visando à resolução dos problemas cotidianos da vida social. Todavia, os estudos de Jovem (2013) apontam que os documentos oficiais para educação (LDB, PCN) não trazem a definição de competência de forma explícita, apenas fazem alusão ao conceito de leitor competente. Ela afirma que, [...] um fator de grande importância para que a escola ainda enxergue de maneira parcial e, muitas vezes, distorcida o ensino pautado no desenvolvimento de competências é o desconhecimento por parte dos documentos oficiais desse conceito. Uma vez que não estão explícitas nos

47 parâmetros reguladores do ensino no Brasil, muitos professores não tomam conhecimento da noção de competência e nem como se dá o desenvolvimento dessas através do ensino (JOVEM, 2013, p. 30). Nessa mesma direção, a definição de competência aparece de maneira inconspícua nas matrizes de referência dos exames nacionais, agravando a compreensão e a aplicação desse conceito nos currículos e planos de ensinos escolares. Contudo, a Matriz de Referência da Prova Brasil traz esse conceito na perspectiva de Perrenoud, como sendo a capacidade de agir eficazmente em um determinado tipo de situação, apoiando-se em conhecimentos, mas sem se limitar a eles (BRASIL, 2011, p.8). Para Perrenoud (2000), a noção de competência se vincula à capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações) para enfrentar, eficazmente, situações que se nos apresentam cotidianamente. Diante dessa acepção e na tentativa de dar-lhe amplitude, podemos dizer que, para a Prova Brasil, competente é o usuário de uma língua que apresenta capacidade para produzir e compreender textos nos mais variados gêneros, objetivando responder, satisfatória e criticamente, desde as mais comezinhas situações como, por exemplo, fazer uma lista de compras, até aquelas que exigem um alto grau de compreensão como escrever um texto argumentativo. Essa capacidade envolve a mobilização dos saberes relacionados aos conhecimentos linguístico, textual e discursivo, devendo o usuário, dessa forma, produzir, compreender, transformar e escolher os textos (orais ou escritos) que se mostrem adequados à interação comunicativa pretendida. Nesse sentido, um leitor competente sabe selecionar, dentre os textos que circulam socialmente, aqueles que podem atender às suas necessidades, conseguindo estabelecer as estratégias adequadas para abordar tais textos. O leitor competente é capaz de ler as entrelinhas, identificando, a partir do que está escrito, elementos implícitos e estabelecendo relações entre o texto e outros textos já lidos (BRASIL, 2011). A partir dessa concepção, voltemo-nos agora para a definição de habilidades. Na Matriz de Referência, Temas, Tópicos e Descritores (anexo A), as habilidades estão relacionadas, [...] especificamente, ao plano objetivo e prático do saber fazer e decorrem diretamente das competências já adquiridas e que se transformam em habilidades (BRASIL, 2011, p. 18). Aqui, percebemos que o limite conceitual entre competência e habilidade é tênue, pois o saber e o saber fazer estão numa linha muito próxima.

48 Jovem (2013) afirma que há, nas discussões acerca das competências, uma preocupação em explicar as habilidades, uma vez que os dois termos caminham conjuntamente. O que ocorre, muitas vezes, é a confusão em relação à diferenciação de competências e habilidades. Essa autora enxerga as habilidades como o resultado das competências, isto é, elas derivam do que está pronto e que será ativado em meio às necessidades de atuação, garantindo o sucesso da ação. Dessa forma, as competências e as habilidades se diferenciam no plano das ações, isto é, o que distingue uma da outra é que a primeira se refere ao saber fazer, de caráter geral, que pode ser ensinado, enquanto a segunda relaciona-se ao fazer propriamente dito, numa situação específica, de caráter individual. Em suma, podemos afirmar que os PCN e os documentos que orientam avaliações sistêmicas, como SAEB e Prova Brasil, têm utilizado os termos habilidades e competências para se referirem aos saberes que os alunos constroem ao longo de sua escolarização e que precisam ser alcançados com as estratégias políticas e pedagógicas adequadas. Com isso, apresentamos alguns dados, seguidos de análises. Iniciaremos com algumas considerações sobre o questionário contextual que acompanham os exames da Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc- Prova Brasil). 4.1 QUESTIONÁRIO CONTEXTUAL Nos primeiros passos do nosso projeto de intervenção, preocupamo-nos em conhecer os alunos por meio de um instrumento que chamamos de questionário do aluno (apêndice A). Esse instrumento possibilitou-nos conhecer alguns aspectos socioeconômicos, bem como algumas práticas dos estudantes e de suas famílias em relação à leitura e à escrita. Além disso, a aplicação do questionário favoreceu aos alunos o desenvolvimento de uma prática importante relacionada às avaliações nacionais (ENEM, Prova Brasil) ou a concursos públicos, que é o preenchimento do gabarito, seja com a marcação de um x na opção que corresponda ao enunciado de cada questão, seja preenchendo totalmente o espaço da opção adequada (em função do enunciado) com tinta preta ou azul.

49 Na verdade, logo de início, tínhamos em mente fazer essa coleta de dados através de uma conversa ou até mesmo por meio do sistema recém-instalado e usado em todas as escolas estaduais, o SIGEDUC 4. No entanto, ao observarmos as práticas que envolvem a aplicação da Prova Brasil, identificamos um questionário destinado aos alunos, professores e gestores sobre aspectos socioeconômicos e também sobre práticas escolares em que está envolvida essa comunidade. Nesse sentido, trabalhamos, especialmente, com o questionário contextual do aluno. Esse instrumento tem a finalidade de coletar informações sobre aspectos da vida escolar, do nível socioeconômico, capital social e cultural dos discentes para que, na análise da Anresc (Prova Brasil), possa se levar em consideração o contexto dos alunos e da escola. Uma das possibilidades a partir desses dados é o desenvolvimento de estudos dos fatores associados ao desempenho dos alunos. Assim, passamos a elaborar um questionário com base no que já estava disponível no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), ano 2013, responsável pela Prova Brasil. Na primeira aplicação do questionário, não houve resistência dos alunos para realizarem essa atividade. Houve apenas curiosidades a respeito de algumas perguntas: para que a professora quer saber a quantidade de utensílios domésticos (televisão, DVD, rádio, máquina de lavar) que tem na minha casa? ou Que importância tem a quantidade de horas que assisto à televisão?. De imediato, esclarecemos que responder a esse questionário é uma prática exigida pela Prova Brasil. Porém, ao recolhermos os questionários, percebemos que o preenchimento estava inadequado. A maioria dos alunos tinha respondido de qualquer jeito, e isso pode revelar que tal atividade não lhes despertou interesse, mesmo sob o argumento de que o questionário fazia parte da Prova Brasil. Outra hipótese levantada foi a de que não houve orientações suficientes para o preenchimento. É possível que essa ausência de orientações se justifique pelo pressuposto de que alunos do 9 o estão capacitados para preencher um questionário. Nossos dados mostram que se trata de um falso pressuposto. 4 O Sistema Integrado de Gestão Educacional (SIGEDUC) foi implantado em todas as escolas estaduais do Rio Grande do Norte em 2014. Nele, são gerenciados os dados referentes à vida escolar dos alunos, dos professores e da própria gestão (diretoria), bem como dados sobre a situação econômica dos estudantes.

50 Vimos ainda que os alunos tiveram dificuldades de responder a questões relacionadas à família por não saberem a resposta. Assim, nas aulas seguintes, permitimos que o questionário fosse levado para casa, a fim de que pudesse ser preenchido com a participação dos familiares, de preferência os responsáveis pelos adolescentes. Diante de todos esses fatores, resolvemos reaplicar o questionário. Dessa vez, tivemos o cuidado de esclarecer dúvidas, além de explicar que algumas questões, como a que se refere à quantidade de utensílios domésticos em sua casa pode remeter às condições socioeconômicas do grupo. Em outras palavras, para o INEP, é interessante saber se os alunos têm acesso a bens materiais que lhes permitem melhores condições de vida e até mesmo demonstrem poder aquisitivo das famílias. A nosso ver, questões como essas são importantes, pois, à medida que mais famílias acessam esses bens, há uma tendência para mais conforto, menos trabalho braçal e, com isso, pode abrir a possibilidade de se investir mais tempo na educação, em especial, dos filhos. Reforçamos ainda que a prática de preencher questionário socioeconômico (contextual) faz parte da rotina das pessoas que desejam entrar no mercado de trabalho, ingressar numa universidade pro meio dos programas governamentais ou não, e até mesmo na realização de concursos públicos. Durante essa aplicação, percebemos um maior interesse pela atividade. Afinal, essa ferramenta, passou a apresentar utilidade para as vidas daqueles alunos, uma vez que a maioria deles tem interesse de participar do processo seletivo do Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). Esclarecemos também que os comandos para o preenchimento do gabarito deveriam ser seguidos, isto é, se a orientação da questão os direcionasse para preencher por completo o espaço adequado ao lado da opção escolhida, eles deveriam assim proceder, não podendo fazer uso de corretivos, nem marcar um X no espaço que deveriam pintar ou algo dessa natureza. Esse cuidado de preparar os alunos para os conteúdos da Prova Brasil, incluindo a marcação do gabarito oficial e o preenchimento do questionário contextual, se baseou na compreensão de que, para agir discursivamente de maneira competente, é necessário desenvolver familiaridade com o gênero. Em se tratando do gabarito, este precisou ser ensinado, posto que é parte constitutiva das avaliações oficiais e até mesmo utilizado em seleções para o mercado de trabalho onde esses alunos, provavelmente nos próximos anos, deverão se inserir em busca da própria sobrevivência. Dessa forma, a escola deve, obrigatoriamente, ensinar já que é a principal agência de letramento (KLEIMAN, 2000).

51 Com efeito, os alunos parecem reconhecer a importância de realizarem atividades que estejam relacionadas a essas práticas para que possam perder o nervosismo e ter mais atenção na hora de executá-las, conforme demonstra o trecho da entrevista descrito a seguir: [...] Foi mais o nervosismo ((primeira atividade))... É como eu falei [...], a gente lê o texto [...], eu li várias vezes [...], é tanto que eu marquei de lápis primeiro pra poder marcar de caneta. Eu li várias vezes, principalmente, o segundo texto [...]. Foi enorme. Eu li de cima a baixo, de baixo a cima, de tudo quanto foi jeito... Eu li o texto e todos os textos, mas acho que foi mais o nervosismo, como eu falei, tinham questões que todas se encaixavam no assunto, no texto, mas perdi o nervosismo ((refere-se à segunda atividade)). É como ela falou ((se referindo à colega de sala que participava da sessão)): prestei mais atenção, foco ali no que eu estava fazendo. Acho que foi isso[...]. Pensei que nem ia ter esse resultado não. Manoela Heloísa. Trecho de sessão reflexiva, em 01 de agosto de 2014. 5 De igual modo, os professores precisam reconhecer a importância dessas avaliações, não de forma isolada nem apenas pela obrigatoriedade em fornecer dados para o Governo, mas com vistas a utilizá-las no contexto de um processo formativo, para orientar os procedimentos docentes e discentes. Corrobora essa perspectiva a afirmação de Vianna (2003, p. 3): Os elementos levantados nos vários tipos de avaliação seja de sala de aula ou de sistemas devem ser analisados por professores e técnicos especializados nas várias áreas curriculares, a fim de que sejam incorporados ao planejamento escolar e contribuam para o processo educacional. A avaliação não é um valor em si e não deve ficar restrita a um simples rito da burocracia educacional, necessita integrar-se ao processo de transformação do ensino/aprendizagem e contribuir, desse modo, ativamente, para o processo de transformação dos educandos. Em sendo assim, os projetos de letramento se apresentam como ferramentas eficazes para superação dos problemas enfrentados pela escola, pois têm objetivos sociais relevantes e se originam de um interesse real na vida dos alunos (KLEIMAN, 2000). Logo, considerando a importância dessa atividade, o questionário foi aplicado duas vezes. Na primeira vez, com pouca instrução a respeito da marcação das respostas, o resultado foi um tanto negativo, pois os alunos marcaram as respostas ora com x, ora preencheram todo o espaço, ora utilizaram corretivo, ora marcaram duas opções. O resultado foi que, de 39 questionários, nove 5 Para preservar os sujeitos envolvidos no projeto de letramento, utilizamos pseudônimos para identificá-los nos trechos transcritos.

52 apresentavam irregularidades quanto ao seu preenchimento, ou seja, 21% deles estavam com problemas que implicariam a desclassificação desses alunos se estivessem em situação real de aplicação da Prova Brasil, por exemplo. Isso nos permite dizer que o gênero textual gabarito é um modelo com o qual a escola pouco trabalha, podendo interferir decisivamente nos resultados das avaliações que utilizam esse gênero, pois falta aos alunos familiaridade com tal prática. Logo, práticas de letramento que, para um grupo de pessoas, podem parecer simples, tais como responder a um questionário socioeconômico e preencher um gabarito, para os adolescentes submetidos à Prova Brasil não são tão simples. Isso se justifica pela falta de familiaridade com essas práticas e também se acresce de outras circunstâncias relacionadas à situação: imposição de limite de tempo para a aplicação da prova, presença de um aplicador de prova estranho ao processo de ensino-aprendizagem diário. A nosso ver, essas questões não estão relacionadas apenas à proficiência em leitura, mas a outras práticas que estão (in)visibilizadas na Prova Brasil e que, de tal modo, exigem instrução. Portanto, é fundamental considerar a diversidade do espaço social, econômico e cultural, a fim de evitar interpretações que não expressam a realidade de uma determinada comunidade escolar (VIANNA, 2009). Assim, na segunda aplicação do questionário, após a leitura explicativa do instrumento para geração de dados e após ter orientado passo a passo os alunos como deveriam marcar a resposta escolhida, constatamos que o número de questionários que apresentaram irregularidades (utilização de corretivo ou duas opções marcadas por questão) caiu de nove para dois, representando apenas 4,8% dos questionários aplicados. Evidentemente, não estamos tentando, a qualquer custo, desenvolver uma ação para melhorar os resultados nas próximas medidas do IDEB. Nossa empreitada se volta para a reflexão sobre os resultados que temos, analisando as situações que podem interferir nos resultados dessa avaliação para propor ações que possam contribuir positivamente com o processo de ensino aprendizagem da leitura e escrita na escola em questão. Diante disso, é preciso compreender as múltiplas variáveis que envolvem uma situação de leitura, seja de um texto escrito ou de qualquer outro produto cultural, para que essas ações sejam situadas e adquiram significados. Em outras palavras, já que o questionário contextual faz da Prova Brasil, é preciso atribuir-lhe sentido para que os estudantes se engajem nesse processo, não só para compor uma estatística, mas apropriar-se dele como instrumento de aprendizagem.

53 4.2 PROVA BRASIL (2011) Os testes de Língua Portuguesa da Prova Brasil estão estruturados com o foco na leitura e requerem a competência de apreender um texto como construção de conhecimento em diferentes níveis de compreensão, análise e interpretação. O fato de avaliarem apenas a leitura não reduz a importância dessa avaliação, tendo em vista que a leitura é fundamental para o desenvolvimento de outras áreas do conhecimento e para o consequente exercício da cidadania. Para Kleiman (1999), a leitura, por sua natureza integradora de saberes e constitutiva na construção de novos saberes, pode vir a ser o elemento essencial para fazer com que a escola exerça sua função primordial: fornecer os instrumentos necessários para que os sujeitos envolvidos nela consigam compreender as informações tão complexas do mundo atual, assumindo, aos poucos, o controle da aquisição de saberes e de sua própria formação. Na sequência, iniciamos uma análise do modelo da Prova Brasil 2011 (anexo B), na qual observamos as regras de aplicação que esse instrumento avaliativo exige, a quantidade de questões, o tempo limite para responder a elas, bem como associamos as questões aos descritores para, posteriormente, realizarmos algumas atividades com a clareza daquilo que estávamos buscando: identificar quais as principais dificuldades encontradas pelos alunos para responderem à prova. Assim, diante da forma como a Prova Brasil é estruturada, em que se apresentam itens (questões) pautados por descritores que mensuram competências leitoras, estabelecemos uma relação entre esses descritores e o percentual de aproveitamento dos alunos nos simulados, uma vez que estes podem nos fornecer pistas para identificar quais as principais dificuldades encontradas pelos alunos em relação ao desenvolvimento dessas competências. É importante ressaltar que essa coleta de dados partiu da análise da Prova Brasil (modelo 2011) e de duas atividades inicialmente desenvolvidas com ela em sala de aula, a qual denominaremos, a partir de agora, simulado 1 e simulado 2. Observemos, a seguir, o quadro das questões e seus respectivos descritores, para uma melhor visualização do percentual de aproveitamento dos alunos nas atividades propostas.

54 QUESTÃO / BLOCO Quadro 1 Prova Brasil (2011): descritores e percentual de aproveitamento da EEAT DESCRITOR / COMPETÊNCIA HABILIDADES 6 PERCENTUAL APROVEITA- MENTO 01/BL 3 D3 - Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. O aluno deverá relacionar informações, inferindo quanto ao sentido de uma palavra ou expressão em determinado contexto. 89,7% 02/BL 3 D6 Identificar o tema de um texto. O aluno deverá identificar o assunto principal do texto, isto é, do que trata o texto, resultante das relações estabelecidas entre as partes do texto. 43,6% 03/BL 3 D7 Identificar a tese de um texto. O aluno deverá reconhecer o ponto de vista defendido pelo autor. 46,2% 04/BL 3 D18 reconhecer o efeito de sentido decorrente de O aluno deverá identificar e reconhecer o efeito gerado pela alteração de sentido de uma determinada palavra ou expressão. determinada palavra ou expressão. 100% 05/BL 3 D6 Identificar o tema de um texto O aluno deverá identificar o assunto principal do texto, isto é, do que trata o texto, resultante das relações estabelecidas entre as partes do texto. 66,7% 06/BL 3 D11 Distinguir um fato da opinião relativa a esse O aluno deverá diferenciar um fato relatado no texto da opinião do autor, do fato. narrador ou da personagem. 41% 07/BL 3 O aluno deverá reconhecer os motivos que levaram os fatos a serem apresentados D14 Estabelecer relação causa/consequência entre da maneira em que são apresentados, assim como também as relações entre os partes e elementos do texto elementos para que um se torne resultado do outro. 43,6% 08/BL 3 09/BL 3 10/BL 1 11/BL 3 12/BL 3 13/BL 3 D10 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa. D15 Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc. D17 Identificar o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações. D1 Localizar informações explícita em um texto. D3 Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. D21 Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema. O aluno deverá identificar as partes constituintes da narrativa, desde os momentos (Introdução, Complicação, Clímax e Desfecho ou Desenlace) até os elementos como personagens, tempo, espaço, narrador etc. O aluno deverá ser capaz de perceber a coerência textual, a partir dos elementos coesivos e de sua função no texto. O aluno deverá identificar os efeitos de sentido produzidos pelo uso de notações, como negrito, itálico, caixa alta etc. e dos sinais de pontuação, sem se restringir apenas ao aspecto puramente gramatical. O aluno deverá localizar uma informação, sendo esta expressa de maneira literal ou por meio de uma paráfrase. O aluno deverá relacionar informações, inferindo quanto ao sentido de uma palavra ou expressão em determinado contexto. O aluno deverá fazer o reconhecimento de opiniões diferentes sobre um mesmo fato ou tema, desenvolvendo a capacidade de avaliar os textos e os discursos emitidos pelos mesmos. 28,2% 20,5% 61,5% 66,7% 56% 53,8% 6 Essas habilidades foram apresentadas inicialmente por Jovem (2013).

55 QUESTÃO / BLOCO 01/BL 4 02/BL 4 03/BL 4 04/BL 4 05/BL 4 06/BL 4 07/BL 4 08/BL 4 09/BL 4 10/BL 4 11/BL 4 12/BL 4 13/BL 4 DESCRITOR / COMPETÊNCIA D20 Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daqueles em que será recebido. D19 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra. D8 Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustenta-la. D1 Localizar informações explícitas em um texto. D11 Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato. D2 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto. D13 Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto. D1 Localizar informações explícita em um texto. D12 Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros. D4 Inferir uma informação implícita em um texto. D16 Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados. D9 Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto. D5 Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto, etc.). HABILIDADES O aluno deverá reconhecer as diferenças entre textos com o mesmo assunto, com base no leitor-alvo, na ideologia, na época de produção e nas intenções comunicativas. O aluno deverá identificar o efeito de sentido decorrente da escolha de determinada estrutura morfológica ou sintática, incidindo sobre os motivos para determinada escolha. O aluno deverá fazer a relação entre o ponto de vista do autor e os argumentos que utiliza para sustentar o seu posicionamento. O aluno deverá localizar uma informação, sendo esta expressa de maneira literal ou por meio de uma paráfrase. O aluno deverá reconhecer os motivos que levaram os fatos a serem apresentados da maneira em que são apresentados, assim como também as relações entre os elementos para que um se torne resultado do outro. O aluno deverá reconhecer os elementos de coesão do texto, que possibilitam a continuidade textual. O aluno deverá ser capaz de identificar as variações linguísticas decorrentes de diversos fatores, como: o grupo social do falante, a idade, o lugar e a época em que o falante nasceu, assim como também as marcas linguísticas presentes no texto. O aluno deverá localizar uma informação, sendo esta expressa de maneira literal ou por meio de uma paráfrase. Através do reconhecimento do gênero do texto-base, o aluno deverá identificar o objetivo do texto: informar, convencer, advertir, instruir, explicar, comentar, divertir, solicitar, recomendar, etc., isto é, a sua função social. O aluno deverá reconhecer uma ideia implícita no texto, unindo as proposições explícitas presentes no texto com o seu conhecimento de mundo. O aluno deverá identificar o fato que causou humor ou ironia no texto, assim como também os efeitos de sentido que foram gerados. O aluno deverá reconhecer a estrutura e a organização do texto e localizar a informação principal e as informações secundárias presentes em sua composição. O aluno deverá reconhecer a utilização de elementos gráficos para a construção dos sentidos do texto, assim como saber interpretar textos que utilizem tanto a linguagem verbal quanto a linguagem não-verbal. Fonte: Brasil (2011). PERCENTUAL APROVEITA- MENTO 59% 28,2% 59% 66,7% 69,2% 59% 20,5% 35,9% 66,7% 66,7% 74,4% 41% 41%

56 Ao observarmos o quadro 1, constatamos a presença dos vinte e um descritores da Matriz de Referência, Temas, Tópicos e Descritores (BRASIL, 2011) relacionados aos últimos anos do ensino fundamental II. Verificamos também que três deles se repetem. São eles: D1 Localizar informações explícitas em um texto; D3 - Inferir o sentido de uma palavra ou expressão e D6 Identificar o tema de um texto. QUESTÃO/ BLOCO Quadro 2 Descritores repetidos DESCRITOR / COMPETÊNCIA PERCENTUAL DE APROVEITAMENTO DOS ALUNOS NAS ATIVIDADES 11 BL 3 D1 Localizar informações explícitas em um texto. 66,7% 04 BL 4 D1 Localizar informações explícitas em um texto. 66,7% 08 BL 4 D1 Localizar informações explícita em um texto. 35,9% 01 BL 3 D3 - Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. 89,7% 12 BL 3 D3 Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. 56,0% 02 BL 3 D6 Identificar o tema de um texto 43,6% 05 BL 3 D6 Identificar o tema de um texto 66,7% Fonte: Brasil (2011). Voltando o nosso olhar para o aproveitamento dos alunos nos simulados 1 e 2, percebemos que esse percentual é variável, isto é, embora a avaliação explore um mesmo descritor/competência, esse se apresenta em graus de complexidade distintos, tanto do ponto de vista do objeto analisado, o texto, que reflete a escolha de gêneros discursivos mais complexos ou que os alunos tem pouca familiaridade, como por exemplo, a carta de solicitação e reclamação, que exigem estratégias interpretativas diversificadas, principalmente, quanto se trata de uma temática pouco conhecida. Aliada a essa questão, vem às escolhas lexicais mais ou menos incomum ao universo dos estudantes, bem como a época em que o texto foi escrito. Vencida essa etapa, passamos para a análise inicial de algumas questões, observando o gênero discursivo, a competência avaliada, o percentual de aproveitamento dos alunos e o grau de dificuldade encontrado de acordo com os dados colhidos na realização dos simulados 1 e 2, desenvolvidos em sala de aula com a aplicação da Prova Brasil, modelo 2011.

57 4.3 SIMULADO 1 Em 23 de abril de 2014, aplicamos o primeiro bloco de Língua Portuguesa presente na Prova Brasil (2011) composto por treze questões (bloco 3). A fim de observar e mapear as dificuldades dos estudantes em relação à prova, não fizemos interferências, apenas os orientamos a ler os textos com atenção e marcar uma opção correspondente ao solicitado nas questões. Nessa etapa, não estipulamos tempo mínimo para entrega do exame, apenas dissemos que eles tinham 50 minutos para respondê-lo. Alguns alunos, pelo menos quatro, não se sentiram estimulados a fazerem a prova e a entregaram com menos de 15 minutos. Essa atitude pode sinalizar que, naquele momento, mesmo valendo 30% da nota do 1 o bimestre da disciplina de Língua Portuguesa, esses estudantes não acharam sentido em ler os textos e em responder as treze questões propostas. Diante dessa situação, procedemos a uma reflexão acerca do processo de aquisição da leitura e da escrita na vida desses estudantes que pode ser reflexo dos aspectos macroestruturais que também influem no fracasso da escola quanto à formação de leitores. Referimo-nos, por exemplo, ao lugar cada vez menor que a leitura tem no cotidiano do brasileiro, às condições de acesso à leitura (de bibliotecas públicas, de bibliotecas escolares), à pobreza do seu ambiente de letramento (o material escrito com o qual ele entra em contato, tanto dentro como forma da escola), ou ainda, à formação precária de um grande número de profissionais da escrita que não são leitores, tendo, no entanto, que ensinar a ler e a gostar de ler (KLEIMAN, 1992, p.21). Entre esses profissionais, muitos perpetuam práticas de leituras desmotivadoras que trazem consequências desastrosas para a vida, transformando o ato de ler e escrever em uma atividade árida e tortuosa. Devemos lembrar que, para a maioria dos alunos da escola pública, os primeiros contatos com a leitura não remetem a uma atividade realizada no aconchego do lar, onde são contados os contos de fadas que nos permitem sonhar, entrar em outros mundos imaginários, provocando sensações de prazer, alegrias e novas descobertas. Mas, contrariamente, para a maioria desses alunos, o primeiro contato com a leitura e a escrita acontece na escola através de cópias de atividades, da memorização de palavras geralmente ligadas a uma família do alfabeto, da repetição de frases que não tem sentido como A fada afia a faca ou, até mesmo, identificando palavras com dígrafos, encontros consonantais, etc.

58 É claro que ninguém gosta de fazer aquilo que é difícil demais ou aquilo do qual não consegue extrair sentido. Talvez, por essa razão, esses alunos tenham simplificado a tarefa e, apesar de não terem lido a prova, nem refletido sobre as questões, entregaram o gabarito totalmente preenchido. Essa prática, possivelmente, ocorre em situações reais de aplicação da Prova Brasil. Além disso, há situações em que os alunos são pegos de surpresa para fazer o teste, não sabendo do que se trata ou para que serve o aludido exame. Muitos se sentem intimidados e, sabendo que não vão ganhar nada de imediato com essa atividade, fazem a prova sem qualquer compromisso, observando apenas o tempo estipulado para responder ao exame, o que é obrigatório. Para efeitos de esclarecimento, não foi o caso dessa ação, no entanto, como dissemos anteriormente, nesse primeiro momento não fizemos quaisquer interferências para que pudéssemos observar e mapear as principais dificuldades desses estudantes quanto à participação na Prova Brasil. A partir desse ponto pudemos iniciar uma reflexão coletiva (alunos e professora) sobre este instrumento de avaliação na tentativa de estabelecer relações utilitárias ente este e a vida dos envolvidos. Nessa mesma direção, as ações desencadeadas num projeto de letramento, cuja implicação central do trabalho é a construção identitária do leitor-escrevente-cidadão-eleitorparticipante (OLIVEIRA; TINOCO; SANTOS, 2011, p. 48), diferem das práticas de ensino em que o professor/a escola é detentor(a) de poder e conhecimento. A ele cabe o papel de repassar os conteúdos sem se preocupar com o processo de aprendizagem. Os alunos, segundo essa teoria, são elementos passivos, cabendo a eles ouvir, decorar e obedecer. Sem dúvida, não é isso o que almejamos. Nossa opção é trabalhar o processo de ensino/aprendizagem vinculada a uma prática social, (re)construindo, (re)contextualizando, trabalhando com algo novo não vivido, que considere o sujeito e sua formação sóciohistórica, na qual a aprendizagem funcione como uma forma de construção do conhecimento que se instaura a partir de um processo dialético (relação do passado-presente-futuro; individual-coletivo; local-global). Algo que se constrói num espaço de movimento (OLIVEIRA; TINOCO; SILVA, 2011). Assim, levando em consideração o exposto, buscamos compreender, através dos números, os resultados dessa primeira atividade. Dos 39 alunos, 15 acertaram menos da metade da Prova, o que corresponde ao percentual de 38,5%. Os outros 61,5% acertaram mais de 50%, conforme mostra o gráfico 3, a seguir.

59 Gráfico 3 - Percentual de acertos do simulado 1 Bloco 3 (Prova Brasil). Fonte: acervo da pesquisa (2015) Ainda no bloco 3, uma questão se destaca pelo percentual de acerto dos estudantes que alcançaram 100% de aproveitamento. Essa questão está relacionada ao descritor 18 - reconhecer o efeito de sentido decorrente de uma determinada palavra ou expressão. Para analisá-la, reproduziremos seu conteúdo a seguir: Quadro 3 - Reprodução da questão 04 da Prova Brasil (2011) bloco 3 As Amazônias TB_006578 Esse tapete de florestas com rios azuis que os astronautas viram é a Amazônia. Ela cobre mais da metade do território brasileiro. Quem viaja pela região, não cansa de admirar as belezas da maior floresta tropical do mundo. No início era assim: água e céu. É mata que não tem mais fim. Mata contínua, com árvores muito altas, cortada pelo Amazonas, o maior rio do planeta. São mais de mil rios desaguando no Amazonas. É água que não acaba mais. SALDANHA, P. As Amazônias. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. Fonte: Brasil (2011). QUESTÃO 04 IT_026915 No texto, o uso da expressão água que não acaba mais (l. 11) revela (A) admiração pelo tamanho do rio. (B) ambição pela riqueza da região. (C) medo da violência das águas. (D) surpresa pela localização do rio. Os 39 alunos que fizeram o teste escolheram a letra A como a resposta correta. O sucesso de 100% de acerto pode estar relacionado ao uso de uma expressão (água que não acaba mais) comumente conhecida pelos alunos. Além disso, as outras opções não estão tão próximas da resposta correta, por isso, os estudantes não tiveram dúvidas ao responder. Nesse caso, a inferência foi motivada pelos itens lexicais presentes no texto que faz parte do conhecimento de mundo do estudante, corroborando para o sucesso na resposta a essa questão.

60 Nesse bloco, dois descritores são evidenciados por aparecerem duas vezes. São eles: D3 Inferir o sentido de uma palavra ou expressão e D6 Identificar o tema de um texto. Para exemplificar o descritor 03 - inferir o sentido de uma palavra ou expressão -, reproduzimos abaixo a questão 01 e 12 da Prova Brasil, modelo 2011. Quadro 4 - Reprodução da questão 01 da Prova Brasil (2011) bloco 3. TB_000449 O SAPO Era uma vez um lindo príncipe por quem todas as moças se apaixonavam. Por ele também se apaixonou a bruxa horrenda que o pediu em casamento. O príncipe nem ligou e a bruxa ficou muito brava. Se não vai casar comigo não vai se casar com ninguém mais! Olhou fundo nos olhos dele e disse: Você vai virar um sapo! Ao ouvir esta palavra o príncipe sentiu estremeção. Teve medo. Acreditou. E ele virou aquilo que a palavra feitiço tinha dito. Sapo. Virou um sapo. (ALVES, R. A alegria de ensinar. Ars Poética, 1994.) QUESTÃO 01 Fonte: Brasil (2011). IT_030036 No trecho O príncipe NEM LIGOU e a bruxa ficou muito brava., a expressão destacada significa que (A) não deu atenção ao pedido de casamento. (B) não entendeu o pedido de casamento. (C) não respondeu à bruxa. (D) não acreditou na bruxa. Na questão 01, observamos que o texto não apresenta um grau elevado de complexidade. É um texto curto e a linguagem presente nele faz parte do dia a dia dos alunos, visto que a expressão nem ligou faz parte do universo discursivo desses estudantes, sendo utilizada constantemente nas suas falas. Além disso, o gênero discursivo conto principalmente os contos de fadas com a temática de príncipes e princesas, que por vezes circundam o imaginário infantil, são apreciados pelos estudantes envolvidos neste projeto. Esses conhecimentos prévios podem ter corroborado para que 89,7% dos alunos acertassem a resposta. Kleiman (1989) afirma que a ativação do conhecimento prévio é, então, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente. Esse tipo de inferência, que se dá como decorrência do conhecimento de mundo e que é motivado pelos itens lexicais no texto é um processo inconsciente do leitor proficiente. É perceptível também que a opção B (não entendeu o pedido de casamento) não foi escolhida por nenhum aluno. Essa opção é a única que realmente não tem nenhuma ligação com a resposta desejada, haja vista que a expressão destacada no enunciado da questão (nem ligou) deixa claro que o príncipe entendeu o pedido de casamento, mas não deu importância para ele.

61 Já a questão 12 (reproduzida a seguir), que tem por finalidade avaliar a competência de inferir o sentido de uma palavra ou expressão em determinado contexto, mostra um quadro diferente. O índice de acerto foi de apenas 56%. Essa primeira fase da prova é composta por oito textos, dentre os quais, só um representa o gênero discursivo poema, mais especificamente, um soneto. Quadro5 -: Reprodução da questão 12 da Prova Brasil (2011) bloco 3 Duas Almas Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada, entra, e sob este teto encontrarás carinho: eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho, vives sozinha sempre, e nunca foste amada... A neve anda a branquear, lividamente, a estrada, e a minha alcova tem a tepidez de um ninho. Entra, ao menos até que as curvas do caminho se banhem no esplendor nascente da alvorada. E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa, essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua, podes partir de novo, ó nômade formosa! Já não serei tão só, nem irás tão sozinha. Há de ficar comigo uma saudade tua... Hás de levar contigo uma saudade minha... TB_007682 QUESTÃO 12 WAMOSY, Alceu. Livro dos sonetos. L&PM. Fonte: Brasil (2011). IT_035304 No verso e a minha alcova tem a tepidez de um ninho (v. 6), a expressão sublinhada dá sentido de um lugar (A) aconchegante. (B) belo. (C) brando. (D) elegante. Embora o descritor aqui analisado não explore o gênero discursivo, impreterivelmente, observamos que o soneto caracteriza-se por apresentar dois quartetos e dois tercetos, ou seja, quatro estrofes. As duas primeiras devem conter quatro versos e as duas últimas três, num total de catorze versos. Todavia, a reprodução do texto na prova (modelo 2011) não respeita essa caracterização deixando uma palavra pertencente ao primeiro verso solta em outra linha. A mesma situação se repete no início da segunda estrofe. Em razão disso, surgem duas indagações. A primeira delas pode ser assim formulada: será que a forma como os textos são apresentados na Prova Brasil favorece a identificação do gênero discursivo? Sabemos que o exame em questão requer familiaridade com diferentes gêneros: artigo de opinião, notícia, verbete, fábula, conto, quadrinhos, soneto, entre outros. Vale ressaltar que há casos de textos

62 que, devido à extensão original, passam por recortes, apresentando-se fragmentados. Que implicações isso poderia representar para os alunos que se submetem à Prova Brasil? Para essa pergunta, ainda não temos resposta. A segunda indagação é: a formulação das questões da Prova Brasil são suficientemente elucidativas em relação ao público a que se destinam? Para responder a essa pergunta, alguns aspectos devem ser observados. Ressaltamos, em primeiro lugar, o destaque dessa prova para o estabelecimento de inferências. Cientes de que inferir significa realizar um raciocínio com base em informações já conhecidas, a fim de se chegar a informações novas, que não estejam explicitamente marcadas no texto, podemos afirmar que a escolha do soneto 'Duas almas não favoreceu o exercício de inferência. Esse gênero discursivo não circula com frequência nos espaços frequentados pelos adolescentes-alvo da Prova Brasil. Em segundo lugar, algumas escolhas lexicais presentes no soneto Duas almas não fazem parte do vocabulário do brasileiro em geral, especialmente se pensarmos em estudantes matriculados nas séries finais do ensino fundamental. De fato, não nos parece incomum o desconhecimento dos significados das palavras lividamente (linha 6), alcova (linha 8) e tepidez (linha 8), presentes no soneto em destaque. Essa escolha lexical é muito formal e de difícil compreensão, considerando, nesse caso, a relação idade e nível de escolaridade do público a que se destina esse exame. Possivelmente, esses aspectos tenham corroborado para que 44% de nossos colaboradores leitores tenham optado por outra escolha que não a indicada pelo gabarito oficial da questão proposta. Um terceiro ponto a ser observado é o comando da questão. Ela orienta o aluno a escolher, dentre os adjetivos listados (aconchegante, belo, brando e elegante), o que melhor dá sentido ao substantivo tepidez. Diante disso, percebemos que, se o estudante fizer o processo de substituição da palavra em destaque (tepidez) por outra sugerida nas opções, não chegará a uma frase coerente. Teríamos, por exemplo, a minha alcova tem a aconchegante de um ninho ou a minha alcova tem o brando de um ninho. Essa lógica de substituição, que é uma estratégia bastante utilizada na escola e em outras esferas de atividade, pode ter levado vários alunos ao erro. Esses dados comprovam que não basta saber decodificar. É preciso interagir com as palavras, associá-las ao contexto, entender seu significado e, acima de tudo, relacioná-las ao texto. Além disso, é muito importante para compreensão o conhecimento mútuo, comum entre leitores e autor.

63 Passemos agora a reprodução das questões 02 e 05, presentes no bloco 3, que estão relacionadas ao descritor D6 identificar o tema de um texto para prosseguirmos com a análise. Quadro 6 - Reprodução da questão 02 da Prova Brasil (2011) bloco 3 TB_006380 Vínculos, as equações da matemática da vida Quando você forma um vínculo com alguém, forma uma aliança. Não é à toa que o uso de alianças é um dos símbolos mais antigos e universais do casamento. O círculo dá a noção de ligação, de fluxo, de continuidade. Quando se forma um vínculo, a energia flui. E o vínculo só se mantém vivo se essa energia continuar fluindo. Essa é a ideia de mutualidade, de troca. Nessa caminhada da vida, ora andamos de mãos dadas, em sintonia, deixando a energia fluir, ora nos distanciamos. Desvios sempre existem. Podemos nos perder em um deles e nos reencontrar logo adiante. A busca é permanente. O que não se pode é ficar constantemente fora de sintonia. Antigamente, dizia-se que as pessoas procuravam se completar através do outro, buscando sua metade no mundo. A equação era: 1/2 + 1/2 = 1. "Para eu ser feliz para sempre na vida, tenho que ser a metade do outro." Naquela loteria do casamento, tirar a sorte grande era achar a sua carametade. Com o passar do tempo, as pessoas foram desenvolvendo um sentido de individualização maior e a equação mudou. Ficou: 1 + 1= 1. "Eu tenho que ser eu, uma pessoa inteira, com todas as minhas qualidades, meus defeitos, minhas limitações. Vou formar uma unidade com meu companheiro, que também é um ser inteiro." Mas depois que esses dois seres inteiros se encontravam, era comum fundirem-se, ficarem grudados num casamento fechado, tradicional. Anulavam-se mutuamente. Com a revolução sexual e os movimentos de libertação feminina, o processo de individuação que vinha acontecendo se radicalizou. E a equação mudou de novo: 1 + 1= 1 + 1. Era o "cada um na sua". "Eu tenho que resolver os meus problemas, cuidar da minha própria vida. Você deve fazer o mesmo. Na minha independência total e autossuficiência absoluta, caso com você, que também é assim." Em nome dessa independência, no entanto, faltou sintonia, cumplicidade e compromisso afetivo. É a segunda crise do casamento que acompanhamos nas décadas de 70 e 80. Atualmente, após todas essas experiências, eu sinto as pessoas procurando outro tipo de equação: 1 + 1 = 3. Para a aritmética ela pode não ter lógica, mas faz sentido do ponto de vista emocional e existencial. Existem você, eu e a nossa relação. O vínculo entre nós é algo diferente de uma simples somatória de nós dois. Nessa proposta de casamento, o que é meu é meu, o que é seu é seu e o que é nosso é nosso. Talvez aí esteja a grande mágica que hoje buscamos, a de preservar a individualidade sem destruir o vínculo afetivo. Tenho que preservar o meu eu, meu processo de descoberta, realização e crescimento, sem destruir a relação. Por outro lado, tenho que preservar o vínculo sem destruir a individualidade, sem me anular. Acho que assim talvez possamos chegar ao ano 2000 um pouco menos divididos entre a sede de expressão individual e a fome de amor e de partilhar a vida. Um pouco mais inteiros e felizes. Para isso, temos que compartilhar com nossos companheiros de uma verdadeira intimidade. Ser íntimo é ser próximo, é estar estreitamente ligado por laços de afeição e confiança. (MATARAZZO, Maria Helena. Amar é preciso. 22. ed. São Paulo: Editora Gente, 1992. p. 19-21) QUESTÃO 02 O texto trata PRINCIPALMENTE (A) da exatidão da matemática da vida. (B) dos movimentos de libertação feminina. (C) da loteria do sucesso no casamento. (D) do casamento no passado e no presente. Fonte: Brasil (2011). IT_026888 Na questão 02, constatamos que o texto é o mais longo de toda a prova (79 linhas). Para alguns alunos que fizeram a atividade, a imprescindível relação entre a extensão do objeto de leitura e o tempo limitado para realização do exame torna a interpretação difícil.

64 As dificuldades aparecem quando não conseguem fazer relações entre um parágrafo e outro, haja vista que a organização deles é muito importante para determinar o sucesso ou insucesso na compreensão de um texto por parte de estudantes que não estão acostumados a lerem textos longos, e por sua vez, a falta de tempo para fazer uma leitura mais cautelosa, torna a questão difícil de ser respondida. Ademais, alguns autores apontam que parágrafos que não começam com tema ou tópico central são mais complexos de compreender por crianças com problemas de leitura (KLEIMAN, 1989, p. 58). Isso porque a paragrafação é uma dimensão textual imprescindível para a tessitura do texto e logo para a construção de sua coesão e coerência. Uma paragrafação bem marcada colabora para que um texto fique mais coeso e coerente. Em se tratando de escolares com problemas na área de leitura fica mais difícil identificar o tema ou tópico central quando este não aparece no primeiro parágrafo do texto. Consequentemente, para obter a resposta apontada como correta (letra D - do casamento no passado e no presente), o aluno deveria ficar atento aos elementos coesivos presentes no texto (as marcas temporais) e não se prender à hipótese inicial gerada pelo seu título (Vínculos, as equações da matemática da vida), afinal todas as opções se referem a assuntos que podem ser depreendidos no texto. De acordo com a regra de antecedência do tópico, quando o texto ou o parágrafo é organizado dedutivamente, com a informação temática ou principal no seu início, fica mais simples para os leitores menos experientes conseguirem formular uma hipótese inicial adequada. Todavia, isso não acontece no parágrafo inicial desse texto. Nesse caso, o título do texto pode ter sido distorcido pelos estudantes, uma vez que não corresponde, em parte, ao que foi apresentado no primeiro e no segundo parágrafos. Nessa situação, [...] o leitor considerará como temáticas ou subtemáticas apenas aquelas informações relativas a sua primeira hipótese, com base no título, e tenderá a ignorar aquilo que para ele é mero detalhe (KLEIMAN, 1989, pág. 59). De fato, 56,4% dos alunos escolheram outras opções que não a tida como correta. Dentre essas, a segunda opção mais escolhida pelos alunos (letra A da exatidão da matemática da vida) é evidente no texto, haja vista o autor, por várias vezes, recorrer a cálculos matemáticos como argumentos para sustentar a ideia central do texto, o que pode ter levado os alunos a essa escolha. Talvez o que tenha lhes faltado foi a compreensão de que a matemática apresentada no texto não é exata, pois 1 + 1 não é igual a 3 ou igual a 1.

65 Já a questão 05 (reproduzida a seguir) apresenta um texto curto e pouco complexo. Quadro 7 - Reprodução da questão 05 da Prova Brasil (2011) bloco 3 As Amazônias TB_006578 Esse tapete de florestas com rios azuis que os astronautas viram é a Amazônia. Ela cobre mais da metade do território brasileiro. Quem viaja pela região, não cansa de admirar as belezas da maior floresta tropical do mundo. No início era assim: água e céu. É mata que não tem mais fim. Mata contínua, com árvores muito altas, cortada pelo Amazonas, o maior rio do planeta. São mais de mil rios desaguando no Amazonas. É água que não acaba mais. SALDANHA, P. As Amazônias. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. Fonte: Brasil (2011). QUESTÃO 05 O texto trata IT_026888 (A) da importância econômica do rio Amazonas. (B) das características da região Amazônica. (C) de um roteiro turístico da região do Amazonas. (D) do levantamento da vegetação amazônica. Com efeito, na busca empreendida, verificamos que as opções de respostas remetem a elementos secundários do texto, o que pode confundir o processo de identificação do tema principal. É possível perceber que os alunos sentem dificuldade de convergir os elementos secundários para o elemento principal. Ricardo, um dos alunos que errou essa questão, quando teve outra oportunidade para reler o texto e assim achar a resposta correta, disse que escolheria a letra C (de um roteiro turístico da região do Amazonas). Para ele, as palavras do texto, em especial o verbo viajar, apresentam um lugar para se conhecer, onde são enfatizadas as belezas e as dimensões da região amazônica. Por isso, o assunto principal seria um roteiro turístico. O que o aluno pode ter realizado, inconscientemente, foi o processo de sinonímia, isto é, relações de similaridade das palavras ( Esse tapete de florestas, as belezas da maior floresta tropical do mundo, árvores muito altas ) com o gênero discursivo roteiro turístico, já que este último tem a finalidade de despertar interesse nas pessoas para conhecer algum lugar. Esse raciocínio pode ter levado 15,4% dos alunos a optarem pela letra C. Manoela Heloísa, aluna do 8 o ano A, relata a dificuldade de escolher a opção correta. Para ela, todas as opções se encaixavam. O que se percebe ainda é que, seja o texto curto ou não, os alunos colaboradores desta pesquisa têm dificuldades de encontrar o assunto principal, haja vista que essa tarefa exige a compreensão do tema tratado, bem como o reconhecimento dos conectores que estabelecem a junção das partes do texto. Falta, por parte deles, o conhecimento linguístico necessário para mobilizar as estratégias de leituras adequadas que poderiam ajudar na identificação do tema. Por exemplo, entender que o campo semântico

66 região amazônica inclui os rios e a vegetação e que, portanto, a opção B (das características da região Amazônica), elimina as outras duas que envolvem o rio e a vegetação amazônica. Dada a quantidade de Descritores, observamos ainda que dois deles o D10 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa e o D15 Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, entre outros, merecem destaque, visto que o percentual de aproveitamento não atingiu 30%, como mostra o gráfico a seguir. Gráfico 4: Descritores x percentual de aproveitamento dos alunos no simulado 1 Fonte: acervo da pesquisa (2015). Já que a exatidão dos números não é o bastante para nos fazer entender esses dados, replicaremos as questões referentes a esses descritores para procedermos a uma reflexão.

67 Quadro 8 Reprodução das questões 08 e 09 da Prova Brasil (2011) bloco 3 TB_006594 QUESTÃO 08 IT_027473 O boto e a Baía de Guanabara O fato que provoca a discussão entre as personagens é Piraiaguara sentiu um grande orgulho de ser carioca. Se o Atobá Maroto tinha dado nome para as ilhas, ele e todos os outros botos eram muito mais importantes. Eles eram o símbolo aquele lugar privilegiado: a cidade do Rio de Janeiro. - A mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Piraiaguara fazia questão de lembrar do título, e também de toda a história da cidade e da Baía de Guanabara. Os outros botos zombavam dele: Leal? Uma cidade que quase acabou conosco, que poluiu a baía? Heroica? Uma cidade que expulsou as baleias, destruiu os mangues e quase não nos deixou sardinhas para comer? Olha aí para o fundo e vê quanto cano e lixo essa cidade jogou aqui dentro! Acorda do encantamento, Piraiaguara! O Rio de Janeiro e a Baía de Guanabara foram bonitos sim, mas isso foi há muito tempo. Não adianta ficar suspirando pela beleza do Morro do Castelo, ou pelas praias e pela mata que desapareceram. Olha que, se continuar sonhando acordado, você vai acabar sendo atropelado por um navio! O medo e a tristeza passavam por ele como um arrepio de dor. Talvez nenhum outro boto sentisse tanto a violência da destruição da Guanabara. Mas, certamente, ninguém conseguia enxergar tão bem as belezas daquele lugar. Num instante, o arrepio passava, e a alegria brotava de novo em seu coração. HETZEL, B. Piraiaguara.São Paulo: Ática, 2000. p. 16 20. Fonte: Brasil (2011). (A) a escolha de nomes de botos para as ilhas. (B) a história da cidade do Rio de Janeiro. (C) o orgulho do boto pela cidade do Rio de Janeiro. (D) os perigos do Rio de Janeiro para os botos. QUESTÃO 09 IT_027406 Em Se continuar sonhando acordado, você vai acabar sendo atropelado por um navio!, o termo sublinhado estabelece, nesse trecho, relação de (A) causa. (B) concessão. (C) condição. (D) tempo. Em relação à questão 08, que se refere ao Descritor 10, observamos que a maioria dos alunos (48,7%) optou pela letra D (os perigos do Rio de Janeiro para os botos), para assim dizer que os perigos do Rio de Janeiro, descritos no conto, dão origem ao conflito do enredo. Apenas, 28,2% responderam corretamente o item, escolhendo a opção C (o orgulho do boto pela cidade do Rio de Janeiro). A finalidade desse descritor é levar o aluno a identificar um dos elementos constitutivos da narrativa. Ora, ao escolherem a letra D, os estudantes podem ter elaborado a hipótese de que o texto trata de um lugar que um dia foi bonito como mostra o trecho o Rio de Janeiro e a Baía de Guanabara foram bonitos sim, mas isso foi há muito tempo, e que agora, a poluição e o desmatamento representam uma situação de perigo para os botos, o que se confirma no decorrer da história, através do diálogo que se estabelece com o boto Piraiaguara, o único que ainda vive no passado.

68 Nessa perspectiva, observamos que a leitura é uma espécie de jogo de adivinhação, pois o leitor ativo, engajado nesse processo, elabora hipóteses e as testa, a medida em que vai lendo o texto (KLEIMAN,1989). Assim, é possível dizer que a opção escolhida pela maioria dos alunos (letra D) faz sentido, pois o que instaura o conflito no enredo não é apenas o orgulho do boto Piraiaguara pela cidade do Rio de Janeiro, mas os perigos da cidade para os botos não vistos por ele. Esse raciocínio nos leva a pensar, mais uma vez, que a formulação de algumas questões da Prova Brasil não é suficientemente elucidativa, especialmente em se tratando do público a que se destinam. Passando agora para a questão 09, que trata do descritor 15, cujo percentual de acerto foi de apenas 20,5%. Esse número aponta que o estudo dos conectores, em especial das conjunções, deve considerar não só o aspecto sintático, mas, principalmente, abranger as possíveis relações de sentido que elas podem estabelecer no texto. A conjunção se, no texto em análise, indica circunstância de condição para que determinado fato se realize (o boto só vai ser atropelado SE continuar sonhando). O baixo índice de acerto dessa questão pode revelar a concepção de gramática adotada pela maioria dos professores de língua portuguesa que ainda ensinam a regra pela regra, não a associando aos usos sociais cotidianos. Em geral, representam tão somente um conteúdo a ser explorado desde o 7 o ano do ensino fundamental e, nesses casos, são ensinadas tendo em vista dois aspectos: definição e classificação. Possivelmente é por isso que nossos dados demonstram que boa parte dos colaboradores desta pesquisa desconhecem as relações semânticas de causa, concessão, condição, tempo, entre outras, que podem ser instauradas pelo uso das conjunções dentro de um texto falado ou escrito. É bem possível também que algumas palavras presentes nas opções sejam totalmente desconhecidas para eles, como é o caso da palavra concessão. 4.4 SIMULADO 2 Antes de realizar o segundo simulado (e diante dos dados gerados pelo primeiro), realizamos uma oficina de leitura com as questões do primeiro bloco da Prova Brasil. Assim, os alunos foram agrupados em duplas para que pudessem reler os textos, quebrando o monólogo que, muitas vezes, se estabelece nas práticas de leitura em sala de aula.

69 Isso porque é durante a conversa sobre o texto que o leitor estabelece conexões para produzir significados, muito mais do que na leitura silenciosa ou em voz alta. Nesse processo de interação com o outro, muitos aspetos que o aluno sequer percebeu ficam salientes, e aquilo que não estava claro se ilumina nessa construção conjunta de compreensão (KLEIMAN, 1992). Adotamos esse encaminhamento para solicitar aos alunos que relessem os textos, colaborando uns com os outros para buscar a compreensão, ativar a memória, fazer inferências e incorporar os aspectos socioculturais da leitura, tais como: relação dialética entre texto e condições de produção, leitura situada, compreensão da importância da linguagem como um recurso de mediação, compartilhamento de experiências de mundo (abertura ao outro). Afinal, ler não é apenas decodificar palavras. Nessa ação, os estudantes puderam contar com o auxílio da professora que, além de orientar a discussão, não mais de forma empírica, mas buscando estratégias que permitissem refletir sobre o objeto de estudo (o texto), privilegiando a informação, aquilo que é dito e também aquilo que não é dito, foi também mostrando o percentual de acerto das questões do bloco 3 (primeira etapa). A estratégia de dar visibilidade aos números alcançados na primeira etapa chamou a atenção dos alunos, mobilizando a participação de todos na resolução das questões e preparando-os melhor para a segunda etapa. De fato, com essa prática, entendemos que, para intervir de forma exitosa na realidade da sala de aula, é preciso ser sensível ao que acontece dentro dela. Isso implica estar instrumentalizado de recursos teórico-metodológicos para implementar situações e soluções criativas e avaliar o impacto delas (SOLÉ, 1998). Assim, nessa etapa, o tempo foi monitorado. Os alunos só podiam sair após 25 minutos do início da prova 7. Dos 39 alunos que participaram da segunda etapa, 17 acertaram menos da metade da prova, o que corresponde ao percentual de 43,6%; os outros 56,4% acertaram mais da metade da prova. Comparando-se os dados da primeira atividade com a segunda, observamos que, mesmo com a oficina, houve uma queda no percentual de aproveitamento, isto é, o número de alunos que atingiram mais de 50% de pontuação na prova caiu, como mostra o gráfico 05. 7 Tempo máximo disponibilizado pelo INEP para que os alunos respondam a cada bloco da Prova Brasil em situação real de aplicação.

70 Gráfico 5 - Percentual de acertos no simulado 1 e 2 Fonte: acervo da pesquisa (2015). Se o foco deste projeto de intervenção é colocado na investigação de uma possibilidade de se modificar a situação existente em sala de aula, o que fizemos? Que ressignificação nós propusemos? Ela foi eficiente? A essas perguntas temos algumas respostas, nem todas favoráveis ao nosso trabalho. No entanto, realizamos as oficinas com o objetivo de ressignificar as práticas de leitura dos alunos e o que percebemos é que o conhecimento que tínhamos a respeito de leitura e escrita era limitado e, assim, as oficinas não corresponderam ao desejado. Assumir tal posicionamento, entretanto, requer um movimento de ação-reflexão-ação que passa pela autocrítica. Para tanto, é preciso fazer um trabalho educativo de real valor para que essa ressignificação do ensino seja perceptível e traga mudanças consideráveis para a vida daqueles que dele participam. Outro fator que, possivelmente, contribuiu para que o percentual de aproveitamento fosse mais baixo na segunda atividade em relação à primeira foi a metodologia adotada. Na primeira, não houve monitoramento do tempo; na segunda, sim. Esse fator, o tempo, quando limitado, parece ser danoso para os resultados. Além disso, os descritores, tais como: D20 Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daqueles em que será recebido; D13 Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto, parecem exigir do estudante maior articulação com as habilidades para que uma leitura proficiente seja realizada.

71 Diante desses números e do tempo dedicado a esse trabalho, o sentimento de desafio se mistura ao cansaço e, por vezes, à tristeza de não enxergar uma pronta resposta positiva. Um turbilhão de sentimentos caminha junto nessa empreitada. No entanto, não podemos desanimar. Afinal, ainda há muito a ser feito... E essa é, talvez, a única certeza que temos. Foi essa certeza que nos moveu a continuar gerando dados e nos move, agora, na análise. Por ora, nessa etapa, analisaremos o descritor 1 Localizar informações explícitas em um texto. Esse descritor se repete dentro do bloco e, em relação a ele, os percentuais de acertos são bem diferentes. Para exemplificar essa ocorrência nas questões que avaliam as competências associadas ao descritor 1, reproduzimos as questões 04 e 08 da Prova Brasil, modelo 2011, bloco 4. Quadro 9 Reprodução da questão 04 da Prova Brasil (2011) bloco 4 TB_006360 QUESTÃO 04. Minha Sombra De manhã a minha sombra com meu papagaio e o meu macaco começam a me arremedar. E quando eu saio a minha sombra vai comigo fazendo o que eu faço seguindo os meus passos. Depois é meio-dia. E a minha sombra fica do tamaninho de quando eu era menino. Depois é tardinha. E a minha sombra tão comprida brinca de pernas de pau. Minha sombra, eu só queria ter o humor que você tem, ter a sua meninice, ser igualzinho a você. E de noite quando, escrevo, fazer como você faz, como eu fazia em criança: Minha sombra você põe a sua mão por baixo da minha mão vai cobrindo o rascunho dos meus poemas sem saber ler e escrever. LIMA, Jorge de. Minha SombraIn: Obra Completa. 19 ed. Rio de Janeiro: José Aguillar Ltda, 1958. Fonte: Brasil (2011). IT_02697 De acordo com o texto, a sombra imita o menino (A) de manhã. (B) ao meio-dia. (C) à tardinha. (D) à noite.

72 O descritor 1 Localizar informações explícitas em um texto foi explorado três vezes no modelo 2011 da Prova Brasil. Para responder à questão 04 corretamente, o aluno precisa associar o sentido da palavra arremedar, presente na linha 3 do texto, a imitar, presente no comando da questão. Essa associação é reforçada com a expressão fazendo o que eu faço (linha 6). São informações que aparecem na superfície textual, oferecendo mais pistas ao leitor no procedimento de desvendar o texto. Além desse recurso à superfície textual (que levou 66,7% dos alunos a escolherem a opção A - de manhã), o vocábulo arremedar é muito usado na comunidade de aprendizagem que faz parte desta pesquisa, ou seja, consta no acervo lexical deles, o que pode não ocorrer em outro grupo de leitores de outra região do País. Vemos, portanto, que a análise situacional de algumas questões da Prova Brasil pode trazer resultados diferentes a depender do grupo cujos dados analisarmos. Esse é um problema de base pelo qual passam as avaliações nacionais realizadas em um país continental feito o Brasil. Já a questão 08 (reproduzida a seguir), mostra um percentual de acerto relativamente baixo (35,9%), mesmo estando associada ao mesmo descritor (localizar uma informação), expresso de maneira literal ou por meio de uma paráfrase. Quadro 10 - Reprodução da questão 08 da Prova Brasil (2011) bloco 4 TB_007451 QUESTÃO 08 IT_043070 Prezado Senhor, Somos alunos do Colégio Tomé de Souza e temos interesse em assuntos relacionados a aspectos históricos de nosso país, principalmente os relacionados ao cotidiano de nossa História, como era o dia-a-dia das pessoas, como eram as escolas, a relação entre pais e filhos etc. Vínhamos acompanhando regularmente os suplementos publicados por esse importante jornal. Mas agora não encontramos mais os artigos tão interessantes. Por isso, resolvemos escrever-lhe e solicitar mais matérias a respeito. O tema de interesse dos alunos é (A) cotidiano. (B) escola. (C) História do Brasil. (D) relação entre pais e filhos. Fonte: Brasil (2011). Observamos que essa questão apresenta uma complexidade maior do que as anteriores, pois o comando elaborado com base na competência para identificar uma informação explícita em um texto traz quatro opções que apontam, diretamente, para elementos abordados pelo texto. São informações que aparecem na superfície textual (como por exemplo, o cotidiano da nossa história que inclui o cotidiano das pessoas, da escola, a relação entre pais e

73 filhos) e que podem, exatamente por isso, causar dificuldade para os alunos, uma vez que todas elas apresentam informações verídicas em relação ao texto. Para não se confundir com as opções propostas, o estudante tem de entender que o interesse dos alunos do Colégio Tomé de Souza não é o cotidiano, mas o cotidiano de nossa História. Em outras palavras, o texto especifica muitos interesses. Um deles é o cotidiano, o que levou a maioria dos alunos (41%) a marcarem a opção A (cotidiano). No entanto, todos esses interesses ficam subordinados a outro, que é geral: a História do Brasil. Finalizado o primeiro ciclo de nossa pesquisa e diante dos dados gerados, começamos a avaliar os avanços e os recuos do processo. Entre os avanços, está o interesse dos alunos em continuar estudando as estratégias de leitura, isso porque relacionam ao propósito de alcançarem melhores notas no exame de seleção do IFRN. Outro avanço que pudemos observar é o interesse da gestão da EEAT em promover simulados com toda escola com a finalidade de orientar seus estudantes quanto às práticas de leitura voltadas para marcação de gabarito e a relação objeto de avaliação e tempo limite para respondê-lo. Em se tratando dos recuos, é perceptível a necessidade de contextualizar a Prova Brasil no cotidiano da escola, em outras palavras, é necessário dedicar mais tempo para o ensino da leitura em sala de aula. Essa reflexão da ação nos trouxe o seguinte posicionamento: é preciso retomar as oficinas de leitura, além de procurar dar maior significado à participação dos estudantes nessa avaliação, para então, realizarmos uma terceira atividade nos moldes da Prova Brasil. Essa atividade denominaremos de simulado 3. 4.5 OFICINAS DE LEITURA Na busca de uma prática de ensino que evidencie a linguagem escrita, em especial a leitura, retomamos as oficinas. Essas oficinas perseguiram o objetivo não apenas de preparar os alunos para a Prova Brasil, mas de propor a leitura como uma atividade que integra todos os saberes na premissa incessante de construir novos saberes (KLEIMAN, 1999).

74 Partindo desse pressuposto, para efeito didático, dividimos as oficinas de leitura basicamente em três momentos: O primeiro se ateve aos textos que representam gêneros da ordem do narrar; o segundo enfatizou o projeto do dizer, as marcas de autoria presentes nos textos; o terceiro focalizou textos da ordem do argumentar. 4.5.1 Primeira oficina de leitura: gêneros da ordem do narrar Como o nosso foco é a Prova Brasil, optamos por trabalhar com os textos que representam os diversos gêneros discursivos presentes nela. Isso não quer dizer que ficamos limitados a esses textos, ao contrário, outras leituras foram surgindo a partir da sugestão ou do interesse dos sujeitos envolvidos nessa pesquisa. Assim, no primeiro momento selecionamos os textos que representam gêneros da ordem do narrar, tais como contos, fábulas, crônicas e relatos. Dessa forma, a turma foi dividida em pequenos grupos, compostos por 5 estudantes. Foi entregue também a seleção de textos da ordem do narrar (ver anexo C) presentes na Prova Brasil, modelo 2011, para que eles pudessem fazer uma leitura colaborativa, identificando os personagens, o enredo, onde encontramos textos desse gênero, qual a finalidade deles, sobre o que tratam, quem são os autores, quais são suas intenções comunicativas, entre outros aspectos. Figura 4 - Primeira oficina de leitura. Figura 5 - Primeira oficina de leitura. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Para atender a esses objetivos, resolvemos utilizar o seguinte quadro, com questões pontuais em torno de conteúdos específicos, para preenchimento a partir da leitura dos textos distribuídos em sala.

75 Quadro 11 Quadro informativo sobre os textos da ordem do narrar Oficina 1 1 Título do texto: 2 Autor: 3 Gênero discursivo: 4 Predominância verbal: 5 Sobre o que tratam (narram)? 6 Personagens? Quem são? 7 Onde a história se desenvolve? 8 Como é o final? 9 Qual o suporte em que o texto foi veiculado? Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Com essa atividade, pudemos perceber que (i) não é fácil identificar o suporte em que determinados textos, originalmente, são veiculados; (ii) a maioria dos alunos não têm a prática de ler as informações presentes no texto sobre o autor. Em razão disso, por vezes se repetiu a visão equivocada de que narrador e autor do texto seriam a mesma pessoa. Essa prática de reconhecer quem enuncia, de onde e com que intenções é muito importante para responder satisfatoriamente aos itens da Prova Brasil, visto que são muitos os descritores relacionados a essa competência. No entanto, por ocasião das sessões reflexivas, alguns alunos enfatizaram que a maioria das atividades de leitura em sala de aula tem o objetivo de retirar informações do corpo do texto, não sendo necessária a leitura dessa parte pequena, que fica no final do texto, conforme se subentende nos trechos transcritos a seguir. Muita das vezes eles ((os professores)) só querem mesmo que a gente é [...] saiba ler [...]. Muitas das vezes não tentam ensinar direitinho como é ((se referindo ao processo de interpretação de textos)). Maria Helena. Trecho de sessão reflexiva, em 01 de agosto de 2014. Às vezes eles ((os professores)) mandam a gente interpretar, mas às vezes só quer que a pessoa leia e saiba ler! Só [...]. Clebson. Trecho de sessão reflexiva, em 01 de agosto de 2014. Dois aspectos em especial podem ser ressaltados das falas de Maria Helena e Clebson. O primeiro deles é o conceito de ler que está associado à decodificação das palavras, isto é, para saber ler o estudante precisa apenas associar as letras ao som e o processo de aquisição da leitura se restringe à assimilação do código. No entanto, até essa relação entre sons e letras é um processo complexo, no qual nem sempre o som K, por exemplo, é representado por essa letra, pode ser representada pela letra C + A = CA. Obviamente, a decodificação é importante para o desenvolvimento de um leitor proficiente, pois uma leitura fluente depende também da competência linguística de decodificar. Porém, quando a escola se limita a esse trabalho, corrobora para formação de um

76 cidadão cingido, limitado, que pode ser alienado. De fato, muitas vezes, essa prática estorva oportunidades para alcançar uma vida mais digna. Assim, diante da enorme responsabilidade de ensinar a ler como prática social, levando em consideração os sujeitos envolvidos no ato da leitura, bem como o objetivo de cada prática de leitura, decodificar é apenas o primeiro passo para construir sentidos de acordo com as condições de funcionamento da situação comunicativa e do gênero discursivo que a emoldura. Para tanto, é necessário mobilizar um conjunto de saberes sobre a língua, o gênero, o tema focalizado, o autor do texto, o suporte, os modos de leitura, entre outros. O segundo aspecto a se destacar se refere à limitação da própria prática de leitura. É lido o texto central. As informações sobre o autor são ignoradas ou, na melhor das hipóteses, são colocadas em segundo plano. Possivelmente, esse procedimento está ancorado na ideia de que essas informações sejam desnecessárias para a construção do significado. Todavia, sabemos que elas são de fundamental importância para atribuir significado ao texto, bem como para o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que esses dados nos oferecem pistas das condições de produção do texto, bem como evidenciam seu locutor. Nossos dados demonstram que informações importantes (algumas exofóricas ao texto) são oferecidas, mas são também prontamente (in)visibilizadas, haja vista a ausência de ensino sistematizado do valor que esses elementos podem agregar à compreensão de determinados textos. Dito isso, no momento seguinte, os grupos foram orientados a irem à biblioteca para escolherem um livro que representasse um dos gêneros discursivos estudados. Para isso, distribuímos a seguinte orientação. Orientações: Quadro 12 - Orientações para escolha do livro na biblioteca Oficina 1 O grupo deve procurar um livro na biblioteca que contenha um dos gêneros discursivos estudados (vamos montar uma pequena amostra com os livros que vocês escolherem, por isso, não vale dizer que pegou o texto na internet. Quero ver o livro!). O grupo deve pesquisar sobre o gênero discursivo selecionado e escolher uma história para compartilhar com a turma. Sejam criativos e usem essa juventude linda! No dia da apresentação, tragam o livro para fazermos a exposição. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Essa atividade nos levou a outros procedimentos. Um dos grupos decidiu trabalhar com lendas e escolheu uma relacionada à cidade de Extremoz. Um componente do grupo

77 relatou que o pai dele tinha um livro muito especial. Esse livro tratava da história do município, mas não estava disponível para empréstimo, pois era muito especial para o pai. Porém, apesar dessa condição, a aluna, ciente de que queria apresentar essa lenda para os colegas de classe, explicou ao pai a importância da atividade. Ao ver o envolvimento da filha com o trabalho a ser realizado, o pai prontamente emprestou o livro e, assim, o grupo apresentou a lenda da cobra, despertando o interesse de toda a turma para saber mais sobre a Cidade, já que muitos são moradores novos e não conhecem a história do munícipio. Figura 6 - Escolha do livro na biblioteca da escola. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Diante da apresentação bem sucedida dos grupos e da empolgação dos estudantes, resolvemos organizar um sarau com a exposição dos livros lidos, poesias e músicas. Essa empolgação, a nosso ver, coloca em evidência a afirmação equivocada de uma parcela significativa de professores que dizem que seus alunos não gostam de ler ou leem pouco. Esses professores, provavelmente, consideram como bons leitores somente aqueles que leem os clássicos da literatura ou os jornais impressos, revelando assim, uma perspectiva elitista de leitura, que considera apenas os cânones como leitura adequada. O fato é que, se continuarmos com a supervalorização de uma leitura idealizada, corremos o risco de não enxergar o que está posto no dia a dia desses estudantes, que, contrariando o que dizem sobre as práticas de leitura deles, leem textos de diferentes gêneros discursivos no dia a dia e gostam de ler, tomando esse verbo como transitivo (SOARES, 2009). Todavia, é preciso realinhar o curso dessa história e considerar o que esses alunos leem; o que gostam de ler para não fazer afirmações generalizadas nem duvidosas.

78 Assim, com o propósito de identificar que tipo de leitura os adolescentes envolvidos nesta pesquisa fazem com frequência, construímos um gráfico, a partir do questionário do aluno, exemplificando que tipo de acervos são mais acessados por eles, podendo revelar suas identificações com um gênero discursivo e não outro. Gráfico 6 - Acervos de leituras acessados pelos alunos com frequência. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Como podemos observar, dos 41 alunos que responderam ao questionário, apenas 01 lê com frequência jornais impressos, enquanto que 14 leem notícias na internet e 32 leem mensagem nas redes sociais. Esses dados revelam que, embora os alunos não leiam jornais impressos, procuram saber das notícias através da internet, seja por meio de blogs seja nas redes sociais. Essa preferência se justifica se considerarmos o fenômeno da internet, que revolucionou a forma de ver e de fazer as diversas atividades humanas na sociedade atual, inclusive, a forma de ler os mais variados gêneros discursivos. Outro dado relevante é o que corresponde ao acesso a livros classificados como sagas/trilogias. Conforme mostra o gráfico acima, 19 alunos (46,3%) aderiram à leitura de títulos como Harry Porter, Senhor dos Anéis e, mais recentemente, A culpa é das estrelas. Esse número concorre com o acesso a livros de literatura (48,8%), enquanto que apenas 14 (34,1%) acessam os livros escolares frequentemente. Parece-nos, portanto, que os estudantes envolvidos nesse projeto leem com frequência algum gênero discursivo e que o conteúdo virtual é a preferência deles.

79 Dito isso, voltemos, novamente, o nosso olhar para a essência desse subitem a primeira oficina de leitura que desencadeou outra ação também significativa: a escrita de uma carta de agradecimento ao Sr. Marcelo Silva, proprietário do livro sobre a Cidade de Extremoz. Essa prática de escrita comprova que, no desenvolvimento de projeto de letramento, ensinantes e aprendentes escrevem também na escola, não para a escola (TINOCO, 2008). Toda essa empolgação abriu espaço para estudarmos o gênero discursivo carta que, apesar dos gêneros criados a partir do fenômeno Internet (messenger, e-mail, blog, vlog, Whatsapp), ainda tem funções sociais bastante necessária atualmente, a saber: agradecer algo a alguém; recomendar alguém a determinado posto/função; reivindicar um direito; solicitar algo, entre outras. Diante do exposto, fica perceptível a rede de atividades que foram sendo desenvolvidas ao longo desse processo e que, portanto, não se restringiram à análise dos modelos de Prova Brasil a que tivemos acesso. Para tanto, vejamos o quadro a seguir. Quadro 13 - Práticas de leitura e escrita realizadas pelos alunos Oficina 1 Evento Texto Gênero Tarefa/agentes Resultado Dialogar com os alunos sobre a Debate oral sobre as Minhas férias, pula uma concepção das práticas de expectativas dos alunos linha, parágrafo Conto leitura e escrita adotadas nas em relação às aulas de (Christiane Gribel). aulas de língua portuguesa. língua portuguesa. 1ª oficina de leitura A última crônica (Fernando Sabino) Rapunzel Grimm). (Irmãos A lenda da Cobra (conhecimento popular) Pocahontas Cordel sobre a cidade de Extremoz Retrato (Cecília Meireles) Auto-retrato (Manuel Bandeira, Millôr Fernandes e Mário Quintana) Crônica Conto de fadas Lenda Conto de fadas Cordel Poesia Fazer um levantamento das possíveis condições socioeconômicas das personagens do texto. Identificar as marcas de autoria. Estabelecer a intertextualidade entre o texto e o filme Os Enrolados (Disney). Compartilhar a leitura com toda turma. Compartilhar a leitura com toda turma. Compartilhar a leitura com toda turma. Observar a mudança de algumas regras no acordo-ortográfico (uso do hífen); observar a forma como cada autor escreveu seu texto. Discussão sobre os dados socioeconômicos do questionário do INEP. Produção de resumos em grupo; identificação dos elementos que compõem uma estrutura narrativa. Exposição oral do texto. Exposição oral do texto. Fortalecimento dos laços de pertencimento ao grupo e do sentimento de valorização da cidade. Produção de um autorretrato.

80 Evento Texto Gênero Tarefa/agentes Resultado Última mensagem (autoria dos alunos); O sonho (Clarice Lispector); Poesia Recitar o poema no sarau. Realização do sarau. Poeminha amoroso (Cora Coralina). Carta de Pero Vaz de Produção de uma carta Caminha; carta de de agradecimento Observar a finalidade do gênero cobrança; carta de Carta (pessoal); produção de discursivo carta. reclamação e solicitação; uma carta de carta pessoal. solicitação. 1ª oficina de leitura Chuva de novembro (Projota); Quase sem querer (Renato Russo); Destino (Lucas Lucco) Aquarela (Toquinho) Música Cantar a música escolhida no sarau. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Realização do sarau. Assim, nesse processo dinâmico de leitura compartilhada, os estudantes foram se deixando envolver e trouxeram à tona suas histórias e leituras e a impressão que tiveram sobre elas, despertando o interesse dos demais. Dessa forma, suas subjetividades foram sendo legitimadas, seus modos de vida e de ações puderam desencadear mudanças, tendo em vista a construção e a apropriação de conhecimentos, valores e práticas (TINOCO, 2008). Depois desse momento, buscamos também direcionar a oficina para a formação de um leitor que se prepara para uma avaliação específica: a Prova Brasil. Na ocasião, trouxemos os textos e as questões disponíveis no modelo 2011 da Prova Brasil, para que eles, ainda em grupo, respondessem. 4.5.2 Segunda oficina de leitura: o projeto do dizer Realizada no período de 10 a 14 de agosto de 2015, a segunda oficina teve como objetivos: (i) apreender o efeito provocado pela forma como o autor escreve os fatos, isto é, as diferentes formas de dizer um texto, seja ele oral ou escrito; (ii) observar as marcas de autoria presentes nos textos. Iniciamos a atividade com a leitura compartilhada de uma lista de ditados populares (ver apêndice D), observando, nas entrelinhas, o que cada um queria dizer. Em seguida, solicitamos aos alunos que escolhessem dois ou três ditados populares, reescrevessem-nos na linguagem denotativa e apresentassem para turma.

81 Figura 7 - Segunda oficina de leitura. Figura 8 - Segunda oficina de leitura Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Nesse momento, os estudantes demonstraram muito entusiasmo com a atividade, comprovada pela participação de toda a turma e ainda o desempenho coletivo quanto à execução da tarefa que chamou a atenção dos alunos de outras turmas, conforme demonstra a figura 7. Em seguida, pedimos aos alunos que lessem o conteúdo referente às figuras de linguagem presente no livro didático adotado pela escola (Jornadas.port) e observassem a semelhança com o projeto de dizer dos ditados populares, poema, músicas e até mesmo os contos lidos nas aulas anteriores. Além disso, fizemos uma exposição oral com a utilização de slides sobre as figuras de linguagem e lemos alguns poemas e músicas 8 como exemplos de textos que utilizam figuras de linguagem. Após esse momento, fizemos uma breve discussão sobre as marcas de autoria. Se afirmamos que os gêneros discursivos atendem a uma finalidade, isso quer dizer que não são produzidos aleatoriamente, então, a seleção lexical pode responder a uma intenção particular do autor do texto na tentativa de produzir um certo efeito discursivo. Nesse sentido, Solé (1998, p. 46) afirma que: [...] quando um leitor compreende o que lê, está aprendendo; à medida que sua leitura o informa, permite que se aproxime do mundo de significados de um autor e lhe oferece novas perspectivas ou opiniões sobre determinados aspectos [...]. 8 Poemas lidos: Retrato (Cecília Meireles); O sonho (Clarice Lispector); Poeminha amoroso (Cora Coralina). Músicas lidas: Certas coisas (Lulu Santos) e Aquarela (Toquinho).

82 Assim, entender que uma palavra no diminutivo, por exemplo, pode indicar afeto ou desprestígio nos leva a discernir o dito pelo não dito, nos fazendo perceber a razão por que selecionar tal palavra e não outra. Essa aprendizagem de seleção lexical, bem como de análise de inferências (pressupostos e subentendidos) torna a leitura um instrumento útil para agir socialmente. Ao final da segunda oficina, voltamos o nosso olhar para as questões da Prova Brasil que envolvem procedimentos de leitura para identificação de efeitos de ironia, reconhecimento do efeito de escolhas lexicais num texto, utilização de pontuação, entre outros aspectos. Dessa forma, observamos que os alunos, em sua maioria, conseguiram acertar as questões que se referem a esses procedimentos de leitura presentes nessa avaliação nacional, como mostra o gráfico 7. Gráfico 7 Percentual de acerto Fonte: Acervo da pesquisa (2015). 4.5.3 Terceira oficina de leitura: gêneros da ordem do argumentar Entre os dias 01 e 04 de setembro de 2015, foi realizada a terceira oficina de leitura, que buscava alcançar dois objetivos principais. O primeiro foi apresentar aos alunos os gêneros discursivos da ordem do argumentar, com destaque para o artigo de opinião e a carta de reclamação e de solicitação, uma vez que apresentam o posicionamento do autor e os argumentos por ele utilizados para sustentar uma tese. O segundo foi orientar os alunos a identificarem a tese e os argumentos, fazendo a distinção entre fato e opinião em um texto.

83 Iniciamos a aula tratando de um assunto polêmico vivenciado pela escola: a manifestação dos alunos contra os professores e a gestão escolar por causa da divisão dos grupos para participação em uma gincana da escola. Essa divisão não agradou aos alunos porque eles não puderam escolher o grupo no qual queriam participar. Nessa manifestação, os estudantes perderam a razão, posto que usaram violência verbal e física entre eles e se comportaram de forma agressiva também com professores e funcionários. Por esse motivo, a Direção da EEAT decidiu suspender a gincana no turno matutino. Esse fato marcou a semana de aula e foi motivo de muitas discussões. Havia os que apoiavam a decisão da Direção e os que não apoiavam. Aproveitamos a oportunidade para debater sobre o assunto e dividimos a turma em dois grupos que deveriam escrever um texto que tivesse argumentos para justificar seu posicionamento, fosse ele a favor ou contra a decisão da Direção. Nessa ocasião, relembramos que os gêneros discursivos da ordem do argumentar envolvem assuntos ou problemas sociais controversos, visando a um entendimento e a um posicionamento diante deles por meio dos argumentos de sustentação de um ponto de vista (BARBOSA, 2005). Na aula seguinte, dividimos a turma em duplas e entregamos trechos de textos argumentativos para que eles pudessem identificar a tese e os argumentos que sustentavam essa tese (ver anexo F). Essa atividade foi desenvolvida a fim de atender a uma demanda revelada na análise dos resultados dos simulados 1 e 2 que constataram a dificuldade que a maioria dos alunos têm de identificar a tese ou o assunto principal de um texto. Assim, em seguida, selecionamos os textos da ordem do argumentar presentes na Prova Brasil (anexo E), modelo 2011, para que, ainda em dupla, os alunos lessem e preenchessem o seguinte quadro informativo. Quadro 14: Quadro informativo sobre os textos da ordem do argumentar Oficina 3 1 Gênero discursivo. 2 Produtor (autor) do texto. 3 Papel social do produtor do texto ao escrever o texto. 4 Interlocutor. 5 Papel social do interlocutor. 6 Objetivo do texto. Fonte: Acervo da pesquisa (2015).

84 O preenchimento desse quadro revelou que era a primeira vez que os alunos refletiam sobre o papel social do produtor do texto ao escrevê-lo, bem como o papel social do interlocutor. Para os estudantes do 9 ano da EEAT, essa atividade foi difícil. Primeiro, porque era a primeira vez que a executavam. Segundo, porque foi preciso recorrer a outros meios, que não o texto de análise, para realizar essa tarefa. Um desses meios foi a pesquisa na internet sobre o autor(a) do texto. A partir dessas pesquisas, os alunos passaram a inferir as informações necessárias para identificar qual o papel social do interlocutor ou descobrir o público alvo para quem o autor destinara seu texto. Após esse momento, colocamos na lousa as respostas dadas pelos grupos fazendo os ajustes quando necessário. 4.6 SIMULADO 3 Os simulados já fazem parte da vida de muitos discentes, sobretudo daqueles que estudam em escolas particulares e têm como meta ingressar em instituições federais, bem como em cargos/empregos públicos através de concursos. Todavia, a utilização de simulado na escola em que trabalhamos não era uma prática recorrente nos procedimentos didáticos adotados. É possível perceber que os alunos ficam nervosos com essa atividade e, além disso, a própria escola, muitas vezes, não promove atividades dessa natureza simultaneamente em todas as turmas por questões organizacionais (incompatibilidade de planejamento entre professores que lecionam as mesmas séries no mesmo turno ou em turnos diferentes; falta de profissionais digitadores para editar o simulado, por exemplo) e econômicas (máquinas copiadoras quebradas; insuficiente recurso para tirar cópias, entre outros). Em relação ao processo de preparação dos estudantes para a Prova Brasil, no início deste projeto de intervenção, entramos em contato com técnicos da Secretaria de Educação do Estado do RN (SEEC) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para perguntar sobre a relevância (ou não) da aplicação de simulados. Eles nos deram a informação de que não era recomendável a realização de simulados com os estudantes para que se submetessem a esse instrumento de avaliação nacional. A razão disso, segundo eles, é que bastava que os professores ministrassem os conteúdos adequados,

85 com base nos documentos curriculares para a Educação Básica, para o desempenho dos estudantes ser bom. Não concordamos com essa posição e nossos dados demonstram que ela é, de fato, questionável. Há práticas (in)visibilizadas na Prova Brasil que ultrapassam (e muito) uma relação de conteúdos balizada pelos PCN ou por outros parâmetros oficiais. Essas práticas podem interferir significativamente no desempenho dos estudantes, conforme estamos comprovando no decorrer deste capítulo. Diante disso, não nos surpreendeu o fato de, ao participar de reuniões promovidas no segundo semestre deste ano pela SEEC, observarmos que as orientações mudaram e que passou a haver um estímulo institucional para a realização de simulados com a Prova Brasil. De acordo com os organizadores das mencionadas reuniões, chegou-se à conclusão de que os estudantes precisam desenvolver familiaridade com os tipos de questões propostas nesse exame nacional. Embora o termo familiaridade nos pareça vago, nossos dados confirmam a existência de aspectos relevantes (embora invisibilizados) em relação às práticas que envolvem a aplicação dessa avaliação nacional e que podem influenciar nos dados finais (e oficiais). Esses aspectos que, para alguns, podem parecer simples, tais como: tempo de aplicação da prova, preenchimento do gabarito, presença na sala de um aplicador estranho ao processo de ensino-aprendizagem diário, para os adolescentes submetidos ao exame, não é tão simples assim. A nosso ver, essas questões não estão relacionadas apenas à proficiência em leitura, mas a outras práticas que, de igual modo, exigem instrução. São essas práticas que, em um simulado, os alunos podem vivenciar para aprimorar habilidades e aptidões. Nosso interesse, portanto, no desenvolvimento de simulados não foi reproduzir questões de preparação para que os alunos pudessem responder a testes. Nossa empreitada envolveu a reflexão sobre os resultados que temos, analisando as situações que podem interferir nos resultados dessa avaliação para, por fim, propor ações que possam contribuir positivamente com o processo de ensino aprendizagem da leitura e escrita na escola em questão. Assim, durante todo o processo, realizamos três simulados com a Prova Brasil. Os dois primeiros foram realizados no ano de 2014, quando os alunos ainda estavam no 8 o ano. Esses se aproximaram da rotina de um simulado; no entanto, não seguiram a rigidez das orientações dadas pelo INEP para realização do teste, pois a finalidade era identificar quais as principais dificuldades encontradas pelos alunos para responderem à prova. O último, realizado em setembro de 2015, adotou os controles e regras ditadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas.

86 É importante destacar que os dados gerados pelas primeiras atividades com a turma que participa diretamente da pesquisa foram apresentados no início do ano letivo de 2015 aos professores, durante a semana pedagógica. Esses resultados geraram uma ação coletiva que foi a realização de um simulado com todas as turmas da escola, com todas as disciplinas, em todos os turnos. A finalidade foi ensinar aos alunos as práticas de letramento que estão (in)visibilizadas na realização de concursos e exames como a Prova Brasil, ENEM, Olímpiadas de Matemática, que acontecem durante o ano letivo. Antes de passarmos para a apresentação dos dados do simulado 3, faz-se relevante contextualizá-lo para que possamos nos aproximar do cenário em que essa ação se desenvolveu, bem como diferenciá-la de como esses testes normalmente acontecem na escola. Como já dissemos anteriormente, há situações em que os alunos são pegos de surpresa para responder a Prova Brasil. Na escola em que atuamos, perguntamos aos professores e à coordenação pedagógica, por meio de um questionário (ver apêndice B), se, no decorrer do ano letivo, os alunos são orientados sobre as práticas e os conhecimentos exigidos na Prova Brasil. Dos 24 participantes, 14 responderam que quase nunca ou nunca orientam os alunos. Isso corresponde a um percentual de 58,3%. Os outros 37,5% disseram orientá-los eventualmente. Outra indagação feita aos professores foi se a escola já havia proporcionado algum debate sobre os resultados obtidos na Prova Brasil. Do grupo de entrevistados, 92% disseram que nunca foram chamados para debaterem sobre o assunto. Apenas ficavam sabendo que a EEAT, mais uma vez, não havia alcançado a meta proposta pelo Governo Federal. Esses dados comprovam que, mesmo a Prova Brasil sendo realizada a cada dois anos nessa escola, não há uma sistematização dela no cotidiano dessa Instituição de Ensino e, além disso, os professores e os alunos não parecem estar engajados nesse processo. Para realização do simulado que propusemos como atividade fundamental desse projeto de intervenção, levamos em consideração esses dados e, à medida que os simulados 1 e 2, bem como as oficinas de leitura foram acontecendo, íamos preparando os alunos para participação nesse evento de letramento específico. Um desses momentos foi a apresentação do que significava IDEB e Prova Brasil para eles, deixando claro, inclusive, que a nota é uma combinação do índice de aprovação em todas as séries do ensino fundamental com a nota do teste ao qual os alunos do 9 o ano são submetidos. Além disso, enfatizamos que essa nota não é individual (por aluno), e sim coletiva e que se transforma na nota da escola. Nesse mesmo sentido, buscamos conscientizá-

87 los de que esse número é um indicador para efetivação de políticas públicas na área de Educação e que isso era muito bom para todos nós que fazemos parte de escolas públicas. Assim, cientes de que um simulado é um ensaio da realidade e que, em breve, esses alunos seriam submetidos ao exame em questão, marcamos o dia e a hora para realização dessa atividade. Informamos que o teste seria aplicado por uma pessoa que não faz parte do quadro de profissionais da EEAT e que eles deveriam seguir os comandos dados por ela para a concretização da tarefa. Diante disso, empenhamo-nos em seguir rigorosamente as orientações do INEP para realização do exame: aplicador externo ao ambiente escolar; participação de, pelo menos, 50% da turma; 25 minutos para responder a um bloco composto por doze questões. Quanto à distribuição dos descritores para organização do documento, buscamos seguir a Prova Brasil, modelo 2011. Assim, retiramos as questões do banco de dados do INEP, bem como de um simulado realizado no Estado do Paraná para composição desse teste. Na aula que antecedeu ao simulado, explicamos os passos a serem seguidos no exame e dividimos a turma em grupos compostos por quatro pessoas, para que, a partir da média alcançada por esse grupo, pudéssemos fazer um passeio ao cinema ou ao teatro, como forma de incentivá-los a colaborar uns com os outros para estudar e alcançar bons resultados, mesmo sabendo que a prova é individual. Informamos ainda que o simulado valeria 50% na nota do bimestre. Com esses informes, os alunos ficaram entusiasmados para fazer o teste. No dia 18 de setembro de 2015, aplicamos o simulado 3 no 9 o ano A do turno matutino. O dia não foi propício, pois, para realizar um evento de letramento desses, é importante manter o controle de alguns elementos básicos que o caracterizam como, por exemplo, o lugar (espaço) onde as práticas de leitura e escrita serão ativadas para responder ao simulado. Nesse dia, porém, o corpo docente da escola estava reduzido. Pelo menos quatro professores faltaram e a coordenação pedagógica também não estava presente, gerando tumulto com muitos alunos sem aulas conversando e gritando pelos corredores. Alguns estudantes que estavam fazendo o simulado se sentiram prejudicados. Foi necessário pedir reforço ao pessoal de apoio da biblioteca e secretaria da EEAT para gerar um ambiente minimamente adequado à realização do exame. Vale ressaltar que esse ambiente, muitas vezes desorganizado e barulhento, é o que prevalece no dia de realização da Prova Brasil. Isso porque, nesse dia, tem aula regularmente para as outras turmas. No entanto, não se pode garantir a presença de todos os professores, razão por que sempre há alunos ociosos pelos corredores.

88 Ademais, para que a empreitada dos estudantes submetidos à Prova Brasil seja bem sucedida, é preciso minimizar os fatores externos que podem atrapalhar o desempenho deles. Por isso, é importante que o corpo docente tenha essa consciência e seja sensibilizado não só para esse fim, mas para que possam criar oportunidades que permitam o desenvolvimento desse processo em colaboração uns com os outros. Apesar de algumas adversidades, foi inegável o envolvimento dos alunos nessa atividade. Dos 43 alunos matriculados, apenas 1 não estava presente. Dos presentes, 90,5% acertaram pelo menos metade das questões propostas e apenas l aluno perdeu questões na marcação do gabarito, marcando duas opções para uma mesma questão. Números bem diferentes dos apresentados anteriormente. Figura 9 - Simulado3 Prova Brasil. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Esses números mostram que, mesmo a Prova Brasil sendo uma atividade muitas vezes desconectada da vida do estudante e até mesmo da escola, é possível ressignificá-la, dandolhe um propósito que não seja apenas o de compor um índice. Essa ressignificação passa pela questão de ser útil para a vida. Assim, quando a leitura envolve a compreensão, o ato de ler torna-se um instrumento útil para aprender significativamente (SOLÉ, 1998), e aprender significativamente está intrinsecamente ligado ao exercício mais abrangente da cidadania. Nesse sentido, Tinoco (2008) afirma que, nos projetos de letramento, a abertura da prática escolar a formas de agir em outras esferas de atividades (e, portanto, o estabelecimento da interseção escola e vida) desencadeia o adensamento de atividades mais interativas. De fato, muito da relevância dessa atividade está no desejo, por parte dos alunos, de ganhar experiência para participar de outras seleções como a do IFRN, ENEM e concursos

89 públicos. Por isso, não podemos deixar de destacar a importância do processo para formação de um leitor mais preparado para enfrentar as exigências sociais que vão se impondo ao longo da vida. Para darmos continuidade à análise, estabelecemos como requisito o desempenho alcançado pelos estudantes nas atividades propostas. Partindo desse ponto, três questões se destacam pelo percentual de acerto dos estudantes que alcançaram apenas 39% de aproveitamento. Essas questões estão relacionadas aos descritores 7 Identificar a tese de um texto; 9 Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto; e 17 Identificar o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão. Para analisá-las, reproduziremos, respectivamente, essas questões. Quadro 15 - Reprodução da questão 03 do Simulado 3 - bloco 3 O mercúrio onipresente QUESTÃO 03 (BLOCO 03) (Fragmento) Os venenos ambientais nunca seguem regras. Quando o mundo pensa ter descoberto tudo o que é preciso para controlá-los, eles voltam a atacar. Quando removemos o chumbo da gasolina, ele ressurge nos encanamentos envelhecidos. Quando toxinas e resíduos são enterrados em aterros sanitários, contaminam o lençol freático. Mas ao menos acreditávamos conhecer bem o mercúrio. Apesar de todo o seu poder tóxico, desde que evitássemos determinadas espécies de peixes nas quais o nível de contaminação é particularmente elevado, estaríamos bem. [...]. Mas o mercúrio é famoso pela capacidade de passar despercebido. Uma série de estudos recentes sugere que o metal potencialmente mortífero está em toda parte e é mais perigoso do que a maioria das pessoas acredita. Jeffrey Kluger. IstoÉ. nº 1927, 27/06/2006, p.114-115. Fonte: Brasil (2011). A tese defendida no texto está expressa no trecho: A) as substâncias tóxicas, em aterros, contaminam o lençol freático. B) o chumbo da gasolina ressurge com a ação do tempo. C) o mercúrio apresenta alto teor de periculosidade para a natureza. D) o total controle dos venenos ambientais é impossível. Nessa questão, o texto selecionado é de fácil leitura, embora a temática não faça parte do cotidiano dos alunos que, para acertarem ao item, tinham de identificar o ponto de vista ou a ideia central defendida pelo autor. Foi isso o que fizeram 16 alunos, ao escolheram a letra D (o total controle dos venenos ambientais é impossível) como resposta correta, mostrando competência leitora para distinguir as ideias gerais do texto da afirmativa que representa o ponto de vista do autor. Em relação aos alunos que marcaram outra opção, não podemos concordar que falta conhecimento deles para identificar as estruturas próprias de textos argumentativos, como afirma a Matriz de Referência, Temas, Tópicos e Descritores ao asseverar que

90 [...] é de se observar que a dispersão para as alternativas erradas denota desconhecimento por parte dos alunos de identificar as estruturas próprias de textos argumentativos. No caso específico deste item, as informações das alternativas erradas são fatos apresentados e que se distinguem nitidamente da ideia defendida pelo autor (BRASIL, 2011, p. 87). O que podemos perceber é que, nessa situação, o texto é um fragmento, o que pode comprometer o processo de identificação da estrutura argumentativa. De forma que, [...] fragmenta-se o texto para que se aprenda a perceber o todo, procura-se fazer com que o aluno responda somente ao que está previsto na leitura do professor ou do autor do livro didático e exige-se um leitor crítico e participativo. O aluno escreve textos de opinião sem ter formado uma opinião; faz uma interpretação livre, já cerceado, sem liberdade e, muitas vezes, sem leitura. Ele lê sem entendimento, interpreta sem ter lido e realiza atividades sem nenhuma função na sua realidade sociocultural (KLEIMAN, 1999, p. 14). A nosso ver, questões como essa perpetuam a fragmentação do saber tão utilizada na escola, classificando os alunos como competentes e não competentes, como faz a Matriz de Referência, Temas, Tópicos e Descritores, aumentando cada vez mais a distância entre teoria e prática na escola. Cientes desse fato, procuramos compreender por que 11 alunos escolheram a opção C (o mercúrio apresenta alto teor de periculosidade para a natureza). O que se percebe é que, além do título, que faz referência direta ao mercúrio, os dois parágrafos que constituem o fragmento apresentado, enfatizam os perigos dessa substância para a natureza, confirmando a hipótese de leitura realizada por esses alunos e atestando sua competência para ler textos argumentativos, contrariando a afirmação feita na Matriz da Prova Brasil. Terminada essa análise, passemos agora para a questão relacionada ao descritor 9 Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto.

91 Quadro 16 - Reprodução da questão 10 do Simulado 3 - bloco 4 Animais no espaço QUESTÃO 10 BLOCO 4 Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas. Os russos já usaram cachorros em suas experiências. Eles têm o sistema cardíaco parecido com o dos seres humanos. Estudando o que acontece com eles, os cientistas descobrem quais problemas podem acontecer com as pessoas. A cadela Laika, tripulante da Sputnik-2, foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço, em novembro de 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o astronauta Gagarin. Os norte-americanos gostam de fazer experiências científicas espaciais com macacos, pois o corpo deles se parece com o humano. O chimpanzé é o preferido porque é inteligente e convive melhor com o homem do que as outras espécies de macacos. Ele aprende a comer alimentos sintéticos e não se incomoda com a roupa espacial. Além disso, os macacos são treinados e podem fazer tarefas a bordo, como acionar os comandos das naves, quando as luzes coloridas acendem no painel, por exemplo. Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço, em novembro de 1961, a bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele voltou são e salvo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter comido muito depressa as pastilhas de banana durante as refeições. (Folha de São Paulo, 26 de janeiro de 1996) Fonte: Brasil (2011). No texto Animais no espaço, uma das informações principais é (A) A cadela Laika [...] foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço. (B) Os russos já usavam cachorros em suas experiência. (C) Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas. (D) Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço O objetivo desse descritor é verificar se o aluno consegue diferenciar as partes principais das secundárias na leitura e compreensão de um texto. Assim, o título Animais no espaço, somado ao primeiro parágrafo do texto, levaram 39% dos alunos à opção correta C (Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas). A opção A ( A cadela Laika [...] foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço ), no entanto, foi assinalada pela maioria dos alunos (44%). O que se constata é que todas as opções são ideias contidas no texto e que os alunos, de fato, têm dificuldades para diferenciar o principal do secundário em termos de leitura. Essa constatação se confirma, inclusive, com os números do segundo simulado onde menos da metade dos alunos expressam conhecimento sobre qual era a principal informação do texto (41%). Esse fato pode nos levar à formulação de uma constatação: a de que localizar a informação principal e as informações secundárias presentes na composição de um texto é uma das competências que os alunos apresentam maior dificuldade para desenvolver e que, por conseguinte, precisamos continuar trabalhando essa competência. Para darmos continuidade à análise, replicaremos, a seguir, a questão que envolve o descritor 17 Identificar o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão.

92 Quadro 17 - Reprodução da questão 10 do Simulado 3 - bloco 3 QUESTÃO 10 BLOCO 3 No terceiro quadrinho, os pontos de exclamação reforçam ideia de (A) comoção. (B) desinteresse. (C) contentamento. (D) surpresa. Fonte: Brasil (2011). O texto, que serve de referência para responder à questão, traz uma combinação da linguagem verbal e não verbal. 39% dos alunos assinalou corretamente a opção B (desinteresse), demonstrando ter percebido que o uso da exclamação, associada à expressão do rosto de Dalila, não estava vinculada à comoção, contentamento nem surpresa. No entanto, os outros 61% dos discentes que se submeteram ao exame assinalaram como resposta correta outras opções. A segunda assertiva mais escolhida pelos alunos foi a letra D (surpresa), seguida da letra C (contentamento). De fato, uma leitura possível do ponto de exclamação, levando em consideração o contexto de produção, é que Romeu, ao ouvir de Dalila que o seu olhar era de tristeza, de mágoa, desilusão, pode ter ficado surpreso ou até contente. Afinal, qualquer dos elementos elencados na enumeração feita por ela podem ser entendidos como melhores (ou menos ruins) do que uma doença, nesse caso, conjuntivite, e ele, ao perceber que Dalila não estava doente, ficou feliz. Por esse ângulo, é possível afirmar que Romeu poderia não estar insensível tampouco indiferente à situação para mostrar desinteresse, conforme requer a interpretação aceita nessa edição da Prova Brasil. Isso se justifica pelo fato de que quem está indiferente a uma situação, em geral, não percebe nada de estranho. Fica alheio. Mas não foi isso que aconteceu na interação.

93 Isso posto, passemos a observar outros temas de análise, de igual modo importantes na geração de dados desses simulados. Por estarem atravessados por relações de similaridade, é possível comparar esses dados com os números gerados pelos simulados 1 e 2, sendo merecedor de destaque o aproveitamento dos alunos nessas atividades, conforme mostra o gráfico 7 a seguir. Gráfico 8: Percentual de aproveitamento dos alunos nos simulados 1, 2 e 3. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). Como podemos observar, no simulado 3, o percentual de alunos que atingiu mais de 50% de pontuação na prova aumentou significativamente. Sem dúvida, as oficinas de leitura, que se desenvolveram em caráter de colaboração, fomentaram a reflexão, estimularam a crítica e trouxeram a importância da leitura para o centro das discussões. Assim sendo, os estudantes exercitaram a leitura não apenas para seguir instruções ou para preencher formulários como os da Prova Brasil, mas para melhor defender suas ideias, posicionar-se sobre problemas relevantes para suas vidas, além de conhecer um pouco mais sobre sua herança cultural. Na validação dessas práticas, apoiamo-nos no caráter essencial da leitura como uma atividade de integração de conhecimentos. Nas palavras de Kleiman (1989), a dimensão interacional da leitura, quando está sob o controle e a reflexão consciente do leitor, torna esse sujeito na interação não apenas um leitor proficiente, mas também, muito mais importante, um leitor crítico. Outro ponto que, por relevante, merece ser destacado é o preenchimento do gabarito, prática à qual os alunos da EEAT não estavam habituados. Nossos dados mostram que, na primeira atividade, 23% dos gabaritos estavam preenchidos inadequadamente; na segunda

94 aplicação, 4,8%; e, na última, apenas 2,3% apresentaram algum tipo de erro de preenchimento. Gráfico 9: Percentual de gabaritos preenchidos inadequadamente. Fonte: Acervo da pesquisa (2015). A queda expressiva no percentual de gabaritos preenchidos inadequadamente mostra que o posto nem sempre é visibilizado e que essas práticas precisam ser ensinadas na escola. Afinal, a marcação do gabarito é uma prática tida como escolarizada embora não houvesse, pelo menos na EEAT, ensino explícito dessa prática nem ambiente propício para o desenvolvimento dela. Ademais, esses dados mostram que a experiência do aluno com o texto, a vivência e a colaboração com outros indivíduos dessa comunidade de aprendizagem fazem grande diferença nos resultados obtidos.

95 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Avaliar a natureza situada do ensino da leitura (e ter como foco a Prova Brasil) levou- -nos a refletir sobre o descompasso que existe entre o que esse dispositivo entende ser necessário que os estudantes do 9 o ano aprendam na escola, o que a EEAT ensina e o que, de fato, os estudantes aprendem. Ao nos engajarmos nessa empreitada, buscamos estratégias para ressignificação do ensino da leitura com vistas a envolver cada estudante nessa ação criticamente potencializadora, não só para melhorar o rendimento deles nessa avaliação, mas para instrumentalizá-los para que sejam leitores mais autônomos e críticos tanto em relação a avaliações nacionais quanto em se tratando de outras demandas sociais em que proficiência na leitura seja necessária. Desde o início desse processo, tínhamos em mente trabalhar com projetos de letramento por entender que a leitura e a escrita são ferramentas para agir socialmente, o que significa dizer que os textos ultrapassam os muros da escola e se fazem úteis na convivência cotidiana. Nesse sentido, percorremos uma trajetória muitas vezes tortuosa, de muitas idas e vindas, de ações (re)planejadas, atividades (re)feitas e, acima de tudo, de uma rede intrincada de ação-reflexão-ação. Retomando essa rede, tentaremos amarrar alguns fios para que possamos responder às questões deste estudo. A primeira delas: que conhecimentos são requeridos pela Prova Brasil?. Em primeiro lugar, é preciso entender que os testes de língua portuguesa da Prova Brasil estão estruturados com foco na leitura e requerem a competência de apreender um texto como construção de conhecimento em diferentes níveis de compreensão. Para que isso se concretize, é preciso dominar aspetos morfológicos, sintáticos e semânticos que estão imbricados na construção do texto, bem como entender que a língua(gem) é produto das interações sócio-históricas e culturais em que os seres humanos vão se constituindo. Assim, por entendermos que os textos apresentam, além da materialização de seus elementos linguístico-textuais, aspectos sócio-histórico-ideológicos da situação enunciativa a que estão vinculados (BAKHTIN ([1952-53] 2009), é fundamental que os alunos se apropriem de uma diversidade de gêneros discursivos que conjugam linguagens verbal e não-verbal, a fim de que possam interpretar os textos mais variados e reconhecer a estrutura composicional, o tema, o estilo, o propósito comunicativo, as relações intertextuais, entre outros aspectos, que deles podem advir.

96 Portanto, quanto mais amplo for o repertório de gêneros de que o aluno dispuser, maiores se tornarão suas possibilidades de ler múltiplos fatores contidos em cada texto. Essa competência pode permitir uma participação mais ativa em situações sociais diversas, nas quais o texto escrito é utilizado com funções comunicativas reais, ou seja, não didatizadas. Em relação ao segundo questionamento que nos inquietou: que práticas de letramento (in)visibilizadas subjazem desse instrumento de avaliação nacional?, pudemos observar inicialmente que, apesar de essa avaliação fazer parte do calendário oculto 9 da escola, não se dá muita importância para a aplicação dela. Em outras palavras, esse evento de letramento é negligenciado, pelo menos na EEAT. Pensamos que essa postura seja decorrente de dois pressupostos. O primeiro é que, sem preparo nem orientação específica, os alunos podem alcançar uma nota positiva, posto que os conteúdos necessários para responder à Prova Brasil são um reflexo do que se ensina em sala de aula. O segundo é que a nota alcançada pelos estudantes e, consequentemente, o IDEB da escola é que merecem ser o centro das discussões e não o processo que levou ao desempenho (em geral, insatisfatório, no caso da EEAT). Com isso, desconsidera-se, muitas vezes, o que acontece realmente na escola. No caso da EEAT, faltam professores de várias disciplinas curriculares, em especial nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio; faltam aulas que sistematizem o ensino da leitura e da escrita. Acrescentem--se a esses aspectos outros que parecem ser desconsiderados quando se responsabiliza apenas o professor ou apenas o aluno pelo sucesso ou insucesso nessas avaliações: (i) os alunos são pegos de surpresa para fazer o teste; (ii) o corpo docente entende que ensinar a ler e a escrever é tarefa exclusiva do professor de língua portuguesa, (iii) os alunos não têm acesso a bibliotecas, internet, eventos culturais externos à comunidade em que residem e nem sequer têm a prática de marcar um gabarito. Assim, ao analisarmos a aplicação da Prova Brasil como um evento de letramento, não apenas como um instrumento nacional de avaliação, temos de realçar quatro elementos básicos desse evento, quais sejam: (i) participantes (estudantes do 9 o ano) que precisam de orientação para entender as práticas de letramento que delimitam esse teste; (ii) ambiente (a escola) que deve ser organizado no sentido de garantir silêncio e tranquilidade (pré-requisitos para um bom desempenho dos participantes); (iii) artefatos (os textos da Prova Brasil) que devem ser ensinados na escola para proporcionar experiência prévia e, assim, capacitar os 9 O termo calendário oculto se justifica pelo fato de a comunidade escolar saber que a Prova Brasil será aplicada em determinado ano. Não se sabe, porém, a data. A justificativa para não haver explicitação dessa data é uma possível decisão dos alunos de não comparecerem à escola nesse dia de aplicação.

97 estudantes para desenvolver (iv) as atividades de leitura e escrita que precisam ser operacionalizadas por meio da mobilização de diferentes conhecimentos e, mais ainda, dentro de um tempo limite. Esses elementos demonstram quão necessária se faz a preparação para a aplicação da Prova Brasil, uma vez que eles influenciam nos resultados oficiais desse exame nacional e deles vemos emergir práticas de letramento (in)visibilizadas, tais como: (i) marcação do gabarito; (ii) leitura dos elementos pré-textuais e pós-textuais; (iii) preenchimento do questionário contextual. É pensando nesses aspectos que passamos a responder à terceira pergunta deste estudo: como é possível desenvolver estratégias que aprimorem práticas de leitura dos alunos do 9 o ano da escola em que atuamos?. Com essa indagação em mente, procuramos, em primeiro lugar, entender qual é o papel (e a responsabilidade) de cada participante desse processo. Em segundo, buscamos conhecer os interesses e os objetivos que os alunos têm em relação à leitura, bem como o acervo de leitura a que costumam acessar. Assim, através da aplicação de um questionário contextual, da realização de oficinas de leituras e da aplicação de simulados, fomos desvelando os textos, entendendo seus propósitos, observando que participar da Prova Brasil exigia experiência com diversos artefatos. Dessa forma, aquilo que parecia sem sentido, foi se transformando em instrumento de reflexão para a pesquisadora e em objeto de ensino-aprendizagem na sala de aula. Em razão disso, diferentes estratégias foram sendo desenvolvidas para aprimorar as práticas de leitura dos alunos. Vejamos algumas. Nas oficinas de leitura, focalizamos o levantamento da importância social da leitura, com ênfase nos objetivos relevantes para os alunos, tais como: ingressar no IFRN, fazer ENEM, participar de seleções para emprego. Também nessas oficinas, fizemos um procedimento didático para viabilizar mobilizações de saberes entre a leitura de um texto e outro, qual seja: o agrupamento dos textos presentes na Prova Brasil de acordo com os gêneros afins (gêneros da ordem do narrar, argumentar, explicar, entre outros). Com isso, vimos temas, estruturas composicionais, estilos. Nas aulas desenvolvidas na biblioteca da EEAT, realizamos leituras focalizando a simples fruição e promovendo o acesso a livros de gêneros diversificados. Ressignificar a ideia de que ler é apenas uma obrigação escolar foi fundante nesse processo.

98 Em sala de aula, adotamos diferentes metodologias: leitura colaborativa; exposição oral de livros entre alunos de salas diferentes; organização de um sarau; desenvolvimento de práticas de escrita para um locutor real (o caso da carta de agradecimento para o pai de um aluno é apenas um exemplo); sessões de reescrita (também colaborativas). Toda essa construção nos levou à resposta da nossa última pergunta de pesquisa: de que maneira um projeto de letramento, com foco na Prova Brasil, mostra-se eficaz na ressignificação de práticas de leitura de estudantes do 9 o ano?. Trabalhar com o modelo didático dos projetos de letramento descortinou um mundo de informações que nos fizeram pensar sob outro ângulo a participação da EEAT na Prova Brasil. Dados que, por vezes, eram escondidos por revelar fragilidades no processo de ensino-aprendizagem (afinal, os números do IDEB anunciavam que não estávamos cumprindo a finalidade básica da escola) passaram a ser motivadores para que se passasse a desenvolver práticas sociais relevantes para o exercício da cidadania, relacionadas à leitura e à escrita. Após o desnudamento dessas informações, que envolveu o corpo docente e discente da escola, em especial os alunos do 9 o ano, participar da Prova Brasil ganhou outro sentido: não só o de melhorar a nota do IDEB, mas participar de uma prática social relevante individual e coletivamente. E isso requer preparação e compartilhamento de responsabilidades. Nesse sentido, os casos de insucesso não têm um culpado. Afinal, conforme vimos, outros fatores que não estão sob o domínio da escola, mas do próprio Governo (como a falta de professores), interferem na composição do índice do IDEB. Além disso, nem todos os fatores ligados ao bom desempenho dos estudantes estão relacionados com a proficiência em leitura, haja vista a análise situacional que operacionalizamos neste trabalho que demonstra haver, em algumas questões da Prova Brasil, a possibilidade de marcações diferentes do gabarito a depender da perspectiva que se adota ou do grupo cujos dados analisamos. Assim, esse projeto de letramento com foco na Prova Brasil desenvolveu ações relevantes para a vida dos estudantes que acharam, nesse processo de construção de conhecimentos, sentidos para ler e escrever e a percepção de que proficiência na leitura e na escrita possibilita-lhes maior autonomia para resolver problemas da vida cotidiana, para ter acesso a bens culturais, inclusive ganhando experiência para participar de outros exames de seleção, tais como o IFRN e o ENEM.

99 Dessa forma, as aulas de língua portuguesa passaram a ganhar um novo formato, pois trouxemos para o centro da sala de aula práticas de leitura numa perspectiva interacionista e, com isso, quebramos o monólogo professoral que havia em nossa prática. A cada aula, professora e alunos leram e escreveram textos em colaboração uns com os outros, não para revozear o que os conteúdos balizados pelos PCN afirmam ser o melhor a ensinar e a aprender, mas para atender a interesses e a objetivos reais, situados na vida cotidiana, particular e coletiva daquela comunidade de aprendizagem. Isso se evidenciou na participação e no envolvimento dos estudantes nas oficinas de leitura, no entusiasmo para compartilhar leituras realizadas, na apresentação dos conhecimentos discutidos em grupo, na participação efetiva no simulado, nas sessões de escrita e de reescrita de texto para interlocutores reais com objetivos específicos (ora para solicitar, ora para agradecer), no envolvimento de agentes externos à sala de aula para a realização de atividades, no fortalecimento de laços de pertencimento ao grupo, no processo de ação-reflexão-ação que desenvolvemos. Para finalizar, ratificamos que assumir o compromisso de realizar este projeto na EEAT nos levou à efetiva compreensão do que significa ler e escrever como prática social. Para tanto, a Prova Brasil não pode ser realizada fora de contexto, por si e em si. É importante que os professores possam utilizar esse instrumento para fortalecer estratégias didáticas no que tange ao ensino de leitura e de escrita e não apenas para compor uma estatística. Diante disso, desejamos que este estudo possa contribuir de alguma forma para a revisão do Plano Político Pedagógico (PPP) da escola em que atuamos e que as estratégias de ensino realizadas possam ser realinhadas e (re)aplicadas nas séries finais do ensino fundamental. Esse desejo vai ao encontro das palavras de Paulo Freire (1996, p.53), que diz: Quanto mais metodicamente rigoroso me torno na minha busca e na minha docência, tanto mais alegre me sinto e esperançoso também. A alegria não chega apenas no encontro do achado mas faz parte do processo de busca. E ensinar e aprender não podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. Em suma, essa busca não se dá fora das relações humanas, por isso entender que sozinho, isolado, ninguém é capaz é parte fundamental desse processo de (re)construção diária da pesquisadora e dos demais envolvidos neste trabalho.

100 REFERÊNCIAS AFONSO, Ana Paula. Comunidade de Aprendizagem: um modelo para a gestão da aprendizagem. In: CONFERÊNCIA INTERNACIONAL CHALLENGES. 2., 2001. Anais..., p.427-432. Disponível em: <//eco.imooc.uab.pt/elgg/file/download/20904>. Acesso em: 2 maio 2014. BAKHTIN, Mikhail M. Estética da Criação Verbal. Trad. Paulo Bezerra. 6ª. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, ([1952-53]2011). BAKHTIN, Mikhail M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. 13. ed. São Paulo: Hucitec, ([1929] 2009). BARBOSA, Jacqueline Peixoto. Carta de solicitação e carta de reclamação. São Paulo: FTD, 2005. (Coleção trabalhando com os gêneros do discurso: argumentar) BARTON, David; HAMILTON, Mary. Práticas de letramento. In: BARTON, David; HAMILTON, Mary; IVANIC, Roz (Org.). Situated literacies. Tradução livre de Glícia Azevedo Tinoco. London: Routledge, 2000. p.7-15. BAUER, Adriana; GATTI, Bernardete A. (Org.). Vinte e cinco anos de avaliação de sistemas educacionais no Brasil: implicações nas redes de ensino, no currículo e na formação de professores. Florianópolis: Insular, 2013. v. 2. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. PDE: Plano de desenvolvimento da Educação: Prova Brasil: ensino fundamental: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC/SEB/Inep, 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: língua portuguesa / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. 144 p. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção leitura). DELMANTO, Dileta. Jornadas. Língua Portuguesa, 9 ano. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. DIAS, Eliane Moreira et al. Extremoz: história, historiografia e memória. Disponível em: <//www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/senior/resumos/resumo_208.html>. Acesso em: 2 jul. 2015.

101 JOVEM, Manuella S. Prova Brasil: a relação entre as competências leitoras e os seus descritores. 2013. Monografia (Graduação em Letras - Língua Portuguesa) Universidade Federal de Campina Grande, 2013. KLEIMAN, Ângela B. (Org.). Letramentos múltiplos: agentes, práticas, representações. Natal: EDUFRN, 2008. KLEIMAN, Ângela B. (Org.). Os significados do Letramento: nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995. KLEIMAN, Ângela B. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas, SP: Mercado das Letras, 1999. (Coleção ideias sobre linguagem) KLEIMAN, Ângela B. O processo de aculturação pela escrita: ensino da forma ou aprendizagem da função? In: KLEIMAN, Ângela B.; SIGNORINI, Inês. O ensino e a formação do professor: alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 223-243. KLEIMAN, Ângela B. Oficina de leitura: teoria e prática. 15. ed. Campinas, SP: Pontes, 2013. KLEIMAN, Ângela B. Preciso ensinar o letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever? Brasilia: Cefiel/IEL/Unicamp. Ministério da Educação, 2005. (Linguagem e letramento em foco. Linguagem nas séries iniciais) KLEIMAN, Ângela B. Processos identitários na formação profissional: o professor como agente de letramento. In: CORRÊA, Manoel L. G.; BOCH, Françoise (Org.). Ensino de língua: representação e letramento. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2006. p. 75-91. KLEIMAN, Ângela B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 2. ed. Campinas, SP: Pontes, 1989. KLEIMAN, Ângela B. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, SP: Pontes, 1992. SOARES, Magda B. Ler, verbo transitivo, 2009. Disponível em: //www.leiabrasil.org.br/doc/leiaecomente/verbo_transitivo.doc. Acesso em: 14 ago 2015. MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Oficina de Linguística aplicada: a natureza social e educacional dos processos de ensino/aprendizagem de línguas. Campinas, SP: Mercados das Letras, 1996.

102 MONCEAU, Gilles. Transformar as práticas para conhecê-las: pesquisa-ação e profissionalização docente. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 467-482, set./dez. 2005. OLIVEIRA, Maria do S.; TINOCO, Glícia A.; SANTOS, Ivoneide B. de A. Projetos de letramento e formação de professores de língua materna. Natal: EDUFRN, 2011. SILVA, Maria Dionice. A história de Estremoz. Natal: Sebo Vermelho, 2010. SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. STAM, Robert. Bakhtin: da teoria literária a cultura de massa. São Paulo: Ática, 1992. TINOCO, Glícia A. Projetos de letramento: ação e ação e formação de professores de língua materna. 2008. 241 f. Tese (Doutorado em Linguística Aplicada) Instituto de Estudos da Linguagem Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2008. VIANNA, H. M. Fundamentos de um programa de avaliação educacional. Meta: Avaliação, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p.11-27, jan./abr. 2009.

103 APÊNDICE A Questionário do aluno

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106 APÊNDICE B Questionário do Professor ESCOLA ESTADUAL ALMIRANTE TAMANDARÉ QUESTIONÁRIO DO PROFESSOR PROVA BRASIL A Escola Estadual Almirante Tamandaré, apesar da crescente melhoria (principalmente na estrutura física) que vem apresentando de 2008 aos dias atuais, ainda apresenta um Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) preocupante. Em 2011, atingiu a média 2,5; em 2013, 2,9, ficando, assim, abaixo da meta estabelecida pelo Governo Federal, bem como abaixo da média alcançada pelas demais escolas municipais e estaduais do município de Extremoz/RN. Essa média é resultado da aplicação da Prova Brasil e, neste ano, os alunos de todo o País farão essa avaliação. Assim, na tentativa de compreendermos como os professores da Escola Estadual Almirante Tamandaré veem essa avaliação nacional, que vem oferecendo dados quantitativos (e oficiais) sobre o descompasso existente entre o que a Prova Brasil entende ser necessário que os estudantes demonstrem ter aprendido na escola, o que as escolas públicas brasileiras ensinam e o que os estudantes aprendem, elaboramos esse questionário. Por favor, colabore com nossa pesquisa, respondendo às questões a seguir. Desde já, comprometemo-nos a compartilhar tanto os dados desse questionário quanto os gerados pelos demais instrumentos da pesquisa em desenvolvimento. 1) Você é professor de: a) Língua Portuguesa. b) Matemática. c) Outra disciplina. 2) Nesta escola, você leciona: a) Apenas no EF. b) Apenas no EM. c) No EF e no EM. 3) Qual o seu nível de escolaridade? a) Ensino médio. b) Ensino superior. c) Especialização. d) Pós-graduação. 4) Em que tipo de instituição você fez o curso superior? a)pública municipal. b) Pública estadual. c) Pública federal. d) Privada. 5) Indique a modalidade de curso de graduação de mais alta titulação que você possui. a) Atualização ou aperfeiçoamento (mínimo 180 horas). ( ) completo ( ) incompleto b) Especialização (mínimo 360 horas). ( ) completo ( ) incompleto c) Mestrado. ( ) completo ( ) incompleto d) Doutorado. ( ) completo ( ) incompleto e) Não fiz curso de pós-graduação.

107 6) Você conhece os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) da sua escola? a) Sim b) Não 7) Você compreende que a nota do Ideb: a) Reflete, integralmente, a realidade de aprendizagem da escola. b) Reflete, parcialmente, a realidade de aprendizagem da escola. c) Não reflete a realidade de aprendizagem da escola. 8) Em relação à Prova Brasil, você considera que: a) Tem conhecimento suficiente sobre a estrutura da avaliação. b) Tem pouco conhecimento sobre a estrutura da avaliação. c) Não tem conhecimento sobre a estrutura da avaliação. 9) Os resultados do IDEB (Prova Brasil) influenciam sua prática pedagógica? a) Sim. b) Em parte. c) Não. Por quê? 10) A escola já proporcionou algum debate sobre os resultados obtidos na Prova Brasil? a) Sim b) Não 11) Você já participou de alguma capacitação sobre a Prova Brasil? a) Sim b) Não Se SIM, quem ofereceu a capacitação e quando foi? Sobre as práticas e os conhecimentos exigidos na Prova Brasil 12) Você tem conhecimento de que a Prova Brasil avalia as habilidades dos alunos em Língua Portuguesa (foco na leitura) e em Matemática (foco na resolução de problemas)? a) Sim. b) Sim, porém acreditava que envolvia conhecimento em outras disciplinas. c) Não. 13) Você costuma trabalhar com seus alunos a leitura e a compreensão dos enunciados de suas avaliações? a) Quase sempre. b) Eventualmente. c) Quase nunca. d) Nunca.

108 14) Você tem o hábito de aplicar provas que exijam o preenchimento de gabaritos (folha de resposta)? a) Quase sempre. b) Eventualmente. c) Quase nunca. d) Nunca. 15) No decorrer do ano letivo, os alunos são: a) Quase sempre orientados sobre práticas e conhecimentos exigidos na Prova Brasil. b) Eventualmente orientados sobre práticas e conhecimentos exigidos na Prova Brasil. c) Quase nunca orientados sobre práticas e conhecimentos exigidos na Prova Brasil. d) Nunca são orientados sobre práticas e conhecimentos exigidos na Prova Brasil. 16) Em suas aulas, você costuma orientar os alunos para Prova Brasil? a) Sim, oriento os alunos. b) Não oriento os alunos porque penso que essa tarefa não é minha. c) Não oriento os alunos porque não conheço a estrutura da Prova Brasil nem o que ela exige de conhecimento. 17) Em sua opinião, de quem é a responsabilidade pelo sucesso dos alunos na Prova Brasil? 18) Se desejar, escreva uma sugestão ou faça uma crítica à Prova Brasil.

109 APÊNDICE C Simulado 3 Simulado 3 Prova Brasil 9 ano Língua Portuguesa ESCOLA ESTADUAL ALMIRANTE TAMANDARÉ Setembro/2015

110 BLOCO 3 LÍNGUA PORTUGUESA Aguarde instruções para virar a página. Você terá 25 minutos para responder a este bloco.

111 O Pavão Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico. BRAGA, Rubem. Aí de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1996, p. 120 QUESTÃO 01 No 2 parágrafo do texto, a expressão ATINGIR O MÁXIMO DE MATIZES significa (A) fazer refletir, nas penas do pavão, as cores do arco-íris. (B) conseguir o maior número de tonalidades. (C) fazer com que o pavão ostente suas cores. (D) Fragmentar nas bolhas d água. A PARANÓIA DO CORPO Em geral, a melhor maneira de resolver a insatisfação com o físico é cuidar da parte emocional. LETÍCIA DE CASTRO Não é fácil parecer com Katie Holmes, a musa do seriado preferido dos teens, Dawson's Creek ou com os galãs musculosos do seriado Malhação. Mas os jovens bem que tentam. Nunca se cuidou tanto do corpo nessa faixa etária como hoje. A Runner, uma grande rede de academias de ginástica, com 23.000 alunos espalhados em nove unidades na cidade de São Paulo, viu o público adolescente crescer mais que o adulto nos últimos cinco anos. Acho que a academia é para os jovens de hoje o que foi a discoteca para a geração dos anos 70, acredita José Otávio Marfará, sócio de outra academia paulistana, a Reebok Sports Club. "É o lugar de confraternização, de diversão." É saudável preocupar-se com o físico. Na adolescência, no entanto, essa preocupação costuma ser excessiva. É a chamada paranoia do corpo. Alguns exemplos. Nunca houve uma oferta tão grande de produtos de beleza destinados a adolescentes. Hoje em dia é possível resolver a maior parte dos problemas de estrias, celulite e espinhas com a ajuda da ciência. Por isso, a tentação de exagerar nos medicamentos é grande. "A garota tem a mania de recorrer aos remédios que os amigos estão usando, e muitas vezes eles não são indicados para seu tipo de pele, diz a dermatologista Iara Yoshinaga, de São Paulo, que atende adolescentes em seu consultório. São cada vez mais freqüentes os casos de meninas que procuram um cirurgião plástico em busca da solução de problemas que poderiam ser resolvidos facilmente com ginástica, cremes ou mesmo com o crescimento normal. Nunca houve também tantos casos de anorexia e bulimia. "Há dez anos essas doenças eram consideradas raríssimas. Hoje constituem quase um caso de saúde pública, avalia o psiquiatra Táki Cordás, da Universidade de São Paulo. É claro que existem variedades de calvície, obesidade ou doenças de pele que realmente precisam de tratamento continuado. Na maioria das vezes, no entanto, a paranoia do corpo é apenas isso: paranoia. Para curá-la, a melhor maneira é tratar da mente. Nesse processo, a autoestima é fundamental. É preciso fazer uma análise objetiva e descobrir seus pontos fortes. Todo mundo tem uma parte do corpo que acha mais bonita, sugere a psicóloga paulista Ceres Alves de Araújo, especialista em crescimento. Um dia, o teen acorda e percebe que aqueles problemas físicos que pareciam insolúveis desapareceram como num passe de mágica. Em geral, não foi o corpo que

112 mudou. Foi a cabeça. Quando começa a se aceitar e resolve as questões emocionais básicas, o adolescente dá o primeiro passo para se tornar um adulto. CASTRO, Letícia de. Veja Jovens. Setembro/2001 p. 56. QUESTÃO 02 A ideia CENTRAL do texto é (A) a preocupação do jovem com o físico. (B) as doenças raras que atacam os jovens. (C) os diversos produtos de beleza para jovens. (D) o uso exagerado de remédios pelos jovens. O mercúrio onipresente (Fragmento) Os venenos ambientais nunca seguem regras. Quando o mundo pensa ter descoberto tudo o que é preciso para controlá-los, eles voltam a atacar. Quando removemos o chumbo da gasolina, ele ressurge nos encanamentos envelhecidos. Quando toxinas e resíduos são enterrados em aterros sanitários, contaminam o lençol freático. Mas ao menos acreditávamos conhecer bem o mercúrio. Apesar de todo o seu poder tóxico, desde que evitássemos determinadas espécies de peixes nas quais o nível de contaminação é particularmente elevado, estaríamos bem. [...]. Mas o mercúrio é famoso pela capacidade de passar despercebido. Uma série de estudos recentes sugere que o metal potencialmente mortífero está em toda parte e é mais perigoso do que a maioria das pessoas acredita. QUESTÃO 03 Jeffrey Kluger. IstoÉ. nº 1927, 27/06/2006, p.114-115. A tese defendida no texto está expressa no trecho: A) as substâncias tóxicas, em aterros, contaminam o lençol freático. B) o chumbo da gasolina ressurge com a ação do tempo. C) o mercúrio apresenta alto teor de periculosidade para a natureza. D) o total controle dos venenos ambientais é impossível. Chatear e encher Um amigo meu me ensina a diferença entre chatear e encher. Chatear é assim: você telefona para um escritório qualquer da cidade. Alô! Quer me chamar por favor o Valdemar? Aqui não tem nenhum Valdemar. Daí a alguns minutos você liga de novo: O Valdemar, por obséquio. Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar. Mas não é do número tal? É, mas aqui nunca teve nenhum Valdemar. Mais cinco minutos, você liga o mesmo número: Por favor, o Valdemar chegou? Vê se te manca, palhaço. Já não lhe disse que o diabo desse Valdemar nunca trabalhou aqui? Mas ele mesmo me disse que trabalhava aí. Não chateia.

113 Daí a dez minutos, liga de novo. Escute uma coisa! O Valdemar não deixou pelo menos um recado? O outro desta vez esquece a presença da datilógrafa e diz coisas impublicáveis. Até aqui é chatear. Para encher, espere passar mais dez minutos, faça nova ligação: Alô! Quem fala? Quem fala aqui é o Valdemar. Alguém telefonou para mim? CAMPOS, Paulo Mendes. Para gostar de ler.são Paulo: Ática, v.2, p. 35. QUESTÃO 04 No trecho Cavalheiro, aqui não trabalha nenhum Valdemar (l. 8), o emprego do termo sublinhado sugere que o personagem, no contexto, (A) era gentil. (B) era curioso. (C) desconhecia a outra pessoa. (D) revelava impaciência. QUESTÃO 05 O trecho OS ANIMAIS NÃO PODEM PAGAR CONDOMÍNIOS! foi escrito com letras maiores no texto para (A) destacar o autoritarismo da personagem. (B) ressaltar que o personagem está gritando. (C) expressar a revolta da personagem contra o amigo. (D) indicar que a personagem está preocupada em pagar condomínio. No mundo dos sinais Sob o sol de fogo, os mandacarus se erguem, cheios de espinhos. Mulungus e aroeiras expõem seus galhos queimados e retorcidos, sem folhas, sem flores, sem frutos. Sinais de seca brava, terrível! Clareia o dia. O boiadeiro toca o berrante, chamando os companheiros e o gado. Toque de saída. Toque de estrada. Lá vão eles, deixando no estradão as marcas de sua passagem. TV Cultura, Jornal do Telecurso. QUESTÃO 06 A opinião do autor em relação ao fato comentado está em (A) os mandacarus se erguem (B) aroeiras expõem seus galhos (C) Sinais de seca brava, terrível!! (D) Toque de saída. Toque de entrada.

114 A função da arte Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: Me ajuda a olhar! GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Trad. Eric Nepomuceno 5ª ed. Porto Alegre: Editora L & PM, 1997. QUESTÃO 07 O menino ficou tremendo, gaguejando porque (A) a viagem foi longa. (B) as dunas eram muito altas. (C) o mar era imenso e belo. (D) o pai não o ajudou a ver o mar. A beleza total A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços. A moça já não podia sair à rua, pois os veículos paravam à revelia dos condutores, e estes, por sua vez, perdiam toda capacidade de ação. Houve um engarrafamento monstro, que durou uma semana, embora Gertrudes houvesse voltado logo para casa. O Senado aprovou lei de emergência, proibindo Gertrudes de chegar à janela. A moça vivia confinada num salão em que só penetrava sua mãe, pois o mordomo se suicidara com uma foto de Gertrudes sobre o peito. Gertrudes não podia fazer nada. Nascera assim, este era o seu destino fatal: a extrema beleza. E era feliz, sabendo-se incomparável. Por falta de ar puro, acabou sem condições de vida, e um dia cerrou os olhos para sempre. Sua beleza saiu do corpo e ficou pairando, imortal. O corpo já então enfezado de Gertrudes foi recolhido ao jazigo, e a beleza de Gertrudes continuou cintilando no salão fechado a sete chaves. ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985. QUESTÃO 08 O conflito central do enredo é desencadeado (A) pela extrema beleza da personagem. (B) pelos espelhos que se espatifavam. (C) pelos motoristas que paravam o trânsito. (D) pelo suicídio do mordomo.

115 As enchentes de minha infância Sim, nossa casa era muito bonita, verde, com uma tamareira junto à varanda, mas eu invejava os que moravam do outro lado da rua, onde as casas dão fundos para o rio. Como a casa dos Martins, como a casa dos Leão, que depois foi dos Medeiros, depois de nossa tia, casa com varanda fresquinha dando para o rio. Quando começavam as chuvas a gente ia toda manhã lá no quintal deles ver até onde chegara a enchente. As águas barrentas subiam primeiro até a altura da cerca dos fundos, depois às bananeiras, vinham subindo o quintal, entravam pelo porão. Mais de uma vez, no meio da noite, o volume do rio cresceu tanto que a família defronte teve medo. Então vinham todos dormir em nossa casa. Isso para nós era uma festa, aquela faina de arrumar camas nas salas, aquela intimidade improvisada e alegre. Parecia que as pessoas ficavam todas contentes, riam muito; como se fazia café e se tomava café tarde da noite! E às vezes o rio atravessava a rua, entrava pelo nosso porão, e me lembro que nós, os meninos, torcíamos para ele subir mais e mais. Sim, éramos a favor da enchente, ficávamos tristes de manhãzinha quando, mal saltando da cama, íamos correndo para ver que o rio baixara um palmo - aquilo era uma traição, uma fraqueza do Itapemirim. Às vezes chegava alguém a cavalo, dizia que lá, para cima do Castelo, tinha caído chuva muita, anunciava águas nas cabeceiras, então dormíamos sonhando que a enchente ia outra vez crescer, queríamos sempre que aquela fosse a maior de todas as enchentes. BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1962. p. 157. QUESTÃO 09 Que função desempenha a expressão destacada no texto... o volume do rio cresceu TANTO QUE a família defronte teve medo. (2º parágrafo) (A) adição de ideias. (B) comparação entre dois fatos. (C) consequência de um fato. (D) finalidade de um fato enunciado. QUESTÃO 10 No terceiro quadrinho, os pontos de exclamação reforçam ideia de (A) comoção. (B) desinteresse. (C) contentamento. (D) surpresa.

116 QUESTÃO 11 Na tirinha, há traço de humor em (A) Que olhar é esse Dalila? (B) Olhar de tristeza, mágoa, desilusão... (C) Olhar de apatia, tédio, solidão... (D) Sorte! Pensei que fosse conjuntivite! A assembleia dos ratos Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome. Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos miados pelo telhado, fazendo sonetos à lua. Acho disse um deles - que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo. Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra um rato casmurro, que pediu a palavra e disse: Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro Fino? Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação. Dizer é fácil - fazer é que são elas! QUESTÃO 12 Na assembleia dos ratos, o projeto para atar um guizo ao pescoço do gato foi (A) aprovado com um voto contrário. (B) aprovado pela metade dos participantes. (C) negado por toda a assembleia. (D) negado pela maioria dos presentes. LOBATO, Monteiro. in Livro das Virtudes William J. Bennett Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995. p. 308.

117 BLOCO 4 LÍNGUA PORTUGUESA Aguarde instruções para virar a página. Você terá 25 minutos para responder a este bloco.

118 TEXTO I Mapa Da Devastação QUESTÃO 01 Uma declaração do segundo texto que CONTRADIZ o primeiro é A organização não-governamental SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais terminaram mais uma etapa do mapeamento da Mata Atlântica (www.sosmataatlantica.org.br). O estudo iniciado em 1990 usa imagens de satélite para apontar o que restou da floresta que já ocupou 1,3 milhão de km 2,, ou 15% do território brasileiro. O atlas mostra que o Rio de Janeiro continua o campeão da motosserra. Nos últimos 15 anos, sua média anual de desmatamento mais do que dobrou. Revista Isto É nº 1648 02-05-2001 São Paulo Ed. Três. TEXTO II Há qualquer coisa no ar do Rio, além de favelas Nem só as favelas brotam nos morros cariocas. As encostas cada vez mais povoadas no Rio de Janeiro disfarçam o avanço do reflorestamento na crista das serras, que espalha cerca de 2 milhões de mudas nativas da Mata Atlântica em espaço equivalente a 1.800 gramados do Maracanã. O replantio começou há 13 anos, para conter vertentes ameaçadas de desmoronamento. Fez mais do que isso. Mudou a paisagem. Vista do alto, ângulo que não faz parte do cotidiano de seus habitantes, a cidade aninha-se agora em colinas coroadas por labirintos verdes, formando desenhos em curva de nível, como cafezais. Revista Época nº 83. 20-12-1999. Rio de Janeiro Ed. Globo. p. 9. (A) a mata atlântica está sendo recuperada no Rio de Janeiro. (B) as encostas cariocas estão cada vez mais povoadas. (C) as favelas continuam surgindo nos morros cariocas. (D) o replantio segura encostas ameaçadas de desabamento. Eu tenho um sonho Eu tenho um sonho lutar pelos direitos dos homens Eu tenho um sonho tornar nosso mundo verde e limpinho Eu tenho um sonho de boa educação para as crianças Eu tenho um sonho de voar livre como um passarinho Eu tenho um sonho ter amigos de todas raças Eu tenho um sonho que o mundo viva em paz e em parte alguma haja guerra Eu tenho um sonho Acabar com a pobreza na Terra Eu tenho um sonho Eu tenho um monte de sonhos... Quero que todos se realizem Mas como? Marchemos de mãos dadas e ombro a ombro Para que os sonhos de todos se realizem! SHRESTHA, Urjana. Eu tenho um sonho. In: Jovens do mundo inteiro. Todos temos direitos: um livro de direitos humanos. 4ª ed. São Paulo: Ática, 2000, p.10

119 QUESTÃO 02 No verso Quero que todos se realizem (v. 19) o termo sublinhado refere-se a (A) amigos. (B) direitos. (C) homens. (D) sonhos. TEXTO I Seis estados brasileiros aproveitaram o aumento no número de doadores e de transplantes feitos no primeiro semestre de 2012 no país e entraram para uma lista privilegiada: a de não ter mais pacientes esperando por uma córnea. Até julho desse ano, Acre, Distrito Federal, Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Norte e São Paulo eliminaram a lista de espera no transplante de córneas, de acordo com balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, no Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos. Em 2011, só São Paulo e Rio Grande do Norte conseguiram zerar a fila. TEXTO II Seja um doador de órgãos! Avise a sua família. QUESTÃO 03 A notícia e o cartaz abordam a questão da doação de órgãos. Ao relacionar os dois textos, observa-se que o cartaz é A) contraditório, pois a notícia informa que o país superou a necessidade de doação de órgãos. B)complementar, pois a notícia diz que a doação de órgãos cresceu e o cartaz solicita doações. C) redundante, pois a notícia e o cartaz têm a intenção de influenciar as pessoas a doarem seus órgãos. D) indispensável, pois a notícia fica incompleta sem o cartaz, que apela para a sensibilidade das pessoas. A CHUVA A chuva derrubou as pontes. A chuva transbordou os rios. A chuva molhou os transeuntes. A chuva encharcou as praças. A chuva enferrujou as máquinas. A chuva enfureceu as marés. A chuva e seu cheiro de terra. A chuva com sua cabeleira. A chuva esburacou as pedras. A chuva alagou a favela. A chuva de canivetes. A chuva enxugou a sede. A chuva anoiteceu de tarde. A chuva e seu brilho prateado. A chuva de retas paralelas sobre a terra curva. A chuva destroçou os guarda-chuvas. A chuva durou muitos dias. A chuva apagou o incêndio. A chuva caiu. A chuva derramou-se. A chuva murmurou meu nome. A chuva ligou o para-brisa. A chuva acendeu os faróis. A chuva tocou a sirene. A chuva com a sua crina. A chuva encheu a piscina. A chuva com as gotas grossas. A

120 chuva de pingos pretos. A chuva açoitando as plantas. A chuva senhora da lama. A chuva sem pena. A chuva apenas. A chuva empenou os móveis. A chuva amarelou os livros. A chuva corroeu as cercas. A chuva e seu baque seco. A chuva e seu ruído de vidro. A chuva inchou o brejo. A chuva pingou pelo teto. A chuva multiplicando insetos. A chuva sobre os varais. A chuva derrubando raios. A chuva acabou a luz. A chuva molhou os cigarros. A chuva mijou no telhado. A chuva regou o gramado. A chuva arrepiou os poros. A chuva fez muitas poças. A chuva secou ao sol. ANTUNES, Arnaldo. As coisas. São Paulo: Iluminuras, 1996. QUESTÃO 04 Todas as frases do texto começam com "a chuva". Esse recurso é utilizado para (A) provocar a percepção do ritmo e da sonoridade. (B) provocar uma sensação de relaxamento dos sentidos. (C) reproduzir exatamente os sons repetitivos da chuva. (D) sugerir a intensidade e a continuidade da chuva. O que é ser adotado Os alunos do primeiro ano, da professora Débora, discutiam a fotografia de uma família. Um menino na foto tinha os cabelos de cor diferente da dos outros membros da família. Um aluno sugeriu que ele talvez fosse adotado e uma garotinha disse: sou adotada. perguntou. Sei tudo de filhos adotados porque O que é ser adotado? outra criança Quer dizer que você cresce no coração da mãe, em vez de crescer na barriga. DOLAN, George. Você Não Está Só. Ediouro QUESTÃO 05 O aluno sugeriu que a criança da foto tinha sido adotada porque: (A) os cabelos dela eram diferentes. (B) estava na foto da família. (C) pertencia a uma família. (D) cresceu na barriga da mãe. Como opera a máfia que transformou o Brasil num dos campeões da fraude de medicamentos É um dos piores crimes que se podem cometer. As vítimas são homens, mulheres e crianças doentes -presas fáceis, capturadas na esperança de recuperar a saúde perdida. A máfia dos medicamentos falsos é mais cruel do que as quadrilhas de narcotraficantes. Quando alguém decide cheirar cocaína, tem absoluta consciência do que coloca no corpo adentro. Às vítimas dos que falsificam remédios não é dada oportunidade de escolha. Para o doente, o remédio é compulsório. Ou ele toma o que o médico lhe receitou ou passará a correr risco de piorar ou até morrer. Nunca como hoje os brasileiros entraram numa farmácia com tanta reserva. PASTORE, Karina. O Paraíso dos Remédios Falsificados. Veja, nº 27. São Paulo: Abril, 8 julh.1998,p.40-41.

121 QUESTÃO 06 Segundo a autora, um dos piores crimes que se podem cometer é: (A) a venda de narcóticos. (B) a falsificação dos remédios. (C) a receita de remédios falsos. (D) a venda abusiva de remédios. Mente quieta, corpo saudável A meditação ajuda a controlar a ansiedade e a aliviar a dor? Ao que tudo indica, sim. Nessas duas áreas os cientistas encontraram as maiores evidências da ação terapêutica da meditação, medida em dezenas de pesquisas. Nos últimos 24 anos, só a clínica de redução do estresse da Universidade de Massachusetts monitorou 14 mil portadores de câncer, aids, dor crônica e complicações gástricas. Os técnicos descobriram que, submetidos a sessões de meditação que alteraram o foco da sua atenção, os pacientes reduziram o nível de ansiedade e diminuíram ou abandonaram o uso de analgésicos. Revista Superinteressante, outubro de 2003 QUESTÃO 07 O texto tem por finalidade (A) criticar. (B) conscientizar. (C) denunciar. (D) informar. O IMPÉRIO DA VAIDADE Você sabe por que a televisão, a publicidade, o cinema e os jornais defendem os músculos torneados, as vitaminas milagrosas, as modelos longilíneas e as academias de ginástica? Porque tudo isso dá dinheiro. Sabe por que ninguém fala do afeto e do respeito entre duas pessoas comuns, mesmo meio gordas, um pouco feias, que fazem piquenique na praia? Porque isso não dá dinheiro para os negociantes, mas dá prazer para os participantes. O prazer é físico, independentemente do físico que se tenha: namorar, tomar milkshake, sentir o sol na pele, carregar o filho no colo, andar descalço, ficar em casa sem fazer nada. Os melhores prazeres são de graça - a conversa com o amigo, o cheiro do jasmim, a rua vazia de madrugada -, e a humanidade sempre gostou de conviver com eles. Comer uma feijoada com os amigos, tomar uma caipirinha no sábado também é uma grande pedida. Ter um momento de prazer é compensar muitos momentos de desprazer. Relaxar, descansar, despreocupar-se, desligarse da competição, da áspera luta pela vida - isso é prazer. Mas vivemos num mundo onde relaxar e desligar-se se tornou um problema. O prazer gratuito, espontâneo, está cada vez mais difícil. O que importa, o que vale, é o prazer que se compra e se exibe, o que não deixa de ser um aspecto da competição. Estamos submetidos a uma cultura atroz, que quer fazer-nos infelizes, ansiosos, neuróticos. As filhas precisam ser Xuxas, as namoradas precisam ser modelos

122 que desfilam em Paris, os homens não podem assumir sua idade. Não vivemos a ditadura do corpo, mas seu contrário: um massacre da indústria e do comércio. Querem que sintamos culpa quando nossa silhueta fica um pouco mais gorda, não porque querem que sejamos mais saudáveis - mas porque, se não ficarmos angustiados, não faremos mais regimes, não compraremos mais produtos dietéticos, nem produtos de beleza, nem roupas e mais roupas. Precisam da nossa impotência, da nossa insegurança, da nossa angústia. O único valor coerente que essa cultura apresenta é o narcisismo. LEITE, Paulo Moreira. O império da vaidade. Veja, 23 ago. 1995. p. 79. QUESTÃO 08 O autor pretende influenciar os leitores para que eles (A) evitem todos os prazeres cuja obtenção depende de dinheiro. (B) excluam de sua vida todas as atividade incentivadas pela mídia. (C) fiquem mais em casa e voltem a fazer os programas de antigamente. (D) sejam mais críticos em relação ao incentivo do consumo pela mídia. 5 10 15 20 Pressa Só tenho tempo pras manchetes no metrô E o que acontece na novela Alguém me conta no corredor Escolho os filmes que eu não vejo no elevador Pelas estrelas que eu encontro na crítica do leitor Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa Mas nada tanto assim Eu me concentro em apostilas coisa tão normal Leio os roteiros de viagem enquanto rola o comercial Conheço quase o mundo inteiro por cartão-postal Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo mal Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa mas nada tanto assim Bruno & Leoni Fortunato. Greatest Hits 80. WEA

123 QUESTÃO 09 Identifica-se termo da linguagem informal em (A) Leio os roteiros de viagem enquanto rola o comercial. (v. 14-15) (B) Conheço quase o mundo inteiro por cartão postal! (v. 16-17) (C) Eu sei de quase tudo um pouco e quase tudo mal. (v. 18-19) (D) Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa mas nada tanto assim. (v. 20-21) Animais no espaço Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas. Os russos já usaram cachorros em suas experiências. Eles têm o sistema cardíaco parecido com o dos seres humanos. Estudando o que acontece com eles, os cientistas descobrem quais problemas podem acontecer com as pessoas. A cadela Laika, tripulante da Sputnik- 2, foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço, em novembro de 1957, quatro anos antes do primeiro homem, o astronauta Gagarin. Os norte-americanos gostam de fazer experiências científicas espaciais com macacos, pois o corpo deles se parece com o humano. O chimpanzé é o preferido porque é inteligente e convive melhor com o homem do que as outras espécies de macacos. Ele aprende a comer alimentos sintéticos e não se incomoda com a roupa espacial. Além disso, os macacos são treinados e podem fazer tarefas a bordo, como acionar os comandos das naves, quando as luzes coloridas acendem no painel, por exemplo. Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço, em novembro de 1961, a bordo da nave Mercury/Atlas 5. A nave de Enos teve problemas, mas ele voltou são e salvo, depois de ter trabalhado direitinho. Seu único erro foi ter comido muito depressa as pastilhas de banana durante as refeições. (Folha de São Paulo, 26 de janeiro de 1996) QUESTÃO 10 No texto Animais no espaço, uma das informações principais é (A) A cadela Laika (...) foi o primeiro ser vivo a ir ao espaço. (B) Os russos já usavam cachorros em suas experiência. (C) Vários animais viajaram pelo espaço como astronautas. (D) Enos foi o mais famoso macaco a viajar para o espaço. Vendo um apartamento neste lugar. Só não vendo a vista. Fonte://www.google.com.br/imgres? QUESTÃO 11 A respeito da construção do anúncio acima, é possível deduzir que (A) a vista é oposto de a prazo. (B) a vista corresponde à paisagem. (C) a vista corresponde ao olho. (D) a vista corresponde ao pagamento imediato.

124 TEXTO I TEXTO II A moda e a publicidade (Fragmento) Ana Sánchez de lá Nieta Se antes os ídolos da juventude eram os desportistas e os atores de cinema, agora são as modelos. Se, no passado, as mulheres queriam presidir Bancos, dirigir empresas ou pilotar aviões, hoje muitas só sonham em desfilar pela passarela e ser capa da Vogue. A vida de modelo apresenta-se para muitas adolescentes como o cúmulo da felicidade: beleza, fama, êxito e dinheiro. Os aspectos relacionados com o físico são engrandecidos. Esta é uma constante da chamada civilização da imagem, imperante na atualidade. O tipo de atração que hoje impera é o de uma magreza extrema. Esta é a causa principal de uma enfermidade que ganha cada vez mais importância na adolescência: a anorexia, uma perturbação psíquica que leva a uma distorção, uma falsa percepção de si mesmo. Na maioria dos casos, esta enfermidade costuma começar com o desejo de emagrecer. Se alguém se julga gordo sente-se rejeitado por esta razão. Pouco a pouco deixa de ingerir alimentos e perde peso. No entanto, a pessoa continua a considerar-se gorda, persiste a insegurança e começa a sentir-se incapaz de comer. Esta enfermidade leva a desequilíbrios psíquicos que podem acompanhar a pessoa para o resto da sua vida e em não raras ocasiões prova a morte. QUESTÃO 12 Comparando os dois textos, pode-se dizer que tratam do mesmo tema, porém (A) o texto 1 informa sobre o problema da anorexia e o 2, de forma humorística, faz uma crítica à magreza das modelos. (B) o texto 1 critica as modelos por seguirem a civilização da imagem e o 2 defende a perspectiva da civilização da imagem. (C) o texto 1 defende as modelos que sofrem de anorexia e o texto 2 indica os problemas mais comuns das modelos. (D) o texto 1 explica os problemas decorrentes da anorexia e o texto 2 elogia a magreza extrema das modelos Fonte: //www.portaldafamilia.org/artigos/artigo 346.shtml

125 APÊNDICE D Lista de ditados populares ESCOLA ESTADUAL ALMIRANTE TAMANDARÉ LISTA DE DITADOS POPULARES 1. Um dia é da caça, o outro do caçador. 2. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. 3. Para o bom entendedor meia palavra basta 4. Quem meu filho beija minha boca adoça 5. Quando um não quer, dois não discutem. 6. O homem prevenido vale por dois. 7. Rei morto, rei posto. 8. Mato tem olhos, paredes têm ouvidos. 9. Quem vai à feira perde a cadeira. 10. Águas passadas não movem moinho. 11. Uma andorinha só não faz verão. 12. Quem ama o feio, bonito lhe parece. 13. Quem procura sempre acha, se não um prego, uma tacha. 14. Focinho de porco não é tomada. 15. Deus dá o frio conforme o cobertor 16. O que os olhos não veem o coração não sente. 17. Caiu do cavalo. 18. Tudo que não mata engorda 19. Camarão que dorme a onda leva. 20. Briga de marido e mulher, ninguém mete a colher. 21. Ovelha negra da família. 22. De boas intensões o inferno está cheio. 23. Quem não chora não mama. 24. Quem nada não se afoga. 25. Não se deve dar pérolas aos porcos. 26. Mais vale prevenir que remediar. 27. Panela que muitos mexem, não toma tempero. 28. Panela velha é que faz comida boa 29. Em boca fechada não entra mosca. 30. Amigos, amigos, negócios à parte. 31. As aparências enganam. 32. Alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo.

126 33. Aí é que a porca torce o rabo. 34. A voz do povo é a voz de Deus. 35. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 36. A cara de um é o focinho do outro. 37. Águas passadas não movem moinhos. 38. Antes só que mal acompanhado. 39. Antes tarde do que nunca. 40. Após a tempestade vem a bonança, 41. Besta é coco, que dá leite sem ter peito. 42. Chover no molhado. 43. Comer o pão que o diabo amassou. 44. Cair no conto do vigário. 45. Chorar de barriga cheia. 46. Conversar miolo de pote. 47. Cada um com a sua certeza. 48. Cada um sabe onde o calo lhe aperta. 49. Conselho se fosse bom era vendido. 50. Cão que ladra não morde. 51. Cada macaco no seu galho. 52. Cada um por si e Deus por todos. 53. Cobra que não anda não engole sapo. 54. Caiu na rede é peixe. 55. Comer e coçar é só começar. 56. Dar um boi pra não entrar na briga, e uma boiada para não sair. 57. Devo, não nego, pago quando puder. 58. De noite todos os gatos são pardos. 59. Devagar se vai ao longe. 60. De grão em grão a galinha enche o papo. 61. Dar a César o que é de César.. 62. Devagar com o andor que o santo é de barro. 63. Deus escreve certo por linhas tortas. 64. Deus dá o frio conforme a roupa. 65. Desgraça pouca é besteira. 66. Dize-me com quem andas, e te direi quem és. 67. Dos males o menor. 68. Dois narigudos não se beijam.

127 69. Esmola grande, o cego desconfia. 70. Em casa de ferreiro, espeto de pau. 71. Em cima de queda, coice. 72. Engolir um boi, e engasga-se com um mosquito. 73. Enquanto há vida, há esperança. 74. Enxugar gelo. 75. Estar em cima da carne-seca. 76. Estar no mato sem cachorro. 77. Estar entregue às moscas. 78. Estar com nó na garganta. 79. Estar com a pulga atrás da orelha. 80. É muita areia pro meu caminhão. 81. Encher linguiça. 82. É cobra engolindo cobra. 83. Entrar mudo e sair calado. 84. Em cada cabeça uma sentença. 85. Em boca fechada não entra mosca. 86. É dando que se recebe. 87. Faça o que eu digo, não faça o que faço. 88. Falou do mau, prepare o pau. 89. Falar o sujo, do mal lavado. 90. Filho de gato é gatinho. 91. Fazer ouvido de mercador. 92. Fazer corpo mole. 93. Ficar para titia. 94. Flagrado com a boca na botija. 95. Fazer castelos no ar. 96. Fazer tempestade em copo d água. 97. Gosto não se discute. 98. Longe dos olhos, perto do coração. 99. Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. 100. Mais vale um pássaro na mão, que dois voando. 101. Mais tem Deus pra dar, que o Diabo pra tomar. 102. Mais vale amigo na praça, do que dinheiro na caixa. 103. Mato a cobra, e amostro o pau. 104. Maria vai com as outras.

128 105. Muito riso é sinal de pouco juízo. 106. Na prática, a teoria é outra. 107. Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai. 108. Nada como um dia atrás do outro, e uma noite no meio. 109. Não adianta chorar o leite derramado. 110. Nem tudo são flores. 111. Não dê a passada maior que as pernas. 112. Não se pode assobiar e chupar cana. 113. O diabo quando não vem, manda o secretário. 114. O amor é cego. 115. O tiro saiu pela culatra. 116. O apressado come cru. 117. O que não tem remédio remediado está. 118. Prego batido, ponta virada.

129 APÊNDICE E Termo de autorização TERMO DE AUTORIZAÇÃO Eu,, portador (a) do RG, responsável legal pelo(a) aluno(a),autorizo Midiam Araújo Gomes, professora de Língua Portuguesa da Escola Estadual Almirante Tamandaré e aluna do Mestrado Profissional em Letras (ProfLetras), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Prof a Dr a Glícia M. Azevedo de M. Tinoco, a utilizar textos orais e escritos produzidos pelo(a) aluno(a) acima nomeado(a), bem como fotografias e/ou desenhos, para a constituição do corpus da pesquisa de mestrado que vem sendo desenvolvida pela Profa Midiam Araújo Gomes. Esse trabalho acadêmico, provisoriamente intitulado Desafios da Prova Brasil via projeto de letramento, está inserido na linha de pesquisa Letramentos e Contemporaneidade. Natal/RN, de de 2015. Assinatura E.E.A.T

130 ANEXO A Matrizes de Língua Portuguesa do 8 /9 ano do Ensino Fundamental - Descritores Tópico I Procedimentos de Leitura D1 - Localizar informações explícitas em um texto. D3 Inferir o sentido de uma palavra ou expressão. D4 Inferir uma informação implícita em um texto. D6 Identificar o tema de um texto. D11 Distinguir um fato da opinião relativa a esse fato. Tópico II Implicações do Suporte, do Gênero e /ou do Enunciador na Compreensão do Texto. D5 Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto, etc.). D12 Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros. Tópico III Relação entre Textos D20 Reconhecer diferentes formas de tratar uma informação na comparação de textos que tratam do mesmo tema, em função das condições em que ele foi produzido e daquelas em que será recebido. D21 Reconhecer posições distintas entre duas ou mais opiniões relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema. Tópico IV Coerência e Coesão no Processamento do Texto D2 Estabelecer relações entre partes de um texto, identificando repetições ou substituições que contribuem para a continuidade de um texto. D7 Identificar a tese de um texto. D8 Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la. D9 Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto. D10 Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa. D14 Estabelecer relação causa/consequência entre partes e elementos do texto. D15 Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc. Tópico V Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido. D16 Identificar efeitos de ironia ou humor em textos variados. D17 Reconhecer o efeito de sentido decorrente do uso da pontuação e de outras notações. D18 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de uma determinada palavra ou expressão. D19 Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos. Tópico VI Variação Linguística D13 Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto. FONTE: PDE / PROVA BRASIL (2011)

131 ANEXO B Prova Brasil (modelo 2011)

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157 ANEXO C Seleção de textos da ordem do narrar presentes na Prova Brasil (2011) TEXTO 01 O SAPO Era uma vez um lindo príncipe por quem todas as moças se apaixonavam. Por ele também se apaixonou a bruxa horrenda que o pediu em casamento. O príncipe nem ligou e a bruxa ficou muito brava. Se não vai casar comigo não vai se casar com ninguém mais! Olhou fundo nos olhos dele e disse: Você vai virar um sapo! Ao ouvir esta palavra o príncipe sentiu estremeção. Teve medo. Acreditou. E ele virou aquilo que a palavra feitiço tinha dito. Sapo. Virou um sapo. (ALVES, R. A alegria de ensinar. Ars Poética, 1994.) TEXTO 02 (fragmento) O Encontro Em redor, o vasto campo. Mergulhado em névoa branda, o verde era pálido e opaco. Contra o céu, erguiam-se os negros penhascos tão retos que pareciam recortados a faca. Espetado na ponta da pedra mais alta, o sol espiava atrás de uma nuvem. Onde, meu Deus?! perguntava a mim mesma Onde vi esta mesma paisagem, numa tarde assim igual? Era a primeira vez que eu pisava naquele lugar. Nas minhas andanças pelas redondezas, jamais fora além do vale. Mas nesse dia, sem nenhum cansaço, transpus a colina e cheguei ao campo. Que calma! E que desolação. Tudo aquilo disso estava bem certa era completamente inédito pra mim. Mas por que então o quadro se identificava, em todas as minúcias, a uma imagem semelhante lá nas profundezas da minha memória? Voltei-me para o bosque que se estendia à minha direita. Esse bosque eu também já conhecera com sua folhagem cor de brasa dentro de uma névoa dourada. Já vi tudo isto, já vi...mas onde? E quando? Fui andando em direção aos penhascos. Atravessei o campo. E cheguei à boca do abismo cavado entre as pedras. Um vapor denso subia como um hálito daquela garganta de cujo fundo insondável vinha um remotíssimo som de água corrente. Aquele som eu também conhecia. Fechei os olhos. Mas se nunca estive aqui! Sonhei, foi isso? Percorri em sonho estes lugares e agora os encontro palpáveis, reais? Por uma dessas extraordinárias coincidências teria eu antecipado aquele passeio enquanto dormia? Sacudi a cabeça, não, a lembrança tão antiga quanto viva escapava da inconsciência de um simples sonho.[...] TELLES, Lygia Fagundes. Oito contos de amor. São Paulo: Ática TEXTO 03 A criação segundo os negros Nagôs Olorum. Só existia Olorum. No início, só existia Olorum. Tudo o mais surgiu depois. Olorum é o Senhor de todos os seres. Certa vez, conversando com Oxalá, Olorum pediu: Vá preparar o mundo! E ele foi. Mas Oxalá vivia sozinho e resolveu casar com Odudua. Deste casamento, nasceram Aganju, a Terra Firme, e Iemanjá, Dona das Águas. De Iemanjá, muito tempo depois, nasceram os Orixás. Os Orixás são os protetores do mundo. BORGES, G. et al. Criação. Belo Horizonte: Terra, 1999.

158 TEXTO 04 A criação segundo os índios Macuxis No início era assim: água e céu. Um dia, um Menino caiu na água. O sol quente soltou a pele do Menino. A pele escorregou e formou a terra. Então, a água dividiu o lugar com a terra. E o Menino recebeu uma nova pele cor de fogo. No dia seguinte, o Menino subiu numa árvore. Provou de todos os frutos. E jogou todas as sementes ao vento. Muitas sementes caíram no chão. E viraram bichos. Muitas sementes caíram na água. E viraram peixes. Muitas sementes continuaram boiando no vento. E viraram pássaros. No outro dia, o Menino foi nadar. Mergulhou fundo. E encontrou um peixe ferido. O peixe explodiu. E da explosão surgiu uma Menina. O Menino deu a mão para a Menina. E foram andando. E o Menino e a Menina foram conhecer os quatro cantos da Terra. BORGES, G. et al. Criação. Belo Horizonte: Terra, 1999. TEXTO 05 O Boto e a Baía de Guanabara Piraiaguara sentiu um grande orgulho de ser carioca. Se o Atobá Maroto tinha dado nome para as ilhas, ele e todos os outros botos eram muito mais importantes. Eles eram o símbolo aquele lugar privilegiado: a cidade do Rio de Janeiro. - A mui leal e heróica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Piraiaguara fazia questão de lembrar do título, e também de toda a história da cidade e da Baía de Guanabara. Os outros botos zombavam dele: Leal? Uma cidade que quase acabou conosco, que poluiu a baía? Heroica? Uma cidade que expulsou as baleias, destruiu os mangues e quase não nos deixou sardinhas para comer? Olha aí para o fundo e vê quanto cano e lixo essa cidade jogou aqui dentro! Acorda do encantamento, Piraiaguara! O Rio de Janeiro e a Baía de Guanabara foram bonitos sim, mas isso foi há muito tempo. Não adianta ficar suspirando pela beleza do Morro do Castelo, ou pelas praias e pela mata que desapareceram. Olha que, se continuar sonhando acordado, você vai acabar sendo atropelado por um navio! O medo e a tristeza passavam por ele como um arrepio de dor. Talvez nenhum outro boto sentisse tanto a violência da destruição da Guanabara. Mas, certamente, ninguém conseguia enxergar tão bem as belezas daquele lugar. Num instante, o arrepio passava, e a alegria brotava de novo em seu coração. HETZEL, B. Piraiaguara.São Paulo: Ática, 2000. p. 16 20

159 ANEXO D Exemplos do gênero discursivo carta analisado em sala de aula. Natal/RN, 20 de agosto de 2015. Natal/RN, 20 de agosto de 2015. Ilmo. Sr. Josefino, Ilmo. Sr. Josefino, Servimo-nos da presente para informar a V. Sa. que encontra-se em aberto junto à nossa empresa, abaixo identificada, um débito de sua responsabilidade. Solicitamos que a pendência seja regularizada no prazo de dois dias úteis, após, o que, estaremos autorizados a registrar seu nome nos cadastros do Serviço Central de Proteção ao Crédito. Servimo-nos da presente para informar a V. Sa. que encontra-se em aberto junto à nossa empresa, abaixo identificada, um débito de sua responsabilidade. Solicitamos que a pendência seja regularizada no prazo de dois dias úteis, após, o que, estaremos autorizados a registrar seu nome nos cadastros do Serviço Central de Proteção ao Crédito. liquidado. Favor desconsiderar a presente, caso o débito já tenha sido liquidado. Favor desconsiderar a presente, caso o débito já tenha sido Atenciosamente, Atenciosamente, Luciano Ferreira Gerente das Lojas Master Luciano Ferreira Gerente das Lojas Master

160 ANEXO E Seleção de textos da ordem do argumentar presentes na Prova Brasil (2011) TEXTO 1 Vínculos, as equações da matemática da vida Quando você forma um vínculo com alguém, forma uma aliança. Não é à toa que o uso de alianças é um dos símbolos mais antigos e universais do casamento. O círculo dá a noção de ligação, de fluxo, de continuidade. Quando se forma um vínculo, a energia flui. E o vínculo só se mantém vivo se essa energia continuar fluindo. Essa é a ideia de mutualidade, de troca. Nessa caminhada da vida, ora andamos de mãos dadas, em sintonia, deixando a energia fluir, ora nos distanciamos. Desvios sempre existem. Podemos nos perder em um deles e nos reencontrar logo adiante. A busca é permanente. O que não se pode é ficar constantemente fora de sintonia. Antigamente, dizia-se que as pessoas procuravam se completar através do outro, buscando sua metade no mundo. A equação era: 1/2 + 1/2 = 1. "Para eu ser feliz para sempre na vida, tenho que ser a metade do outro." Naquela loteria do casamento, tirar a sorte grande era achar a sua cara-metade. Com o passar do tempo, as pessoas foram desenvolvendo um sentido de individualização maior e a equação mudou. Ficou: 1 + 1 = 1. "Eu tenho que ser eu, uma pessoa inteira, com todas as minhas qualidades, meus defeitos, minhas limitações. Vou formar uma unidade com meu companheiro, que também é um ser inteiro." Mas depois que esses dois seres inteiros se encontravam, era comum fundirem-se, ficarem grudados num casamento fechado, tradicional. Anulavam-se mutuamente. Com a revolução sexual e os movimentos de libertação feminina, o processo de individuação que vinha acontecendo se radicalizou. e a equação mudou de novo: 1 + 1 = 1 + 1. Era o "cada um na sua". "Eu tenho que resolver os meus problemas, cuidar da minha própria vida. Você deve fazer o mesmo. Na minha independência total e autossuficiência absoluta, caso com você, que também é assim." Em nome dessa independência, no entanto, faltou sintonia, cumplicidade e compromisso afetivo. É a segunda crise do casamento que acompanhamos nas décadas de 70 e 80. Atualmente, após todas essas experiências, eu sinto as pessoas procurando outro tipo de equação: 1 + 1 = 3. Para a aritmética ela pode não ter lógica, mas faz sentido do ponto de vista emocional e existencial. Existem você, eu e a nossa relação. O vínculo entre nós é algo diferente de uma simples somatória de nós dois. Nessa proposta de casamento, o que é meu é meu, o que é seu é seu e o que é nosso é nosso. Talvez aí esteja a grande mágica que hoje buscamos, a de preservar a individualidade sem destruir o vínculo afetivo. Tenho que preservar o meu eu, meu processo de descoberta, realização e crescimento, sem destruir a relação. Por outro lado, tenho que preservar o vínculo sem destruir a individualidade, sem me anular. Acho que assim talvez possamos chegar ao ano 2000 um pouco menos divididos entre a sede de expressão individual e a fome de amor e de partilhar a vida. Um pouco mais inteiros e felizes. Para isso, temos que compartilhar com nossos companheiros de uma verdadeira intimidade. Ser íntimo é ser próximo, é estar estreitamente ligado por laços de afeição e confiança. (MATARAZZO, Maria Helena. Amar é preciso. 22.ed. São Paulo: Editora Gente, 1992. p. 19-21)

161 TEXTO 2 A dor de crescer Período de passagem, tempo de agitação e turbulências. Um fenômeno psicológico e social, que terá diferentes particularidades de acordo com o ambiente social e cultural. Do latim ad, que quer dizer para, e olescer, que significa crescer, mas também adoecer, enfermar. Todas essas definições, por mais verdadeiras que sejam, foram formuladas por adultos. "Adolescer dói" - dizem as psicanalistas [Margarete, Ana Maria e Yeda] "porque é um período de grandes transformações. Há um sofrimento emocional com as mudanças biológicas e mentais que ocorrem nessa fase. É a morte da criança para o nascimento do adulto. Portanto, trata-se de uma passagem de perdas e ganhos e isso nem sempre é entendido pelos adultos." Margarete, Ana Maria e Yeda decidiram criar o "Ponto de Referência" exatamente para isso. Para facilitar a vida tanto dos adolescentes quanto das pessoas que os rodeiam, como pais e professores. "Estamos tentando resgatar o sentido da palavra diálogo" enfatiza Yeda "quando os dois falam, os dois ouvem sempre concordando um com o outro, nem sempre acatando. Nosso objetivo maior talvez seja o resgate da interlocução, com direito, inclusive, a interrupções." Frutos de uma educação autoritária, os pais de hoje se queixam de estar vivendo a tão alardeada ditadura dos filhos. Contrapondo o autoritarismo, muitos enveredaram pelo caminho da liberdade generalizada e essa tem sido a grande dúvida dos pais que procuram o "Ponto de Referência": proibir ou permitir? "O que propomos aqui" - afirma Margarete -"é a consciência da liberdade. Nem o vale-tudo e nem a proibição total. Tivemos acesso a centros semelhantes ao nosso na Espanha e em Portugal, onde o setor público funciona bem e dá muito apoio a esse tipo de trabalho porque já descobriram a importância de uma adolescência vivida com um mínimo de equilíbrio. Já que o processo de passagem é inevitável, que ele seja feito com menos dor para todos os envolvidos". MIRTES Helena. Estado de Minas, 16 jun. 1996.

162 ANEXO F Textos da ordem do argumentar atividade identificar a tese. ESCOLA ESTADUAL ALMIRANTE TAMANDARÉ LÍNGUA PORTUGUESA TEMA: IDENTIFICAR A TESE E OS ARGUMENTOS 1) Nos parágrafos abaixo, sublinhe a tese e coloque os argumentos entre parênteses. a) As leis já existentes que limitam o direito de porte de arma e punem sua posse ilegal são os instrumentos que efetivamente concorrem para o desarmamento, e foram as responsáveis pelo grande número de armas devolvidas por todos os cidadãos responsáveis e cumpridores da lei, independentemente de sua opinião a favor ou contra o ambíguo e obscuro movimento denominado desarmamento. Os cidadãos de bem obedecem às leis independentemente de resultados de plebiscito, enquanto os desonestos e irresponsáveis só agem de acordo com seus interesses desobedecendo a todos os princípios legais e sociais, e somente podem ser contidos através da repressão. (Opinião, site o Globo. In: //oglobo.globo.com/opiniao/mat/2011/04/12/a-quem-interessa-um-plebiscito-sobre-desarmamento-924221689.asp) b) As ditaduras militares foram uma infeliz realidade na América do Sul dos anos 1960 e 1970. Em todas elas houve drástica repressão às oposições e dissidências, com a adoção da tortura e da perseguição como política de governo. Ao fim desses regimes autoritários adotaram-se formas semelhantes de transição com a aprovação das chamadas leis de impunidade, as quais incluem as anistias a agentes públicos. (Eugênia Augusta Gonzaga e Marlon Alberto Weichert, Carta capital. In: //www.cartacapital.com.br/sociedade/o-brasil-promovera-justica) c) Todos os palestrantes concordaram que a participação da sociedade civil é fundamental para que qualquer debate sobre a comunicação avance no Congresso. Se dependermos apenas do conservadorismo da Câmara e do Senado, será muito difícil avançar, discursou o deputado Ivan Valente. Ele destacou o fato de que existem parlamentares no Congresso que tem fortes vínculos ou até mesmo são proprietários de meios de comunicação. Até os Estados Unidos, o país mais liberal do mundo, estabelece limites para evitar monopólios e define que quem tem rádio não pode ter televisão, e vice-versa. Precisamos pautar-nos em propostas como essas. (Ricardo Carvalho. Regulação da mídia é pela liberdade de expressão. Carta capital. In: //www.cartacapital.com.br/politica/regulacao-da-midia-e-pela-liberdade-de-expressao) d) Para a presidente do Conselho Federal de Nutricionistas, Rosane Nascimento, não é necessário que o Brasil lance mão de práticas baseadas no uso de agrotóxicos e mudanças genéticas para alimentar a população. "Estamos cansados de saber que o Brasil produz alimento mais do que suficiente para alimentar a sua população e este tipo de artifício não é necessário. A lógica dessa utilização é a do capital em detrimento do respeito ao cidadão e do direito que ele tem de se alimentar com qualidade", protesta. (Raquel Júnia. Agronegócio não garante segurança alimentar. Caros Amigos. In: //carosamigos.terra.com.br/) e) A leitura de jornais e revistas facilita a atualização sobre a dinâmica dos acontecimentos e promove o enriquecimento do debate sobre temas atuais. A rapidez com que a notícia é veiculada por esses meios é clara, garantindo a complementaridade da construção do conhecimento promovida pelas aulas e pelos livros didáticos. O apoio didático representado pelo uso de jornais e revistas aproxima os alunos do mundo que os cerca. (Ana Regina Bastos - Revista Eletrônica UERG. Mundo vestibular. In: //www.mundovestibular.com.br/articles/4879/1/como-se-preparar-para-ovestibular-utilizando-jornais-e-revistas/paacutegina1.html)

163 ANEXO G Escrita e reescrita colaborativa texto 1 ESCRITA COLABORATIVA TEXTO 01 Extremoz 26/08/15 Sr. Marcelo Sr. Marcelo estamos te agradecendo, o livro em que o senhor emprestou a nos Historias de estremos. O livro ajudou a reflete como nossa cidade é maravilhosa nei o Rio de Janeiro é mais bunito do que extremoz tem pessoas feias e bunitas mas o importante é que tem pessoas jenerosas como o senhor estudamos no almirante Tamandaré 9 A gostariamos de conhecer-lo pessoalmente, mas emquanto esse dia não chega ficamos com sua imagem pelo que falão de você, que deus le abençoe e que teja uma Boa vida. REESCRITA COLABORATIVA TEXTO 01 Extremoz/RN, 26 de agosto de 2015. Sr. Marcelo, Estamos te agradecendo pelo livro que o senhor nos emprestou com o título Histórias de Estremoz. O livro nos ajudou a refletir como nossa cidade é maravilhosa. Nem o Rio de Janeiro é mais bonito do que Extremoz. Aqui tem pessoas feias e bonitas, mas o importante é que tem pessoas generosas como o senhor. Estudamos na escola Almirante Tamandaré, no 9 A. Gostaríamos de conhecê-lo pessoalmente, mas enquanto esse dia não chegar, ficamos com a imagem do que falam do senhor. Que Deus lhe abençoe e que tenha uma boa vida. Atenciosamente, ANEXO H Alunos Escrita do e 9 A. reescrita colaborativa texto 2

164 ESCRITA COLABORATIVA TEXTO 2 Extremoz/RN, 26 agosto 2015. Sr. Marcelo Somos alunos do nono ano, e queremos agradecer-te pelo livro Histórias de Estremoz que foi de muita importância para conhecermos um pouco mais sobre a nossa cultura. Compartilhamos com a turma uma das muitas lendas de seu livro, muitos dos nossos colegas não conheciam a lenda que contamos e acharam muito interessante. Tivemos a oportunidade de conhecer um pouco sobre as lendas de extremoz, em especial a lenda das cobras da lagoa, nós já tinhamos ouvido varias versões dessa historia, mas nenhuma delas era tão rica em detalhes como a do seu livro. Estamos imensamente gratos pela sua generosidade ao emprestar para a turma o seu livro. Com muita gratidão, Elisângela e Síntia. REESCRITA COLABORATIVA TEXTO 2 Extremoz/RN, 26 agosto 2015. Sr. Marcelo Somos alunos do nono ano A da Escola Estadual Almirante Tamandaré e queremos agradecer-te pelo livro Histórias de Estremoz que foi de muita importância para conhecermos um pouco mais sobre a nossa cultura. Tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre as lendas de Extremoz, em especial a lenda das cobras. Nós já tínhamos ouvido várias versões dessa história, mas nenhuma delas era tão rica em detalhes como a do seu livro.. Assim, compartilhamos com a turma essa lenda. Muitos dos nossos colegas não conheciam a lenda das cobras e acharam muito interessante. Estamos imensamente gratos pela sua generosidade ao emprestar para a turma o seu livro. Com muita gratidão, Elisângela e Síntia.

ANEXO H Escrita e reescrita de textos 165

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