Qual a melhor forma de comparação de gordura

Quando a calça de sempre aperta na barriga, você sobe na balança e descobre que ganhou dois quilos após aquela pequena esbórnia alimentar do último final de semana. Preocupada, aproveita a deixa para calcular seu IMC (Índice de Massa Corporal) e percebe que parou na faixa de pessoas que estão com sobrepeso.

Praticamente em pânico, decide que já passou da hora de iniciar uma dieta drástica e dar "um jeito" nessa situação. Mas será que esse estrago todo na sua silhueta aconteceu mesmo? Segundo especialistas, é um erro classificar uma pessoa como obesa apenas analisando seu peso e IMC.

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Isso porque tais dados não contemplam a real composição corporal, nem dão muitas informações sobre a nossa saúde real. Além deles, é necessário checar o quanto desse peso é gordura, massa magra e água --sim, essa barriga que apareceu do nada por ser só inchaço mesmo.

Para uma análise mais detalhada, o melhor é procurar por um especialista. No entanto, explicamos o que significa cada um desses itens na sequência.

Peso

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Se refere a massa corporal total e engloba tudo, desde gordura até massa magra. Um exemplo bem prático é colocar uma pessoa que pesa 60Kg em uma balança. Se pusermos um litro de água junto, o total será de 61 quilos.

Contudo, se essa mesma pessoa tomasse o líquido em vez de colocar a garrafa na balança, também estaria com esse mesmo um quilo a mais. Ela realmente engordou? Não, está apenas com mais água em seu volume total.

Além disso, um quilo de músculo ocupa cerca de ¼ do volume que um quilo de gordura. Logo, quando "trocamos" um um pelo outro, naturalmente ganhamos uma aparência mais magra, mesmo que a balança não mostre isso.

IMC

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O Índice de Massa Corpórea é um dos mais utilizados para descobrir se o indivíduo está bem ou mal em termos de peso. A fórmula é simples: peso dividido pela altura (em centímetros) elevada ao quadrado.

O problema é utilizar somente esses dados para tirar conclusões, não levando em consideração a quantidade de gordura ou de músculos do corpo. Com isso, o resultado pode ser bem incorreto.

Basta pegar um halterofilista como exemplo. Lembra que músculo pesa mais do que gordura? Logo, apesar do corpo torneado, ele pode ter um peso de três dígitos, dependendo de sua altura. E, não está obeso como o seu IMC provavelmente diria.

Porcentagem de gordura

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Fala exclusivamente de quanto o peso total de uma pessoa vem da gordura. Aqui, vale dar atenção para esse dado, pois o percentual de gordura corporal está intimamente ligado a uma maior prevalência de uma série de doenças, como a diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto, problemas osteo-musculares, e até alguns tipos de câncer. Um alto índice de gordura visceral, aquela que se concentra na barriga, também está relacionado a um maior risco de doenças cardiovasculares.

Mas saiba que ela também tem seu papel em um corpo saudável. Na busca pelo visual dos sonhos, muitas pessoas reduzem seus níveis ao mínimo. O problema é que isso pode causar perda de imunidade, alterações de ciclo hormonal e interrupção do ciclo menstrual, entre outros problemas. O ideal é encontrar a sua faixa certa, baseado no peso e altura, e tentar se manter dentro desses índices.

Como calculo a minha composição corporal?

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Existem alguns métodos para se mensurar a gordura corporal com a ajuda de um especialista, como a bioimpedância e a medida das pregas cutâneas. Outros métodos, como a Ressonância Magnética Nuclear, também podem ser utilizados, porém têm alto custo.

Longe do consultório, é possível acompanhar sua evolução física tirando as medidas corporais mensalmente, por exemplo, para ter um número de comparação. A balança pode nem ter baixado tanto, mas se você perdeu cinco centímetros na cintura, e dois no quadril nesse meio tempo, muito provavelmente está no caminho certo.

Também dá para checar sua evolução com a ajuda de imagens. Se você começou a treinar e fazer dieta há pouco tempo, tire uma foto do seu corpo e faça acompanhamento, de preferência no mesmo local, horário e usando a mesma roupa.

Como faço para perder peso de forma saudável e sustentável?

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Não adianta se jogar em regimes malucos, que até te fazem perder peso na balança, mas que levam embora sua massa magra, ou seja, os músculos. O melhor é apostar nas atividades físicas, obviamente que de acordo com o seu condicionamento (uma simples caminhada é válida para começar, mas o ideal é aumentar isso com o tempo), maneirar no consumo de calorias (sim, é preciso fechar um pouco a boca) e ainda apostar em um cardápio balanceado, que inclua índice adequados de proteínas, gorduras e carboidratos.

Fontes: Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo (SP); Fabiano Lago, endocrinologista do Spa Estância do Lago, membro da Endocrine Society, Associação Brasileira para Estudo da Obesidade (ABESO) e Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e Daniel Magnone, cardiologista e nutrólogo, diretor do Centro de Nutrição do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, em São Paulo (SP).

Comparação da gordura corporal de mulheres idosas segundo antropometria, bioimpedância e DEXA

Aline Rodrigues Barbosa, José Maria Santarém, Wilson Jacob Filho, Eduardo Souza Meirelles,

Maria de Fátima Nunes Marucci

Universidade da São Paulo, São Paulo. Brasil

Resumo.

Verificar a concordância e comparar o percentual de gordura corporal (%GC) através das medidas de dobras cutâneas (DC), bioimpedância (BIA) e DEXA. Foram avaliadas vinte mulheres voluntárias (62 a 79 anos), utilizando-se duas equações distintas para DC (19, 20) e BIA (23) e avaliação por DEXA. As estimativas do %GC foram comparadas através de análise de variância para medidas repetidas (ANOVA- Bonferroni), a correlação foi verificada pelo coef. de Pearson e a concordância pelo procedimento de Bland & Altman (25). O %GC obtido pela BIA apresentou baixa correlação (r<0,5) quando comparado com as duas equações de DC. Os valores do %GC variaram de 31,5 ± 5,5 a 41,2 ± 6,1 (média e desvio padrão) para Jackson (19) e DEXA, respectivamente. A análise de comparação múltipla mostrou que não foram observadas diferenças significativas (p>0,05) entre os métodos e/ou equações de BIA(RJL-CompCorp) vs. DC-Jackson (19). Para todas as outras comparações, as diferenças foram significativas (p <0,001). Na comparação entre RJL-CompCorp vs. Deurenberg (23), foi verificada boa concordância, assim como para DEXA vs. Durning e Womersley, (20). Embora os métodos e/ou equações utilizados nesse estudo sejam de ampla utilização para estimar a GC em indivíduos idosos, nenhuma técnica deve ser aceita como método único de referência nessa população Cada método apresenta limitações e a comparação pode ser útil para a interpretação dos resultados obtidos.

Palavras chave:

Antropometria, DEXA, mulheres idosas, bioimpedância.

SUMMARY.

Comparison of body fat using anthropometry, bioelectrical impedance and DEXA in elderly women.

Verify correspondence and compare percentage body fat (%BF) estimates by skinfold thickness (SKT), bioelectrical impedance analysis (BIA) and DEXA. Twenty voluntaries women (aged 62 - 79 yr) were assessed. The body fat was estimated using two different equations of SKT(Jackson (19); Durning and Womersley, (20)), BIA using two-predictions formulas (23) and DEXA. To compare mean values of %BF was used analysis of variance for repeated measures (ANOVA _ Bonferroni), the correlation of the inter-method was verified by Pearson correlation coefficients (r), and correspondence between prediction formulas was tested by using the approach by Bland and Altman (25). The %BF assessed by BIA (23) shown poor correlation (r<0.5) with two SKT equations. The %BF ranged from 31.5 ± 5.5 to 41.2 ± 6.1 (mean ± SD) for Jackson (19) e DEXA, respectively. The analysis of variance shown no significant differences (p >0,05) between methods and/or equations by BIA (RJL-CompCorp) vs. DC-Jackson (19). There were observed significant differences (p < 0,001) between all comparisons. The correspondence between RJL-CompCorp vs. Deurenberg (23) was good and the same was observed for DEXA vs. Durning and Womersley (20). Although the methods and/or equations used in this study have been commonly utilized to estimate BF in elderly subjects, they neither must be used as a standard method. Each method has limitations and the comparison can be useful for interpretation of results.

Key words:

Anthropometry, DEXA, bioelectrical impedance analysis (BIA), elderly women.

Recibido: 10-02-2000

Aceptado: 18-01-2001

Introdução

Uma das alterações bastante evidenciada com o envelhecimento está relacionada à composição corporal, podendo ser observado um aumento progressivo na gordura corporal (GC), redução na massa corporal magra (MCM), além de modificações na quantidade de minerais da MCM e na proporção entre água intra e extra celular. O aumento do tecido adiposo segue um padrão típico, ou seja, maior aumento nos depósitos centrais de gordura em relação aos periféricos, seguindo o modelo andróide (1,2), além de maior internalização da gordura (3).

È de extrema importância a avaliação da composição corporal nos indivíduos idosos, dada a estreita relação do aumento da GC, assim como ao seu padrão de distribuição, com desordens metabólicas e doenças cardiovasculares (4,5). A avaliação da composição corporal, nos indivíduos idosos, pode ainda: estabelecer massa protéica e reserva energética, desenvolver base referencial para o gasto energético e definir hidratação relativa (6); demonstrando assim o estado nutricional, que é um fator importante na qualidade de vida desses indivíduos.

As abordagens mais comumente utilizadas no estudo da composição corporal estabelecem relação quantitativa entre gordura e massa corporal magra (MCM), seguindo o modelo de dois compartimentos (7,8). Existem vários métodos baseados nesse modelo e que apresentam vantagens e limitações, podendo sua utilização ser questionada em indivíduos idosos.

A antropometria (dobras cutâneas e circunferências) é freqüentemente utilizada para avaliar a GC e a MCM. As medidas de dobras cutâneas (DC) podem estimar a gordura subcutânea em determinados locais do corpo, de forma razoavelmente acurada (9). Contudo, alguns problemas como a possível redistribuição da gordura subcutânea, seleção de equação apropriada e a técnica de mensuração são questões importantes nessa medida e que podem limitar a sua acurácia nos indivíduos idosos (3,10).

A bioimpedância, é uma técnica segura, rápida, aplicável à prática clínica e estudos de campo, com relativa simplicidade e alta reprodutibilidade (11,12).

O DEXA (radioabsorciometria de feixes duplos), é um método invasivo que vêm se tornando uma medida popular na avaliação da composição corporal, em países desenvolvidos (13-15). Esse método permite a avaliação estrutural da composição corporal, dividindo a massa corporal em três componentes básicos: tecido macio livre de minerais e gordura, conteúdo mineral ósseo e gordura (16).

O objetivo deste estudo foi avaliar, comparar e verificar a concordância entre as estimativas do percentual de gordura corporal (%GC), em mulheres idosas, obtidas por metodologias e equações diferentes: antropometria (duas equações preditivas), bioimpedância (duas equações preditivas) e DEXA.

Metodologia

População de estudo

O estudo foi realizado com 20 mulheres voluntárias, com idade entre 62 e 79 anos, sedentárias, recrutadas no bairro de Vila Mariana e/ou proximidades, na cidade de São Paulo, através da Divisão de Medicina de Reabilitação do HC - FMUSP. Essas mulheres fazem parte de um estudo que investiga os efeitos de um programa de treinamento contra resistência na composição corporal, força muscular e flexibilidade de mulheres idosas. Esses dados referem-se à avaliação inicial da composição corporal dos indivíduos participantes deste estudo. Todas as participantes deram sua autorização por escrito, de acordo com as normas éticas exigidas pela Resolução nº 196/out., 1996 (Conselho Nacional de Saúde). O protocolo do estudo foi aprovado pelo comitê de ética da Faculdade de Saúde Pública.

Antropometria

A massa corporal (MC) foi medida em balança eletrônica, marca TANITA de 150 kg de capacidade e sensibilidade de 100g, com o indivíduo vestindo o mínimo possível de roupa e descalço. A estatura foi medida com antropômetro, fixado à parede, de acordo com o Programa Biológico Internacional (17).

As dobras cutâneas (DC) foram medidas com um compasso CESCORF, com precisão de 0,1 mm, no lado direito do corpo, em cinco locais (bíceps, tríceps, subescapular, suprailíaca e coxa), segundo a padronização de Lohman et al. (18). Três medidas foram realizadas e a média utilizada nas análises. A densidade corporal foi obtido por duas equações de predição:

a) Jackson et al. (JCK-DC) (19),

Densidade corporal (Dens.) (g/cc) = 1,0904921 - 0,0009929 (S 3 dobras*) + 0,0000023 (S 3 dobras) 2 -0,0001392 (idade);

* dobras cutâneas (tríceps + suprailíaca + coxa)

b) Durning & Womersley (D&W-DC) (20),

Dens. (kg/L) = 1,1339 - 0,0645 (log.S 4dobras**).

** dobras cutâneas (tríceps + bíceps +subescapular + suprailíaca).

O percentual de gordura (%GC), nas duas equações, foi obtido através da equação de Siri (21): %GC = (495/DC) - 450.

Bioimpedância

A resistência e a reactância corporal foram medidas utilizando-se um analisador de composição corporal (modelo BIA 101Q, RJL Systems, Detroit). A medida foi realizada como descrito por Lukaski et al. (22). As medidas da resistência e da reactância foram anotadas em formulário próprio e depois convertidas em % de gordura corporal utilizando o programa ComCorp fornecido pelo representante do aparelho no Brasil (BIA-RJL). As medidas de resistência foram também utilizadas na equação de Deurenberg et al. (BIA-DRBG) (23): MCM (kg) = 0,340 (E2/R) + 0,1534 (E) +0,273 (peso -KG) - 0,127 (idade ) + 4,56 (sexo) - 12,44, onde E = estatura em metros, sexo feminino = 0, R = resistência.

DEXA (radioabsorciometria de feixes duplos)

As medidas por DEXA (modelo DPX-L, LUNAR Radiation, Madison, WI), foram realizadas em "scan" de corpo inteiro. Todos os "scans" foram analisados por um investigador especializado, utilizando o programa para análise de composição corporal, LUNAR Radiation versão 1.2i DPX-L.

As medidas de antropometria e bioimpedância foram coletadas por um mesmo investigador treinado e no mesmo dia para cada indivíduo, a medida do DEXA foi realizada na mesma semana das duas 1ªs avaliações, mas com 1 dia de intervalo.

A Tabela 1 descreve as características em termos de autor, ano, número de indivíduos, país, condições de saúde e o método de referência utilizado como padrão ouro para validar as duas equações de antropometria e uma de bioimpedância.

Qual a melhor forma de comparação de gordura

Análise estatística

Inicialmente foi feita análise descritiva das variáveis. Para cada estimativa da GC, as médias foram comparadas, utilizando-se análise de variância a um fator, considerando medidas repetidas sob o mesmo

fator (ANOVA de medidas repetidas), e o método de Bonferroni na comparação das médias duas a duas (24). Para a correlação inter-estimativas do %GC foi usado o coeficiente de correlação de Pearson. A concordância entre dois diferentes métodos e/ou equações foi testada utilizando o procedimento de Bland e Altman (25), sendo os limites de concordância definidos como média ±1,96 desvio padrão (DP) da diferença entre os métodos (intervalo de confiança 95%, 95%IC).

Para o processamento e análise estatística dos dados foi utilizado o INSTAT (versão V2.01, Graphpad Software, San Diego, CA).

Resultados

A Tabela 2 apresenta as características dos indivíduos desse estudo. A Tabela 3 mostra os valores de inter-correlação (correlação de Pearson) das equações e/ou métodos. Verifica-se que a estimativa da GC, por DEXA, apresentou forte correlação com todas as demais estimativas. A correlação entre BIA-DRBG (23) vs. JCK-DC (19) e BIA-DRBG (23) vs.D&W-DC (20) foi abaixo de 0,5, embora as equações sejam utilizadas para estimar a gordura corporal.

As Figuras 1-4, mostram a concordância testada entre algumas das estimativas da GC. Na comparação entre BIA-RJL vs. BIA-DRBG (23), foi verificada boa concordância, assim como para DEXA vs. D&W-DC (20). A Tabela 4 apresenta média, desvio padrão, erro padrão da média, mediana e valores mínimos e máximos de % GC da amostra, obtidos pelas equações de dobras cutâneas, de bioimpedância e os valores obtidos através da medida de DEXA. Os valores de %GC variaram de 31,45 (JCK-DC) (19) a 45,40 ( BIA-DRBG) (23).

Qual a melhor forma de comparação de gordura

Qual a melhor forma de comparação de gordura

Qual a melhor forma de comparação de gordura

A Tabela 5 apresenta a comparação dos percentuais de gordura corporal entre as equações e/ou métodos. Os resultados da comparação (duas a duas) através do teste de Bonferroni mostraram que só não foram observadas diferenças significativas (p> 0,05) entre os métodos e/ou equações de BIA-RJL vs. JCK-DC (19), em todas as outras comparações as diferenças foram bastante significativas (p<0,001).

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Discussão

É importante ressaltar que a amostra utilizada nesse estudo não é populacional e portanto não representa de forma genérica as mulheres idosas do Município de São Paulo.

A BIA é um método de fácil aplicação e de alta reprodutibilidade, embora fatores como posição do indivíduo, colocação dos eletrodos, temperatura ambiente, nível de hidratação e atividade física, possam afetar essa medida (26,27). Existem, na literatura, várias fórmulas para estimativa do %GC através da BIA, sendo que algumas reconhecem o efeito do envelhecimento sobre a composição corporal e utilizam a idade como uma variável na predição da GC. Os diferentes valores de %GC encontrados nesse estudo através das duas equações de BIA, podem ser explicadas de algumas formas, primeiro: não se conhece a equação utilizada BIA-RJL (CompCorp, software fornecido pelo representante do RJL no Brasil). O % GC é fornecido pelo programa à partir dos dados registrados de resistência, reactância, peso (kg), estatura (cm), idade (anos), sexo e nível de atividade física; a equação de Deurenberg et al. (23) utiliza estatura (cm), resistência, peso (kg), idade (anos) e sexo. Outras variáveis como a etnia e o método de referência para validação da equação de predição, além da própria equação, são citadas na literatura para explicar as diferenças encontradas nos valores de %GC estimados por BIA (27-29).

No presente estudo, a média, da GC,estimada pela equação BIA-DRBG (23) foi bastante superior que a do BIA-RJL. Essa superestimação, também foi observada em indivíduos idosos, no estudo de Mazariegos et al.(29) comparando diversas equações de BIA, sendo essa a que apresentou o mais alto valor médio de GC. A subestimação da GC através da utilização de software fornecido pelo representante do aparelho-RJL, foi observada no estudo de Wattanapenpaiboon et al. (30). Os autores, Wattanapenpaiboon et al. (30) encontraram um valor cerca de 8,8% menor para mulheres, quando comparada com outras equações da literatura. Embora o estudo citado anteriormente, tenha sido realizado com indivíduos de ambos os sexos, com idade entre 26-78 (mulheres) e, não tenha sido utilizada a equação de Deurenberg et al., (23) para comparação, os valores fornecidos pela BIA-RJL foi subestimada em relação às outras, assim como em nosso estudo.

Contudo, apesar dos fatos citados anteriormente, observou-se forte correlação (r=0,79) e boa concordância entre as equações de BIA (BIA-RJL vs. BIA-DRBG) (23) (Figura 1).

FIGURA 1

Qual a melhor forma de comparação de gordura

Concordância entre as estimativas de BIA-RJL vs. BIA-DRBG (23). De acordo com Bland e Altman (25) o eixo horizontal mostra a média da GC obtida pelas 2 equações e o eixo vertical , as diferenças inter-equações

A técnica de Bland e Altman (25), usada no presente estudo para estimar o viés e o limite de concordância (ou correspondência) entre duas medidas do %GC, tem sido empregada em vários estudos (29,30,35), alegando-se que o uso do coeficiente de correlação pode não ser apropriado, visto que alta correlação pode não refletir um alto nível de concordância (25,30).

As medidas de dobras cutâneas são bastante usadas na estimativa da GC, por serem relativamente fáceis, de baixo custo e aplicável em estudos de campo. No caso dos indivíduos idosos, essas medidas apresentam algumas limitações devido à alterações como: redistribuirão e internalização da gordura subcutânea, atrofia dos adipócitos, espessura e elasticidade da pele. Essas modificações podem contribuir para maior compressão entre a gordura e a massa muscular, o que pode afetar de forma significativa a confiabilidade das estimativas da GC, através desse método (12,31).

As equações de DC, utilizadas no presente estudo, são equações generalizadas, sendo que a equação de Jackson et al. (19), acrescenta o fator idade para estimativa das alterações potenciais entre gordura externa/interna e densidade óssea.

As DC, assim como a BIA, têm as suas equações preditivas desenvolvidas e validadas em indivíduos caucasianos, em países desenvolvidos. As diferenças no padrão de distribuição de gordura entre as diferentes etnias, podem alterar a relação entre o somatório das dobras e a medida da composição corporal, assim como valores de densidade corporal (32,33). Alguns estudos têm demonstrado que asiáticos, negros e hispânicos parecem ter um depósito de gordura superior no tronco do que nas extremidades e, também parecem ter mais gordura subcutânea na parte superior do corpo quando comparados com indivíduos caucasianos (32-34). Não é do conhecimento dos autores, referências da população brasileira para essas medidas, em indivíduos idosos.

O sexo e a idade são fatores importantes em relação às medidas de DC e densidade corporal, visto que um mesmo valor de DC poder estar relacionado, em diferentes idades à alterações na padrão de distribuição de gordura (Durnin & Womersley) (20). Assim, como o presente estudo utilizou equações para estimar o %GC em idosos com idade superior à população de origem, talvez os indivíduos desse estudo apresentem maior quantidade de gordura interna no corpo, mas não pôde ser detectada pelas medidas de DC, que estariam assim, subestimando a gordura corporal. O menor valor médio de %GC, detectado pela equação de Jackson et al. (19), não apresentou diferenças significativas (p< 0,05) comparado com a BIA-RJL. Contudo, embora tenha sido verificado correlação de 0,71 entre essas duas medidas (BIA-RJL vs. JCK-DC), (19) a concordância observada não foi boa (95%IC= -0,39 a 3,69%), independente do %GC (Figura 2). De acordo com outros estudos (30,35), a equação de BIA-RJL podem subestimar a GC em idosos, assim como as equações de DC. Pode-se especular que essas duas equações não apresentaram diferenças significativas entre suas médias por estarem as duas subestimando a GC nesses indivíduos, o que contudo, não explica a pouca concordância verificada. Talvez, o número de indivíduos de nosso estudo não seja suficiente para verificação, mais conclusiva, da concordância entre os dois métodos.

FIGURA 2

Concordância entre as estimativas de BIA-RJL vs.

JCK-DC (19). De acordo com Bland e Altman (25)

o eixo horizontal mostra a média da GC obtida pelas 2 equações e o eixo vertical , as diferenças inter-métodos

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O DEXA é uma tecnologia relativamente nova na medida da composição corporal e de fácil execução, tendo sido primeiramente utilizada para avaliação da densidade e conteúdo mineral ósseo (precisão de 1%) (16). A habilidade desse método para avaliar os tecidos macios, baseia-se em pesquisas demonstrando que o peso corporal medido por DEXA é significativamente correlacionado com a escala de peso corporal, contudo, isso não garante sua acurácia para determinação da MCM e GC (36) .

Existem três tipos de sistema de DEXA comumente em uso (Hologic, Norland e Lunar DPX), sendo que eles, apresentam diferenças em seus princípios físicos, configuração de hardware e software, calibração e/ou detecção na delimitação óssea (16). Alguns estudo têm reportado grandes e sistemáticas diferenças nos valores de densidade óssea e percentuais dos tecidos macios determinados pelos três sistemas (35,37). O estudo de Tothill et al. (35) comparou a GC por DEXA, utilizando os três tipos de sistemas citados acima. Os valores de GC medidos pelo Lunar DPX (similar ao do nosso estudo), eram superestimados em relação ao Hologic. Segundo os autores, as diferenças encontradas podem, em parte, ser devido a diferenças nos padrões ou procedimentos de calibração. É importante salientar que as diferenças entre os aparelhos apresentam variação em relação às regiões corporais, sendo maior no tronco, comparando com as pernas, devido à maior profundidade e/ou diâmetro observado nessa região.

Embora tenha sido observada boa correlação entre as estimativas da GC por DEXA e todas as demais medidas, os valores médios encontrados foram significativamente diferentes. Os valores obtidos por DEXA, foram superestimados em relação às duas equações de DC, que talvez tenham seus valores subestimados devido à alterações no padrão de distribuição da gordura corporal com a idade, ou diferenças na densidade corporal da população do nosso estudo, comparadas com a população de origem da equação.

FIGURA 3

Concordância entre as estimativas por DEXA vs. D&W-D (20). De acordo com Bland e Altman (25) o eixo horizontal mostra a média da GC obtida pelas 2 equações e o eixo vertical , as diferenças inter-métodos

Qual a melhor forma de comparação de gordura

Alguns estudos sugerem boa concordância entre DC e DEXA (30,35,38) e isso foi observado em nosso estudo, em relação à medida do DEXA vs. D&W-DC (20) (95% IC = 2,40 a 5,62%) (Figura 3). A magnitude do viés entre essas medidas pode ser dependente do diferencial da capacidade desses métodos na avaliação da gordura subcutânea e visceral, como pode ser também observado no estudo de Wattanapenpainboon et al. (29). A baixa concordância entre DEXA vs. JCK-DC (19) foi independente de maior ou menor %GC (Figura 4) e não pode ser explicada pelas diferenças na distribuição da deposição da gordura, devido ao aumento do %GC.

FIGURA 4

Concordância entre as estimativas por DEXA vs JCK-DC (19). De acordo com Bland e Altman (25) o eixo horizontal mostra a média da GC obtida pelas 2 equações e o eixo vertical , as diferenças inter-métodos

Qual a melhor forma de comparação de gordura

Conclusões

Embora os métodos e/ou equações utilizados nesse estudo sejam validados para estimar a GC de indivíduos idosos, existe problema quanto qual o melhor método. Todas as equações e/ou métodos forneceram diferentes estimativas da gordura corporal, não podemos afirmar qual a mais "eficaz" para estimar a GC corporal em idosos. BIA-RJL e JCK-DC (19), foram os únicos que não apresentaram diferenças significativas na comparação das médias de suas equações, contudo não apresentaram boa concordância. O viés entre as estimativas (DC - BIA - DEXA) variaram de acordo com a equação de predição. A melhor concordância foi observada entre DEXA vs. D&W-DC (20). Nenhuma técnica pode ser aceita como método mais apropriado de referência. Ainda é um problema a escolha da melhor equação de BIA e dobras cutâneas para estimar a composição corporal em indivíduos idosos e as limitações do DEXA não permitem escolhe-lo como padrão de referência. As comparações são necessárias no intuito de identificar a limitações de cada método e pode também ser útil para avaliar as hipóteses dos outros métodos.

AGRADECIMENTOS

Os autores são gratos ao estatístico Pedro Abreu Pessoa de Mendonça, pela ajuda na análise dos dados.

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