Tudo bem nao ser normal

Divulgação

Já passou por aquela experiência de enrolar e enrolar em ver algo por pura preguiça, mas… na hora que você termina de assistir, a única coisa que passa pela sua cabeça é: Por que eu não assisti isso antes? Foi exatamente minha experiência com esse drama.

Tudo Bem Não Ser Normal é um drama sul-coreano que estreou em 2020 e até hoje faz um grande barulho entre os fãs e toda a comunidade que consome tal conteúdo. 

Resumidamente? É uma história onde dois irmãos conhecem uma escritora que os ajudam a passar por um processo de superação de seus traumas. Mal sabiam eles que ela também tinha grandes e profundas feridas na alma.

A trama se desenrola de uma forma muito interessante e cômica até. Cada um dos três personagens é bastante único em sua personalidade e traumas. Conhecemos as suas histórias e acompanhamos a cicatrização de suas antigas aflições no decorrer dos episódios.

Dois irmãos e uma escritora antissocial

Moon Gang-tae é um homem que passou sua vida inteira trabalhando e cuidando de seu irmão mais velho. Ele é bastante retraído e não se dá a chance nem ao menos de namorar, pois acredita que seu irmão deve vir antes de qualquer coisa, até mesmo de si mesmo.

Moon Sang-tae é o irmão mais velho de Gang-tae e é autista. Ele adora desenhar e é fascinado por dinossauros. Assiste os mesmos desenhos animados todos os dias, decorando as falas de cada personagem.

Quando ainda eram crianças, a mãe dos dois irmãos foi assassinada. Sang-tae presenciou tudo, mas pelo choque não conseguiu denunciar propriamente quem foi o criminoso. Apenas se lembrava que usava um broche de borboleta.

Sempre que a primavera está para chegar, Gang-tae dá um jeito de se mudar para outro lugar, pois seu irmão ficou completamente traumatizado e não suporta borboletas de jeito nenhum.

Dessa forma, os irmãos vivem se mudando. Mesmo que seja cansativo, Gang-tae já está acostumado com a situação. Melancólico, apenas aceita a situação e vive um dia de cada vez tentando fazer o melhor pelo bem-estar de Sang-tae.

Ko Mun-yeong é uma escritora de livros infantis um tanto excêntrica. Suas histórias sempre carregam lições de moral bastante impactantes e com uma ilustração um tanto peculiar para um público infantil.

Mun-yeong tem um transtorno de personalidade antissocial e é intensa em tudo que faz. Simplesmente escreve suas histórias e deixa sua editora na palma de sua mão, não se importando com qualquer consequência ruim que possa ter. 

Sang-tae é um grande fã dos livros de Mun-yeong. Ao conhecê-la, fica completamente encantado. É como se ela tivesse saído de um conto de fadas.  Por outro lado, a escritora fica completamente obcecada pelo seu irmão, Gang-tae, apaixonando-se em segundos.

E aí… a jornada desse trio começa.

Melhores amigos na dor

É muito bonito ver como cada um dos personagens ajudam um ao outro a superar e a lidar com seus medos, pensamentos intrusivos e traumas. 

Mesmo que muitas vezes nos vemos focados no romance entre Gang-tae e Mun-yeong, preciso esclarecer que os três personagens são igualmente relevantes para o andamento da história. 

Gang-tae se coloca como responsável de tudo desde sempre, o que o torna um adulto sobrecarregado que não encontra tempo para ser feliz. Quando criança, tinha uma visão um tanto distorcida sobre o tratamento “especial” que sua mãe dava para seu irmão mais velho.

Ele sempre se viu como segunda opção dentro da família e se tornou uma pessoa muito carente de amor e atenção. Cresceu pensando que havia nascido apenas para cuidar de Sang-tae, o que o fez girar toda sua vida em torno dele.

Assim, Gang-tae é triste, mas finge estar sempre feliz para não preocupar o irmão. Vê nisso uma forma mais fácil de continuar vivendo, comendo, trabalhando e cuidando do irmão. Nesse mesmo ciclo… todos os dias.

Ko Mun-yeong chega em sua vida dando um grande chute na porta de seu cotidiano. Mesmo que ele negue para si (e para ela) qualquer interesse romântico de começo, ao conviver e conhecer verdadeiramente a escritora o amor germina em seu coração.

Com seu jeito incomum de ser, Mun-yeong não tem dificuldades de jogar a verdade na cara de Gang-tae: ele precisa se livrar dessa máscara e começar a viver de verdade. 

Então, Gang-tae começa a aproveitar um pouco melhor a vida. Sai para viajar pela primeira vez, começa um relacionamento com a mulher que ama (a nossa estilosa escritora), tira um tempo de férias.

A sua máscara vai caindo. A falsa felicidade que ele esboçava em seu rosto vai embora e dá lugar para sorrisos e risadas genuínas.

A forma como Mun-yeong nos é apresentada é um tanto engraçada, mas quanto mais o tempo passa mais você vê que ela é uma pessoa machucada. Seus traumas de infância a perseguem, mas ela tenta vestir uma armadura de prepotência e viver normalmente.

Mesmo com tantos traumas causados pela sua própria mãe, Mun-yeong também é confrontada por Gang-tae e é ajudada a superar esse passado no qual ela ainda vivia constantemente.

Dando a volta por cima de suas antigas dores, a escritora começa a se libertar de suas correntes e de problemáticas crenças que tinha acerca de si mesma. Mesmo que chore, agora ela vê que não está sozinha como pensava.

Ao empregar Sang-tae como o ilustrador de seu próximo livro, Mun-yeong faz com que ele se sinta importante e singular. No decorrer do tempo, Sang-tae começa a se ver cada vez mais como adulto e como o irmão mais velho daquelas duas pessoas tão queridas por ele.

Nisso, o desenvolvimento de personagem do Sang-tae foi o que mais me emocionou. Mesmo com suas limitações, ele se torna também um ombro no qual seu irmão mais novo, agora, pode chorar e se apoiar quando for preciso.

Os três lutam, choram e dão risada juntos! Não há relacionamento perfeito, então as desavenças sempre aparecem, mas o amor que eles têm um pelo outro consegue superar esses momentos de crise.

Um conto de fadas terapêutico

O drama tem também todo um tom de fantasia! Mun-yeong tem uma bela aparência e vive em uma grande casa construída por seu pai. Parece até mesmo um conto de fadas contemporâneo.

Uma das minhas coisas favoritas em Tudo Bem Não Ser Normal é a coleção de livros da Ko Mun-Yeong. Ela lança 5 livros durante a trama e eles são, individualmente, explorados durante os episódios.

É algo muito criativo! Os personagens conseguem relacionar as histórias com o que vivem e é bastante interessante. Parece até que Mun-yeong escreveu aquilo especialmente para eles. 

Vale lembrar que nossa querida escritora se expressa através de seus livros, então conseguimos notar seus desabafos sobre a própria vida e sua história nas entrelinhas de cada um de seus contos.

Esses belos livros foram publicados e é uma experiência e tanto lê-los por si mesmo. Já consegui adquirir 3 da coleção e, mesmo sendo tão curtinhos, eles conseguiram me arrancar boas lágrimas. As histórias são muito bonitas e comoventes.

Não é sobre ser perfeito

No final dos 16 episódios, não vemos os três personagens completamente curados de suas feridas. Vemos pessoas que, juntas, estão dando o seu melhor para apoiar umas às outras em suas próprias superações.

E é lindo!

Acho que essa é uma das razões que me fez não gostar tanto da tradução que fizeram do título para nosso idioma. Um dos títulos em inglês é "It's Okay to Not be Okay”, isto é, “está tudo bem em não estar bem”.

O drama nos mostra que a vida não é perfeita. Somos humanos e temos nossas fraquezas. Está tudo bem em se sentir triste, mas não em permanecer triste. Precisamos superar nossos traumas e momentos escuros. 

Ter bons amigos ao redor ajuda bastante nesse processo. Como em Tudo Bem Não Ser Normal, onde cada um ajudou o outro com seus problemas, devemos começar a olhar os que estão próximos a nós com maior atenção. 

Ninguém é perfeito e todo mundo tem uma história. Muitas vezes fazemos pré-julgamentos de pessoas que achamos que conhecemos, mas quando realmente vemos… as coisas não são tão simples como parecem.

Não acredito na superação como um ponto, mas como uma linha com ondulações. A superação é um processo no qual existirá momentos de maior dor e de maior alegria. Dando um passo de cada vez, com perseverança e constância, é o que mais importa.

Está tudo bem em não estar bem. O importante é não estagnar, mas se isso vier a acontecer, busque ajuda. Não guarde toda tristeza apenas para você (como Gang-tae fez) ou não finja que nada está acontecendo (como Mun-yeong fez). Busque ajuda!

Não é sobre ser perfeito, mas sim sobre lutar todos os dias para ser uma pessoa melhor para nós mesmos e para os que amamos e nos amam.

Corra para a Netflix e assista Tudo Bem Não Ser Normal com calma. É um drama que vai te divertir, te fazer chorar e te fazer refletir. Aproveite a jornada!

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