Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas quem disse

a estória que vos vou contar é minha e de um "rufia" com quem me cruzei numa sala de aula. foi-me sinalizado como um menino com mau comportamento, com o qual deveria ter especial atenção. 

na segunda aula e após lhe pedir 3 x "dá-me a almofada se faz favor" tirei-lhe a almofada das mãos. e caminhei para a ir arrumar. furioso, ele agarra-se à minha perna e não larga. e eu? eu continuei a caminhar, com ele agarrado à minha perna e a dizer: "é na boa, vês como consigo andar na mesma?"

ignorei. não dei importância. não sei se os psicólogos ou pedagogos podem explicar isto. 

o certo é que na semana seguinte tinha ali um aliado. ok, ele às vezes distrai-se com os amigos, mas tem dado contributos super importantes para o tema/pergunta que está na base do diálogo. e dá abraços. é verdade, pasmem-se: ele adora abraços. há dias, no meio de uma aula, veio ter comigo, abraçou-me e sentou-se ao meu colo. 

disse-lhe ao ouvido "acho que gostas um bocadinho de mim. é verdade?". ele riu e apertou o seu abraço, ainda mais. "espera aí só mais um bocadinho", disse-me ele quando lhe pedi para me levantar para ir ajudar os outros amigos na sala. eu esperei. 

As histórias infantis invadem o imaginário de crianças e adultos e têm o poder de falar diretamente com o subconsciente, sem barreiras. Em meio a uma narrativa que toca o coração, os leitores se encantam pela amizade entre o Pequeno Príncipe e a Raposa e recebem todas as lições como expressão do mais humano e melhor em cada ser.

No entanto, é importante escutar mais atentamente as regras que cada relação nos impõe, pois a grandiosidade dos encontros precisa ser protegida de relações de dependência. É preciso entender o quanto as crenças que temos, sejam conscientes ou não, são determinantes de nossas ações e então rever muitas delas, contestando-as e avaliando o quanto ainda são funcionais. Presumir a responsabilidade eterna por alguém que se cativa carrega em si o perigo da generalização, que faz com que o pensamento pareça funcional em qualquer situação, o que não é real.

Eternamente responsável? Sim e não.

Sim, na medida em que somos seres sociais, não vivemos sozinhos, mas em comunidade. Nesta perspectiva somos todos responsáveis uns pelos outros e precisamos desenvolver cada vez mais a empatia, o senso de coletividade e interdependência.

Não, quando pensamos nesta responsabilidade individualmente, em relações que tendem a depositar em um dos envolvidos o papel do “salvador”, daquele que ajuda incessantemente e tem a obrigação de ficar à disposição do outro realizando suas vontades e cuidando de suas necessidades.

Alguns acreditam que quando fazem uma amizade ou entram em uma relação amorosa o outro deve agir de forma a ajuda-los e contentá-los sempre. Colocam-se em situações complicadas constantemente e buscam apoio sem levar em consideração hora, lugar ou a condição em que a outra pessoa está, pois o problema do momento é tido como urgência. Como não assumem sua própria força pessoal, as urgências se seguem e o outro é sempre o depositário de suas dificuldades, sem que haja real crescimento ou tentativa de mudança de rumo. Relações com pessoas que tem esta crença acabam por tornarem-se pesadas, invasivas e sem reciprocidade.

Há também os que levam consigo a crença de que quando se envolvem tornam-se eternamente responsáveis e assim ficam reféns de relações e histórias alheias, aceitando amizades que não são de reciprocidade. Desenvolvem também a falsa ideia de que podem realmente ter poder sobre o próximo, como se sua presença e ajuda fossem definitivas para o sucesso e felicidade da outra pessoa. É um orgulho misturado à generosidade.

Ninguém é capaz de salvar ninguém, de mudar ninguém e, portanto, ninguém é responsável individualmente por mais ninguém além de si mesmo. Sozinhos não existimos e certamente não nos transformamos, porém pessoalmente não somos responsáveis pelo outro.

Adultos são responsáveis por si mesmos, pelo seu caminho e pelas próprias escolhas e aprendizado. Quando estão em família devem colaborar e estar atentos às necessidades do grupo, sem jamais deixar de considerar que cada um tem uma trajetória pessoal. Quando são pais, são responsáveis pelos filhos pequenos, até que cresçam e possam responder por si mesmos.

Com aqueles com quem criamos laços podemos compartilhar nossa companhia, momentos divertidos e experiências de crescimento. Em situações difíceis podemos oferecer uma escuta atenta, ajuda prática, conselhos, contatos, solidariedade e um ombro amigo. Desta forma somos responsáveis na relação, e não pela relação, e nela surge a possibilidade de encontro, troca e crescimento.

Essa é a diferença entre estar ao lado de alguém em uma jornada e assumir responsabilidades por alguém. Ser responsável por quem está conosco implica em obrigação, um compromisso de salvamento que tira o poder do outro de se cuidar e assumir a própria força pessoal; e ainda desvia o foco da única responsabilidade que é mesmo sua, sua própria vida.

Durante a vida criamos laços inúmeras vezes, em diferentes intensidades; não vivemos em planetas solitários. Muitas vezes escolhemos cativar, outras o fazemos sem intenção, por puro carisma e atenção. Por vezes escolhemos ser cativados, escolhemos o quanto cada pessoa poderá entrar em nossa vida, que espaço e que poder daremos a ela e por quanto tempo. Se não escolhemos conscientemente, permitimos que isso aconteça, e dar permissão é uma forma de escolha.

A verdade é que nosso caminho de crescimento é cheio de encontros, mas é muito individual. Somente nossa jornada individual é responsabilidade nossa e nossa forma de significar esta jornada é escolha nossa, nossos sentimentos com relação aos fatos são apenas nossos.

Muitas pessoas passam por nossas vidas, porém, apenas algumas ficam. As que se vão levam com elas algo de nós: uma lição, um sorriso, uma história, uma mágoa. Cada um tem como escolher quem fica, quem vai, como será a relação e o que leva do outro quando parte.

Todos que passam nos deixam um pequeno espelho, no qual podemos ver parte de nós mesmos que não seria possível enxergar sem o presente deles, sem a passagem deles. Muitas vezes é difícil olhar na hora e guardamos o espelho para depois. O que guardamos e escolhemos não olhar também é de nossa responsabilidade.

Talvez você se sinta responsável por alguém que cativou, ou exija este tipo de reponsabilidade de alguém que te cativou. Pense bem, que tipo de relação quer cultivar em sua vida? Relações de encontro e crescimento ou relações nas quais assume o que não é seu e que, portanto, não pode resolver, enquanto deixa o que é seu sem cuidados? Ou acredita que alguém deva solucionar as suas crises, suas dificuldades e que os amigos têm obrigação de agir conforme suas necessidades? O quanto você enxerga o outro em sua plena existência?

Escolha viver melhor, permitindo que cada um assuma aquilo que cabe a si: sua própria história, seu ponto de vista, o resultado de seus próprios atos. Que os encontros sejam verdadeiros, que sejam entre pessoas inteiras, que cada um assuma sua parte.

Se me cativou eu escolhi.

Se te cativei, você escolheu.

Na arte da vida que nos dá escolhas, você é responsável por si, eu sou responsável por mim e assim nosso encontro será bonito e deixará boas recordações e aprendizado. Será evolutivo.

De quem é a frase Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas?

Antoine de Saint-Exupéry. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

O que o pequeno príncipe disse a Rosa?

“Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro.

Qual a frase mais famosa do Pequeno Príncipe?

“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” Essa é uma das frases do pequeno príncipe que se tornou mais marcantes. É preciso enxergar além das aparências para que se veja aquilo que realmente importa.

Quem é o autor do livro O Pequeno Príncipe?

Antoine de Saint-Exupéry