Taxa de analfabetização funcional no brasil 2022

O percentual de crianças de 6 e 7 anos que não sabe ler e escrever quase dobrou no período da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).

Os dados sobre o analfabetismo entre os mais jovens foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua pesquisa “todos pela educação”.

No total, cerca de 2,4 milhões de crianças brasileiras não foram alfabetizadas nesta faixa etária. Isso representa cerca de 40,8% do total dos brasileiros dessa idade.

Taxa de analfabetização funcional no brasil 2022

Resultado da pesquisa IBGE, em sua pesquisa “todos pela educação” (IBGE/Exame)

Alfabetizar uma criança nessa faixa etária é fundamental, pois uma alfabetização ruim pode ter consequências negativas para o resto da vida, pessoal e profissional.

Para a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a alfabetização é um dos pontos focais dos dois primeiros anos do ensino fundamental.

Segundo o documento, a leitura é fundamental nessa fase da vida, pois é a base para que uma criança possa desenvolver melhor suas habilidades e, dessa forma, aumentar sua cultura nos anos seguinte de vida.

O problema não é apenas das escolas, que durante a pandemia ficaram fechadas por quase dois anos. Mas também das famílias, que muitas vezes não tem recursos - ou preparo cultural - para adquirir livros para suas crianças.

E essa carência grave da leitura quando jovens acaba condenado milhões de jovens brasileiros a uma vida de extrema dificuldade de aprendizado.

Projetos sociais tentam mudar esse cenário

Entretanto, Brasil afora existem projetos que tentam aliviar essa situação lamentável, dando oportunidade para as crianças mais pobres de ler.

Um deles é o projeto "Nunca desista dos seus sonhos", uma rede de bibliotecas infantis dentro de creches carentes e escolas em situação de vulnerabilidade.

O projeto existe a mais de 6 anos e conta com mais de 18 bibliotecas infantis espalhadas em cidades do interior de Goiás.

Cada biblioteca tem um acervo de 3.500 a 4.000 livros, todos oriundos de campanhas de arrecadação.

O projeto "Nunca desista dos seus sonhos" tem vários apoiadores de peso, artistas como: o cantor Felipe Araújo, Tiago Abravanel, Andressa Suita, Maiara & Maraisa, Carlinhos Maia, o ator Reynaldo Gianecchini entre outros.

Todos já ajudaram diretamente o fundador, o escritor Ricardo Cabello, a criar essa rede de bibliotecas.

Taxa de analfabetização funcional no brasil 2022

O escritor Ricardo Cabello (EXAME/Exame)

"Meu objetivo é criar o hábito da leitura entre pais e filhos, ajudando milhares de crianças e famílias em situação de vulnerabilidade", explica Cabello.

O escritor salienta como sua vida foi transformada através dos livros, e é por isso que deseja fazer o mesmo com as crianças que não tem acesso à leitura ou não tem condições de comprar um livro.

"A leitura muda vidas. Livros mudam o mundo. E quero contribuir com isso", diz Cabello.

Marcus Vin�cius de Souza

Escritor, professor, m�sico, mestre em estudos de linguagens e oustanding educator pela Universidade de Chicago – Estados Unidos

Parece mentira, mas n�o �. Estou falando do resultado publicado recentemente pelo Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) que aponta que 38% dos universit�rios do Brasil s�o considerados analfabetos funcionais. Isso significa que os estudantes s�o capazes de ler e escrever, mas n�o sabem interpretar nem agregar informa��es. Isso � uma prova n�tida de que, apesar do aumento da escolariza��o da popula��o brasileira, esse plus n�o se refletiu em maior preparo e qualifica��o dos alunos. Ou seja, a expans�o do ensino superior (com oferta de programas de incentivo e maior democratiza��o do acesso �s universidades) n�o tem refletido um ensino de qualidade.

As consequ�ncias para o analfabeto funcional s�o v�rias: al�m de ter uma forma��o bastante deficit�ria, haja vista que n�o vai conseguir ler nem interpretar textos acad�micos, ter� muitas dificuldades para exercer a pr�pria profiss�o. Al�m disso, se conseguir um emprego cujo diploma universit�rio seja um pr�-requisito, algu�m que esteja na condi��o de analfabeto funcional pode colocar em risco a pr�pria carreira ou ainda trazer algum risco direta ou indiretamente � sociedade, na medida em que responder� como um profissional especializado em certa �rea sem ter condi��es de analisar um relat�rio, por exemplo. Assim, a falta de compreens�o do que lhe � pedido torna-se um problema que impacta as v�rias camadas da sociedade, da escola ao mercado.

Em contrapartida, vale ressaltar que houve um boom no ingresso dos estudantes em institui��es de ensino superior, tendo como for�a motriz a expectativa de melhorar o rendimento, bem como atingir estabilidade financeira, j� que a educa��o ainda � uma forma de ocupar cargos melhores no mercado de trabalho. Com isso, entende-se que a educa��o teve papel essencial na queda da desigualdade social e no crescimento da classe m�dia no Brasil. Afinal, de acordo com estudiosos do tema, o que define basicamente a classe social � qual o brasileiro pertence, at� mais do que o poder aquisitivo, � a escolaridade.

A presen�a de uma prova de reda��o, cuja corre��o seja justa, ser� um bom ind�cio para verificar se algu�m se insere no quadro de analfabeto funcional. Os resultados s�o vistos constantemente: no �ltimo Enem, que tem a prova de reda��o como requisito obrigat�rio, apenas 22 dos inscritos tiraram a nota mil na etapa. Outros 96 mil estudantes zeraram a prova, que mede a qualidade da escrita e argumenta��o dos candidatos. O balan�o do �ltimo exame foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep) recentemente.

Os dados sobre o Enem 2021 trouxeram outra informa��o alarmante: o principal motivo pelo qual os alunos tiveram suas provas zeradas foram as reda��es em branco. Em segundo lugar, a fuga ao tema foi o que mais anulou a reda��o dos estudantes. As outras desclassifica��es contemplam ainda a c�pia do texto motivador, texto insuficiente, n�o atendimento ao tipo textual, parte desconectada, e outros motivos que demonstram a defasagem escolar do jovem brasileiro.

O conceito de analfabetismo funcional foi criado na d�cada de 30, nos Estados Unidos, e depois passou a ser utilizado pela Unesco para se referir �s pessoas que, apesar de saberem ler e escrever formalmente, n�o conseguem redigir um texto de forma correta nem uma pequena mensagem solicitando um emprego, por exemplo.

No Brasil, o analfabetismo funcional � atribu�do �s pessoas com mais de 20 anos que n�o completaram quatro anos de estudo formal. A ideia de analfabetismo funcional varia de acordo com o pa�s. A triste realidade � que, em pleno s�culo 21, existem em todo o planeta cerca de 750 milh�es de adultos e jovens que ainda n�o sabem ler nem escrever. Triste realidade.