Qual modalidade paralímpica foi criada exclusivamente para os deficientes visuais?

Wendell Belarmino e o técnico da natação paralímpica, Marcão, usando o tapper para avisar o atleta da sua chegada: esportes adaptados eu atleta — Foto: Buda Mendes/Getty Images

Modalidades paralímpicas com presença de deficientes visuais:

  • Atletismo – o paratleta pode ser auxiliado por um atleta-guia e cordão de ligação, de acordo com o grau de deficiência que possui;
  • Ciclismo – a bicicleta adaptada, que se chama Tandem, possui dois assentos: o atleta com a deficiência visual pedala no banco de trás enquanto o ciclista da frente, que possui a visão perfeita, pilota;
  • Futebol de 5 – A versão do nosso esporte mais popular é disputada em uma quadra de tamanho semelhante à de futsal, porém com barreiras laterais para que a bola não saia. A bola possui guizos internos e um guia “chamador” orienta o time de trás do gol. O goleiro é único jogador sem deficiência visual e os jogadores de linha usam vendas para igualar a competição entre os diferentes graus de deficiência. Além disto, o ambiente deve ser silencioso e sem eco e a torcida só pode se manifestar quando ocorre um gol, para o atleta ouvir o guizo;

Goalball é uma modalidade paralímpica desenvolvida especificamente para deficientes visuais — Foto: André Durão

  • Goalball – diferente das modalidades adaptadas, o goalball é um esporte desenvolvido especificamente para os atletas com deficiência visual. É jogado em quadra de tamanho semelhante à de vôlei, porém com piso tátil. Seu objetivo é balançar a rede do adversário com arremessos rasteiros na direção do gol, que tem 9 m de largura e 1,30 m de altura. A exemplo do futebol de 5, a bola possui guizos e a arena precisa estar silenciosa durante o tempo de jogo;
  • Hipismo – nos Jogos Paralímpicos, a disputa é restrita à modalidade adestramento e atletas cegos contam com sinalizações sonoras para a sua orientação;
  • Judô – disputado com praticamente as mesmas regras do judô tradicional. A principal diferença é que os atletas já começam a luta com contato no quimono do adversário e o combate é interrompido sempre que este contato se perde;
  • Natação – os atletas são avisados das viradas e chegadas pelo tapper, um bastão com ponta de espuma, quando estão próximos das bordas da piscina;
  • Remo – na versão paralímpica, não há ainda uma categoria exclusiva para atletas com deficiência visual, mas até dois podem integrar a equipe de quatro remadores na categoria PR3, junto a atletas com função residual nas pernas. Neste caso, além das bandeiras e sinais luminosos, o juiz de saída também dá um comando de voz aos atletas;
  • Triatlo – assim como nas provas de corrida do atletismo, os atletas cegos são acompanhados por um atleta-guia.

Modalidades não paralímpicas que possuem versões adaptadas:

Cegos praticam tiro com arco em Lagoa Seca, na Paraíba — Foto: Reprodução/TV Paraíba

  • Beisebol (Beep Baseball) – As bolas são maiores e com guizo e as bases possuem um totem de espuma que emite bipes, indicando a direção para qual os jogadores devem correr após rebater a bola;
  • Boliche – um localizador sonoro é colocado no fim da pista para orientar os atletas, que ainda podem contar com pinos coloridos para facilitar a identificação e com um parceiro que lhes indique os pinos a serem derrubados;
  • Canoagem – semelhante ao remo, a largada é adaptada a comandos sonoros ao invés de visuais;
  • Crossfit – diversos exercícios podem ser realizados sem adaptações, exigindo somente orientação e supervisão do profissional responsável para que os movimentos sejam executados corretamente;
  • Golfe – é praticado com a ajuda de instrutores que passam orientações sobre a distância e direção da tacada a ser realizada, assim como a presença de acidentes de terreno;
  • Musculação/Levantamento de Peso – como no crossfit, os exercícios podem muitas vezes serem realizados sem adaptações, necessitando apenas a orientação de um profissional para a execução correta dos movimentos;
  • Paraquedismo – deficientes visuais podem experimentar saltos duplos, ou seja, acompanhados de um instrutor;
  • Surfe – pranchas adaptadas costumam ser longboards com extremidades macias e quilhas emborrachadas para evitar contusões e possuem guizos nas pontas e pontos com relevo para garantir a orientação sonora e tátil. O surfista pode ainda ser ajudado por um instrutor que o auxilie com os melhores momentos de entrada e saída do mar e de pegar a onda;
  • Tênis de Mesa – é jogado com uma raquete de lateral plana, capaz de deslizar pela mesa, e com uma rede alta para permitir que bolas rasteiras passem por baixo. Além disto, a bola possui guizos e as extremidades da mesa são levemente elevadas para evitar que as bolas vão para longe;
  • Tiro com Arco – os atletas se utilizam de visões táteis e são guiados por um assistente posicionado atrás da linha de tiro;
  • Wrestling – a exemplo do judô, os lutadores já começam o combate em contato um com o outro, com uma mão agarrando na parte de cima do antebraço do oponente e a outra por baixo do cotovelo.

Uma história no esporte

Qual modalidade paralímpica foi criada exclusivamente para os deficientes visuais?

O nadador paralímpico Wendell Belarmino demonstra sua experiência no túnel de vento

Multimedalhista nos Jogos Parapanamericanos de Lima 2019 e campeão mundial dos 50m livre na categoria S11, em que competem atletas com perda total ou quase total da visão, o brasiliense teve seu primeiro contato com o esporte por volta dos três anos. Além de ajudar com seus quadros de bronquite, a natação tinha papel importante no desenvolvimento motor de Wendell, que nasceu com glaucoma congênito e, por conta disto, conviveu desde bebê com a perda gradativa da visão. Depois, dos 6 aos 10, foi para o hipismo, pelo qual fez suas primeiras competições, mas precisou parar por causa de um transplante de córnea, o terceiro ou quarto dos dez que já precisou fazer ao longo da vida. Mas era uma questão de tempo para a natação voltar para sua vida.

– Eu me afastei de vez do hipismo, e me convidaram para fazer uma aula de natação voltada para deficientes, só que o foco deles não era competir, era tirar o deficiente do ócio. Depois que eu fui para o hipismo, percebi que eu era uma pessoa muito competitiva. Não queria nadar duas, três vezes na semana por uma hora e ir para casa, eu queria competir. Fui para a Paralimpíada Escolar e vi que era aquilo que eu queria – conta Wendell, que desde 2015 compete em parceria com seu treinador Marcus Lima, o Marcão.

A parceria com Marcão levou o nadador a experimentar outras modalidades, comprovando que a deficiência visual não é um impeditivo para quase nenhum esporte. Como uma espécie de treino alternativo, buscando novos estímulos e relaxamento da rotina estressante nas piscinas, o treinador costuma, de tempos em tempos, levar seus atletas para o Lago Paranoá, onde andam de caiaque e stand-up paddle (SUP). O preferido do campeão mundial, no entanto, é outro: o túnel de vento, uma espécie de paraquedismo indoor.

– É um negócio que eu sempre tive curiosidade de fazer quando chegou no Brasil, mas nunca tinha tido a oportunidade. Até que meu primo me convidou para voar lá com ele. Fiz dois voos de um minuto e foi muito legal. Uma sensação completamente diferente do que eu estava acostumado na água. Flutuar no ar é muito diferente e até relaxante porque tira aquela tensão dos treinamentos. É como se fosse a minha terapia – ele descreve, antes de completar que só não saltou de paraquedas ainda porque não teve a oportunidade.

Wendell e Marcão andam de caiaque no Lago Paranoá, em Brasília — Foto: Arquivo Pessoal

Mais do que os benefícios físicos e motores, a prática de atividades físicas, seja voltada para o esporte competitivo ou apenas para fins de saúde e recreação, é um meio eficiente de se afirmar como alguém plenamente capaz de ter uma vida normal, apesar da deficiência. E é a partir disto que Wendell quer inspirar outras pessoas.

– O principal papel do esporte na minha vida foi provar, não só para mim mesmo, mas para todas as pessoas, que eu posso fazer o que eu quiser. Não é porque eu tenho uma deficiência ou uma limitação que não posso fazer determinada coisa. Claro que eu vou precisar passar por uma adaptação, mas 99% das coisas são possíveis para eu fazer sim. E isso não é só para o cego, mas para o esporte paralímpico como um todo – ressalta Wendell, antes de encorajar outros portadores de deficiência a também buscarem o esporte: – Não tenha receio. Tendo um bom profissional que possa te auxiliar e dar o suporte necessário, você só precisa ter a vontade. O resto é detalhe que a gente consegue adaptar.

As adaptações nas modalidades

Wendell Belarmino num treino de natação paralímpica — Foto: Buda Mendes/Getty Images

Marcão, que há 12 anos trabalha com atletas paralímpicos, destaca como adaptações e acompanhamento profissional são necessários para manter a segurança, sobretudo no início da prática. Com o tempo e a depender da modalidade, é possível seguir sozinho ou com uma supervisão menor.

– Primeiramente, eu digo que faça com um personal, um professor de educação física para orientar pelo menos no começo, até por conta da segurança; mas num segundo momento, dependendo da atividade, ele pode fazer sozinho. Toda modalidade precisa, pelo menos, de um auxílio inicial – ele afirma. – O próprio Wendell, quando começou no túnel de vento, precisava de um instrutor profissional ensinando os primeiros passos, mas hoje ele já consegue fazer a atividade sozinho. A mesma coisa foi com o caiaque e o SUP. Foi preciso dar uma direção, mostrar para ele onde ele estava pegando no remo, ensinar os movimentos corretos. Hoje ele já vai sozinho e é muito gratificante. A gente vê que não tem limite.

O treinador ainda menciona que o tempo de adaptação é difícil de ser previsto, pois varia de acordo com a modalidade, grau e tipo da deficiência, histórico do indivíduo na prática de esportes e até mesmo o momento da vida em que a deficiência é adquirida.

– A adaptação se torna um pouco mais prática para quem já nasceu com a deficiência. A pessoa passa a vida inteira apurando a parte de percepção, o tato, o olfato, os outros sentidos, então existe uma sensibilidade muito maior. Para os adquiridos, depende do momento da vida em que teve isso, mas você vê que existe uma dificuldade maior de adaptação – explica Marcão.

Através do exemplo de Wendell, Marcão destaca como costuma fazer o passo-a-passo antes de apresentar uma nova atividade ao atleta. O processo começa com uma descrição do ambiente e dos elementos à sua volta e é seguida por uma demonstração tátil dos movimentos em uma espécie de briefing, andes de começar de fato a prática do esporte.

– Se eu peço para ele, eu quero que você faça uma braçada específica, peço então que ele coloque a mão no meu braço, faço o movimento do braço e da mão. Peço para ele pegar no meu tronco para ele saber se eu vou inclinar ou elevar o tronco. Para ele ter essa memória e poder perceber como proceder com o movimento, porque às vezes ele até não conhece. No SUP, eu mostro para ele que tem que segurar na extremidade do remo e como deve ficar o remo. Depois vou mostrar que tem uma ranhura que é onde ele vai colocar a mão. Mostro que tem a parte da prancha onde ele tem que colocar o pé, que ele vai começar de joelhos e, só depois, levantar. Então eu faço um briefing, repasso os movimentos antes com ele, para depois ele ir para a atividade. Ele precisa pegar em todo o remo, entender o peso do remo, o tamanho da prancha, onde é a extremidade, tudo isso - exemplifica Marcão, explicando que esse tipo de passo a passo vale para qualquer atleta com deficiência visual.

Além dos benefícios universais da prática de esportes, como redução de estresse e ansiedade, melhora da memória e do sono e prevenção e tratamento de doenças crônicas variadas, o deficiente visual pode ainda gozar de outros benefícios motores e de estimulação de outros sentidos, como audição e olfato.

– Para o deficiente visual, (o esporte) melhora ainda a parte de memória motora, de conhecimento do corpo, de percepção auditiva. Você fica até surpreendido com a capacidade que eles desenvolvem, o quanto eles conseguem trabalhar um outro instinto. Tem o Tharon Drake, um atleta da seleção dos EUA que ficou amigo do Wendell, que sabe identificar o estilo que alguém está nadando pelo barulho da água. Uma vez o Wendell estava nadando e ele perguntou porque o Wendell estava cruzando o braço. O Wendell hoje já está passando a ter isso também, de identificar pela audição que outro atleta está diminuindo a pernada ou de saber quando eu ou o pai chegamos no ambiente pelo cheiro – conta Marcão. – É importante destacar o papel da atividade física. Temos muito deficiente físico, intelectual e visual que está em casa e tem todo um mundo para ser explorado através da atividade física. Não tem barreiras, não tem muros. Todas as pessoas têm direito e podem estar fazendo isto.

Qual das modalidades paralímpicas foi desenvolvida exclusivamente para deficientes visuais?

Ao contrário de outras modalidades paralímpicas, o goalball foi desenvolvido exclusivamente para pessoas com deficiência visual. A quadra tem as mesmas dimensões das de vôlei (9m de largura por 18m de comprimento). As partidas são realizadas em dois tempos de 12 minutos, com 3 minutos de intervalo.

Qual modalidade paralímpica foi criada exclusivamente para atletas paralímpicos não sendo adaptada de outro esporte?

Única modalidade criada exclusivamente para o paradesporto. O goalball foi criado em 1946 pelo austríaco Hanz Lorezen e o alemão Sepp Reindle, que tinham como objetivo reabilitar veteranos da Segunda Guerra Mundial que perderam a visão.

Qual das modalidades é disputada exclusivamente por deficientes visuais?

Time brasileiro de goalball (Foto: Divulgação / CPB) É uma modalidade exclusiva para deficientes visuais, cujo objetivo é acertar o gol adversário e impedir que acertem o seu. Cada equipe é composta por três atletas, que exercem a função de defensores e arremessadores.

Qual esporte foi criado especialmente para cegos?

O goalball é a única modalidade criada para cegos, já que as outras apenas foram adaptadas. Na cidade, o esporte é praticado em uma quadra demarcada por um barbante que é preso por uma fita no chão. Assim, é criado um alto relevo para que o atleta se localize em sua posição.