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RESUMOO Município do Rio de Janeiro (MRJ) estava entre as cidades com altas taxas de mortalidade ao longo da pandemia de Covid-19. Neste estudo, analisamos as taxas de incidência, de mortalidade e letalidade por Covid-19 nas áreas com predominância de Aglomerados Subnormais (ASN). Foram considerados todos os 36 bairros da Sub-Bacia do Canal do Cunha (SBCC) associadas às características demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas, com estatística espacial de Moran. A taxa de incidência nos bairros da SBCC foi de 621,5/10.000 habitantes. Complexo do Alemão, Mangueira, e Maré tiveram maiores proporções de casos e mortes. A menor incidência (33,6/10.000 habitantes) e mortalidade (8,3/10.000 habitantes), mas com maior taxa de letalidade (24,7%) foi registrada no Complexo do Alemão. Foi observado correlação negativa entre a taxa de mortalidade e a proporção de habitantes nos bairros com ASN (rho= -0,433; p=0,023). Na estatística espacial, houve correlação inversa para a incidência da Covid-19 (índice Moran, -0,155863; p=0,02). Conclui-se que incidência e mortalidade nas áreas de ASN estão significativamente relacionadas com as estruturas sociodemográficas, demandando o reforço dos sistemas de vigilância e de controle da Covid-19 em territórios de favelas. As recomendações não farmacológicas e a Atenção Primária à Saúde em favelas desempenham relevante papel na redução da transmissão, mortalidade e iniquidades em saúde. PALAVRAS-CHAVE ABSTRACTAlong COVID-19 pandemics, Rio de Janeiro (MRJ) has figured among the Brazilian cities with the highest mortality rates. In this study, we explored COVID-19 incidence and mortality in areas with a predominance of subnormal population clusters (SNC) in MRJ. We analyzed 36 neighborhoods of Canal do Cunha Sub-basin (CCSB) and the associations between demographic, socioeconomic, and epidemiological features, and the cumulative incidence, mortality, and lethality rates, and Moran’s spatial statistics were performed. The incidence rate in CCSB neighborhoods was 621.5/10,000 inhabitants. Complexo do Alemão, Mangueira, and Maré had the highest proportions of cases and deaths. And the lowest incidence (33.6/10,000 inhabitants), mortality (8.3/10,000 inhabitants), but with the highest lethality rate (24.7%) was recorded in Complexo do Alemão. There was a negative correlation between mortality and the proportion of inhabitants in neighborhoods with ASN (rho= -0.433; p=0.023). In spatial statistics, there was an inverse correlation for the incidence (Moran index, -0.155863; p=0.02). It is concluded that incidence and mortality in SNC areas are significantly related to their sociodemographic structures, highlighting the need to strengthen the surveillance and control systems of COVID-19 in slums territories. Non-pharmacological recommendations and suitable Primary Health Care in slums areas play a relevant role in reducing viral transmission, mortality, and health inequities. KEYWORDS IntroduçãoEm dezembro de 2019, foram relatados em Wuhan, China, os primeiros casos de pneumonia atípica de origem desconhecida, os quais foram posteriormente associados à infecção por um novo
coronavírus11. Zhou P, Yang XL, Wang X-G, et al. A pneumonia outbreak associated with a new coronavirus of probable bat origin. Nature. 2020. [acesso em 2020 abr 1]; 579 (7798):270-273. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41586-020-2012-7. Após os casos na China, o Sars-CoV-2 rapidamente se disseminou pela Ásia e Europa, levando a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar a pandemia de Covid-19 em março de 20201616. World Health
Organization. WHO Director-General’s opening remarks at the media briefing on COVID-19. [acesso em 2020 jul 3]. Disponível em: https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-director-general--s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---11-march-2020. No início de fevereiro de 2020, o Brasil declarou a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin). Em 26 de fevereiro, foi registrado
o primeiro caso importado de Covid-19 em São Paulo e, desde então, o cenário epidemiológico evoluiu segundo as especificidades regionais2020. Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico N 32 - Doença pelo coronavirus COVID-19. [acesso em 2020 out 8]. Disponível em:
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2020/September/23/Boletim-epidemiologico-COVID-32-final-23.09_18h30.pdf. No estado do Rio de Janeiro, o primeiro pico epidêmico ocorreu em maio de 2020. Contudo, desde janeiro de 2021, observou-se um novo aumento das taxas de incidência e mortalidade, atingindo 3698,1 casos/100.000 habitantes e 208,7 mortes/100.000 habitantes em março de 20212424. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Painel CONASS - COVID-19. [acesso em 2021 mar 28]. Disponível em:
https://www.conass.org.br/painelconasscovid19/. Na cidade do Rio de Janeiro, 22% da população vive em áreas de
favelas2626. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. [acesso em 2022 maio 3]. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/. As pandemias têm sido um
desafio em países que apresentam profundas desigualdades sociais, como o Brasil3131. Estrela FM, Soares CFS, Cruz MA, et al. Covid-19 Pandemic: reflecting vulnerabilities in the light of gender, race and class. Ciênc. Saúde Colet. 2021 [acesso em 2021 mar 28]; 25(9):3431-3436. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1413-81232020000903431&lng=en&nrm=iso&tlng=en. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi o de avaliar os aspectos epidemiológicos da Covid-19 por meio das
dimensões demográficas e socioeconômicas da região da SBCC, área com o maior percentual de Aglomerados Subnormais (ASN) e um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano da cidade do Rio de Janeiro3333. Instituto Pereira Passos. Índice de Desenvolvimento Social (IDS) por Áreas de Planejamento (AP), Regiões de Planejamento (RP), Regiões Administrativas (RA), Bairros e Favelas do Município do Rio de Janeiro – 2010. [acesso em 2021 abr 17]. Disponível em:
https://www.data.rio/datasets/fa85ddc76a524380ad7fc60e3006ee97. Material e métodosTrata-se de estudo observacional, ecológico e analítico que contempla as
taxas de incidência, mortalidade e letalidade no território de abrangência da SBCC. Essa área compreende 36 bairros da cidade do Rio de Janeiro3333. Instituto Pereira Passos. Índice de Desenvolvimento Social (IDS) por Áreas de Planejamento (AP), Regiões de Planejamento (RP), Regiões Administrativas (RA), Bairros e Favelas do Município do Rio de Janeiro – 2010. [acesso em 2021 abr 17]. Disponível em:
https://www.data.rio/datasets/fa85ddc76a524380ad7fc60e3006ee97. Figura 1 Os bancos de dados foram construídos em Sistema de Informação Geográfica (SIG) e os registros sobre a Covid-19 foram consultados no portal da Prefeitura do Rio de Janeiro, Painel Rio Covid-192525. Rio de Janeiro. Prefeitura do Município. Painel Rio COVID-19. [acesso em 2021 mar 28]. Disponível em:
https://experience.arcgis.com/experience/38efc69787a346959c931568bd9e2cc4. Para efeitos do estudo, a taxa de incidência acumulada por 10.000 habitantes corresponde a número de novos casos acumulados por número de habitantes no bairro *10.000. A taxa de mortalidade acumulada por 10.000 habitantes é calculada pelo número de mortes acumuladas por número de habitantes no bairro *10.000. E a taxa de letalidade acumulada é igual ao número de mortes acumuladas por número de casos *100. Estas três taxas foram consideradas as variáveis dependentes. As variáveis independentes foram definidas como bairros de residência; proporção de ASN por bairro, percentual de grupos étnicos, idade; razão de renda (em BRL), e indicadores de saneamento, medido pelo acesso à água e coleta de esgoto. Os dados foram obtidos a partir de bases de dados públicos, como o IBGE, o Instituto Pereira Passos do Rio de Janeiro (IPP) e o Sistema Nacional de Saneamento (SNIS), todos para o ano de 2018. As análises descritivas e bivariadas (correlação Spearman) foram realizadas utilizando o software BioEstat®. A significância foi estabelecida em 5% (p < 0,05). Para criar os mapas temáticos, foi utilizado o programa QGIS 2.18.4. E a estatística espacial de Moran foi realizada no programa TerraView Social Policies versão 4.2.2. Calcularam-se os índices globais (Box Map) e locais (Moran Map) de Moran a fim de medir a intensidade da autocorrelação espacial, ou seja, com que as taxas de incidência e de mortalidade Covid-19 foram correlacionadas no do espaço geográfico. ResultadosNa SBCC, 71% dos bairros possuem ASN no seu território e cerca de metade (34%) da população total da SBCC vive nessas
áreas2626. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. [acesso em 2022 maio 3]. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/. Dentre os 36 bairros da SBCC, o Méier apresentou o maior número de casos confirmados por Covid-19 (N=2641) e de mortes (N=180). Dentre os bairros que possuem ASN no seu território, Bonsucesso
apresentou o maior número de casos confirmados (N=1765), enquanto a Maré que teve o maior número de óbitos (N=169). O número mais baixo de casos absolutos foi observado em Vasco da Gama (N=60), com uma relação entre casos e mortes de 56,6%. O número absoluto mais baixo de óbitos foi observado em Engenheiro Leal, um bairro sem ASN. A proporção mais elevada entre casos e mortes foi observada no Complexo do Alemão, Mangueira e Maré (100,0%), bairros com muitos ASN. Em contraste, nove bairros da
SBCC apresentaram taxa de letalidade de 0,0%: Abolição, Cavalcante, Engenheiro Leal, Maria da Graça, Méier, Quintino, Riachuelo, Rocha e Todos os Santos. Até 2010, as áreas de ASN não tinham sido descritas nesses bairros2626. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. [acesso em 2022 maio 3]. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/. Figura 2 O grupo mais acometido pela infecção da Covid-19 na SBCC e nos bairros com ASN da SBCC foi a faixa etária de 30 a 39 anos (21%), seguido pelas pessoas com idades de 40 a 49 anos (19,9%). As duas faixas etárias foram responsáveis pela média de 40,1% dos casos, compondo um grupo etário com maior potencial transmissor em comparação as outras faixas etárias. Nota-se que nestas mesmas faixas etárias o percentual de pessoas que evoluem a óbito foi de 2,5% e 6,5%, respectivamente. Porém nos bairros com ASN chama atenção o percentual de infecção nas faixas de 20 a 29 anos, 30 a 39 anos e 40 a 49 anos foram sempre maiores do que os da SBCC como um todo, sendo 13,6%, 21.5% e 20,1%, respectivamente. Ao analisar os grupos que compõem as faixas etárias mais avançadas, observa-se que o percentual de óbito foi mais alto. Na faixa etária entre 70 e 79 anos os infectados representaram 7,3% do total de casos de Covid-19, porém o percentual de óbitos foi de 26,7%, e uma taxa de letalidade de 34,2%. Em relação ao sexo, dentre as pessoas infectadas as mulheres apresentam um percentual maior que os homens, representando 52,9% do total de casos registrados, percentuais que variaram muito pouco ao longo de toda epidemia, sugerindo que o sexo não foi uma exposição ao risco de infecção por Sars-CoV-2. A taxa de incidência acumulada na população dos 36 distritos da SBCC foi de 621,5 casos por 10.000 habitantes, com uma mediana de 333,4 casos por 10.000 habitantes. Os valores mais
elevados de incidência acumulada e mortalidade foram registados em Bonsucesso, com 5091,8 casos por 10.000 habitantes e 364,3 mortes por 10.000 habitantes, respectivamente, retificando relatórios anteriores3434. Sotero-Martins A, Carvajal E, Salles MJ, et al. Incidência da COVID-19 na cidade do Rio de Janeiro e a relação da vulnerabilidade do acesso ao saneamento nas áreas de favelas. In: Silva MED, organizadora. Interfaces entre Desenvolvimento, Meio Ambiente e
Sustentabilidade. Ponta Grossa: Atena Editora; 2021. p. 53-62. [acesso em 2021 abr 18]. Disponível em: https://www.atenaeditora.com.br/post-ebook/3914. Curiosamente, a menor incidência acumulada (33,6 por 10.000 habitantes) e a menor mortalidade (8,3 por 10.000 habitantes), embora com a maior taxa de letalidade (24,7%), foram registradas no Complexo do Alemão, bairro com todo território ocupado por ASN. Números semelhantes para as duas primeiras taxas foram encontrados no bairro Vasco da Gama, região com baixa quantidade de ASN. Em contraste, as mais baixas taxas de mortalidade foram registadas no Jacarezinho (7,4 por 10.000 habitantes). Os bairros de Bonsucesso e Higienópolis apresentaram a taxa de letalidade mais baixa (7,2%), bairros da SBCC com melhores condições socioeconômicas em relação aos demais. Considerando as características socioeconômicas dos casos de Covid-19 em moradores dos bairros da SBCC com ASN, não houve correlação significativa quando se considerou a proporção de pretos e pardo. Em contraste, para os valores médios de renda em Reais (R$), ficou evidenciada a diferença entre grupos populacionais: cidade do Rio de Janeiro (R$1.234,83 ± 164,24), na SBCC (R$524,71±9,28) e nos bairros da SBCC que possuem ASN (R$380,91±5,78). No entanto, essa variável não foi estatisticamente correlacionada com os resultados da Covid-19 nestas análises (tabela 1). Finalmente, foi encontrada uma correlação negativa e significativa entre a taxa de mortalidade Covid-19 e a proporção de habitantes nos bairros com ASN (rho = -0,433; p = 0,023). Tabela 1 As análises espaciais basearam-se, inicialmente no índice global de Moran, fornecendo um valor único como medida de associação espacial para todo o conjunto de dados, ou seja, em toda SBCC. Para a taxa de incidência acumulada de Covid-19, o índice Moran foi de -0,155863 (p = 0,02), evidenciando correlação inversa significativa e baixo índice de associação. Encontraram-se valores semelhantes, mas não significativos, quando a taxa de mortalidade acumulada foi considerada espacialmente (índice global de Moran = -0,153886, p = 0,07). Os resultados da avaliação espacial global (BoxMap) para as taxas de incidência e de mortalidade da Covid-19 na SBCC são mostrados na figura 3. Para a taxa de mortalidade, foi encontrada uma autocorrelação espacial positiva apenas no bairro de Cascadura (grupo preto com pontos branco, +/+). Os bairros na macrorregião sul da SBCC (em cinza escuro) mostraram uma associação espacial positiva tanto para a incidência acumulada (figura 3 – A) como para as taxas de mortalidade (figura 3 – B). Para as áreas restantes, principalmente as localizadas no Norte e Sudeste da SBCC, foram encontrados outros bairros com associação espacial negativa (cinza claro e preto). Figura 3 Além disso, o índice local de Moran (Moran Map) foi utilizado para explorar as correlações espaciais específicas dos bairros da SBCC. Esse indicador decompõe a análise global em contribuições individuais, permitindo a identificação de agrupamentos com dependência espacial. Valores significativamente elevados indicam elevada probabilidade de associação espacial entre os bairros. Após a decomposição, não foi possível tirar conclusões para a maioria dos bairros da SBCC (N = 34 para taxas acumuláveis). Na análise para a taxa de incidência, os bairros de Engenho da Rainha, Complexo do Alemão e Maria da Graça mostraram uma dependência espacial intermediária. Na análise espacial da taxa de mortalidade acumulada, foram observados valores semelhantes para os bairros do Complexo do Alemão e de Bonsucesso, demostrando associação espacial nessas áreas (figura 4). Figure 4 DiscussãoNeste estudo, investigamos a incidência e a mortalidade por Covid-19 na SBCC, uma área do município do Rio de Janeiro que compreende bairros com alta concentração de ASN, áreas de baixo padrão socioeconômico, alta densidade populacional e condições precárias de
habitação e saneamento3333. Instituto Pereira Passos. Índice de Desenvolvimento Social (IDS) por Áreas de Planejamento (AP), Regiões de Planejamento (RP), Regiões Administrativas (RA), Bairros e Favelas do Município do Rio de Janeiro – 2010. [acesso em 2021 abr 17]. Disponível em:
https://www.data.rio/datasets/fa85ddc76a524380ad7fc60e3006ee97. Na SBCC, cerca de 41,0% dos indivíduos acometidos pela Covid-19 se
encontravam na faixa etária de 30 e 49 anos. Entre os residentes das áreas de ASN, no entanto, pôde ser percebida uma mudança de idade para adultos mais jovens, dado que se chegou a 13,6% de casos em indivíduos na faixa de adultos jovens de 20 e 29 anos. Além disso, apenas 7,3% das infecções virais foram notificadas em indivíduos mais velhos (70-79 anos), mas com uma taxa de letalidade mais elevada, como esperado3636. Pedreañez A, Mosquera-Sulbaran J, Muñoz N. SARS-
-CoV-2 infection represents a high risk for the elderly: analysis of pathogenesis. Arch Virol. 2021 [acesso em 2021 mar 22]; 166(6):1565-1574. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33751241/. De acordo com essas observações, a maior taxa de casos fatais foi encontrada em localidades como Complexo do Alemão, Mangueira e Maré (100,0%), ao contrário de bairros da SBCC que quase não abrigam favelas, como o Cachambi (1,6%). Sob perspectiva complementar, foram observadas taxas mais elevadas de incidência acumulada, mortalidade e letalidade pela Covid-19 em bairros com menor renda per capita e maior proporção de habitantes em áreas de ASN, revelando o impacto desproporcional das pandemias sobre grupos populacionais socialmente desfavorecidos. Em Salvador, Bahia, foi relatada uma proporção mais elevada de casos fatais, equivalente a 1,42 vezes, em municípios com alta
privação social em comparação às suas contrapartes (2,2% e 1,5%, respectivamente)3030. Souza CDF, Carmo RF, Machado MF. The burden of COVID-19 in Brazil is greater in areas with high social deprivation. J. Travel Med. [acesso em 2020 nov 27]; 27(7):145. Disponível em:
https://academic.oup.com/jtm/article/doi/10.1093/jtm/taaa145/5899713. Em estudo conduzido na Inglaterra sobre as variações na mortalidade por Influenza A (H1N1) em 2009 entre grupos socioeconômicos distintos, os autores evidenciaram que indivíduos no
quintil mais carente da população apresentavam uma taxa de mortalidade padronizada por idade e sexo três vezes maior que a do quintil menos carente (RR = 3,1, 95% CI 2,2-4,4)3737. Rutter PD, Mytton OT, Mak M, at al. Socio-economic disparities in mortality due to pandemic influenza in England. Int J Public Health. 2012 [acesso em 2021 mar 28]; 57(4):745-750. Disponível em:
http://link.springer.com/10.1007/s00038-012-0337-1. As conclusões deste estudo salientam a face social das pandemias em curso e estão de acordo com a literatura nacional e internacional sobre o papel dos determinantes sociais nesse contexto3030. Souza CDF, Carmo RF, Machado MF. The burden of COVID-19 in Brazil is
greater in areas with high social deprivation. J. Travel Med. [acesso em 2020 nov 27]; 27(7):145. Disponível em: https://academic.oup.com/jtm/article/doi/10.1093/jtm/taaa145/5899713. Os resultados não revelaram correlação entre incidência e taxas de mortalidade na população dos bairros com ASN e raça. Nos Estados Unidos, foi relatada elevada incidência e mortalidade na população negra. Em alguns estados dos EUA, mais de 70% das mortes na Covid-19 ocorreram entre afro-
-americanos4444. Morrow-Howell N, Galucia N, Swinford E. Recovering from the COVID-19 Pandemic: A Focus on Older Adults. J Aging Soc Policy. 2020 [acesso em 2020 out 25]; 32(4-5):526-535. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32336225/. Casos que ocorreram nos ASN da SBCC podem ter sido notificados em outros bairros tais como em Bonsucesso, um bairro do Rio de Janeiro com ASN e cercado por áreas de favelas. Além disso, casos de Covid-19 de residentes da comunidade podem estar sendo subnotificados em razão do estigma e do preconceito a eles atribuído3434.
Sotero-Martins A, Carvajal E, Salles MJ, et al. Incidência da COVID-19 na cidade do Rio de Janeiro e a relação da vulnerabilidade do acesso ao saneamento nas áreas de favelas. In: Silva MED, organizadora. Interfaces entre Desenvolvimento, Meio Ambiente e Sustentabilidade. Ponta Grossa: Atena Editora; 2021. p. 53-62. [acesso em 2021 abr 18]. Disponível em:
https://www.atenaeditora.com.br/post-ebook/3914. A associação espacial positiva tanto para a incidência acumulada como para as taxas de mortalidade entre os bairros da macrorregião sul da SBCC sugere que essas áreas sejam prioritárias para o controle da Covid-19, salientando a necessidade de uma política adaptada às populações e aos territórios vulneráveis. Nas áreas de ASN, onde a pobreza urbana é mais acentuada e o acesso ao saneamento é deficitário, o Sars-CoV-2 espalhou-se mais rapidamente, uma vez que esses territórios não têm acesso a políticas públicas que possam apoiar a proteção coletiva. Ainda assim, a eficácia das intervenções não farmacológicas recomendadas durante a pandemia4646. Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico N. 06 – Ampliação da Vigilância, Medidas não Farmacológicas e Descentralização do Diagnóstico Laboratorial. 2020. [acesso em 2020 abr 1]. Disponível em: http://maismedicos.gov.br/images/PDF/2020_03_13_Boletim-Epidemiologico-05.pdf. A adoção de estratégias individuais de prevenção tem sido dificultada pela falta de comunicação, falta de coordenação e atuação conjunta entre autoridades e instituições, gerando desconfiança e enfraquecendo a aderência ao distanciamento social e ao lockdown4747. Garcia LP, Duarte E, Garcia LP, et
al. Intervenções não farmacológicas para o enfrentamento à epidemia da COVID-19 no Brasil. Epid. Serv. Saúde. 2020 [acesso em 2020 maio 1]; 29(2). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S2237--96222020000200100&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Portanto, o distanciamento social como medida relevante de intervenção de saúde pública destinada a minimizar o risco de transmissão viral é um desafio para essa população. A capacidade de se isolar, trabalhar à distância com acesso totalmente digital e manter o rendimento mensal são inacessíveis às
populações de baixa renda5050. Webb HM, Nápoles AM, Pérez-Stable EJ. COVID-19 and Racial/Ethnic Disparities. JAMA. 2020 [acesso em 2021 mar 28]; 323(24):2466. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2766098. Assim, defendemos o
reforço das parcerias entre os setores público e privado, organizações sociais e esforços locais, para desempenhar um papel central na construção de capital social, promovendo a resiliência, cultivando a determinação política e desafiando eficazmente políticas e práticas discriminatórias que afetam de forma desproporcional as populações vulneráveis5151. Gray DM, Anyane-Yeboa A, Balzora S, et al. COVID-19 and the other pandemic: populations made vulnerable by systemic
inequity. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2020 [acesso em 2021 mar 27]; 17(9):520- 2. Disponível em: http://www.nature.com/articles/s41575-020-0330-8. Esperamos que esta informação possa contribuir e subsidiar, reforçando a vigilância de monitoramento da Covid-19 nos territórios vulneráveis da SBCC. Considerações finaisNo conjunto, conclui-se que as taxas de incidência e de mortalidade acumulada na população dos bairros com áreas de ASN estão significativamente relacionadas com as estruturas socioeconômicas e demográficas, realçando a necessidade de uma política orientada às populações e territórios vulneráveis. Recomendações não farmacológicas e adequados cuidados primários de saúde em áreas de favelas desempenham um papel relevante na redução da transmissão viral, mortalidade e iniquidades de saúde. Além disso, a vigilância deve ser melhorada nessas áreas, especialmente nos bairros com ASN. Referências
Qual é a relação entre a taxa de mortalidade infantil e as condições socioeconômicas de uma população ou de um país?(2005) afirma que a taxa de mortalidade infantil é uma boa proxy para a saúde, já que reflete as condições socioeconômicas da sociedade. De modo, quando há um nível elevado do número de óbitos infantis, haveria um baixo nível de desenvolvimento.
Quais são as condições socioeconômicas da população?Condições socioeconômicas podem ser aferidas por meio de indicadores de renda, escolaridade e ocupação para referenciar hipóteses de interesse; podem também ser empregados índices que agregam informações sobre diferentes aspectos da condição socioeconômica.
Por que as taxas de mortalidade infantil são utilizadas como indicadores socioeconômicos importantes?A taxa de mortalidade infantil é usada internacionalmente como o indicador que melhor retrata o estágio de desenvolvimento econômico e social de um país ou região, justamente por possuir relação direta com características socioeconômicas e, consequentemente, ser sensível às suas variações.
O que são as condições socioeconômicas?O que é Socioeconômico:
Socioeconômico é um adjetivo atribuído a toda prática que relaciona situações, circunstâncias e aspectos que afetem tanto a ordem social como a economia de um local ou região.
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