Atividade didática On-Line realizada pelos alunos da Turma de Economia Monetária
“Para entendermos a relação entre a taxa de crescimento da moeda e inflação partiremos inicialmente da teoria quantitativa da moeda desenvolvida por economistas clássicos. Esta teoria nos informa a quantidade de moeda que o público deseja manter, dado o produto agregado, sendo esta, portanto uma teoria de demanda por moeda.
A equação de trocas, desenvolvida por Irving Fisher, define que:
MxV = PxY, a qual mostra que a quantidade de moeda ofertada (M) multiplicada pela velocidade de troca da moeda (V) devem igualar a renda nominal (PxY).
Esta equação pode ser transformada na teoria quantitativa da moeda se considerarmos que V é constante no curto prazo, assim temos que:
PxY = M x Indicando que, por exemplo, uma duplicação na quantidade de moeda, resulta em uma duplicação da renda nominal, dado que V é constante no curto prazo.
Podemos aplicar a teoria quantitativa da moeda para contexto da inflação. Adotando as mudanças percentuais nas variáveis desta teoria e considerando que a inflação é dada por uma variação percentual no nível de preços temos que:
π = %ΔM – %ΔY. Essa equação mostra que a taxa de inflação iguala a taxa de crescimento da oferta de moeda menos a taxa de crescimento do produto agregado.
Esta análise é aplicável apenas no longo prazo (demonstrado por evidências empíricas), dado que salários e preços são flexíveis neste contexto, e que a relação entre inflação e crescimento da moeda depende da demanda e oferta por moeda. Já no curto prazo, temos certa rigidez nominal, o que significa que muitos salários e preços são fixados em termos nominais por algum tempo e normalmente não são reajustados quando há uma mudança na política econômica. Mesmo que a autoridade monetária convencesse trabalhadores e empresas de que o crescimento da moeda nominal seria menor, os salários fixados antes da alteração na política econômica refletiriam as expectativas de inflação anterior à mudança na política.
Repetindo a análise para o caso brasileiro, considerando a Base Monetária Restrita (M1) como oferta de moeda e a inflação medida pelo IPCA, obtemos alguns resultados relevantes, porém, com algumas limitações. A principal delas é a pequena série de dados disponível para consulta, iniciada apenas em 1980 (comparando com os EUA, as séries datam desde 1870, como observado no livro texto do Mishkin). Isso impede que uma análise relativamente eficiente seja feita dessa relação entre crescimento da moeda e inflação no Brasil.
Entretanto, mesmo com essa limitação temporal, é possível observar uma relação de longo prazo entre as variáveis mencionadas. Pela Figura 1, tanto nos períodos de grande inflação quanto nos de relativa estabilidade, a relação positiva do crescimento da oferta de moeda e inflação são bem observadas, como proposto em teoria. Analisando os limites, na década de 1990 a inflação anual média se manteve em torno dos 675,4% e o crescimento médio da moeda anual em 555%, enquanto que na década de 2010 (até 2017), essas mesmas variáveis se mantiveram em 6,2% e 7,6%, respectivamente.
No curto prazo, também foram obtidos resultados relevantes (Figura 2). Não é observada uma relação entre crescimento da oferta de moeda e inflação nesse contexto, novamente, indo de acordo com a teoria. Analisando os dados desde 1996 (antes desse período, há muita volatilidade das variáveis consideradas, grandes em módulo, também atingindo valores negativos devido à implantação gradativa do Plano Real iniciada em 1994, impossibilitando o uso de escala logarítmica), são observados períodos de grande crescimento da oferta de moeda e baixa inflação (o contrário também foi observado). Destacam-se os anos de 1997 (inflação em 5,2% e crescimento da moeda em 40,6%), 2007 (4,5% e 21,6%, respectivamente) e 2015 (10,7% e 3,5%, respectivamente) como anos em que as variáveis analisadas mais divergiram do comportamento esperado e proposto.
Fontes:”
Mishkin: Economics of Money, Banking and Financial Markets
Blanchard: Macroeconomia
goo.gl/TNXWXE
goo.gl/xqA73v
Autores: Grupo G – Turma de Economia Monetária
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Publicado por Roseli Basso-Silva
Possui graduação em Economia pela Universidade de São Paulo (1993) e doutorado em Teoria Econômica pela Universidade de São Paulo (2003). Como bolsista da Fundación Carolina, visitou a Universidade Carlos III de Madrid (2009) e foi Visiting Scholar do Program for Economic Research de Columbia University, entre 2011 e 2012, com financiamento Fapesp – em ambas as oportunidades desenvolveu estudos de pós-doutoramento na área de macroeconometria. Atualmente é Professora Doutora da Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto – Departamento de Economia. Realiza atividades de ensino e pesquisa em Macroeconometria, Economia Monetária e Financeira, atuando principalmente nos seguintes temas: regimes monetário e fiscal, mercados financeiros e finanças públicas, dedicando-se também ao estudo de inovações didáticas para o ensino de economia. Ver todos os posts por Roseli Basso-Silva