LG: O que seria Responsabilidade Empresarial Socioambiental (RS)?
Giovanna: É uma forma de gerir os negócios baseada na ética e transparência em que todas as partes interessadas (colaboradores, acionistas, fornecedores, comunidade, meio ambiente, etc.) saem ganhando e não apenas a empresa. É como se a empresa ganhasse um bolo e, ao invés de comê-lo inteiro, repartisse com todo mundo. E o chamado "ganha-ganha".
LG: Qual a diferença entre uma empresa ser socialmente responsável e ter práticas de responsabilidade social?
Giovanna: Ser socialmente responsável é sinônimo de perfeição e não há empresas (nem pessoas) perfeitas. Ha todo um aprendizado, um caminho a ser percorrido. O que existe são práticas de responsabilidade social, que nada mais são do que ações (pontuais ou continuadas) que beneficiam pessoas, o meio ambiente ou os dois.
LG: Qual a importância das práticas de Responsabilidade Socioambiental nas empresas tanto para as instituições como para seus funcionários?
Giovanna: Toda ação empresarial que visa beneficiar um público específico ou o meio ambiente, naturalmente atrai a simpatia das pessoas – o que é positivo para a imagem das instituições. Trabalhar em uma empresa que tem esta preocupação traz orgulho para os colaboradores, fideliza as pessoas e mantém os talentos.
LG: Existem leis que obrigam algumas empresas, acima de uma determinada quantidade, a terem planos de RS. Diante disso, as empresas que se preocupam com essa área fazem por acreditarem nos benefícios ou porque são obrigadas?
Giovanna: Sejamos sinceros: não existe bondade no mundo dos negócios. A razão de existir de uma empresa é gerar lucro e esta é a razão para a maioria das ações. Há profissionais que enxergam o benefício mútuo (tanto para a empresa como para o público beneficiado) e conseguem obter resultados muito positivos: mídia espontânea gerada pelos projetos apoiados, apoio e simpatia da sociedade, novos apoiadores para a causa escolhida etc.
LG: Muitas empresas não possuem um departamento ou setor que cuide exclusivamente de RS. Em muitas, a RS fica sob responsabilidade do RH. Como os profissionais de RH podem agir nesse contexto? (dê algumas dicas)
Giovanna: Acredito que o profissional de RH deva ter uma visão ampla, buscando o melhor para as pessoas – não somente para os colaboradores da empresa como para todas as demais, sejam elas da comunidade, fornecedores, clientes etc. É necessário ter a preocupação com o bem estar das pessoas, questionar sempre: “eu estaria feliz/ satisfeito se estivesse no lugar dessa pessoa”? Devemos ter a visão da empresa, mas também a visão das demais pessoas envolvidas. Este foco ampliado permite ao profissional de RH interagir com todas as áreas da empresa e propor valiosas contribuições. Além da visão diferenciada, é recomendável ler os conteúdos e materiais disponibilizados gratuitamente no site do Instituto Ethos. Leitura obrigatória para quem está começando no universo da Responsabilidade Social e para quem deseja se manter por dentro de tudo o que acontece.
LG: Como sensibilizar a direção da empresa para a importância dessa área? E como conseguir investimentos?
Giovanna: Números são sempre o que interessa para a alta direção. Mostrar a possibilidade de uso de incentivos fiscais também é uma boa opção.
LG: Como medir o investimento feito? Quanto do retorno obtido é positivo para o balanço social da empresa? Qualquer empresa pode fazer o balanço social ou existem limitações de tamanho?
Giovanna: O investimento feito só pode ser mensurado se houver indicadores. Do contrário, a melhor parte do trabalho fica perdida porque não se consegue mostrar. Todo retorno é útil para o balanço social da empresa, pois mostra transparência na comunicação. Os positivos mostram que estamos no caminho certo. E os negativos, mostram que estamos cientes destes impactos e que temos um logo caminho a percorrer. Para escolha dos indicadores pode-se optar por aqueles já existentes como os do IBASE ou GRI, ou ainda criar indicadores próprios, de acordo com as demandas e realidade da empresa.
LG: Como está a evolução do conceito e da prática de RS nas empresas atualmente? Houve evolução?
Giovanna: Houve evolução, pois cada vez mais empresas se preocupam com as questões socioambientais. Como exemplo podemos citar um trabalho feito pelo banco Santander. Durante quase três anos, o Programa Sustentabilidade na Prática realizou seminários e encontros com 1.483 empresas de vários setores para trocar conhecimentos sobre sustentabilidade. A metodologia escolhida previa a aplicação de um mesmo questionário semestralmente, nos três momentos em que a pesquisa foi realizada – durante o curso, seis meses após o curso e um ano após o curso. Nesse material, as perguntas seguiam oito grandes temas:
- Interesse em sustentabilidade;
- Gestão e Governança;
- Visão, Missão e Valores;
- Negócios e Clientes;
- Funcionários;
- Fornecedores;
- Meio Ambiente;
- Ação Social.
Os respondentes avaliavam como nota cinco o conceito "reflete totalmente a realidade da empresa" e nota um "não reflete em nada a realidade da empresa”. As respostas mostraram que, ao longo do tempo, as empresas se tornaram mais comprometidas com o desenvolvimento sustentável, mais criteriosas em aspectos socioambientais na contratação de fornecedores, mais respeitadoras da diversidade e mais transparentes. Para saber mais acesse a página do Instituto Ethos sobre o assunto.
LG: E as campanhas sociais produzidas por algumas empresas? Estão sempre atreladas ao comercial da empresa?
Giovanna: Neste quesito não há receita de bolo. Não se pode dizer que é regra “sempre atrelar as campanhas sociais ao comercial da empresa”. Há empresas, tais como o sabão Omo, que fazem campanhas para “incentivar o consumo de seus produtos”. Por outro lado, há marcas que fazem campanha de causas em que acreditam, que desejam defender e, assim, criar uma identidade com a marca. A Benetton, por exemplo, já há anos utiliza temas tabus em suas campanhas, gerando espaço gratuito multimídia ao falar de AIDS, racismo, preconceito, religião, etc. E a Benetton é uma marca de roupas!
LG: Teria algum case de sucesso nessa área para nos contar?
Giovanna: Imaginamos, na maioria das vezes, que cases de sucesso vêm sempre acompanhados de grande ações e grandes quantias investidas – o que não é verdade. Há pouco tempo fizemos uma ação na usina onde atualmente trabalho que foi bastante interessante. Nossos caminhões canavieiros iriam começar a circular por uma estrada que passa dentro de uma cidade próxima. A estrada estadual não é asfaltada e há um conjunto habitacional em suas margens. Ficamos preocupados com a mudança na rotina da comunidade, com caminhões transitando, levantando poeira e oferecendo um risco maior para crianças.
Optamos por fazer um café da manhã com a comunidade, lhes informando sobre o que estava para acontecer com a nossa chegada, nossa preocupação com a segurança das pessoas e as ações que adotamos para minimizar os impactos: caminhões bombeiro molhando as ruas 24h por dia, placas de sinalização com limite de velocidade, orientação para os motoristas dos caminhões, número 0800 para denúncias de excesso de velocidade etc. O resultado foi extremamente positivo e a ação gerou grande simpatia por parte dos moradores por terem percebido esta ser uma ação pró-ativa de nossa parte. Continuamos buscando o lucro, mas não a qualquer preço. Não esperamos o problema acontecer para agir. Isso faz toda a diferença.