Quais são as principais características do processo de socialização?

Socialização: o que é?

Cristiano Bodart, doutor em Sociologia (USP) Professor do Programa de de Pós-Graduação em Sociologia (Ufal)

Buscando ser bem direto, partimos da seguinte pergunta acompanhada de uma resposta: O que é Socialização?Trata-se do processo pelo qual o indivíduo internaliza o coletivo, ou seja, através da socialização é que as ideias, valores, crenças, normas e costumes estabelecidos pela sociedade (pelo coletivo) são internalizadas pelo indivíduo e pela apreensão destas é que ele adapta-se aos grupos que faz parte.

A socialização é um processo dinâmico.  

Trata-se de um processo de formação da identidade coletiva, sua identidade individual (papeis) e personalidade (persona) e que, por sua vez, esse indivíduo socializado passa a ser ferramenta de manutenção e transformação da socialização de outros, pois quem é o socializado é também um que socializa. Tal interação e integração estará sempre presente, pois enquanto houver relações humanas ocorrerá socialização.

Partindo da perspectiva de Durkheim (2002), podemos dizer que o indivíduo precisa e depende da sociedade e esta só existe em razão dos indivíduos. Nesta relação surgem as regras e normas como meios de coerção social para manter o equilíbrio desta relação. Estas, por sua vez, afetam o indivíduo que passa a ter liberdade condicionada, ora as atendendo, e ora as transgredindo; podendo gerar conflitos por este não exercer satisfatoriamente o seu papel social.

Dito isto, podemos afirmar que: 1. o indivíduo insere-se na sociedade por meio dos grupos sociais e; 2. O processo de socialização pode variar de acordo com o ambiente ou o tempo.

Primeiramente, inferimos que a socialização dar-se como processo de educação dos indivíduos (não me refiro à educação científica). Me refiro ao fato de aprender com outros indivíduos que já estão na sociedade a mais tempo (no caso da relação entre crianças e adultos) ou com outros sujeitos que compartilham as mesmas experiências sociais. Nesses termos, podemos inferir que existem dois tipos de educação: 1. Educação Formal, onde ocorrem relações mais superficiais, profissionais. Nesse espaço buscam-se respeito às normas, as regras…; 2. Informal: onde ocorrem relações mais íntimas, marcadas por afetos. Ainda há os agentes versáteis, ou seja, presente em todas as esferas da experiência social do indivíduo, como a TV, o jornal, Cinema, Rádio, Internet…

Possibilidades de compreensão em fases

O processo de socialização humana é um processo complexo, sendo composto por duas ou três fases. Na clássica obra A construção social da realidade, publicada originalmente em 1966, Berger e Luckmann (2008) as dividiu em duas: primária e secundária. Contudo, há a possibilidade de pensar em três fases se considerarmos o momento em que os agentes passam a contestar as regras e valores coercitivamente impostas. 

O ser humano é um ser social, isto é, incapaz de viver isoladamente longe de outro ser humano. Precisa conviver com maior número possível de outros humanos para formar sua própria personalidade e visão de mundo; tal construção de sua própria personalidade e visão de mundo (embora o que ele terá é uma visão mais compartilhada com seu grupo do que uma visão própria) é justamente o processo de socialização.

Vamos apresentar, à seguir, a classificação de socialização em três etapas, uma vez que nosso foco é compreender o processo de assimilação e questionamento dessa assimilação.

FasesFase primária

Em sua fase primária, a socialização humana ocorre na infância. Nessa fase a criança, por não ter um mínimo de experiência de vida, ainda não tem condições de avaliar se o que lhe ensinam é verdadeiro ou não, sendo induzida a acreditar em tudo e em todos a sua volta sem fazer muitos questionamentos: é a chamada aprendizagem incondicional ou aprendizagem por imitação. 

Fase secundária

A fase secundária da socialização humana ocorre na adolescência, onde o indivíduo ainda não é totalmente um adulto mas já não é mais criança, dispondo de um mínimo de experiência de vida suficiente para, ao menos, tentar avaliar se o que lhe é ensinado. É a fase dos “Por quê? Como? Quando? Onde?” etc. Não é atoa que o adolescente (normalmente) é tão rebelde. Em muitos casos a rebeldia é consequência dos conflitos de consciência decorrentes de avaliações do que lhe orientam e suas considerações a respeito dessas orientações. Em muitos momentos os adolescentes entendem que nem tudo o que lhes será imposto como verdade o são.

Fase terciária

Em alguns momentos a maneira como lhe ensinaram ser a vida e como eles devem viver não é visto como coerente com a realidade que está a sua volta.  A revolta pode ocorrer por reconhecer que seus pais e as estruturas sociais vigentes lhes manipulavam. Dependendo do grau manipulativo que sofreram ao transgredir uma regra na fase de criança, os adolescentes podem acabar não acreditar nos pais ou adultos. A partir desses conflitos os adolescentes passam a buscar suas próprias respostas para as perguntas que a sociedade insiste em não lhes fornecer; em muitos momentos, quando fornece são respostas sem coerência com a realidade na qual estão inseridos. A busca por respostas marca a fase terciária da socialização.

Quando um indivíduo passa defender até as últimas consequências a seguinte tese de que “…não existe assunto inquestionável, não existe assunto proibido, não existe pergunta proibida, não existem experiências proibidas e cada um tem que ser adulto o suficiente para arcar com as conseqüências de seus próprios atos…”, significa que tal se encontra na fase terciária do processo de socialização humana. Infelizmente a maioria da população mundial mau consegue, ao longo de toda a sua vida, chegar até a fase secundária.  A grande maioria parece morrer, mesmo de velhice, sem ter alcançado a fase terciária de socialização humana. Uma pena!

Referências

BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de Sociologia do Conhecimento. 28.ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 17.ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2002. 

*Originalmente publicado neste blog em Março de 2009. Republicado com  pequenas mudanças.

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Quais são os principais processos de socialização?

Em geral, há dois tipos principais de socialização, a socialização primária e a socialização secundária. A primeira diz respeito à socialização que ocorre através da família, quando a criança entrará em contato com a linguagem e estabelecerá suas primeiras ralações sociais.

Quais as principais características da socialização primária e secundária?

A socialização primária é a responsável por formar a base do indivíduo, é o primeiro contato deste com o mundo exterior. Já a socialização secundária impõe ao indivíduo submundos dos quais ele desconhece, com isso, percebe que existem outras culturas, outras ideologias além da dele.

Quais as características da socialização primária qual o seu principal exemplo?

Socialização primária – como o próprio nome sugere, as instituições sociais de nível primário são aquelas com as quais o indivíduo tem os primeiros contatos, a exemplo da família e da Igreja.

Quais são os dois processos de socialização?

Socialização primária e secundária Os pesquisadores deste processo costumam estabelecer dois níveis de socialização: primária e secundária.

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