Quais são as cidades encontradas nas duas classificações especialmente entre as dez primeiras cidades globais?

As cidades globais representam as metrópoles mundiais que possuem uma estrutura complexa e grande importância e influência no mundo e por isso, também são chamadas de cidades mundiais. O termo foi utilizado pela primeira vez pela socióloga Saskia Sassen, com o intuito de as distinguir das megacidades na classificação de hierarquia urbana.

Segundo a hierarquia urbana, as cidades globais estão no topo hierárquico. Elas sofreram mudanças significativas em sua estrutura decorrente do processo de globalização. Correspondem assim, aos centros mundiais urbanos, culturais, financeiros, econômicos, políticos e industriais de maior desenvolvimento do mundo.

Além disso, geralmente apresentam elevada densidade populacional e qualidade de vida, por exemplo, Nova Iorque, Londres, Paris e Tóquio. No Brasil, as duas cidades que estão incluídas na categoria de cidades globais são São Paulo e o Rio de Janeiro.

Megacidades, Tecnopolos e Cidades Globais

O conceito de megacidade está intimamente relacionado com o de cidades globais, posto que ambos são centros urbanos que possuem forte urbanização e desenvolvimento. No tocante às megacidades, elas possuem elevada densidade populacional, ou seja, reúne mais de 10 milhões de habitantes, por exemplo, São Paulo e Cidade do México.

Note que as megacidades apontam em termos quantitativos, enquanto as cidades globais em termos qualitativos. Importante observar que uma megacidade também pode ser considerada uma cidade global.

De tal modo, as cidades globais além de apresentarem elevada população, possuem melhor qualidade de vida e de infraestrutura, por exemplo, um sistema avançado de transportes, aeroporto internacional, rede de comunicações, grandes empresas multinacionais, indústrias, dentre outros.

Já as Cidades Tecnopolos, como o próprio nome já indica, são cidades que apresentam grande desenvolvimento tecnológico e, por isso, reúnem pesquisadores, trabalhadores e estudantes da área. Os Centros Tecnopolos mais importantes do Brasil e do mundo são: São Carlos, São José dos Campos, Campinas, Londres, Munique e Paris.

Leia também o artigo: Metrópoles e Megalópoles.

Classificação

No total, cerca de 60 cidades no mundo são consideradas cidades globais sendo que a maioria delas está concentrada no continente europeu. Segundo o nível de influência que exercem, as cidades globais são divididas hierarquicamente em três tipos:

  • Cidades Alfa: São Paulo, Nova Iorque, Londres, Tóquio, Hong Kong, Xangai, Paris, etc.
  • Cidades Beta: Rio de Janeiro, Bogotá, Lisboa, Berlim, Roma, Atenas, Vancouver, etc.
  • Cidades Gama: Curitiba, Quito, Washington, Marselha, Lyon, Turim, Antuérpia, etc.

4 As cidades na economia global

No século XVI, a viagem da frota comandada por das mercadorias, ou seja, a comunicação dependia dos
Pedro Álvares Cabral demorou 45 dias para atravessar meios de transporte e só começou a se dissociar deles
o oceano Atlântico, desde Lisboa até o litoral brasileiro, a partir da invenção do telégrafo, no século XIX. Atual-
nos arredores de onde atualmente está Porto Seguro mente, o avanço tecnológico, além de acelerar todas
(BA). Nos dias atuais, o mesmo percurso, de avião, é as modalidades de circulação, diferenciou o tempo ne-
feito em cerca de oito horas. A famosa carta de Pero cessário ao transporte da informação (veiculada, por
Vaz de Caminha, que descrevia suas impressões sobre exemplo, na forma de bits) do tempo do transporte da
a nova terra, teve de fazer a travessia do oceano, a bordo matéria (pessoas e mercadorias). Atualmente, as infor-
de um navio que retornou à Europa, até chegar às mãos mações circulam praticamente à velocidade da luz. Se
do rei de Portugal semanas depois. fosse hoje, Caminha enviaria sua carta por e-mail e ela
chegaria ao destino quase que imediatamente ou, co-
Durante longo período da história humana, a in- mo se diz, em “tempo real”.
formação circulava à mesma velocidade das pessoas e

FooTToo/Shutterstock/Glow Images

Fongfong/Shutterstock/Glow Images

Tsyhun/Shutterstock/Glow Images Avanços
tecnológicos
são a base
da globalização

• Possibilitam a dispersão da
produção pelos lugares.

• Oferecem mais possibilida-
des de lucro às empresas e
integração dos mercados,
das finanças e das Bolsas de
Valores.

• Contribuem para a expansão
da infraestrutura urbana e da
rede global de cidades.

• Contribuem para reforçar o
papel de comando de algu-
mas cidades globais na fase
atual do capitalismo.

O espaço urbano no mundo contemporâneo 199

A desconcentração das indústrias, que rumam para com a ONU, são aglomerações urbanas (áreas metropo-
as cidades médias, pequenas e até mesmo para a zona litanas) com 10 ou mais milhões de habitantes. Assim, as
rural, ao contrário do que muitos pensam, tem contribuí- cidades globais, uma definição qualitativa, não coincidem
do para reforçar o papel de comando de muitas das necessariamente com as megacidades, definidas por um
grandes cidades, e mesmo de algumas médias. Essas critério quantitativo.
cidades comandantes são importantes centros de servi-
ços especializados e de apoio à produção – universidades Ainda que, segundo a ONU, somente cerca de
e centros de pesquisa, escritórios de advocacia e conta- 10% da população urbana mundial vivesse em me-
bilidade, agências de publicidade e marketing, bancos e gacidades em 2014, elas estão crescendo e ganhando
Bolsas de Valores, hotéis e centros de eventos e exposi- importância, sobretudo nos países em desenvolvi-
ções. Um dos exemplos mais ilustrativos é São Paulo, que mento. Das 28 megacidades existentes no mundo
se consolidou como o principal centro de serviços e de no referido ano, 21 estavam em países pobres ou
negócios não só do Brasil, mas da América do Sul. emergentes. A maioria delas apresenta elevado cres-
cimento populacional, com destaque para Lagos (Ni-
As cidades globais, como vimos, são os nós da rede géria), Kinshasa (República Democrática do Congo)
urbana mundial, e as megacidades, o que são? De acordo e Daca (Bangladesh).

photogearch/Shutterstock
Shafiqul Alam/Demotix/Corbis/Latinstock
De acordo com a ONU,
Zurique, na Suíça (foto
acima), tinha 1,2 milhão de
habitantes em 2014. Não é
megacidade, mas é cidade
global pelo papel de
comando que desempenha
na rede urbana mundial. Já
a área metropolitana de
Daca, em Bangladesh (foto
ao lado), tinha 17 milhões
de habitantes em 2014. É
megacidade, porém, não é
cidade global, em razão da
limitação de infraestrutura
e a reduzida oferta de
serviços. Além disso, grande
parcela da população de
Daca está marginalizada,
desconectada dos fluxos
globais.

200 Capítulo 9

Observe a tabela a seguir e compare a evolução e as outras cidades dos países ricos também crescerão
do crescimento das megacidades em países pobres muito pouco. Segundo projeções da ONU, em 2030,
ou emergentes com a das metrópoles dos países de- haverá 41 megacidades, das quais 34 localizadas em
senvolvidos. Embora Tóquio deva permanecer como países em desenvolvimento. Exceto Tóquio, as outras
a maior aglomeração urbana por alguns anos, seu cidades dos países desenvolvidos que aparecem na
crescimento será o mais baixo do período 2014-2030, lista têm perdido posições.

As seis maiores megacidades e outras selecionadas: população total e crescimento anual

Megacidades População em 2014 População em 2030* Crescimento 2014-2030
(milhões) (milhões) (%)

1. Tóquio, Japão 37,8 37,2 −0,11
2. Délhi, Índia 25,0 36,1 2,30

3. Xangai, China 23,0 30,8 1,82

4. Cidade do México, México 20,8 23,9 0,85

5. São Paulo, Brasil 20,8 23,4 1,08

6. Mumbai, Índia 20,7 27,8 1,83
9. Nova York-Newark, Estados Unidos 18,6 19,9 0,42

11. Daca, Bangladesh 17,0 27,4 2,98

13. Buenos Aires, Argentina 15,0 17,0 0,76

17. Rio de Janeiro, Brasil 12,8 14,2 0,62

19. Lagos, Nigéria 12,6 24,2 4,08
11,1 20,0 3,67
23. Kinshasa, Rep. Democrática
do Congo

25. Paris, França 10,8 11,8 0,58

27. Londres, Reino Unido 10,2 11,5 0,74
28. Jacarta, Indonésia 10,2 13,8 1,91

Adaptado de: UNITED NATIONS. Department of Economic and Social Affairs/Population Division. World Urbanization Prospects: the 2014 Revision.
Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wup/>. Acesso em: 8 dez. 2015. * Estimativa.

Segundo classificação desenvolvida pela Globalization consequentemente, a capacidade de polarização de
and World Cities (GaWC), rede de pesquisas da globa- cada uma delas sobre os fluxos regionais e mundiais.
lização e das cidades globais sediada no Departamento
de Geografia da Universidade de Loughborough (Reino As duas cidades mais influentes, que mais polari-
Unido), em 2012, havia 182 cidades globais. Essa pesquisa zam os fluxos de pessoas, investimentos e informações
classificou-as em três níveis (alfa, beta e gama), com – as principais comandantes da globalização – são Lon-
seus subníveis de acordo com a densidade e a qualida- dres e Nova York, classificadas como cidades alfa ++.
de da infraestrutura, a oferta de bens e serviços e,
Consulte o site do GaWC. Veja orientações
na seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Brendan McDermid/Reuters/Latinstock Centro da megalópole de Boswash,
Nova York é um dos principais símbolos
norte-americanos. Considerada a
“capital” do mundo no século XX,
continua com o mesmo prestígio neste
início do século XXI. Na foto de 2014,
vista panorâmica da cidade a partir do
edifício Empire State: ao fundo, no
distrito financeiro, o prédio que se
destaca na paisagem é o One World
Trade Center, erguido no lugar das
torres gêmeas derrubadas em 2001.

201

Após as cidades alfa ++ vêm oito cidades alfa +, tam- Isso é mais acentuado em aglomerações urbanas que
bém com alto grau de integração, porém complementa- apresentam grande desigualdade social, como as me-
res às duas principais. Ainda fortemente conectadas, mas gacidades dos países em desenvolvimento: Délhi, São
em patamar inferior a essas primeiras, vêm 13 cidades Paulo, Cidade do México, Buenos Aires, entre outras. O
alfa, entre as quais está São Paulo, e 22 alfa –, completan- que limita o acesso aos bens e serviços é, sobretudo, a
do as 45 cidades dessa categoria (observe o mapa da pá- desigual disponibilidade de renda.
gina ao lado). As 78 seguintes foram classificadas na hie-
rarquia como cidades globais beta, onde aparece o Rio de No capitalismo, os investimentos são concentra-
Janeiro. As 59 do último grupo, cujos fluxos e oferta de dos nos lugares mais bem equipados e voltados pa-
serviços são bem menores em comparação aos dois pri- ra os setores econômicos e sociais nos quais o lucro
meiros, foram definidas como cidades globais gama. é maior. Assim, se não forem realizados investimen-
tos públicos para garantir o desenvolvimento de to-
Como vimos, mesmo nas cidades mais bem equi- dos os lugares, as pessoas mais pobres tendem a
padas, nem todos têm igual acesso aos bens e serviços. permanecer marginalizadas.

Alexandre Cappi/Pulsar Imagens

Fabio Knoll/Pulsar Imagens SgiaãnaplcomoocEfmoodSrsbindpmnmaPadeãPaadfeteraetrCselaovrlreuaoegeuseisuepeocragc2sr,riPmtxqtalrmeEnmcbladeur0oaaiofudssiuoaarsaea1anuussto(iaer2tln,alSaiePotel2mud,sg,dcosiompPidica0zqmaoralneol,e)ooaiaaso1ubddmfechbé4pçrborbícqaoeaqencieãe,oapasrouiumsiumtimonrfietdolirrgemrieisreP,soodcezsooae.oa.tooiafasomaaArAndmdoruscma,a1dedhoitbe,iccenofnff5oaogrFooboeiroseímradsdaicsudnmegantritsfoairvaaoaleoraon,moaeoafeusvidsrrrcalscarsalnhmtee.diat.orrdonãa,eoaRaesoltaneel.dlaadadeadoloo,-se

Há outras classificações para as cidades globais, opções culturais, qualidade de vida, ecologia e meio
entre as quais a da instituição de pesquisa The Mori ambiente, facilidade de acesso. Como mostra o gráfico
Memorial Foundation, sediada em Tóquio (Japão). Pa- da página ao lado, quanto maior a pontuação nesses
ra elaborar uma lista de 40 cidades globais, seus pes- indicadores, melhor a posição da cidade na rede urba-
quisadores consideraram mais de vinte indicadores na mundial. Perceba que a classificação japonesa, não
distribuídos em seis categorias: ambiente econômico, tão extensa e hierarquizada, equivale aproximadamen-
capacidade de pesquisa e desenvolvimento (P&D), te às cidades alfa da classificação britânica.

202 Capítulo 9

Agora observe e compare a classificação das ci- Globalization and World Cities com a do instituto de
dades globais feita pelo grupo de estudos britânico pesquisas japonês The Mori Memorial Foundation.

As 45 cidades globais alfa, segundo o GaWC – 2012 OCEANO GLACIAL ÁRTICO

Círculo Polar Ártico Munique Banco de imagens/Arquivo da editora
Frankfurt
Estocolmo
Amsterdã
Bruxelas

Toronto Dublin Moscou
Londres Varsóvia
Chicago Boston Paris Praga
Viena
São Francisco Washington Nova York Barcelona Pequim Seul
Los Angeles Istambul Nova Délhi Tóquio
Atlanta Madri
Trópico de Câncer Zurique Xangai
Milão
Dubai
Miami

Cidade do México OCEANO Taipé
ATLÂNTICO Hong Kong

Mumbai Bangcoc OCEANO
PACÍFICO

Equador Kuala Lumpur 0º
Cingapura

OCEANO Meridiano de Greenwich OCEANO Jacarta
PACÍFICO ÍNDICO

Trópico de Capricórnio São Paulo Johannesburgo
Buenos Aires
Cidades globais Sydney
Alfa ++
Alfa + Melbourne
Alfa
Alfa – 0 1835 3 670

As 40 cidades globais, segundo The Mori km
Memorial Foundation – 2013
Adaptado de: GLOBALIZATION AND
0 200 400 600 800 1,000 1,200 1,400 1,500 WORLD CITIES (GaWC). The World
According to GaWC 2012.
1 Londres Banco de imagens/Arquivo da editora Loughborough, jan. 2014.

2 Nova York Disponível em: <www.lboro.ac.uk/
gawc/world2012t.html>.
Acesso em: 28 mar. 2016.

3 Paris

4 Tóquio

5 Cingapura

6 Seul

7 Amsterdã

8 Berlim

9 Viena

10 Frankfurt

11 Hong Kong

12 Xangai

13 Sydney

14 Pequim

15 Zurique

16 Estocolmo

17 Madri

18 Toronto

19 Barcelona

20 Copenhague

21 Bruxelas

22 Los Angeles

23 Osaka

24 Vancouver

25 Genebra

26 Washington D.C.

27 Istambul

28 São Francisco

29 Chicago

30 Milão

31 Boston

32 Bangcoc

33 Taipei Adaptado de: THE MORI MEMORIAL
FOUNDATION. Institute for Urbans
34 Kuala Lumpur Economia Strategies. Global Power City Index
2013. Tokyo, oct. 2013. Disponível em:
35 Fukuoka Pesquisa e desenvolvimento <www.mori-m-foundation.or.jp/
english/research/project/6/
36 Moscou Interação cultural pdf/GPCI-2013Summar y _E.pdf>.
Acesso em: 29 mar. 2016.
37 Cidade do México Qualidade de vida

38 São Paulo Ecologia e meio ambiente

39 Mumbai Facilidade de transporte

40 Cairo

O espaço urbano no mundo contemporâneo 203

Pensando no Enem atenção!
Não escreva neste livro!

Além dos inúmeros eletrodomésticos e bens eletrô- d) terem sido diretamente impactadas pelo processo de
nicos, o automóvel produzido pela indústria fordista internacionalização da economia, desencadeado a
promoveu, a partir dos anos 50, mudanças significativas partir do final dos anos 1970.
no modo de vida dos consumidores e também na habi-
tação e nas cidades. Com a massificação do consumo e) terem sua origem diretamente relacionada ao proces-
dos bens modernos, dos eletroeletrônicos e também do so de colonização ocidental do século XIX.
automóvel, mudaram radicalmente o modo de vida, os
valores, a cultura e o conjunto do ambiente construído. Resolu•‹o
Da ocupação do solo urbano até o interior da moradia,
a transformação foi profunda. A alternativa correta é a D. Com os avanços tecnológicos
da Terceira Revolução Industrial e o acelerado processo
MARICATO, E. Urbanismo na periferia do mundo globalizado: metrópoles de internacionalização da economia desde os anos 1970,
brasileiras. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 12 ago. 2009 (adaptado). as cidades globais ganharam importância na rede urba-
na mundial. Elas são os nós mais importantes dos fluxos
Uma das consequências das inovações tecnológicas das de capitais, mercadorias, pessoas e informações que ca-
últimas décadas, que determinaram diferentes formas racterizam a chamada globalização. Elas são as cidades
de uso e ocupação do espaço geográfico, é a instituição com maior influência e capacidade de comando no
das chamadas cidades globais, que se caracterizam por mundo globalizado.
Esta questão contempla a Competência de área 4 – En-
a) possuírem o mesmo nível de influência no cenário tender as transformações técnicas e tecnológicas e seu
mundial. impacto nos processos de produção, no desenvolvimento
do conhecimento e na vida social – e as habilidades
b) fortalecerem os laços de cidadania e solidariedade correspondentes, sobretudo a H19 – Reconhecer as
entre os membros das diversas comunidades. transformações técnicas e tecnológicas que determi-
nam as várias formas de uso e apropriação dos espaços
c) constituírem um passo importante para a diminuição rural e urbano.
das desigualdades sociais causadas pela polarização
social e pela segregação urbana.

No pós-guerra houve um grande crescimento da indústria
automobilística, sobretudo nos Estados Unidos, e o carro era
símbolo de mobilidade individual. Com o passar do tempo,
no entanto, virou o principal responsável pela imobilidade
urbana em razão do crescimento dos congestionamentos.
Atualmente, os administradores da maioria das cidades têm
procurado priorizar o transporte coletivo e o uso de bicicletas.
Na foto, ciclovia na avenida Professor Henrique da Silva Fontes,
em Florianópolis (SC), em 2014.

Palê Zuppani/Pulsar Imagens

204 Capítulo 9

Atividades atenção!
Não escreva neste livro!

Compreendendo conteúdos

1. Há dois conceitos fundamentais para compreender as cidades e suas relações no espaço geográfico – rede urbana

e hierarquia urbana:
a) Conceitue-os mostrando suas diferenças.
b) Explique as diferenças fundamentais entre os esquemas clássico e atual de hierarquia urbana.

2. O que significa afirmar que para muitas pessoas as distâncias são relativas hoje em dia? Qual é a consequência

disso na urbanização atual?

3. Qual é a diferença entre megacidade e cidade global? Qual é o papel delas no atual capitalismo informacional?

4. De que forma as desigualdades sociais se materializam nas paisagens urbanas?

Desenvolvendo habilidades

5. Leia o texto, que trata da ocupação do território do município de São Paulo e, em seguida, leia o fragmento de um

livro do geógrafo Milton Santos.

Segregação socioespacial e precariedade habitacional

Associado ao desequilíbrio no aproveitamento do solo urbano e à contraposição entre esvaziamento do centro expandido e
crescimento periférico, há outro desequilíbrio importante na cidade, que estabelece, grosso modo, uma distribuição bem definida
das distintas classes sociais: os mais pobres vivendo predominantemente nas áreas periféricas e seus assentamentos precários
e os de maior renda, no centro expandido e seu entorno, onde existe maior oferta de infraestrutura e empregos.
Tal distribuição representa, para os mais pobres, maior distância das oportunidades, maior tempo gasto no deslocamento casa-
-trabalho-casa e maior precariedade habitacional e urbana. Trata-se, portanto, de uma condição estrutural que favorece a
reprodução da pobreza ao longo das gerações e impede uma redução mais acelerada das desigualdades de renda.

Associada a isso, a situação habitacional do município reflete uma combinação de inadequação e déficit habitacional
que atinge cerca de um terço da população paulistana: são 3030 assentamentos precários, na sua maioria periféricos, dos
quais 1573 favelas e 1235 loteamentos irregulares, concentrando cerca de 30% da população do município. [...]

SÃO PAULO (Cidade). Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. SP 2040: a cidade que queremos. São Paulo: SMDU, 2012. p. 32-33.

Território e cidadania

Morar na periferia é se condenar duas vezes à pobreza. À pobreza gerada pelo modelo econômico, segmentador do mercado
de trabalho e das classes sociais, superpõe-se a pobreza gerada pelo modelo territorial. Este, afinal, determina quem deve ser
mais ou menos pobre somente por morar neste ou naquele lugar. [...]

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 3. ed. São Paulo: Nobel, 1996. p. 115.

Após a leitura dos textos, reflita sobre as seguintes questões e elabore um texto para responder a cada um dos itens:
a) O que significa dizer que “morar na periferia é se condenar duas vezes à pobreza” ou que isso é uma “condição

estrutural que favorece a reprodução da pobreza ao longo das gerações”? Pode-se dizer que o grau de cidadania
de uma pessoa varia conforme sua posição no território da cidade?
b) Como as pessoas podem contribuir para romper esse círculo vicioso transformando essa “condição estrutural”
e modificando as condições do lugar em que vivem? Como podem exercer seus direitos de cidadãs, independen-
temente de sua localização no território?

6. Compare a classificação das cidades globais feita pelo grupo de estudos GaWC com a do instituto de pesquisas

The Mori Memorial Foundation (mapa e gráfico na página 203).
a) Quais são as cidades encontradas nas duas classificações, especialmente entre as dez principais cidades globais?

Há coincidências?
b) Há alguma cidade brasileira nas duas classificações? Qual é a posição dela nos dois rankings de cidades globais?

O que se pode concluir disso?

O espaço urbano no mundo contemporâneo 205

CAPÍTULO 10 As cidades e a
urbanização
brasileira

Zig Koch/Opção Brasil Imagens

João Pessoa (PB),
em 2014.

206

Neste capítulo, vamos estudar os municípios, o processo de urbanização
e a rede urbana do Brasil, o que nos auxiliará a esclarecer algumas
questões: O que é considerado cidade e população urbana em nosso
país? Por que o Brasil apresenta índices de urbanização superiores aos de Japão,
Itália, França e Alemanha? Quais as implicações da criação e/ou emancipação
de novos municípios? O que é o Plano Diretor e de que forma ele pode ajudar
os cidadãos a resolver os problemas existentes no município em que moram?

A fundação de Brasília (1960) e a abertura de rodovias integrando a nova
capital ao restante do país provocaram significativas alterações nos fluxos
migratórios e na urbanização brasileira. Os municípios já existentes cresceram,
outros foram inaugurados e, consequentemente, houve reflexos na malha
municipal brasileira, como se pode perceber ao observar os mapas.

Brasil: evolu•‹o da malha municipal Banco de imagens/Arquivo da editora

1940 55°O 2010 55°O
OCEANO
Equador RR AP OCEANO Equador
ATLÂNTICO 0° ATLÂNTICO
RR AP

AM PA MA CE RN AM PA MA CE RN
AC RO MT AC RO MT
PI PB PI PB
PE PE

TO AL TO AL
SE SE

BA BA

DF DF

GO MG GO MG
MS ES MS ES

OCEANO OCEANO

PACÍFICO Capricórnio SP RJ PACÍFICO Capricórnio SP RJ
Trópico de Trópico de
PR PR

SC SC

Total de municípios: 1 574 RS Total de municípios: 5 565* RS
Limite estadual 0 550 1100 Limite estadual 0 550 1100
Limite municipal Limite municipal
km km

* Em 1o de janeiro de 2013 foram criados Adaptado de: IBGE. Atlas escolar: evolução da malha municipal (1940-2010). Disponível em: <http://atlasescolar.ibge.
mais cinco municípios, totalizando 5 570. gov.br/images/atlas/mapas_brasil/brasil_evolucao_malha_municipal.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2016.

Município de Goiás (GO),
em 2013.

Cesar Diniz/Pulsar Imagens

As cidades e a urbanização brasileira 207

1 O que consideramos cidade?

No mundo, atualmente, há cidades de diferentes menos habitantes que uma simples vila rural de um
tamanhos, densidades demográficas e condições so- município muito populoso localizado em uma região
cioeconômicas. Em algumas, apenas uma função urba- de ocupação mais antiga.
na recebe destaque, enquanto em outras são desen-
volvidas múltiplas atividades. Muitas se estruturaram Na maioria dos países, tanto desenvolvidos como
há séculos, outras começaram a se desenvolver há em desenvolvimento, a classificação de uma aglomera-
poucos anos ou décadas. Há ainda cidades que apre- ção humana como zona urbana ou cidade costuma con-
sentam grande desigualdade social e aquelas nas quais siderar algumas variáveis básicas: densidade demográ-
as desigualdades são menos acentuadas. Todos esses fica, número de habitantes, localização e existência de
aspectos se refletem na organização do espaço e são equipamentos urbanos, como comércio variado, escolas,
visíveis nas paisagens urbanas. atendimento médico, correio e serviços bancários.

Dependendo do país ou da região em que se loca- No Brasil, o IBGE considera população urbana as
liza, uma pequena aglomeração de alguns milhares de pessoas que residem no interior do perímetro urbano
habitantes pode apresentar grande diversidade de fun- de cada município, e população rural, as que residem
ções urbanas ou, simplesmente, constituir uma con- fora desse perímetro.
centração de residências rurais. Por exemplo, na peri-
feria da Amazônia, onde a densidade demográfica é Entretanto, no intuito de aumentar sua arrecada-
muito baixa, um pequeno povoado pode contar com ção, as autoridades administrativas de alguns municí-
diversos serviços, como posto de saúde, escola e servi- pios recorrem a subterfúgios: utilizando as atribuições
ço bancário, enquanto no interior do estado de São que a lei lhes garante, determinam um perímetro ur-
Paulo, onde a rede urbana é bastante densa, o distrito bano bem mais amplo do que a área efetivamente
de um município de médio porte pode se constituir urbanizada. Dessa forma, muitas chácaras, sítios ou
apenas como local de moradia de trabalhadores rurais, fazendas, inegavelmente áreas rurais, acabam registra-
com comércio de produtos básicos, sem apresentar dos como parte do perímetro urbano e são taxados
outras funções urbanas. Quanto à população, uma ci- com o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), e não
dade localizada em regiões pioneiras pode ter muito com o Imposto Territorial Rural (ITR). Com o IPTU, o
governo dos municípios obtém uma arrecadação mui-
to superior à que obteria com o ITR.

12 Ale Ruaro/Pulsar Imagens

Octavio Cardoso/Pulsar Imagens

3 Paulo Vilela/Shutterstock
et32ddviE)n01eae,xh24triMC1sio3aat(ad9mafdecoormo5h,ats6sroojelóm1poe2s,hocip)2ura;arae0ntelbcie1dizi4ctastoaiía.vp(cdNAfnaiioodomrtastaeassorsendcif.n1,eooo)nt;mtdPeoocae,escm2r,Bnái2pdetu. rra4Elnaoéd4miçmdce9aís,e2,pp120diA0ro01oil85nt1sd5a,3camemi8(plfIe2olaiahrstilasao,

208 Capítulo 10

Já que municípios de qualquer extensão territorial comprometida. Veja novamente os gráficos que com-
e número de população têm, obrigatoriamente, zona param taxas de urbanização em países desenvolvidos
estabelecida como urbana, algumas aglomerações e emergentes e países não industrializados na página
cercadas por florestas, pastagens e áreas de cultivo 189 do Capítulo 9.
são classificadas como regiões “urbanas”. Segundo
esse critério, o estado do Amapá e o de Mato Grosso Observe o gráfico abaixo e veja que, em 2015, cerca
têm índices de urbanização equivalentes ao da região de 88% dos municípios brasileiros tinham até 50 mil
Sudeste. Portanto, como não há um critério uniforme, habitantes e abrigavam cerca de 32% da população do
a comparação dos dados estatísticos de população país, nos quais as diversas atividades rurais ocupavam
urbana e rural entre o Brasil e outros países fica grande parte dos trabalhadores e comandavam o mo-
do de vida das pessoas.

Brasil: distribuição da população e dos municípios segundo
o número de habitantes – 2015

Número de habitantes A. Robson/Arquivo da editora

Acima de 500 000 29,90%
0,74%

100 001 até 500 000 26,10% População
50 001 até 100 000 Municípios
10 001 até 50 000 4,72%

11,90%
6,30%

25,80%

44,24%

Até 10 000 6,30% 20 30 44,00% Adaptado de: IBGE. Estimativas da
0 10 (%) 40 50 população dos municípios e unidades da
Federação brasileiros com data de
referência em 1º de julho de 2015.
Disponível em: <www.ibge.gov.br>.
Acesso em: 4 abr. 2016.

Brasil: urbanização – 2013

Agora observe o mapa e o grá- 55º O
fico ao lado. O mapa mostra dados
da população urbana de cada esta- Boa Vista Banco de imagens/Arquivo da editora
do em relação ao total do país. O
gráfico mostra a população rural e Equador RORAIMA AMAPÁ
urbana. Alguns estados com grau Macapá
de urbanização maior (acima de 0º
70%) localizam-se em regiões de
floresta, de expansão agrícola ou Manaus Belém
reservas indígenas e ecológicas São Luís
(principalmente na região Norte do
país), nas quais as atividades rurais, Fortaleza
como agropecuária e extrativismo,
são dominantes. Por exemplo, o AMAZONAS PARÁ MARANHÃO CEARÁ RIO GRANDE
Amapá − que em 2015* possuía ape- DO NORTE
nas 766 mil habitantes distribuídos Teresina Natal
em 16 municípios, sendo 456 mil em
Macapá − apresenta índice de ur- PIAUÍ PARAÍBA João
banização igual ao de outros esta- Pessoa
dos do Centro-Sul.
ACRE Porto Velho Palmas PERNAMBUCO Recife
Maceió

Rio Branco TOCANTINS ALAGOAS
MATO GROSSO Aracaju
RONDÔNIA SERGIPE

BAHIA

População total Salvador

(milhões de habitantes) Cuiabá DF
180 170,7 GOIÁS Brasília
160 OCEANO
Goiânia MINAS ATLÂNTICO
MATO GROSSO GERAIS

140 DO SUL ESPÍRITO SANTO

Belo Vitória

120 Campo Grande Horizonte

SÃO PAULO RIO DE JANEIRO

100 Trópico de Capricórnio Rio de Janeiro

80 População urbana na PARANÁ São Paulo

60 população total (%) Curitiba
SANTA CATARINA
De 63,8 a 69,9
40 30,6 Florianópolis

20 De 70,0 a 79,9 RIO GRANDE
DO SUL Porto Alegre

0 De 80,0 a 89,9 0 535 1070

Urbana Rural De 90,0 a 99,5 km

Organizados pelos autores com base em: IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2013.
Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 4 abr. 2016.

* Dado do IBGE. [email protected] Disponível em: <www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=ap>.
Acesso em: 25 maio 2016.

As cidades e a urbanização brasileira 209

Outras leituras

Como reconhecer uma cidade

Saborosa nota intitulada “Urbano ou Rural?” foi destaque da coluna Radar, assinada por Lauro Jardim

na revista Veja. Ela apresenta o caso extremo de União da Serra (RS), município de 1 900 habitantes, dos

quais 286 são considerados urbanos por residirem na sede do município, ou nas sedes de seus dois distritos.

A investigação da revista apontou as seguintes evidências: a) “a totalidade dos moradores sobrevive de

rendimentos associados à agropecuária”; b) “a ‘população’ de galinhas e bois é 200 vezes maior que a de

pessoas”; c) “nenhuma residência é atendida por rede de esgoto”; d) “não há agência bancária”.

Os comentários não poderiam ser melhores. Demonstram que o bom senso sempre dá preferência aos

critérios funcionais, em vez de estruturais, quando a questão é determinar se parte de um município como

União da Serra pode ser considerada urbana. Ao fazer perguntas sobre a base das atividades econômicas

dos moradores e sobre a existência de esgoto ou de agência bancária, a reportagem revela que não é razoável

o critério estrutural em vigor, segundo o qual urbano é todo habitante que reside no interior dos perímetros

delineados pelas Câmaras Municipais em torno de toda e qualquer sede de município ou de distrito.

Infelizmente é assim que o Brasil conta a sua população urbana desde o auge do Estado Novo, quando

Getúlio Vargas baixou o decreto-lei 311/38. Até tribos indígenas foram consideradas urbanas pelos censos

demográficos realizados entre 1940 e 2000.

Outra prova de que o bom senso dá preferência a critérios funcionais é o contraste entre o que ocorre

aqui e no exterior. Para explicar como costuma ser feita a classificação territorial das populações no resto

do mundo, o exemplo mais próximo é o da nação que colonizou este imenso país. Por lei aprovada há vinte

anos pela Assembleia da República de Portugal, uma povoação só pode ser elevada à categoria de vila se

possuir pelo menos metade de oito equipamentos coletivos: a) posto de assistência médica; b) farmácia;

c) centro cultural; d) transportes públicos coletivos; e) estação dos correios e telégrafos; f) estabelecimentos

comerciais e de hotelaria; g) estabelecimento que ministre escolaridade obrigatória; h) agência bancária.

Pela mesma lei, uma vila só pode ser elevada à categoria de cidade se possuir, pelo menos, metade de dez

equipamentos coletivos: a) instalações hospitalares com serviço de permanência; b) farmácias; c) corporação

de bombeiros; d) casa de espetáculos e centro cultural; e) museu e biblioteca; f) instalações de hotelaria;

g) estabelecimento de ensino preparatório e secundário; h) estabelecimento de ensino pré-

-primário e infantários; i) transportes públicos, urbanos e suburbanos; j) parques ou jardins públicos. E, além

desses critérios funcionais, há uma preliminar eliminatória: para que seja vila a povoação deve contar com

mais de 3 mil eleitores em aglomerado Google Earth/DigitalGlobe

populacional contínuo. E para ser

elevada à categoria de cidade a exigência

mínima é de 8 mil eleitores.

São poucos os municípios brasileiros

nos quais se podem encontrar 8 mil

eleitores em aglomerado populacional

contínuo. E mais raros ainda são os

aglomerados populacionais que possuem

alguns dos dez equipamentos coletivos

que definem as cidades portuguesas. Prefeitura Municipal
[...] de União da Serra

VEIGA, José Eli da. Como reconhecer uma cidade?.
Disponível em: <www.zeeli.pro.br/wp-content/
uploads/2012/06/134_17-06-02-Como-reconhecer-uma-

cidadeo.pdf>. Acesso em: 4 abr. 2016.

Imagem de satélite mostrando
o perímetro urbano e parte da zona rural do

município de União da Serra (RS), em 2016.

210 Capítulo 10

2 População urbana e rural

A metodologia utilizada na definição das popula- desigualdades nas grandes cidades, mas também me-
ções urbana e rural resulta em distorções. É inquestio- lhoria em vários indicadores sociais, como a redução
nável, entretanto, que os índices de população urbana da natalidade e dos índices de mortalidade infantil,
tenham aumentado em quase todo o país em razão da além do aumento na expectativa de vida e nas taxas
migração rural-urbana, embora atualmente ela seja de escolarização.
menos intensa do que nas décadas anteriores.
Segundo dados do IBGE, a região Nordeste, a me-
Até meados dos anos 1960, a população brasileira nos urbanizada do país, apresentou, em 2014, o índice
era predominantemente rural. Entre as décadas de 1950 de 73,7% de população urbana, contra 26,4%, em 1950.
e 1980, milhões de pessoas migraram para as regiões Como a metodologia de coleta de dados ao longo do
metropolitanas e capitais de estados. Esse processo período 1950-2010 foi a mesma, o incremento urbano
provocou inchaço, segregação espacial e aumento das é evidente. Veja as outras regiões na tabela a seguir.

Brasil: índice de urbanização por região (%)

Região 1950 1970 2014
Sudeste 44,5 72,7 92,3
Centro-Oeste 24,4 48,0 89,0
29,5 44,3 85,4
Sul 31,5 45,1 75,9
Norte 26,4 41,8 73,7
Nordeste 36,2 55,9 85,1
Brasil

Adaptado de: IBGE. Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais de 1550 a 1988. 2. ed. Rio de Janeiro, 1990. p. 36-37;
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2014. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 4 abr. 2016.

Observe que o Centro-Oeste apresenta o segun- Atualmente, a distinção entre população urbana e
do maior índice de urbanização entre as regiões rural tornou-se mais complexa, pois é considerável o
brasileiras. Isso se explica por dois fatores: toda a número de pessoas que trabalham em atividades rurais
população do Distrito Federal (cerca de 2,9 milhões e residem nas cidades, assim como de moradores da
de habitantes em 2015) mora dentro do perímetro área rural que trabalham no meio urbano.
urbano de Brasília, que é o único aglomerado urba-
no dessa unidade da Federação; e houve a abertura São inúmeras as cidades que surgiram e cresceram
de rodovias e a expansão das fronteiras agrícolas em regiões do país que têm a agroindústria como mo-
com pecuária e agricultura mecanizada (que usam la propulsora das atividades econômicas secundárias
pouca mão de obra), o que promoveu o crescimen- e terciárias. Ao mesmo tempo, vem aumentando e se
to urbano nas cidades já existentes e o surgimento diversificando o número de atividades econômicas se-
de outras. cundárias e terciárias instaladas na zona rural, que,
assim, se torna cada vez mais integrada à cidade.

Vista aérea de indústria de Mario Friedlander/Pulsar Imagens
processamento de soja em
Sorriso (MT), em 2014.

211

3 A rede urbana brasileira

A cidade tem uma história; ela é a obra de uma história,
isto é, de pessoas e de grupos bem determinados que

realizam essa obra em condições históricas.”

Henri Lefebvre (1901-1991), filósofo e sociólogo francês.

Nas primeiras décadas da co- Dialogando cesso de colonização do tipo agrário-exportador, que
lonização foram fundadas várias com história concentrou as atividades econômicas nessa porção
do território, porque foi a construção dos portos e das
vilas no Brasil: Igaraçu e Olinda em Pernambuco; Vila fortificações e o desenvolvimento de outras ativida-
des que deram origem às primeiras cidades.
do Pereira, Ilhéus e Porto Seguro na Bahia; São Vicen-
Durante o período em que a mineração teve gran-
te, Cananeia e Santos em São Paulo. Em 1549, foi fun- de importância para o desenvolvimento econômico
brasileiro, ocorreu um intenso processo de urbanização
dada Salvador, a capital do Brasil até 1763, quando a e uma efervescência cultural em Minas Gerais, além da
ocupação de Goiás e Mato Grosso. Mas, com a deca-
sede foi transferida para o Rio de Janeiro. As demais dência da mineração, essas regiões, mais distantes do
litoral, se esvaziaram. A forte migração para a então
vilas da Colônia, assim que atingiam certo nível de província de São Paulo, onde se iniciava a cafeicultura,
possibilitou o desenvolvimento de várias cidades, como
desenvolvimento, recebiam o título de cidade. A par- Taubaté, Bragança Paulista e Campinas.

tir da República, as vilas passaram a ser chamadas de

cidades, e seu território (tanto urbano quanto rural)

passou a ser designado município.

Ao longo da história da ocupação do território

brasileiro, houve grande concentração de cidades na

faixa litorânea. Esse fenômeno está associado ao pro-

Reprodução/Coleção Prefeitura Municipal de Curitiba, PR. O Brasil tinha em 1980 2000 2010 2015
5 507 municípios 5 565 municípios 5 570 municípios
1960

2 766 mu3ni9c9íp1imosunicípios 3 991 municípios

La“rAgloémdadOarcdideamd.e1,9o5s7m. PuanuilcGípaiorsfunkel.
pÓoldeeomsocborneteter loau. tCrousrintiúbcale(oPsR).
urbDaenmosa, icshianmfoardmosaçvõileas onuão localizadas.
distritos, que são subdivisões
administrativas”.

IBGE. Sinopse do censo demográfico 2010; Estimativas da população dos municípios e
unidades da Federação brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2015.
Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 16 maio 2016.

212

Além da cidade, os municípios podem conter outros habitantes em 2015 — observe a foto abaixo). Segundo
núcleos urbanos, chamados vilas ou distritos, que são o IBGE, a receita total do município em 2013 foi de R$ 11,2
subdivisões administrativas. Em alguns casos, esses milhões. Dessa receita, Serra da Saudade recebeu R$ 6,9
distritos crescem e se tornam maiores que a cidade, milhões da União e R$ 1,8 milhão do governo estadual.
incentivando movimentos de emancipação. Esse exemplo demonstra que muitos municípios são
economicamente deficitários e se mantêm com o repas-
Entretanto, muitos desses novos municípios não se de recursos entre entes da Federação.
têm arrecadação suficiente para manter as despesas
inerentes, como Prefeitura, Câmara Municipal e servi- Porém, para a população local, a criação de um novo
ços públicos. município costuma parecer uma grande conquista. Em
geral, a população dos distritos, principalmente os mais
Considerando a viabilidade financeira dos novos mu- distantes da sede municipal, sente-se marginalizada e
nicípios, ou seja, a relação entre receitas (impostos, taxas reivindica mais atenção e investimentos – por isso, apoia
e repasses de verbas estaduais e federais) e despesas (ma- a criação do município. A partir de 2001, essas emancipa-
nutenção de escolas, ruas, estradas e abastecimento de ções diminuíram muito porque a Lei de Responsabilidade
água, além dos investimentos nas instalações adminis- Fiscal estabeleceu certa autonomia econômica aos dis-
trativas – Prefeitura, Secretarias, Câmara), conclui-se que tritos e regulamentou as condições de repasse de verbas
nem sempre há condições para sua “sobrevivência” au- entre as esferas de governo (municipal, estadual e federal).
tônoma. Assim, muitos municípios acabam deficitários,
dependentes do auxílio estadual e federal. O processo de urbanização e estruturação da rede
urbana brasileira pode ser dividido em quatro etapas,
Como exemplo, vejamos o caso de Serra da Saudade para conhecê-las, leia o texto da próxima página.
(MG), o menor município do Brasil em população (818

Vista de Serra da Saudade
(MG), 2015.

Christyam de Lima/Futura Press

213

Para saber mais

Brasil: integração regional Dialogando de mão de obra das regiões que não acompanharam o
com história

mesmo ritmo de crescimento econômico e se tornaram

Até a década de 1930 as migrações e o processo de metrópoles nacionais. Foi particularmente intenso o

urbanização se organizavam predominantemente em afluxo de mineiros e nordestinos para as duas metrópo-

escala regional, com as respectivas metrópoles funcio- les, que, por não atenderem às demandas de investi-

nando como polos de atividades secundárias e terciárias. mento em infraestrutura, tornaram-se centros urbanos

As atividades econômicas, que impulsionam a urbaniza- com diversos problemas em setores como moradia e

ção, desenvolviam-se de forma independente e esparsa transportes.

pelo território nacional. A integração econômica entre São Entre as décadas de 1950 e 1980 ocorreram intenso

Paulo (região cafeeira), Zona da Mata nordestina (cana- êxodo rural e migração inter-regional, com forte aumen-

-de-açúcar, cacau e tabaco), Meio-Norte (algodão, pecuá- to da população metropolitana no Sudeste, Nordeste e

ria e extrativismo vegetal) e região Sul (pecuária e policul- Sul. Nesse período, o aspecto mais marcante da estrutu-

tura) era muito restrita. Com a modernização da econo- ração da rede urbana brasileira foi a concentração pro-

mia, as regiões Sul e Sudeste formaram um mercado gressiva e acentuada da população em grandes cidades,

único que, posteriormente, incorporou o Nordeste e, mais como São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais que cres-

tarde, o Norte e o Centro-Oeste. ciam velozmente.

A partir da década de 1930, à medida que a infraes- Da década de 1980 aos dias atuais observa-se que

trutura de transportes e telecomunicações se expandia o maior crescimento tende a ocorrer nas metrópoles

pelo país, o mercado se unificava, mas a ten- João Prudente/Pulsar Imagens regionais e cidades médias, com predomínio da
dência à concentração das atividades migração urbana-urbana – desloca-

urbano-industriais na região Su- mento de população das cidades

deste fez com que a atração pequenas para as médias e re-

populacional ultrapassasse a torno de moradores das cida-

escala regional, alcançando des de São Paulo e Rio de Ja-

o país como um todo. Os neiro para as cidades médias,

dois grandes polos indus- tanto dentro da região me-

triais do Sudeste, São Paulo tropolitana quanto para ou-

e Rio de Janeiro, passaram a tras mais distantes, até de

atrair um enorme contingente outros estados.

CaImortmiegséraarncniatoeisd(eeEmSd)o,Veceemnsd2ea0sN1a4log. vaaddoos Indústria metalúrgica em
Caxias do Sul (RS), em 2014.

Ale Ruaro/Pulsar Imagens

214 Capítulo 10

4 A integração econômica Consulte a indicação dos filmes
Cidade de Deus e Linha de passe. Veja
A mudança na direção dos fluxos migratórios e na orientações na seção Sugestões de
estrutura da rede urbana é resultado de uma contínua leitura, filmes e sites.

e crescente reestruturação e integra- Domicílios particulares permanentes adequados para moradia (*)
ção dos espaços urbano e rural. Isso segundo as unidades da Federação, em ordem decrescente – 2012

resulta da dispersão espacial das ati- Unidade da Federa•‹o A. Robson/Arquivo da editora
vidades econômicas, intensificada a
partir dos anos 1980, e da formação de São Paulo
novos centros regionais, que altera- Distrito Federal
ram o padrão hegemônico das metró- Rio de Janeiro
poles na rede urbana do país. As me-
Minas Gerais
Espírito Santo

trópoles não perderam a sua primazia, Santa Catarina

mas os centros urbanos regionais não Rio Grande do Sul
metropolitanos assumiram algumas Paraná
funções até então desempenhadas
apenas por elas. Rio Grande do Norte
Paraiba
Com novas funções, muitos des- Roraima
Sergipe

ses centros urbanos geraram vários Bahia

dos problemas da maioria das grandes Pernambuco

cidades que cresceram sem planeja- Piauí
mento. No infográfico das páginas 216 Goiás
e 217, é possível visualizar parte desses Tocantins
problemas, alguns dos quais estuda- Mato Grosso do Sul
mos no capítulo anterior. Ceará
Mato Grosso

Agora, observe o gráfico ao lado, Amazonas

que retrata a situação de moradia de Alagoas
parcela da população brasileira nos dias Maranhão
atuais, e veja que em diversas unidades Rondônia
da Federação o percentual de domicí-
lios adequados para moradia é inferior Acre
Pará
Amapá

a 50%, o que demonstra a grande ca- 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
rência de infraestrutura urbana. %

Vista aérea do Complexo do Alemão Adaptado de: IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável: Brasil 2015.
(grupo de aglomerados subnormais), Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 4 abr. 2016.
no Rio de Janeiro (RJ), em 2014.
(*) Segundo o IBGE, “Foram considerados adequados os domicílios que atendessem, simultaneamente, aos
seguintes critérios: densidade de até 2 moradores por dormitório; coleta de lixo direta ou indireta por

serviço de limpeza; abastecimento de água por rede geral; e esgotamento sanitário por rede coletora ou
fossa séptica. O indicador expressa a proporção de domicílios que contemplam os quatro critérios citados,

no total de domicílios particulares permanentes.”

Giuseppe CFarcaanccee/A-Pgreêsnsceia

215

InfográfIco

Principais problemas urbanos

Moradia Esta ilustração representa uma cidade brasileira hipotética.
Ela mostra alguns dos problemas gerados pela urbanização
A especulação imobiliária tem tornado o solo acelerada e sem planejamento que ocorrem na maioria dos
urbano cada vez mais caro, excluindo a grandes centros urbanos e retrata a segregação socioespacial
população de baixa renda das áreas com melhor a que grande parte dos habitantes das cidades está submetida.
infraestrutura, porque são as mais valorizadas.
Assim, grande parte da população se instala em As encostas dos morros são áreas de risco para
áreas irregulares, como encostas de morros e ocupação porque estão sujeitas a deslizamentos
várzeas de rios, muitas delas consideradas de terra nos períodos de chuvas, que podem
locais de risco para estabelecer moradia. causar acidentes fatais e prejuízos materiais.

As várzeas dos rios são áreas de risco
porque estão sujeitas ao regime
fluvial. O problema das enchentes é
agravado pela impermeabilização
cada vez maior do solo e pelo descarte
inadequado do lixo, que impedem a
vazão da água nos períodos de chuva.

216 Capítulo 10

Trânsito Brasil: domicílios urbanos servidos por rede
de esgoto ou fossa séptica – 2012
A necessidade de percorrer
grandes distâncias diariamente % A. Robson/Arquivo da editora
no percurso casa-trabalho-casa, 100 95
em função da distribuição
desigual de empregos pela O aumento na 88
cidade, e a falta de um concentração de
transporte público eficiente poluentes na atmosfera 80
geram um número elevado de nos centros urbanos é 73
automóveis particulares nas causado pelo
vias públicas. Além disso, a lançamento de 63 62
verticalização característica dos partículas geradas, 60
grandes centros urbanos, sobretudo, pela queima
alternativa encontrada para o dos combustíveis dos 40
adensamento, quando feita veículos. Doenças
sem planejamento, influencia cardíacas e respiratórias 20
diretamente o aumento do têm sido associadas à
trânsito de automóveis. presença de partículas
poluentes nos pulmões
e na corrente 0
sanguínea dos
habitantes dos grandes Regi‹o
centros urbanos, Adaptado de: IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável 2015.
segundo a Organização
Mundial da Saúde. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 4 abr. 2016.

O gráfico acima mostra a porcentagem de domicílios urbanos
brasileiros servidos por rede de esgoto ou fossa séptica. Observe que
as regiões mais ricas são as que apresentam os maiores índices.
SE
S
NE
N
CO

O crescimento do número de
shopping centers nos grandes
centros materializa o desejo de
espaços mais seguros para o
lazer e as compras.

O trânsito com excesso de
veículos faz com que as
pessoas fiquem cada vez mais
tempo em meio a corredores
de tráfego, onde os níveis de
poluição são substancialmente
mais elevados do que a média
da cidade. Quem circula mais
pela cidade está mais exposto
aos poluentes.

Ilustração: Gerson Mora/Arquivo da editora Violência

A violência é maior nos grandes
centros urbanos, onde a desigualdade
social é mais acentuada.
Na tentativa de diminuir a sensação
de insegurança, proliferam os
condomínios residenciais fechados e
o setor privado de segurança. Fora dos
condomínios residenciais, a busca por
segurança incentiva a procura por
prédios para a moradia, o que
contribui para a verticalização dos
grandes centros urbanos.

As cidades e a urbanização brasileira 217

Pensando no Enem

Subindo morros, margeando córregos ou pendura- 2. Em um debate sobre o futuro do setor de transportes
das em palafitas, as favelas fazem parte da paisagem de
um terço dos municípios do país, abrigando mais de 10 de uma grande cidade brasileira com trânsito intenso,
milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasi- foi apresentado um conjunto de propostas. Dentre as
leiro de Geografia e Estatística (IBGE). propostas reproduzidas abaixo, aquela que atende, ao
mesmo tempo, a implicações sociais e ambientais pre-
MARTINS, A. R. A favela como um espaço da cidade. Disponível em: <www. sentes nesse setor é:
revistaescola.abril.com.br>. Acesso em: 31 jul. 2010.
a) proibir o uso de combustíveis produzidos a partir de
1. A situação das favelas no país reporta a graves pro- recursos naturais.

blemas de desordenamento territorial. Nesse senti- b) promover a substituição de veículos a diesel por veí-
do, uma característica comum a esses espaços tem culos a gasolina.
sido:
c) incentivar a substituição do transporte individual
a) o planejamento para a implantação de infraestru- por transporte coletivo.
turas urbanas necessárias para atender às necessi-
dades básicas dos moradores. d) aumentar a importação de diesel para substituir os
veículos a álcool.
b) a organização de associações de moradores interes-
sadas na melhoria do espaço urbano e financiadas e) diminuir o uso de combustíveis voláteis devido ao
pelo poder público. perigo que representam.

c) a presença de ações referentes à educação ambien- Resolução
tal com consequente preservação dos espaços na-
turais circundantes. Resposta C. A substituição do transporte individual por
coletivo reduz a quantidade de veículos em circulação e,
d) a ocupação de áreas de risco suscetíveis a enchentes portanto, reduz os congestionamentos.
ou desmoronamentos com consequentes perdas A primeira questão trabalha a Competência de Área 2
materiais e humanas. com Habilidade 8 – Compreender as transformações
dos espaços geográficos como produto das relações so-
e) o isolamento socioeconômico dos moradores ocu- cioeconômicas e culturais de poder; analisar a ação dos
pantes desses espaços com a resultante multiplica- estados nacionais no que se refere à dinâmica dos flu-
ção de políticas que tentam reverter esse quadro. xos  populacionais e no enfrentamento de problemas
de ordem econômico-social – e outras, que também são
Resolução trabalhadas na questão 2: Competência de Área 2 com
Habilidade 8 – Compreender as transformações dos es-
Resposta D. As aglomerações de moradias subnormais paços geográficos como produto das relações socioeco-
são construídas em terrenos públicos e particulares in- nômicas e culturais de poder; Competência de Área 6 e
vadidos. Como as áreas de risco suscetíveis a enchentes Habilidades 26 e 27 – Compreender a sociedade e a na-
e a desmoronamentos geralmente estão desocupadas, tureza, reconhecendo suas interações no espaço em di-
tornam-se alvo de invasão e construção de moradias ferentes contextos históricos e geográficos; identificar,
para a população que não tem acesso aos programas ha- em fontes diversas, o processo de ocupação dos meios
bitacionais do poder público.
físicos e as relações  da vida
Marcos AndrŽ/Op•‹o Brasil Imagens humana com a paisagem;
analisar, de maneira crítica,
as interações da sociedade
com o meio físico, levando em
consideração aspectos histó-
ricos e(ou) geográficos.

Ciclovia em Aracaju (SE), 2015.
A bicicleta é um exemplo de
transporte individual que, ao
contrário dos automóveis,
colabora com a melhoria das
condições de mobilidade
urbana.

218 Capítulo 10

5 As regiões metropolitanas brasileiras

As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas “Os estados poderão, mediante lei complementar,
por lei aprovada no Congresso Nacional em 1973, que as instituir regiões metropolitanas, aglomerações urba-
definiu como “um conjunto de municípios contíguos e nas e microrregiões, constituídas por agrupamentos
integrados socioeconomicamente a uma cidade central, de municípios limítrofes, para integrar a organização,
com serviços públicos e infraestrutura comum”, que de- o planejamento e a execução de funções públicas de
veriam ser reconhecidas pelo IBGE. A Constituição de interesse comum.”
1988 permitiu a estadualização do reconhecimento legal Observe a imagem de satélite abaixo e a mesma
das metrópoles, conforme o artigo 25, parágrafo 3o: área cartografada no mapa a seguir.

Consulte a 2016 Landsat, Data SIO, NOAA/Google Maps IrdmeegaCigãueormimtidbeetarso(PapRtoé)l,lii2tta0en1d6aa.
indicação do Banco de imagens/Arquivo da editora
livro O futuro
das cidades, de
Julio Moreno.
Veja orientações
na seção
Sugestões de
leitura, filmes
e sites.

Região metropolitana de Curitiba – 2009

Jaguariaíva Sengés 49º O
Piraí do Sul
SP

Doutor
Ulysses

Castro Adrianópolis

Cerro Azul

Tunas do Paraná

25º S

Ponta Grossa Rio Branco Bocaiuva
Itaperuçu do Sul do Sul

Guaraqueçaba

Campo Campina

Magro TAalmmairnadnatreéColombo Grande do
Campo Sul Antonina

Largo Quatro Barras

Palmeira Pinhais

Porto Curitiba Piraquara
Amazonas
Balsa Morretes
Nova Araucária

São José Paranaguá

São João dos Pinhais Pontal
do Triunfo do Paraná
Fazenda
Rio Grande

Lapa Contenda Guaratuba Matinhos

Quitandinha Mandirituba

Tijucas Adaptado de: GUIA
Geográfico Paraná.
Antônio Campo do Sul Disponível em: <www.
Olinto guiageo-parana.com/rmc.
do Tenente Agudos OCEANO htm>. Acesso em:
SC 4 abr. 2016.
do Sul 0 18 36 ATLÂNTICO

Rio Negro Piên SC

km

As cidades e a urbanização brasileira 219

As Regiões Integradas de Desenvolvimento (Rides) que as quinze maiores regiões metropolitanas (incluin-
também são regiões metropolitanas, mas os municípios do a Ride do Distrito Federal) abrigavam mais de 77
que as integram se situam em mais de uma unidade da milhões de habitantes, aproximadamente 38% da po-
Federação e, por causa disso, são criadas por lei federal. pulação do país. Veja a tabela a seguir, na qual estão
listadas as quinze maiores regiões metropolitanas (in-
Em 2015, o Brasil possuía 36 regiões metropolitanas cluída a Ride do Distrito Federal).
e três Regiões Integradas de Desenvolvimento, sendo

Brasil: maiores regiões metropolitanas e Rides – 2015

Região metropolitana População
1. São Paulo 21 090 792
12 280 702
2. Rio de Janeiro 5 829 923
3. Belo Horizonte 4 258 926
4. Porto Alegre 4 201 737
5. Ride DF e entorno 3 985 297
3 953 290
6. Fortaleza 3 914 317
7. Salvador 3 502 804
8. Recife 3 094 181
9. Curitiba 2 523 899
10. Campinas 2 453 387
11. Manaus 2 421 833
12. Vale do Paraíba e Litoral Norte 2 402 438
13. Goiânia 1 910 101
14. Belém
15. Vitória

Adaptado de: IBGE. Estimativas da população dos municípios e unidades da Federação brasileiros com data de referência em 1º de julho de 2015.
Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 4 abr. 2016.

À medida que as cidades vão se expandindo hori- Ed Viggiani/Pulsar Imagens
zontalmente, ocorre a conurbação, ou seja, elas se tor-
nam contínuas e integradas. Embora com administra- Avenida Paulista, em São Paulo (SP), em 2014, que concentra,
ções diferentes, espacialmente é como se fossem uma entre outras avenidas dessa cidade, a sede de grandes grupos
única cidade (como se pode observar na imagem de econômicos e entidades que os representam.
satélite da página anterior). Portanto, os problemas de
infraestrutura urbana passam a ser comuns ao conjun-
to de municípios que formam a região metropolitana.

Das 36 regiões metropolitanas existentes em 2015,
duas – São Paulo e Rio de Janeiro – são consideradas
nacionais, pelo fato de polarizarem o país inteiro. Co-
mo vimos, ambas também são consideradas cidades
globais por estarem mais fortemente integradas aos
fluxos mundiais. É nessas cidades, sobretudo em São
Paulo, que estão as sedes dos grandes bancos e das
indústrias do país, alguns dos centros de pesquisa
mais avançados, as Bolsas de Valores e mercadorias,
os grandes grupos de comunicação, os hospitais de
referência, etc.

220 Capítulo 10

Observe, no mapa a seguir, que o eixo Rio de Janeiro-São Paulo – com a Baixada Fluminense (RJ), a Baixada
Santista, a região de Campinas e o Vale do Paraíba (SP) – forma uma enorme concentração urbana integrada,
constituindo uma megalópole.

Megalópole brasileira – 2009

47º O

MINAS GERAIS Banco de imagens/Arquivo da editora

Cruzeiro Barra Mansa RIO DE
JANEIRO
Angra
dos Reis Volta Redonda

Paulínia

Lorena Duque de Caxias

Guaratinguetá Nova Iguaçu

Campinas Pindamonhangaba Dutra Rio de Janeiro Niterói

SÃO PAULO São José Pres. Taubaté
dos Campos
Jundiaí

Guarulhos Rodovia Rodovia
Jacareí Carvalho Pinto

São Paulo Rodovia Ayrton Senna Trópico de Capricórnio

Mogi das Cruzes

Santo André OCEANO
São Bernardo do Campo ATLÂNTICO

Cubatão São
Santos Sebastião

0 30 60 Capital de estado Petroquímica
km Cidade importante Indústrias variadas
Limite da megalópole Siderúrgica
Autoestrada Indústria aeronáutica
Outras rodovias e de armamentos
Limite estadual Indústria naval
Porto importante Indústria automobilística
Principais áreas de Usina nuclear
concentração industrial

Organizado pelos autores com base em: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro, 2012. p. 136-137; 146.

A conurbação entre duas ou mais Renata Mello/Pulsar Imagens
metrópoles não significa que as malhas
urbanas sejam contínuas; ela envolve
plena integração socioeconômica, com
intensidade de fluxos entre os municípios,
mesmo com a presença de zona rural
entre eles. Na foto, vista aérea da rodovia
Presidente Dutra em Resende (RJ), 2013.
Essa rodovia faz a ligação entre as regiões
metropolitanas de São Paulo (SP) e
Rio de Janeiro (RJ).

221

6 Hierarquia e influência dos centros urbanos no Brasil

Dentro da rede urbana, as cidades são os nós dos acesso proporcionada pelos diferentes níveis de ren-
sistemas de produção e distribuição de mercadorias e da da população. Um morador rico de uma cidade
da prestação de serviços diversos, que se organizam se- pequena consegue estabelecer muito mais conexões
gundo níveis hierárquicos distribuídos de forma desigual econômicas e socioculturais que um morador pobre
pelo território. de uma grande metrópole. A mobilidade das pessoas
entre as cidades da rede urbana depende de seu nível
Por exemplo, o Centro-Sul do país possui uma rede de renda.
urbana com grande número de metrópoles, capitais re-
gionais e centros sub-regionais bastante articulados entre Segundo o IBGE, as regiões de influência das cida-
si. Já na Amazônia, as cidades são esparsas e bem menos des brasileiras são delimitadas principalmente pelo
articuladas, o que leva centros menores a exercerem o fluxo de consumidores que utilizam o comércio e os
mesmo nível de importância na hierarquia urbana re- serviços públicos e privados no interior da rede urba-
gional que outros maiores localizados no Centro-Sul. na. Ao realizar o levantamento para a elaboração do
mapa da rede urbana, investigou-se a organização dos
Hierarquia urbana: ordenamento das cidades na rede meios de transporte entre os municípios e os princi-
urbana em níveis, seguindo o tamanho e a diversidade pais destinos das pessoas que buscam produtos e
das atividades econômicas, ou seja, a capacidade de in- serviços (mercadorias diversas, serviços de saúde e
fluência de cada uma delas, numa analogia com o que educação, aeroportos, compra e venda de insumos e
acontece entre as patentes do Exército: soldado, cabo, produtos agropecuários, entre outros).
sargento, general, etc.
Para a elaboração do mapa abaixo, o IBGE classi-
Como vimos no capítulo anterior, outro fator im- ficou as cidades nos cinco níveis apresentados na pá-
portante que devemos considerar ao analisar os flu- gina ao lado.
xos no interior de uma rede urbana é a condição de

Brasil: rede urbana – 2007

Boa Vista 55°O OCEANO Banco de imagens/Arquivo da editora Insumo (agrícola): todos os
Macapá ATLÂNTICO componentes utilizados na
produção até o consumo final.
Equador 0° No caso dos insumos agríco-
las, eles podem ser biológicos
Belém São Luís (como o esterco), químicos ou
minerais (agrotóxicos e ferti-
Manaus lizantes) e mecânicos (máqui-
nas e equipamentos).
Fortaleza
São Paulo, a grande metrópole
Porto Velho Teresina Natal nacional, mais Rio de Janeiro e
Palmas João Brasília, metrópoles nacionais,
Pessoa estendem suas influências por
Rio Branco Recife praticamente todo o território
brasileiro. Entretanto, essa
Maceió polarização não foi
representada por linhas
Aracaju porque o mapa ficaria muito
congestionado; para mostrar
Salvador esse fenômeno seria
necessário um mapa para
Hierarquia dos centros urbanos Cuiabá Brasília cada metrópole nacional.

Grande metrópole Goiânia Belo Adaptado de: IBGE. Regiões de
nacional Campo Grande Horizonte influência das cidades, 2007.
Metrópole Disponível em: <www.ibge.gov.br>.
nacional Vitória Acesso em: 4 abr. 2016.

Metrópole Trópico de Rio de Janeiro
Capricórnio São Paulo
Capital regional A Curitiba

Capital regional B Florianópolis

Capital regional C Porto Alegre
Centro sub-regional A
Centro sub-regional B 0 390 780
Centro de zona A km
Centro de zona B

222 Capítulo 10

1. Metrópoles – os doze principais centros urbanos 3. Centro sub-regional – engloba 169 municípios
do país, divididos em três subníveis, segundo o tama- com serviços menos complexos e área de polarização
nho e o poder de polarização: mais reduzida, é subdividido em:

a. Grande metrópole nacional – São Paulo, a maior a. Centro sub-regional A – 85 cidades, com média
metrópole do país (21,1 milhões de habitantes, em 2015), de 95 mil habitantes;
com poder de polarização em escala nacional;
b. Centro sub-regional B – 79 cidades, com média
b. Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília de 71 mil habitantes.
(12,2 milhões e 4,2 milhões de habitantes, respectiva-
mente, em 2015), que também estendem seu poder de 4. Centro de zona – são 556 cidades de menor por-
polarização em escala nacional, mas com um nível de te que dispõem apenas de serviços elementares e es-
influência menor que o de São Paulo; tendem seu poder de polarização somente nas cidades
vizinhas. Subdivide-se em:
c. Metrópole – Belo Horizonte, Porto Alegre, Forta-
leza, Salvador, Recife, Curitiba, Campinas e Manaus, a. Centro de zona A – 192 cidades, com média de
com população variando de 2,5 (Manaus) a 5,8 milhões 45 mil habitantes;
de habitantes (Belo Horizonte), são regiões metropoli-
tanas que têm poder de polarização em escala regional. b. Centro de zona B – 364 cidades, com média de
23 mil habitantes.
2. Capital regional – neste nível de polarização exis-
tem setenta municípios com influência regional. É sub- 5. Centro local – as demais 4 473 cidades brasi-
dividido em três níveis: leiras, com média de 8 133 habitantes e cujos serviços
atendem somente à população local, não polarizam
a. Capital regional A – engloba 11 cidades, com mé- nenhum município, sendo apenas polarizados por
dia de 955 mil habitantes; outros.

b. Capital regional B – 20 cidades, com média de É importante destacar que o mapa mostra as re-
435 mil habitantes; giões de influência econômica das cidades sem consi-
derar a classificação das regiões metropolitanas legal-
c. Capital regional C – 39 cidades, com média de mente reconhecidas. Ele é importante para os governos
250 mil habitantes. (federal, estadual e municipal) e a iniciativa privada
planejarem a distribuição espacial dos serviços ofere-
Consulte a indicação dos sites da Emplasa, cidos à população.
do IBGE e da Seade. Veja orientações na
seção Sugestões de leitura, filmes e sites.

Ivan Alvarado/Reuters/Latinstock

A disseminação do acesso ao sistema de telefonia, o aumento do número de pessoas conectadas à internet, a modernização
do sistema de transportes e a ocupação de novas fronteiras econômicas vêm modificando substancialmente a dinâmica dos
fluxos de pessoas, mercadorias, capitais, serviços e informações pelo território nacional. Na imagem, pessoas no aeroporto de
Curitiba (PR), 2014. Note que algumas utilizam tablets e smartphones enquanto aguardam o embarque.

As cidades e a urbanização brasileira 223

iDaDaNia: PLaNEJaME
NtO UrBaN
7 Plano Diretor e Estatuto da Cidade OC

Em 10 de julho de 2001, foi sancionado o Estatuto • o poder público municipal quer exigir o aproveita-
da Cidade, documento que regulamentou itens de po-
lítica urbana que constam da Constituição de 1988. O mento adequado do solo urbano sob pena de parce-
estatuto fornece as principais diretrizes a serem apli- lamento, desapropriação ou progressividade do Im-
cadas nos municípios, por exemplo: regularização da posto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
posse dos terrenos e imóveis, sobretudo em áreas de
risco que tiveram ocupação irregular; organização das Os planos são elaborados pelo governo municipal
relações entre a cidade e o campo; garantia de preser- – por uma equipe de profissionais qualificados, como
vação e recuperação ambiental, entre outras. geógrafos, arquitetos, urbanistas, engenheiros, ad-
vogados e outros. Geralmente se iniciam com um
Segundo o Estatuto da Cidade, é obrigatório que perfil geográfico e socioeconômico do município. Em
determinados municípios elaborem um Plano Diretor, seguida, apresenta-se uma proposta de desenvolvi-
que é um conjunto de leis que estabelecem as diretrizes mento, com atenção especial para o meio ambiente.
para o desenvolvimento socioeconômico e a preserva-
ção ambiental, regulamentando o uso e a ocupação do A parte final, e mais extensa, detalha as diretrizes
território municipal, especialmente o solo urbano. O definidas para cada setor da administração pública – ha-
Plano Diretor é obrigatório para municípios que apre- bitação, transporte, educação, saúde, saneamento básico,
sentam uma ou mais das seguintes características: etc. –, assim como as normas técnicas para ocupação e
uso do solo, conhecidas como Lei de Zoneamento.
• abriga mais de 20 mil habitantes;
• integra regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; Observe a fotografia abaixo. Quando esta fábrica se
• integra áreas de especial interesse turístico; instalou nesse bairro, ele era distante da região central
• insere-se na área de influência de empreendimentos da cidade. Atualmente, com a expansão da malha urba-
na, o prédio se localiza no centro expandido, onde o Pla-
ou atividades com significativo impacto ambiental no Diretor não permite a instalação de novas fábricas
de âmbito regional ou nacional; para não congestionar ainda mais a região central da
cidade (a fábrica que ali funcionava foi desativada).

Antiga fábrica com chaminé, João Prudente/Pulsar Imagens
que atualmente abriga uma
universidade em Joinville (SC),
em 2012.

224

Assim, o Plano Diretor pode alterar ou manter a plantas e mapas, gráficos e tabelas, o que facilita mui-
forma dominante de organização espacial e, portanto,
interfere no dia a dia de todos os cidadãos. Por exemplo, to a intervenção dos profissionais envolvidos com o
uma alteração na Lei de Zoneamento pode valorizar ou
desvalorizar os imóveis e alterar a qualidade de vida planejamento urbano.
em determinado bairro (leia em Para saber mais, na
página 226, outras aplicações do Plano Diretor). Antes de ser elaborado pela Prefeitura (Poder Exe-

Outro exemplo prático de planejamento urbano cutivo) e aprovado pela Câmara Municipal (Poder Le-
constante no Plano Diretor é o controle dos polos gera-
dores de tráfego, uma vez que os congestionamentos gislativo), o Plano Diretor deve contar com a “coopera-
são um sério problema para os moradores das grandes
e médias cidades. Para isso, tem colaborado bastante a ção das associações representativas no planejamento
difusão dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs).
municipal”. A participação da comunidade na elabora-
Os SIGs permitem coletar, armazenar e processar,
com grande rapidez, uma infinidade de dados georre- ção desse documento passou a ser uma exigência cons-
ferenciados fundamentais e mostrá-los por meio de
titucional que prevê, ainda, projetos de iniciativa po-

pular (geralmente na forma de abaixo-assinado), que

podem ser apresentados Consulte a indicação
desde que contem com par- dos sites do Ibam e do
ticipação de 5% do eleitora- Ministério das Cidades.
do, conforme inciso XIII do Veja orientações na seção
artigo 29 da Constituição. Sugestões de leitura,
filmes e sites.

Outras leituras

Participação popular Reprodução/Editora Senado Federal

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, como mostram
os incisos XII e XIII, está prevista a participação popular no planejamento muni-
cipal, ou seja, os cidadãos organizados podem interferir nos rumos do município
onde moram:

Título III – Da Organização do Estado

Capítulo IV – Dos Municípios
Art.29.O município reger-se-á por lei orgânica,votada em dois turnos,com
o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da
Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos
nesta Constituição,na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos:
[...]
XII – cooperação das associações representativas no planejamento municipal;
XIII – iniciativa popular de projetos de lei de interesse específico do Município, da cidade ou de bairros,
através de manifestação de, pelo menos, cinco por cento do eleitorado;
[...]

BRASIL. Constituição 1988: Texto Constitucional de 5 de outubro de 1988.
Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 25 set. 2015.

Além de um Plano Diretor bem-estruturado, é im- Como o encaminhamento dessas fases exige uma
portante que o poder público e os cidadãos respeitem ação administrativa complexa, na prática a participação
as regras estabelecidas, colaborando, assim, para que popular no planejamento e na execução de intervenções
os problemas das cidades sejam minimizados. urbanas só se concretiza quando a pressão popular e a
vontade dos governantes convergem nessa direção.
Entretanto, o planejamento das ações governa-
mentais e a sua execução demandam um processo Orçamento (de um governo): planejamento das receitas (dinhei-
composto de várias fases, e algumas (como preparar ro arrecadado por meio de impostos, taxas, contribuições e em-
uma licitação ou aprovar o orçamento no Legislativo) préstimos) e das despesas (salários de funcionários públicos,
dificilmente podem ser organizadas pela população. compras de materiais, pagamentos de serviços de construção e
manutenção de obras públicas, etc.).

As cidades e a urbanização brasileira 225

Para saber mais • Lei de Zoneamento (uso e ocupação do solo urba-

Aplicações do Plano Diretor no) – Estabelece as zonas do município nas quais
a ocupação será estritamente residencial ou mista
Cada Plano Diretor trata de realidades particulares (residencial e comercial), as áreas em que ficará o
dos diversos municípios, mas a maioria deles apresenta distrito industrial, quais serão as condições de fun-
as seguintes aplicações práticas: cionamento de casas noturnas e muitas outras
especificações que podem manter ou alterar pro-
• Lei do Perímetro Urbano – Estabelece os limites da fundamente as características dos bairros.

área considerada perímetro urbano, em cujo inte- • Código de Edificações – Estabelece as áreas de recuo
rior é arrecadado o IPTU.
nos terrenos (quantos metros do terreno deverão
• Lei do Parcelamento do Solo Urbano – A principal ficar desocupados na sua parte frontal, nos fundos
e nas laterais), normas de segurança (contra incên-
atribuição dessa lei é estabelecer o tamanho míni- dio, largura das escadarias, etc.) e outras regulamen-
mo dos lotes urbanos, o que acaba determinando tações criadas por tipo de construção e finalidade
o grau de adensamento de um bairro ou zona da de uso – escola, estádio, residência, comércio, etc.
cidade. Por exemplo, num bairro onde o lote míni-
mo tenha área de 200 m², a ocupação será mais
densa que em outro onde ele tenha 500 m².

Zé Martinusso/Opção Brasil Imagens

Casas com entrada a partir da calçada, no centro do Rio de Janeiro (RJ), em 2015. Atualmente, não se permite a construção
de casa sem recuos frontais e laterais no terreno.

• Leis Ambientais – Regulamentam a forma de co- • Plano do Sistema Viário e dos Transportes Coleti-

leta e destino final do lixo residencial, industrial vos – Regulamenta o trajeto das linhas de ônibus
e hospitalar e a preservação das áreas verdes: e estabelece estratégias que facilitem ao máximo
controlam a emissão de poluentes atmosféricos o fluxo de pessoas pela cidade por meio da aber-
e normatizam ações voltadas para a preservação tura de novas avenidas, corredores de ônibus, in-
ambiental. vestimentos em trens urbanos e metrô, etc.

226 Capítulo 10

Atividades aTenção!
Não escreva neste livro!

Compreendendo conteúdos

1. Como são coletados os dados estatísticos de urbanização no Brasil para determinar a população urbana e a rural dos

municípios? Que problemas essa metodologia apresenta?

2. Como era a rede urbana brasileira antes do processo de industrialização? Como ela se apresenta hoje?

3. Qual é o objetivo da criação das regiões metropolitanas?

4. Cite dois exemplos de alteração na organização espacial das cidades que pode ser promovida por mudanças no

Plano Diretor.

Desenvolvendo habilidades

5. Observe o mapa da rede urbana brasileira e responda por escrito:

Brasil: rede urbana Ð 2007

55º O

Equador Boa Vista Macapá 0º Banco de imagens/Arquivo da editora
Manaus Belém Fortaleza
São Luís

Porto Velho Teresina Natal
Palmas João
Pessoa
Rio Branco Recife

Maceió

Aracaju

Cuiabá Brasília Salvador

Goiânia Belo OCEANO
Campo Grande Horizonte ATLÂNTICO

OCEANO Vitória
PACÍFICO

Trópico de Capricórnio Rio de Janeiro
São Paulo
Hierarquia dos centros urbanos
Curitiba
Grande metrópole Centro sub-regional A
nacional Centro sub-regional B Florianópolis
Centro de zona A
Metrópole Centro de zona B Porto Alegre
nacional Área de influência

Metrópole

Capital regional A

Capital regional B 0 390 780
km
Capital regional C

Adaptado de: IBGE. Regiões de influência das cidades, 2007. Disponível em: <www.ibge.gov.br>.
Acesso em: 4 abr. 2016; SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 34. ed. São Paulo: Ática, 2012. p. 138.

Compare as regiões polarizadas por Manaus e Porto Alegre, ambas classificadas como metrópole na mesma
posição hierárquica.
a) Qual estende sua influência por uma área territorial maior? Por quê?
b) Que tipos de centros urbanos são encontrados nas regiões polarizadas por essas duas capitais?

As cidades e a urbanização brasileira 227

Vestibulares de Norte a Sul atenção!
Não escreva neste livro!

Testes 3. SE (Aman-RJ) A aceleração dos fluxos de informação

1. S (PUC-RS) Considere o texto e os itens que podem propiciada pelas inovações no meio técnico-científico-
-informacional tem repercutido em toda a vida social
completá-lo. e econômica e, consequentemente, na organização do
espaço geográfico mundial. Dentre essas repercussões,
Uma megalópole é uma grande aglomeração popula- podemos destacar
cional constituindo uma reunião articulada de várias
áreas metropolitanas. A formação de megalópoles ocor- a) o aprofundamento da divisão técnica do trabalho,
re quando os fluxos de pessoas, capitais, informações, a ampliação da escala de produção e a utilização
mercadorias e serviços entre duas metrópoles, como intensiva de energia na atividade industrial.
transportes e telecomunicações, estão plenamente in-
tegrados. São exemplos de megalópoles os eixos b) a diminuição da disparidade tecnológica entre
países ricos e pobres, pois a difusão da internet e
1. Rio de Janeiro – São Paulo o acesso às redes virtuais têm sido igualmente
intensos nos dois grupos de países.
2. Tóquio – Osaka/Kobe
c) a redução dos fluxos migratórios internacionais,
3. Boston – Chicago uma vez que as inovações tecnológicas contribuem
para a criação de novos empregos, especialmente
4. Reno – Ruhr no Setor Primário dos países subdesenvolvidos.

Estão corretos apenas os itens d) o desenvolvimento de uma hierarquia urbana mais
complexa, pois as cidades pequenas e médias ad-
a) 1 e 2. d) 1, 2 e 4. quiriram novas possibilidades de acesso aos bens
b) 1 e 3. e) 2, 3 e 4. e serviços através do relacionamento direto com
c) 2 e 3. as principais metrópoles do seu país.

2. N (UFPA) e) a opção da indústria de alta tecnologia dos EUA e
do Japão, por exemplo, de localizar-se junto às aglo-
Reprodução/Vestibular UFPA 2012 merações urbano-industriais mais tradicionais des-
ses países, buscando as vantagens de um amplo
No estudo das interações da sociedade com o meio mercado consumidor e o fácil acesso às vias de
físico devem-se considerar fatores sociais, econômicos, comunicação e transporte.
tecnológicos e culturais estudados na dimensão do
tempo e do espaço. 4. SE (PUC-SP)

Ao analisar a representação da paisagem urbana apre- A cidade tem sido sempre o lugar da liberdade, um lugar de
sentada na imagem, conclui-se que refúgio para os pobres e desenraizados.E para minorias de todos
os tipos,que encontraram proteção na cidade [...] A diversidade
a) as formas de organização do espaço consideram a de origem é uma constante da população das cidades.A cidade
dinâmica natural das áreas de várzeas e de terra firme. tem sido com frequência o espaço da coexistência e da
mestiçagem. Isso não foi produzido sem dor e dificuldades.
b) os aspectos da poluição das águas, como o depó- Porém, tem gerado sempre consequências positivas para as
sito de resíduos sólidos, são de responsabilidade áreas urbanas e para o desenvolvimento da cultura em geral.
da população do entorno. Sempre nas cidades essa diversidade tem sido maior que nas
áreas rurais,e maior nas grandes cidades do que nas pequenas.
c) o modo de vida ribeirinho apresenta resistência E tudo isso em todas as épocas, países e cultura.
diante da pressão da modernização urbana.
Horacio Capel. Los inmigrantes en la ciudad. Crecimiento económico,
d) a população urbana encontra diferentes formas innovación y conflito social [Os imigrantes na cidade. Crescimento
de adaptação na adversidade do ambiente urbano.
econômico, inovação e conflito social]. In: Scripta Nova. Revista Electrónica
e) o contraste de formas revela as desiguais condi- de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, n. 3,
ções de vida da população da cidade.
1 de mayo de 1997. Disponível em: <www.ub.es/ geocrit/sn-3.htm>.
Acesso em: 11 ago. 2014. (tradução nossa).

Considerando o texto é correto afirmar que

a) é da natureza das grandes cidades a diversidade
cultural e étnica, visto que não há grandes popu-
lações urbanas homogêneas, já que as cidades, em
razão de suas múltiplas atividades e possibilidades,
têm um poder de atração bastante abrangente.

228 Unidade 4

b) grandes cidades, quanto mais desenvolvidas, no- d) as inevitáveis dificuldades de convivência nas ci-
tabilizam-se por terem populações homogêneas dades entre os imigrantes e os nativos agravam-se
do ponto de vista étnico e cultural, isso porque quando a imigração é estrangeira, pois se nacional
há dificuldades para o desenvolvimento, quando ela é recebida sem preconceitos, como ocorre na
se depende de relações entre pessoas muito di- metrópole de São Paulo.
ferentes.
e) o fenômeno migratório gerou nas cidades moder-
c) a generosidade na recepção de imigrantes é uma nas muita riqueza econômica e cultural, mas atual-
condição que as cidades modernas perderam, na mente isso não mais ocorre, pois a fase original de
Europa, e também no Brasil, em vista dos encargos povoamento das grandes cidades já foi completa-
que os imigrantes impõem, sem retorno econômi- da e atualmente elas não comportam novos con-
co equivalente. tingentes populacionais.

5. SE (Mack-SP) No mundo contemporâneo, tem sido comum a classificação de alguns grandes centros urbanos como

“cidades globais” e “megacidades”. De acordo com seus conhecimentos a respeito do tema, assinale a alternativa
que aponte corretamente o uso desses termos.

Cidades Globais Megacidades

a) Destacam-se pela intensidade dos fluxos de capital e Possuem populações a partir de 1 milhão de habitantes,

informação. Apresentam reduzida conexão com outras com intensa conexão de informações e negócios com

cidades do gênero fora de seus continentes, a exemplo outras similares, estando presentes em todos os

da Cidade do México e da cidade do Rio de Janeiro. continentes, a exemplo de Calcutá e Lagos.

b) Apresentam populações a partir de 10 milhões de Caracterizam-se pela sua conexão aos mais importan-

habitantes, sendo mais importantes pelo seu peso tes centros econômicos do mundo, embora tenham

demográfico do que econômico, a exemplo de São populações inferiores a 10 milhões de habitantes, como

Paulo e Dacca. as cidades de Xangai e Cidade do México.

c) Diferenciam-se pelo volume demográfico e nem
sempre apresentam importância econômica proporcio-
São muito importantes pela presença da sede de
grandes corporações empresariais, com forte conexão a nal, situando-se tanto em países do Norte quanto do
outras similares em outros países, como Paris e Xangai. Sul, a exemplo de Lagos e Delhi.

d) Possuem maior importância histórica e cultural do que Apresentam fluxos econômicos que as tornam as mais

econômica, sendo por isso referências mundiais, como importantes nos continentes onde estão situadas, a

Londres e Nova Iorque. exemplo da Cidade do México e Paris.

e) Tornaram-se alvo de estudos comparativos em razão São referências internacionais para a solução de problemas

dos fluxos emigratórios que partem delas para outras urbanos de grande magnitude, sobretudo na questão da

cidades, como no caso de Paris e Los Angeles. moradia e da mobilidade urbana, como Lagos e Delhi.

6. CO (UEG-GO) Considerando o processo de urbanização com serviços públicos e infraestrutura comum, de-
nomina-se Região Metropolitana.
no mundo atual, alguns termos como conurbação, d) a cidade principal ou “cidade-mãe” que tem os
metrópoles, região metropolitana, megalópoles, entre melhores serviços e equipamentos urbanos do
outros, tornaram-se muito familiares. país, como escolas, hospitais, ônibus urbano, rede
de água tratada, serviço de coleta de lixo e esgoto,
Sobre esses conceitos, é CORRETO afirmar: entre outros, denomina-se megalópole.

a) metrópole é a superposição ou encontro de duas ou 7. NE (UEPB)
mais cidades próximas, em razão de seu crescimen-
to desordenado, tanto horizontal quanto vertical. Eu queria morar numa favela, o meu sonho é morar numa
favela./ Eu num sou registrado, eu num sou batizado,/ Eu
b) conurbação é o conjunto de pequenos municípios num sou civilizado/ eu num sou filho do senhor/ Eu num
que se organizam politicamente para juntos terem sou computado/ eu não sou consultado/ Eu num sou
maior poder de negociações e obterem maiores vacinado/ contribuinte num sou./ Eu num sou empregado/
benefícios do governo federal. eu num sou consumidor.

c) ao conjunto de áreas contíguas e integradas socioe-
conomicamente a uma cidade principal (metrópole),

O espaço urbano e o processo de urbanização 229

atenção!
Não escreva neste livro!

Os versos de Gabriel, o Pensador ilustram a afirmação de funções urbanas, levando ao surgimento de desem-
que milhões de brasileiros estão abaixo da linha de po- pregados e subempregados.
breza, vivendo em favelas, integrando bolsões de pobre-
za. São verdadeiras as afirmativas sobre o tema, EXCETO: Uma das heranças desse processo sobre o espaço ur-
bano brasileiro é a
a) Nos bolsões de pobreza, nos deparamos com a se-
guinte radiografia: jovens entre 18-25 anos sem a) ocupação ordenada das periferias e subúrbios das
perspectiva de inserção no mercado de trabalho, cidades.
por falta de oportunidade e/ou qualificação profis-
sional. Diante dessa realidade, muitos tendem à b) ausência de moradores de rua nas áreas centrais
prostituição e são recrutados pelo narcotráfico das cidades.
e/ou gangues de criminosos. A desestruturação de
muitas famílias pobres, muitas pela ausência de c) inexistência de terrenos vazios para a construção
homens, tem contribuído para que essas famílias civil nas cidades.
sejam mantidas por mulheres.
d) expansão do número de cortiços, de favelas e de
b) Os bolsões de pobreza são resultantes das desigual- habitações precárias nas cidades.
dades sociais, do acesso a uma renda digna, ao em-
prego, à terra, aos serviços de educação, saúde e mo- e) regularização e incentivo à construção de moradias
radia, enfim, do produto social, sem falar da exclusão sob os viadutos das cidades.
social, cultural e do enfrentamento dos preconceitos
e da discriminação rotulada pela própria sociedade. 9. SE (Unesp-SP)

c) O processo acelerado de urbanização e o avanço Percentual de domicílios particulares permanentes,
técnico-científico têm contribuído para banir defi- por características presentes no entorno, segundo
nitivamente os problemas ambientais nos bolsões as Grandes Regiões 2010.
de pobreza no país.
% Banco de imagens/Arquivo da editora
d) Nos bolsões de pobreza também encontramos pes- 100,0
soas simples, mas dignas, que batalham pela sobre- 90,0 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
vivência. São trabalhadores que produzem neste país, 80,0 Iluminação Pavimentação
mas que são excluídos do solo urbano, poucos traba- 70,0
lham na formalidade e grande parte vive da informali- 60,0 Esgoto a Meio-fio
dade lutando para escapar com os R$ 70,00 per capita 50,0 céu aberto
mensais rotulados pelo IBGE e de bolsas-família. 40,0
30,0
e) Muitos são os discursos proferidos para erradicação da 20,0
pobreza. Apesar dos avanços sociais propagados pelas 10,0
estatísticas governamentais, a situação não muda mui-
to, porque a política econômica aplicada não prioriza 0,0
de forma eficaz esse setor social. Segundo o IBGE, é na
Região Nordeste que se concentra a maioria dos pobres Identificação Arborização Bueiros
deste país. Enquanto em programas televisivos de gas- do logradouro
tronomia ovos são quebrados para omeletes presiden- Calçada Rampas
ciais, muitos brasileiros não têm dinheiro para comprar Depósito de lixo
um “bife do oião” para completar o feijão.
(IBGE. Atlas do censo demográfico, 2010. Adaptado)
8. SE (Fatec-SP) O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti-
A síntese dos dados apresentados pelo gráfico permi-
ca (IBGE) é o órgão responsável pela elaboração dos censos te afirmar que:
demográficos no Brasil. De acordo com o censo demográ-
fico de 1960, os habitantes da zona urbana representavam a) o índice de esgoto a céu aberto na região Sudeste,
45% da população brasileira. Esse percentual subiu para em contraste com os resultados superiores a 70%
75% no censo de 1991 e para 84% no censo de 2010. de atendimento em identificação do logradouro,
iluminação, pavimentação, arborização, bueiros e
A instalação de indústrias nas cidades, aliada à meca- depósitos de lixo, indica grandes disparidades so-
nização do campo, trouxe para as áreas urbanas uma cioeconômicas entre seus habitantes.
grande quantidade de pessoas despreparadas para as
b) os menores índices nacionais em calçada e rampas
na região Sul, contrastantes com os maiores parâ-
metros em iluminação, pavimentação, arborização
e esgoto a céu aberto, expressam as piores condi-
ções de vida para pedestres e deficientes físicos.

c) mesmo apresentando os menores índices nacionais
para a identificação do logradouro, iluminação, pa-
vimentação, arborização, bueiros e depósitos de
lixo, a região Norte não enfrenta deficiências em
saneamento básico e na circulação de pedestres.

230 Unidade 4

d) ainda que tenha apresentado os maiores índices a crise habitacional, cuja causa é atribuída aos preços
nacionais em identificação do logradouro, ilumina- fundiários: o nível desses preços seria artificialmente
ção, pavimentação, arborização, bueiros e depósitos elevado pela especulação, notadamente nas áreas de
de lixo, a região Nordeste enfrenta problemas com expansão imediata das cidades.
infraestruturas básicas em tratamento de esgoto e
vias adaptadas a deficientes físicos. Elsa VONAU. Urbanismo: a invenção do zoneamento. In: O mapa, desafio
contemporâneo: La documentation Française, dossier no 8036. p. 58
e) os resultados encontrados na região Centro-Oeste
para os índices de esgoto a céu aberto, meio-fio, Relacionando o que o texto afirma com a realidade
calçada e rampas são acompanhados pelos meno- urbana contemporânea do Brasil, é correto afirmar:
res percentuais nacionais na identificação do logra-
douro, iluminação e pavimentação, fundamentais a) A especulação imobiliária como forma de agentes
para garantir melhores condições de vida. atuarem para aumentar preços de imóveis é rela-
tivamente restrita nas cidades brasileiras, em ra-
10. SE (Fuvest-SP) zão da elevada carga tributária para proprietários
que deixam terrenos sem uso.
O processo de industrialização que se efetivou em São
Paulo a partir do início do século XX foi o indutor do b) Nas grandes cidades, o constante e especulativo
processo de metropolização. A partir do final dos anos 1950, crescimento dos preços dos terrenos, em especial
a concentração da estrutura produtiva e a centralização do nas zonas mais centrais, vem historicamente obri-
capital em São Paulo foram acompanhadas de uma gando a população de baixa renda a se espalhar
urbanização contraditória que, ao mesmo tempo, absorvia em zonas periféricas distantes.
as modernidades possíveis e expulsava para as periferias
imensa quantidade de pessoas que, na impossibilidade de c) A questão da habitação no Brasil atual também é
viver o urbano, contraditoriamente, potencializavam a sua motivo de crise, porém políticas públicas de incen-
expansão. Assim, de 1960 a 1980, a expansão da metrópole tivo de construção de moradias para o aluguel vêm
caracterizou-se também pela intensa expansão de sua área atenuando-a, pois a locação é muito mais acessível
construída, marcadamente fragmentada e hierarquizada. às classes de baixa renda.
Esse processo se constituiu em um ciclo da expansão
capitalista em São Paulo marcada por sua periferização. d) A crescente construção vertical, fato notório nas
cidades brasileiras, freia o processo de especulação
Isabel Alvarez. Projetos Urbanos: alianças e conflitos na reprodução da imobiliária, pois diminui a escassez de terrenos
metrópole. Disponível em: http://gesp.fflch.usp.br/sites/gesp.fflch.usp.br/ com a possibilidade do aumento do índice cons-
trutivo em cada terreno.
files/02611.pdf. Acessado em 10/08/2015. Adaptado.
e) A especulação imobiliária nas cidades brasileiras se
Com base no texto e em seus conhecimentos, é cor- dá também nas zonas de expansão das cidades, visto
reto afirmar: que nas zonas centrais e mais densas não há pratica-
mente mais movimentação do mercado de terras.
a) O processo que levou à formação da metrópole
paulistana foi dual, pois, ao trazer modernidade, 12. SE (PUC-SP) Leia:
trouxe também segregação social.
“Está em jogo o que queremos da cidade. Nossas cidades
b) A cidade de São Paulo, no período entre o final da Se- foram sequestradas pelo automóvel. Todo ser racional sabe
gunda Guerra Mundial e os anos de 1980, conheceu que esse é um caminho péssimo. Quase tudo que se faça
um processo intenso de desconcentração industrial. para melhorar a cidade exige enfrentar o carro.”

c) A periferia de São Paulo continua tendo, nos dias (Renato Janine RIBEIRO. Tachinhas e privilégios. In O Estado de S. Paulo
de hoje, um papel fundamental de eliminar a frag- (Aliás), 15/10/2014, p. E8)
mentação e a hierarquização espacial.
Essa opinião surge em reação a certa hostilidade pre-
d) A periferização, em São Paulo, cresceu com ritmo ace- sente na cidade de São Paulo às iniciativas que favo-
lerado até os anos de 1980, e, a partir daí, estagnou, recem o uso cotidiano da bicicleta. Considerando esse
devido à retração de investimentos na metrópole. fato e o que o texto menciona, é correto dizer que

e) A expansão da área construída da metrópole, na dé- a) o autor exagera, pois a automobilização das capi-
cada de 1960, permitiu, ao mesmo tempo, ampliar a tais brasileiras encontra-se em claro declínio, em
mancha urbana e eliminar a fragmentação espacial. razão dos protestos populares e dos investimentos
agora feitos nos meios coletivos de transportes.
11. SE (FGv-RJ) Leia com atenção:
b) embora a automobilização das cidades brasileiras
Nos anos 1860, se esquematiza uma reflexão em torno seja problemática, não quer dizer que esse caminho
dos valores fundiários do território urbano. Na origem dessa seja péssimo, pois as cidades europeias, asiáticas e
reflexão, teorizada por Julius Faucher em 1867, encontra-se americanas demonstraram a eficiência desse meio.

O espaço urbano e o processo de urbanização 231

atenção!
Não escreva neste livro!

c) não é preciso combater os carros, pois é possível criar os transportes coletivos, e o automóvel é uma con-
estacionamentos subterrâneos, multiplicar as vias tradição, nesse caso.
expressas e criar ambientes adequados aos automo- e) bicicletas e automóveis nas grandes cidades com-
bilistas, algo que não se faz nas cidades brasileiras. binam bem, como demonstram cidades europeias
onde esses dois meios são muito utilizados; bas-
d) as cidades têm como vantagem conseguir reunir ta planejamento, como nas cidades holandesas,
muitas pessoas, objetos e atividades em curtas por exemplo.
distâncias que favorecem o pedestre, o ciclismo e

Questões

13. SE (Unicamp-SP) Observe os esquemas abaixo. 14. S (UFPR) As primeiras regiões metropolitanas foram

Relações entre as cidades em uma rede urbana criadas, no Brasil, no ano de 1974, justificadas pela
necessidade de planejamento desses espaços. Ex-
Esquema clássico Esquema atual plique o que é Região Metropolitana e, citando uma
em particular, aponte alguns dos seus problemas
Metrópole nacional Metrópole de planejamento.
regional
15. CO (UEG-GO) Explique o que significa cidade global e,
Metrópole regional Metrópole Centro
Centro regional nacional regional em seguida, cite três exemplos de cidades globais.
Cidade local
Cidade 16. SE (Uerj) Assentamento precário é a denominação da
local
ONU para as comunidades popularmente conhecidas no
vila vila Brasil como favelas. São espaços simultaneamente mar-
cados por carências urbanas e pelo vigor de sua vida social.
a) Explique como funciona o esquema clássico de re- Com base na análise do mapa, identifique a região com
de urbana. maior população absoluta em assentamentos precá-
rios e a região com maior população relativa nesses
b) Como se justificam as novas formas de relações assentamentos.
entre as cidades? Apresente também duas justificativas para a grande
presença de espaços de urbanização deficiente em
Geografia dos assentamentos precários ambas as regiões.

Allmaps/Arquivo da editora

América do Norte Europa Europa Oriental
Ocidental e ex-URSS

África do Norte Ásia Ocidental Ásia Oriental
Sul da Ásia Sudeste Asiático
América Latina
e Caribe

População Urbana África Subsaariana Oceania
(milhões de habitantes)
500 população urbana total El atlas de Le Monde Diplomatique II.
população urbana nos Buenos Aires: Capital Intelectual,
200 assentamentos precários 2006.
100

232 Unidade 4

Caiu no Enem atenção!
Não escreva neste livro!

1. A humanidade conhece, atualmente, um fenômeno espa- Lalo de Almeida/SambaPhoto No texto, são descritas algumas características da pai-
sagem de uma cidade do Oriente Médio. Essas carac-
cial novo: pela primeira vez na história humana, a popu- terísticas descritas são resultado do(a)
lação urbana ultrapassa a rural no mundo. Todavia, a ur-
banização é diferenciada entre os continentes. a) criação de territórios políticos estratégicos.
b) preocupação ambiental pautada em decisões go-
DURAND, M. F. et al. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial
contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. vernamentais.
c) utilização de tecnologia para transformação do es-
No texto, faz-se referência a um processo espacial de
escala mundial. Um indicador das diferenças continen- paço.
tais desse processo espacial está presente em: d) demanda advinda da extração local de combustí-
a) Orientação política de governos locais.
b) Composição religiosa de povos originais. veis fósseis.
c) Tamanho desigual dos espaços ocupados. e) emprego de recursos públicos na redução de desi-
d) Distribuição etária dos habitantes do território.
e) Grau de modernização de atividades econômicas. gualdades sociais.

2. 4. Trata-se de um gigantesco movimento de construção de

RIBEIRO, L. C. Q.; SANTOS, JUNIOR, O. A. Desafios da questão urbana. Le cidades, necessário para o assentamento residencial des-
Monde Diplomatique Brasil. Ano 4, n. 45, abr. 2010. Disponível em: <http:// sa população, bem como de suas necessidades de traba-
lho, abastecimento, transportes, saúde, energia, água etc.
diplomatique.uol.com.br>. Acesso em: 22 ago. 2011. Ainda que o rumo tomado pelo crescimento urbano não
tenha respondido satisfatoriamente a todas essas neces-
A imagem registra uma especificidade do contexto sidades, o território foi ocupado e foram construídas as
urbano em que a ausência ou ineficiência das políticas condições para viver nesse espaço.
públicas resultou em
a) garantia dos direitos humanos. MARICATO, E. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana.
b) superação do déficit habitacional. Petrópolis, Vozes, 2001.
c) controle da especulação imobiliária.
d) mediação dos conflitos entre classes. A dinâmica de transformação das cidades tende a apre-
e) aumento da segregação socioespacial. sentar como consequência a expansão das áreas pe-
riféricas pelo(a)
3. Dubai é uma cidade-estado planejada para estarrecer os
a) crescimento da população urbana e aumento da
visitantes. São tamanhos e formatos grandiosos, em ho- especulação imobiliária.
téis e centros comerciais reluzentes, numa colagem de
estilos e atrações que parece testar diariamente os limites b) direcionamento maior do fluxo de pessoas, devido
da arquitetura voltada para o lazer. O maior shopping do à existência de um grande número de serviços.
tórrido Oriente Médio abriga uma pista de esqui, a orla
do Golfo Pérsico ganha milionárias ilhas artificiais, o cen- c) delimitação de áreas para uma ocupação organizada
tro financeiro anuncia para breve a torre mais alta do do espaço físico, melhorando a qualidade de vida.
mundo (a Burj Dubai) e tem ainda o projeto de um campo
de golfe coberto! Coberto e refrigerado, para usar com sol d) implantação de políticas públicas que promovem
e chuva, inverno e verão. a moradia e o direito à cidade aos seus moradores.

Disponível em: <http://viagem.uol.com.br>. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado). e) reurbanização de moradias nas áreas centrais, man-
tendo o trabalhador próximo ao seu emprego, di-
minuindo os deslocamentos para a periferia.

5. O movimento migratório no Brasil é significativo, princi-

palmente em função do volume de pessoas que saem de
uma região com destino a outras regiões. Um desses mo-
vimentos ficou famoso nos anos 80, quando muitos nor-
destinos deixaram a região Nordeste em direção ao Sudes-
te do Brasil. Segundo os dados do IBGE de 2000, este
processo continuou crescente no período seguinte, os anos
90, com um acréscimo de 7,6% nas migrações deste mesmo
fluxo. A Pesquisa de Padrão de Vida, feita pelo IBGE, em
1996, aponta que, entre os nordestinos que chegam ao Su-
deste, 48,6% exercem trabalhos manuais não qualificados,
18,5% são trabalhadores manuais qualificados, enquanto
13,5%, embora não sejam trabalhadores manuais, se en-
contram em áreas que não exigem formação profissional.

O espaço urbano e o processo de urbanização 233

atenção!
Não escreva neste livro!

O mesmo estudo indica também que esses migrantes pos- b) impulsionam as populações locais a buscar linhas
suem, em média, condição de vida e nível educacional de financiamento estatal com o objetivo de am-
acima dos de seus conterrâneos e abaixo dos de cidadãos pliar a agricultura familiar, garantindo sua fixação
estáveis do Sudeste. no campo.

Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 30 jul. 2009 (adaptado). c) ampliam o protagonismo do Estado, possibilitando
a grupos econômicos ruralistas produzir e impor
Com base nas informações contidas no texto, depre- políticas agrícolas, ampliando o controle que ti-
ende-se que nham dos mercados.

a) o processo migratório foi desencadeado por ações d) aumentam a produção e a produtividade de deter-
de governo para viabilizar a produção industrial no minadas culturas em função da intensificação da
Sudeste. mecanização, do uso de agrotóxicos e cultivo de
plantas transgênicas.
b) os governos estaduais do Sudeste priorizaram a
qualificação da mão de obra migrante. e) desorganizam o modo tradicional de vida impelin-
do-as à busca por melhores condições no espaço
c) o processo de migração para o Sudeste contribui urbano ou em outros países em situações muitas
para o fenômeno conhecido como inchaço urbano. vezes precárias.

d) as migrações para o Sudeste desencadearam a va- 7. O processo de concentração urbana no Brasil em determi-
lorização do trabalho manual, sobretudo na década
de 80. nados locais teve momentos de maior intensidade e, ao
que tudo indica, atualmente passa por uma desaceleração
e) a falta de especialização dos migrantes é positiva do ritmo de crescimento populacional nos grandes centros
para os empregadores, pois significa maior versa- urbanos.
tilidade profissional.
BAENINGER, R. Cidades e metrópoles: a desaceleração no crescimento
6. populacional e novos arranjos regionais. Disponível em:
TEXTO I
www.sbsociologia.com.br. Acesso em: 12 dez. 2012 (adaptado).
Ao se emanciparem da tutela senhorial, muitos campo-
neses foram desligados legalmente da antiga terra. Deveriam Uma causa para o processo socioespacial mencionado
pagar, para adquirir propriedade ou arrendamento. Por não no texto é o(a)
possuírem recursos, engrossaram a camada cada vez maior
de jornaleiros e trabalhadores volantes, outros, mesmo tendo a) carência de matérias-primas.
propriedade sobre um pequeno lote, suplementavam sua b) degradação da rede rodoviária.
existência com o assalariamento esporádico. c) aumento do crescimento vegetativo.
d) centralização do poder político.
MACHADO, P. P. Política e colonização no Império. Porto Alegre: e) realocação da atividade industrial.
EdUFRGS, 1999 (adaptado).
8. No século XIX, o preço mais alto dos terrenos situados no
TEXTO II
centro das cidades é causa da especialização dos bairros e
Com a globalização da economia ampliou-se a hegemo- de sua diferenciação social. Muitas pessoas, que não têm
nia do modelo de desenvolvimento agropecuário, com seus meios de pagar os altos aluguéis dos bairros elegantes, são
padrões tecnológicos, caracterizando o agronegócio. Essa progressivamente rejeitadas para a periferia, como os su-
nova face da agricultura capitalista também mudou a forma búrbios e os bairros mais afastados.
de controle e exploração da terra. Ampliou-se, assim, a ocu-
pação de áreas agricultáveis e as fronteiras agrícolas se es- RÉMOND, R. O século XIX. São Paulo: Cultrix, 1989 (adaptado).
tenderam.
Uma consequência geográfica do processo socioespa-
SADER, E.; JINKINGS, I. Enciclopédia Contemporânea da América Latina cial descrito no texto é a
e do Caribe. São Paulo: Boitempo, 2006 (adaptado).
a) criação de condomínios fechados de moradia.
Os textos demonstram que, tanto na Europa do sé- b) decadência das áreas centrais de comércio popular.
culo XIX quanto no contexto latino-americano do c) aceleração do processo conhecido como cerca-
século XXI, as alterações tecnológicas vivenciadas no
campo interferem na vida das populações locais, pois mento.
d) ampliação do tempo de deslocamento diário da
a) induzem os jovens ao estudo nas grandes cidades,
causando o êxodo rural, uma vez que formados, não população.
retornam à sua região de origem. e) contenção da ocupação de espaços sem infraestru-

tura satisfatória.

234 Unidade 4

9. Confins O fluxo migratório representado está
associado ao processo de
Região Metropolitana
a) fuga de áreas degradadas.
de Belo Horizonte b) inversão da hierarquia urbana.
c) busca por amenidades ambientais.
Ribeirão Vespasiano d) conurbação entre municípios con-
das Neves
Santa tíguos.
Luzia e) desconcentração dos investimen-

tos produtivos.

Contagem Belo Sabará

Betim Horizonte

Saldo do deslocamento Ibirité atenção!
–75 275 a –31 400 Não escreva neste livro!
–31 399 a 0
Banco de imagens/Arquivo da editora 0 a 19 168 Nova Lima
19 169 a 293 119
Itabirito Nota: O saldo considera
Fluxo de pessoas apenas as pessoas que se
15 000 a 31 400 deslocavam para o trabalho
31 401 a 58 300 e retornavam aos seus
58 301 a 103 200 municípios diariamente.
Limite de município

BRASIL. IBGE. Atlas do censo demográfico 2010 (adaptado).

10. População residente, por situação de domicílio – Brasil – 1940/2000

140 138 Banco de imagens/Arquivo da editora

120 111 31,8
2000
Milh›es de habitantes 100

80 80,4

60 52,1
41,1
40 38,8 38,6 35,8
28,3 33,2 31,3
18,8
20 12,9 1960 1970 1980 1991 IBGE. Tendências demográficas:
1950 uma análise da sinopse preliminar
0 do censo demográfico 2000.
1940 Rio de Janeiro: IBGE, 2001.

Urbana Rural

O processo indicado no gráfico demonstra um aumen- b) manutenção da instabilidade climática nas áreas
to significativo da população urbana em relação à rurais.
população rural no Brasil. Esse fenômeno pode ser
explicado pela c) concentração da oferta de ensino nas áreas urbanas.
d) inclusão da população das áreas urbanas em pro-
a) atração de mão de obra pelo setor produtivo con-
centrado nas áreas urbanas. gramas assistenciais.
e) redução dos subsídios para os setores da economia

localizados nas áreas rurais.

O espaço urbano e o processo de urbanização 235

UNIDADE5

O espaço rural
e a produção
agropecuária

Como estudaremos nesta Unidade, atualmente a produção de alimen-
tos é obtida em condições muito diversas pelas regiões agrícolas do
planeta. Na propriedade mostrada na fotografia ao lado pratica-se a
agricultura orgânica, sem aplicação de inseticidas ou adubos químicos.
Em muitos países pobres e emergentes, há regiões onde predomina a
agricultura de subsistência; em outras, o cultivo de cereais, frutas, le-
gumes e verduras é obtido por meio de tecnologia moderna, que reduz
bastante a dependência da agricultura em relação a estações do ano,
fertilidade dos solos, quantidade de chuvas e outros fatores.

236

CAPÍTULO 11 Organização da
produção agropecuária
Sylvain Cordier/Biosphoto/Corbis/Latinstock

Cultivo orgânico de maçãs na Alsácia (França), em
2014. Existem empresas certificadoras que dão
segurança aos consumidores de que o produto que
CesotnãsotecolamçãporadnodCorfuoziemiroesdmooSucul. ltivado seguindo os
padrões da agricultura orgânica.

237

onio Sá/Pulsar ImagensMarco AntAatual configuração espacial das atividades agropecuárias e da zona
Delfim Martins/Pulsar Imagens rural é resultado da ação da sociedade sobre a natureza ao longo da
História, o que ocorreu de modo muito desigual entre os diversos países
e regiões do planeta.
Nas atividades agropecuárias, a diversidade das
relações de trabalho com a natureza resulta de
diferentes sistemas de produção. Para com-
preender essas diferenças, vamos pro-
curar elucidar algumas questões ao
longo deste capítulo: qual é a dife-
rença entre agricultura e pecuária
intensiva e extensiva? De que for-
ma estão estruturadas a agricul-
tura familiar e a empresarial no
Brasil e no mundo? O que foi a
Revolução Verde e quais as
perspectivas da biotecnologia,
dos transgênicos e da agricultu-
ra orgânica atualmente?

Na imagem ao lado, agricultor de pequena
propriedade em plantação de banana na
Comunidade Quilombola de Ivaporunduva, em
Eldorado (SP), em 2016. Na imagem abaixo, máquinas
sendo usadas no cultivo de soja em Palotina (PR), em 2013.

238 Capítulo 11

1 Os sistemas de produção agrícola

A produção agrícola constitui um sistema que en- fertilizantes, sistemas de irrigação e mecanização) e
volve a análise de suas dimensões naturais (fertilida- que apresentam elevados índices de produtividade,
de do solo, topografia, disponibilidade de água) e pratica-se a agricultura intensiva. Já em propriedades
socioeconômicas (desenvolvimento tecnológico, grau nas quais se pratica a agricultura extensiva, não há
de capitalização, estrutura fundiária, relações de tra- capitais para investir e, portanto, usam-se técnicas ru-
balho). A diversidade de modos de vida e de produção, dimentares, obtendo baixos índices de produtividade.
das leis trabalhistas e ambientais, das condições eco-
nômicas e da oferta de crédito, além de outros fatores, Na pecuária, o rendimento é avaliado pelo número
explica a heterogeneidade das condições da produção de cabeças por hectare. Quanto maior a densidade de
agrícola mundial. cabeças, independentemente de o gado estar solto ou
confinado, maior é a necessidade de ração, de pastos
Os sistemas agrícolas e a produção pecuária podem cultivados e de assistência médica veterinária. Com isso,
ser classificados como intensivos ou extensivos, de aumentam a produtividade e o rendimento, caracterís-
acordo com o grau de capitalização e o índice de pro- ticas da pecuária intensiva. Quando o gado se alimenta
dutividade decorrentes do uso de insumos, maquinaria apenas em pastos naturais e a criação apresenta baixa
e tecnologia de ponta. É importante destacar que essa produtividade, trata-se de pecuária extensiva.
classificação independe do tamanho da área de cultivo
ou de criação. Outra maneira de classificar os sistemas de produ-
ção está relacionada à forma de gestão da mão de obra.
Em propriedades nas quais se aplicam modernas Isso permite distinguir o predomínio de agricultura
técnicas de preparo do solo, cultivo e colheita (uso de familiar ou de agricultura empresarial (patronal).

Helmut Meyer zur Capellen/imageBROKER/Corbis/Latinstock

Criação de gado confinado na Bavária (Alemanha), em 2015.

Organização da produção agropecuária 239

Agricultura familiar A produção é obtida em pequenas e médias proprieda-
des ou em parcelas de grandes propriedades (nesse
Na agricultura familiar, os membros da família caso, parte da produção é entregue ao dono da terra
administram a propriedade e os investimentos neces- como pagamento do aluguel), com a utilização de téc-
sários às decisões sobre o que e como produzir, sejam nicas tradicionais e rudimentares. Por falta de recursos
ou não eles os donos da terra – algumas famílias pro- e de assistência técnica, as sementes utilizadas são de
duzem em terras arrendadas. Em geral, nesse tipo de qualidade inferior, não se investem em fertilizantes e,
agricultura o trabalho é realizado pelos membros da portanto, a produção e a produtividade são baixas.
família, mas muitas vezes há contratação de mão de
obra no mercado. Na agricultura familiar de subsistência, predomi-
nam as pequenas propriedades, que podem ser culti-
Se a política agrícola está voltada à fixação das vadas em:
famílias no campo, ao aumento da oferta de alimen-
tos no mercado regional e à geração de maior núme- • parceria, quando o agricultor aluga a terra e paga por
ro de postos de trabalho, a agricultura familiar tem
um papel importante em seu desenvolvimento. Ela seu uso com parte da produção;
pode promover uma maior oferta de alimentos e re-
duzir o fluxo migratório para as cidades, já que um • arrendamento, quando o aluguel é pago em dinheiro;
maior contingente de mão de obra permanece atuan- • regime de posse, quando os agricultores simples-
do no campo.
mente ocupam terras devolutas – terras desocupa-
Em geral, considera-se, equivocadamente, que a das, vagas, que não possuem dono regular ou que
agricultura familiar não proporciona condições de pro- pertencem ao Estado.
duzir excedentes exportáveis por causa do porte das
propriedades, geralmente pequenas e médias. No en- Essa realidade ainda existe em boa parte dos países
tanto, por meio do cooperativismo, a associação de da África subsaariana, do Sul e Sudeste Asiático e da
vários pequenos e médios produtores tem possibilita- América Latina (Congo, Zâmbia, Mianmar, Camboja,
do aumentar sua participação no mercado mundial. Bolívia e Paraguai, entre outros), mas o que prevalece
atualmente é uma agricultura de subsistência voltada
Agricultura de subsistência ao comércio urbano. Nesse caso, o agricultor e sua fa-
mília cultivam algum produto que será vendido na ci-
Um tipo de agricultura familiar que prevalece nas dade mais próxima, mas o dinheiro que recebem é
regiões pobres é a agricultura de subsistência, destina- suficiente apenas para lhes garantir a subsistência. Não
da a atender às necessidades imediatas de consumo há excedente de capital que lhes permita aperfeiçoar
alimentar dos próprios agricultores e seus dependentes. as técnicas de cultivo e aumentar a produtividade. Es-
se tipo de agricultura é comum em áreas onde falta
infraestrutura e, portanto, a terra é mais barata.

Ricardo Azoury /Pulsar Imagens Após alguns anos de cultivo, o
solo perde sua fertilidade
natural, e quase sempre fica
exposto a processos erosivos.
Em alguns casos, ao perceber
que o volume de produção está
diminuindo, a família desmata
uma área próxima e pratica a
queimada para acelerar o
plantio, dando início à
degradação de uma nova área,
a qual será brevemente
abandonada – nesse caso,
pratica-se a agricultura
itinerante. Na foto, ribeirinho
colhendo mandioca em
pequena propriedade na
comunidade Jamaraquá, em
Belterra (PA), em 2015.

240 Capítulo 11

Agricultura de jardinagem Em países como Filipinas, Tailândia, Indonésia e outros
do Sudeste Asiático, que apresentam elevada densidade
Outro tipo de agricultura familiar é a chamada demográfica, as famílias têm áreas muitas vezes inferio-
agricultura de jardinagem, expressão que se originou res a um hectare (10 000 metros quadrados) e condições
no Sul e Sudeste Asiático, onde há grande produção de vida bastante precárias. Em países que realizaram re-
de arroz em planícies inundáveis, com utilização in- forma agrária – Japão, Coreia do Sul e Taiwan – e ao redor
tensiva de mão de obra. Esse sistema é praticado em dos grandes centros urbanos de áreas tropicais, após a
pequenas e médias propriedades cultivadas pelo dono comercialização da produção e a realização de investi-
da terra e sua família ou em parcelas de grandes pro- mentos para a nova safra, há um excedente de capital
priedades. Nessa forma de produção predomina a que permite melhorar, a cada ano, as condições de traba-
alta produtividade, pois se recorre à seleção de se- lho e a qualidade de vida das famílias. Entretanto, como
mentes, à utilização de fertilizantes, à aplicação de a propriedade e, consequentemente, o volume de produ-
avanços biotecnológicos e às técnicas de preservação ção são pequenos, os agricultores dependem de subsídios
do solo que permitem a fixação da família na proprie- governamentais para permanecer produzindo.
dade por tempo indeterminado.

Guo Cheng/Xinhua/Agência France-Presse

NepvelpamiorantebelootlCcepararárhâmrdteroniuionxapeerspassara,ai.àsceaeAnodmtcspenpaoãormtodnooidpenôdedosumgureclemnçaoinpcãiçruzatrorãaoeii.otdçdspNooãaérdaopiueeanefddmguomqaartmuiodpãcpe,eeourrncorsolduotacdpueselsutaarsioeaçrvs,btãoeoedirocmeadadua.eejolcNagapamorrrorçdínecroãisedoondonzielaçeatdeõgdrafenmeeanoismitizcnHoadsac,uoçeapeeãcbinitmntoosrtaaratidlrvianbiteaozlua,ga(saClpíuçhdgghrãmaoeorioindvpqcapeoaueusrr)mlla,nopatesupariunemormoatavsri,ínecl2eniiintz0mmoceat1inmpa6apçaãisr.useedolnsaditopeene, alado
Organização da produção agropecuária 241

Cinturões verdes e Neles se praticam agricultura e pecuária intensivas pa-
bacias leiteiras ra atender às necessidades de consumo da população
local. Em tais áreas, produzem-se hortifrutigranjeiros
Outro tipo de agricultura com predomínio de mão e cria-se gado em pequenas e médias propriedades
de obra familiar é encontrado nos cinturões verdes e para a produção de leite e derivados — observe a fo-
nas bacias leiteiras. Ambos localizam-se ao redor dos tografia a seguir. Após a comercialização da produção,
grandes centros urbanos, principalmente nos países o excedente obtido é aplicado na modernização das
desenvolvidos e emergentes, onde a terra é valorizada. técnicas de cultivo e criação.

Guillaume Souvant/Agência France-Presse

Cabras em uma fazenda de gado leiteiro perto de Niort (França), em 2015.

Agricultura empresarial criando uma grande cadeia produtiva. Os insumos (fer-

Na agricultura empresarial (ou patronal), prevalece tilizantes, inseticidas, rações, vacinas, combustíveis) e
a mão de obra contratada e desvinculada da família do
administrador ou do proprietário da terra. equipamentos (tratores, colheitadeiras, sistemas de

Em geral, a produtividade nesse tipo de agricultura irrigação, estufas, etc.) usados na agropecuária são pro-
é muito alta, em decorrência da seleção de sementes, do
uso intensivo de fertilizantes, do elevado grau de meca- duzidos por indústrias de bens de capital.
nização no preparo do solo − no plantio e na colheita −,
da utilização de silos de armazenagem e do sistemático A agropecuária exerce influência direta sobre vários
acompanhamento de todas as etapas de produção e
comercialização. Sua produção é voltada ao abasteci- setores da economia, criando uma vasta cadeia produtiva.
mento dos mercados interno e externo, e é mais comum,
sobretudo, nos países desenvolvidos – Estados Unidos, Antes da produção agrícola e pecuária são acionadas in-
Canadá, Austrália e alguns países da União Europeia –, e
em economias emergentes como Brasil, Argentina, In- dústrias de máquinas, adubos, agrotóxicos, vacinas, ra-
donésia e Malásia, e em algumas regiões tropicais da
África que vêm recebendo investimento estrangeiro, ções, arames para cercas, etc. Após a produção, vêm as
principalmente da China e de países do Oriente Médio.
etapas de atividades na agroindústria, na armazenagem
Dessa forma, as atividades agrícolas e pecuárias
estão integradas aos setores industriais e de serviços, e na comercialização. Além disso, ao longo de toda a ca-

deia, estão envolvidos os setores de transporte, energia,

telecomunicações, administração, marketing, vendas,

seguros e muitos outros.

Essa extensa cadeia produ- Agroneg—cio: rede de pro-
tiva constitui os complexos dução que abrange todas
agroindustriais, que são as as atividades primárias,
fazendas onde se obtêm a secundárias e terciárias li-
produção e os agronegó- gadas à agropecuária: pro-
cios, que envolvem todas dução de sementes, adu-
bos, tratores, frigoríficos,
curtumes e muitas outras.

242 Capítulo 11

as atividades primárias, secundárias e terciárias que fazem setores socioeconômicos: a importância dos agrone-
parte da cadeia produtiva. gócios para o mercado de trabalho e no combate ao
desemprego, a garantia de abastecimento alimentar
Para ilustrar a importância econômica dos agrone- em quantidade e qualidade satisfatórias e, finalmente,
gócios, podemos observar os dados quantitativos bra- sua influência na balança comercial ao reduzir as im-
sileiros de 2014 segundo o Ministério da Agricultura. portações e estimular as exportações. Esses fatores
Nesse ano, o PIB da agropecuária foi de R$ 261 bilhões levam muitos países, sobretudo os desenvolvidos, a
(cerca de 5% do PIB brasileiro), mas os agronegócios estabelecer políticas protecionistas e subsídios à pro-
foram responsáveis por cerca de 21% do PIB – 70% des- dução agropecuária, o que cria fortes distorções no
se total está ligado à agricultura, e 30% à pecuária. mercado mundial e prejudica muitos países em desen-
volvimento, especialmente os de baixa renda.
Os governos também costumam analisar o setor
agropecuário considerando sua relação com outros

Sérgio Dotta/The Next Monica Vendramini/Arquivo da editora

Fabio Mangabeira/ PhotoDisc/Arquivo da editora
Arquivo da editora
Laureni Fochetto/Arquivo da editora
João Raposo/Arquivo da editora

Na spertoodrudçeãoagdreospseacsumáreiarceadmoáriqaus,infoarsaemequusaipdaams menattoésrifaasb-rpirciamdaoss produzidas
no em

indústrias de bens de capital.

Nos países desenvolvidos e nas regiões modernas No Brasil existem várias regiões especializadas em
dos países em desenvolvimento, onde os complexos determinado produto: cana-de-açúcar e laranja no Oes-
agroindustriais foram introduzidos, verificou-se uma te paulista; grãos (soja, milho e outros) na Campanha
tendência à concentração de terras e à especialização Gaúcha, no Oeste baiano, no sul do Maranhão e do Piauí
produtiva. Em algumas agroindústrias, produzem-se e em vastas áreas do Centro-Oeste; criação de aves e
alimentos, fontes de energia (álcool combustível), re- suínos e processamento de sua carne no Oeste catari-
médios, produtos de higiene e limpeza e muitos outros nense; produção irrigada de frutas no Vale do São Fran-
bens de consumo. cisco, entre muitos outros exemplos.

Organização da produção agropecuária 243

2 A Revolução Verde

A partir da década de 1950, os Estados Unidos e a essas inovações causaram impactos socioeconômicos
e ambientais muito graves. Proporcionaram aumento
ONU incentivaram a introdução de mudanças na estru- de produtividade por área cultivada e crescimento con-
siderável da produção de alimentos − principalmente
tura fundiária e nas técnicas agrícolas em vários dos então de cereais e tubérculos −, mas isso ficou restrito às
grandes propriedades, dotadas de condições ideais pa-
chamados países subdesenvolvidos, muitos dos quais ra a modernização − relevo plano para possibilitar a
mecanização e condições climáticas favoráveis, entre
ex-colônias recém-independentes. Em plena Guerra Fria, outras. Em países onde não foi realizada a reforma agrá-
ria e cujos trabalhadores agrícolas não tinham proprie-
a intenção dos norte-americanos era evitar o surgimento dade familiar, sobretudo na África e no Sudeste Asiáti-
co, a mecanização da produção diminuiu a necessidade
de focos de insatisfação popular por causa da fome. Eles de mão de obra, contribuiu para o aumento dos índices
de pobreza e provocou êxodo rural.
temiam a instituição de regimes socialistas em alguns
O sistema mais utilizado pelos países que seguiram
países do então Terceiro Mundo. Além disso, a indústria as premissas da Revolução Verde foi a monocultura, o
que resultou em sérios impactos ambientais, como
química, que se desenvolveu voltada para o setor bélico, mostra o texto “Os problemas ambientais rurais”, em
Outras leituras, na página 245.
apresentava certa capacidade ociosa nesse período.
A prática da monocultura acarretou desequilíbrios
O conjunto de mudan- Capacidade ociosa: termo ambientais, e a modernização substituiu as inúmeras
ças técnicas introduzidas na usado para indicar quando variedades vegetais por algumas poucas. Grandes in-
produção agropecuária fi- uma empresa não está dústrias iniciaram o processo de controle sobre o co-
cou conhecido por Revolu- utilizando totalmente sua mércio e a pesquisa que modifica a semente dos vege-
ção Verde e consistia na capacidade instalada de tais cultivados, passando a controlar toda a cadeia de
modernização das práticas produção. insumos. Como essas sementes modificadas não são
férteis, os agricultores são obrigados a comprar novas
agrícolas (utilização de adubos químicos, inseticidas, sementes a cada safra se quiserem obter boa produti-
vidade. Isso se tornou um grande obstáculo para os
herbicidas, sementes melhoradas) e na mecanização pequenos agricultores e perdura até os dias atuais, pois
é necessário comprar e repor constantemente as se-
do preparo do solo, do cultivo e da colheita, visando a mentes e os fertilizantes que se adaptem melhor a elas,
o que aumenta o custo de produção.
aumentar a produção de alimentos.

Com esse objetivo, os Estados Unidos ofereceram

financiamentos para a importação dos insumos, ma-

quinaria e capacitação de técnicos e professores para

as faculdades e cursos técnicos agrícolas. Os governos

dos então países subdesenvolvidos passaram a promo-

ver pesquisa e divulgação de técnicas de cultivo entre

os agricultores e a fornecer créditos subsidiados.

Entretanto, a proposta era adotar o mesmo padrão

de cultivo em todas as regiões onde ocorreu a Revolu-

ção Verde, desconsiderando a variação das condições

naturais, das necessidades e possibilidades dos agricul-

tores. Como consequência, a médio e longo prazos,

Cultivo de chá na Índia, no início da
década de 1970. Nesse país houve
grande crescimento na produção
de alimentos com a implantação
das técnicas da Revolução Verde.

Images of Empire/Universal
Images Group/Getty Images

244

Outras leituras

Os problemas ambientais rurais Dialogando
com BIOLOGIA

[...]
O cultivo de espécie vegetal única (soja, trigo, algodão, milho, entre outros) em grandes extensões de
terras favorece o desenvolvimento de grande quantidade de pequenas espécies animais invasoras, as pra-
gas que se alimentam desses produtos. É o caso da lagarta da soja, do besouro-bicudo do algodão e de
bactérias como o ácaro dos mamoeiros, o cancro-cítrico dos laranjais e as diversas pragas dos cafezais, dos
fungos que atacam o trigo e o milho e das pragas que infestam os canaviais. Já o cultivo de várias espécies,
ou seja, a policultura, implica competitividade entre elas e elimina a possibilidade da disseminação de
pragas. Nas monoculturas as pragas proliferam rapidamente, e em dois ou três dias uma plantação de soja
ou de algodão pode ser totalmente dizimada. Para evitar isso, utilizam-se cada vez mais inseticidas e fun-
gicidas químicos, que podem ser altamente prejudiciais à saúde do homem.
O cultivo mecanizado é obrigatoriamente acompanhado do uso de fertilizantes químicos, e para o
controle das chamadas “ervas daninhas”, ou do “mato”, que nascem e crescem mais rapidamente que as
espécies plantadas, aplicam-se os herbicidas, tão tóxicos quanto os venenos empregados para controlar
insetos e fungos.
A aplicação frequente de quantidades cada vez maiores desses produtos químicos, genericamente
chamados de insumos agrícolas, contamina o solo. Além disso, eles são transportados pela chuva para
riachos e rios, afetando, desse modo, a qualidade das águas que alimentam o gado, abastecem as cidades e
abrigam os peixes. O veneno afeta a fauna, e os pássaros e os peixes desaparecem rapidamente das áreas
de monocultura, favorecendo a proliferação de pragas, lagartas, mosquitos e insetos em geral. A impregna-
ção do solo com venenos e adubos químicos tende a torná-lo estéril pela eliminação da vida microbiana.
[...]

ROSS, Jurandyr L. Sanches (Org.). Geografia do Brasil. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2011. p. 226. (Didática 3).

Ernesto Reghran/Pulsar Imagens

Avião pulverizando inseticida em
plantação de cana-de-açúcar
em Paranacity (PR), em 2016. Esta
prática provoca contaminação dos
solos e aquíferos.

Organização da produção agropecuária 245

3 A população rural e o trabalhador agrícola

O campo e a cidade são realidades históricas em transformação
tanto em si próprias quanto em suas inter-relações”.

Raymond Williams (1921-1988), escritor britânico.

Atualmente, nos países e nas regiões em que predo- No senso comum, somos levados a pensar que a

minam modernas técnicas de produção, os agricultores maioria dos países desenvolvidos tem percentuais eleva-

são a minoria dos trabalhadores e até mesmo dos mo- dos e crescentes de população urbana, mas, na realidade,

radores do espaço rural. Isso porque os habitantes da o percentual de população rural é bastante significativo

zona rural, em sua maioria, trabalham em atividades não em muitos desses países e, em alguns casos, maiores que

agrícolas ou em cidades próximas. Ecoturismo e turismo o percentual de população rural encontrado em países

rural, hotéis-fazenda, campings, pousadas, sítios, casas em desenvolvimento (observe a tabela a seguir).

de campo, restaurantes típicos, parques temáticos, prá- Em países desenvolvidos, como Suíça e Noruega, o

tica de esportes variados, transportes, produção de ener- percentual de população residente na zona rural é re-

gia, abastecimento de água, etc. são atividades rurais lativamente alto, e o número de trabalhadores agríco-

que ocupam um contingente de trabalhadores maior las, pequeno.

que as atividades agropecuárias. No entanto, quando Dieu Nalio Chery/AP Photo/Glow Images

consideramos as pessoas que trabalham nas diversas

atividades ligadas à cadeia produtiva que envolve a agro-

pecuária (fábricas de insumos, sementes, tratores, irri-

gação, comercialização, transportes e outros, que com-

põem os agronegócios), a participação na PEA aumenta.

Em contrapartida, onde a agropecuária é desca-

pitalizada, com emprego de técnicas rudimentares de

produção, como é predominante nos países de menor

renda, a maioria dos trabalhadores rurais se dedica a

atividades diretamente ligadas à agropecuária — ob-

serve a fotografia ao lado. Nessas regiões, o Estado

tem papel primordial na regulamentação das relações

de trabalho, no acesso à propriedade da terra e na

política de produção, nos financiamentos e nos sub-

sídios agrícolas.

População rural e trabalhadores agrícolas em países selecionados (%) Agricultores de subsistência
no Haiti, em 2016.

País População rural – 2014 Trabalhadores agrícolas – 2014

Desenvolvidos

Estados Unidos 17 2

Japão 7 4

Emergentes

México 21 13

Brasil* 14 15 (*) Os dados sobre a população rural no
China 45 37 Brasil não são adequadamente
Países de baixa renda comparáveis aos dos demais países,
Ruanda 80 79 porque a forma de coleta de informações
Bangladesh 70 48 não segue a metodologia aceita
internacionalmente. Segundo estimativas,
se o Brasil seguisse a metodologia usada
na Europa, o índice de população rural
seria de aproximadamente 33%.

Adaptado de: FAO. FAO Statistical Yearbook 2015. Disponível em: <www.fao.org>. Acesso em: 5 abr. 2016.

246 Capítulo 11

4 A produção agropecuária no mundo

Ao longo do século XX, os países desenvolvidos Como podemos observar nos gráficos a seguir, a
e várias regiões agrícolas de países emergentes in- produção agropecuária em vários países em desen-
tensificaram a produção agropecuária por meio da volvimento concorre com a produção dos países
modernização das técnicas de cultivo e criação. desenvolvidos.

Principais exportadores e importadores de produtos agrícolas – 2014

Exportadores (em bilhões de dólares) Importadores (em bilhões de dólares) A. Robson/Arquivo da editora
700 670 700 675

600 600

500 500

400 400

300 300

200 182 200 170 157

100 88 74 68 100 82
41 40
44

00

EUsntiaãdoosEurUonipdeioas União Europeia China Japão Rússia
Brasil Unidos Canadá
China
Estados
Canadá
Indonésia

Adaptado de: ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Estadísticas del comercio internacional 2015.
Disponível em: <www.wto.org>. Acesso em: 6 abr. 2016.

Se há uma quebra na safra dos principais produtos a seguir, a participação das atividades agrícolas na
cultivados nos Estados Unidos, nos principais países economia desses países é reduzida.
da União Europeia ou no Brasil, por exemplo, os refle-
xos no comércio mundial e na cotação dos produtos Observe nos gráficos da página seguinte a distri-
são imediatos. Apesar disso, como mostra a tabela buição da safra mundial de produtos selecionados en-
tre os principais países produtores.

Participação da agricultura no Produto Nacional Bruto
em países selecionados – 2015

Países % do PNB

Burkina Fasso 38

Índia 16

Ucrânia 12

China 9

Brasil 6

Chile 3

Japão 1

Estados Unidos 1

Adaptado de: CIA. The World Factbook. Disponível em: <www.cia.gov>. Acesso em: 6 abr. 2016.

Organização da produção agropecuária 247

A China é o maior produtor mundial de alimentos. Observe que o país está entre as quatro primeiras colocações
em todos os gráficos.

Cana-de-açúcar – 2014 Arroz – 2014 Gráficos: A. Robson/Arquivo da editora

Produção (em milh›es de toneladas) Produção (em milh›es de toneladas)
500 250

464 206
400 200

300 292 157
150

200 100
70

100 93 50 52 44
32
50 48
35

00

Brasil China
Índia Índia
China Indonésia
Paquistão Bangladesh
México Vietnã
Colômbia Tailândia

Trigo – 2014 Milho – 2014

Produção (em milh›es de toneladas) Produção (em milh›es de toneladas)
150 400

126 361
120 350

94 300
90
250
60 59 55 215
38
200
30 29
150
0
100 79
50 33 23 20
0

China
Índia
Rússia
UnEisdtaosdos
França
Canadá
UnEisdtaosdos
China
Brasil
Argentina
Índia
México

Soja – 2014 Frango – 2014

Produção (em milh›es de toneladas) (em bilh›es de cabe•as)
120 5
4,5
108
100 4

86 3
80
2 1,9 1,9
60 53
1,3
40
1 0,9
20 12 10 9 0,7
0
0

UnEisdtaosdos
Brasil

Argentina
China
Índia

Paraguai
China

UnEisdtaosdos
Indonésia

Brasil
Irã

Índia

Plantação de cana-de-açúcar em Itambé (PE), 2015. Adaptados de: FAOSTAT. Disponível em: <www.fao.org>.
Acesso em: 7 abr. 2016.

Foto: Rubens Chaves/Pulsar Imagens

248

Quais são as cidades encontradas nas duas classificacoes especialmente entre as dez principais cidades globais?

R: As cidades encontradas em ambas classificações (dez principais) são: ● Londres ● Nova Iorque ● Paris ● Tóquio ● Cingapura Londres e Nova Iorque, por serem as duas cidades mais influentes, que mais polarizam os fluxos de pessoas, investimentos e informações (as principais comandantes da globalização), são encontradas ...

Quais são as 10 principais cidades globais?

Alfa: representa o grupo de cidades de maior destaque e influência no cenário global, com essas características temos um número seleto de 10 cidades: Londres, Paris, Frankfurt, Milão (européias), além de Nova York, Tóquio, Los Angeles, Chicago, Hong Kong e Cingapura.

Quais são as duas principais cidades globais do mundo?

As principais cidades mundiais são Nova York, Londres e Paris. No Brasil, existem duas: São Paulo e Rio de Janeiro. É importante lembrar que o número de habitantes não é importante para definir o nível de avanço econômico e para dizer se uma determinada região possui ou não uma cidade global.

Quais são as classificações das cidades globais?

As cidades globais são os principais centros econômicos do mundo. Elas são divididas em três níveis: Alfa, Beta e Gama.