Uma pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte) analisou 108 mil quilômetros de rodovias federais e estaduais e apontam que 59% do trecho apresenta problemas.
Conforme a pesquisa, o número de pontos críticos identificados aumentou 75,6% com relação à pesquisa do ano passado. Em 2018, de acordo com o estudo, havia 454 pontos críticos em rodovias, enquanto neste ano foi identificado 797.
Segundo a confederação, a pesquisa avalia as condições de toda malha federal pavimentada e dos principais trechos estaduais pavimentados. Em 2019, o estudo aconteceu durante 30 dias em todas regiões do país.
A pesquisa indica que 52,4% do techo analisado tem problemas no pavimento, 48,1% tem alguma complicação na sinalização e 76,3% tem problema na geometria da via. Todos indicadores pioraram em relação ao estudo do ano passado.
A pesquisa da CNT aponta ainda que, entre 2009 e 2019, houve um aumento de 80,8% da frota no país. A maior concentração está em rodovias da região Norte (aumento de 130,1%) e Nordeste (crescimento de 128,7%).
No total do país, de acordo com a CNT, há 10 anos existia um fluxo de 56 milhões de veículos nas rodovias, enquanto neste ano já passou a marca de 100 milhões de veículos.
A maior parte dos veículos que circulam em rodovias neste ano foram fabricados entre 2010 e 2014 (26,9% do total). Outros 20,1% dos veículos são de 2005 a 2009. Os mais novos, fabricados a partir de 2015, representam 14,4% da frota.
No último dia 24 de agosto a CNT (Confederação Nacional do Transporte), entidade máxima representativa do setor de transporte e logística nacional, divulgou um estudo técnico aprofundado sobra a infraestrutura rodoviária brasileira.
A proposta do estudo é mapear os principais problemas estruturais das rodovias brasileiras. Além disso, procura oferecer respostas à pergunta: “Por que os pavimentos das rodovias do Brasil não duram?”.
Há que se considerar que pelas rodovias nacionais trafegam cerca de 90% dos passageiros e 60% das cargas. Passageiros e cargas se submetem e pagam caro pela má condição das estradas.
A principal justificativa do estudo da CNT baseia-se no fato de que, apesar da vida útil estimada do pavimento asfáltico utilizado no País estar prevista para 8 a 12 anos, na prática, os problemas estruturais (buracos, ondulações, fissuras e trincas) já começam a aparecer, em alguns casos, apenas sete meses após a conclusão da rodovia.
Em decorrência desses problemas, a pesquisa aponta o aumento do custo operacional do transporte rodoviário de cargas em 24,9% em média. Apenas o uso excedente de combustível devido à má condição do pavimento foi estimado em 775 milhões de litros de diesel ao ano. Isso que acarreta para o transportador um dispêndio adicional de R$ 2,34 bilhões.
As conclusões do estudo sobre a infraestrutura rodoviária são notórias e impactantes. Apontam problemas relacionados à utilização de metodologias ultrapassadas nos projetos de engenharia das estradas, deficiências técnicas de execução, falhas no gerenciamento das obras, falta de fiscalização de tráfego e de manutenção das rodovias.
Projetos de infraestrutura rodoviária baseados em dimensionamento empírico e desatualizado
O estudo compara os métodos de dimensionamento de pavimentos para infraestrutura rodoviária adotado no Brasil com os métodos adotados em outros países, como Estados Unidos, Japão e Portugal. Neste quesito, verificou-se que o Brasil adota um método empírico e desatualizado. Ou seja, que não contempla a incorporação de novas técnicas e conhecimentos disponíveis, especificidades climáticas regionais, novos materiais, novos tipos de veículo e de composição do tráfego.
Tecnologias e processos construtivos inadequados
O estudo constata que a falta de qualidade da execução das obras figura como uma das variáveis que impactam a durabilidade do pavimento. O problema da infraestrutura rodoviária é decorrente da falta de técnica apurada por parte das empreiteiras. Agrava a situação a negligência com normas técnicas durante a execução das obras.
O documento aponta ainda que as obras de rodovias concessionadas tendem a ser executadas de modo tecnicamente melhor. Mais que isso, com gerência mais eficiente do que as públicas, considerando os interesses financeiros diretos das concessionárias.
Falta de manutenção e gerenciamento
Segundo o estudo, a falta de manutenção preventiva das estradas é uma das principais causas da degradação da infraestrutura rodoviária. Decorre da cultura nacional de falta de planejamento de manutenções e de orçamento inadequado ou não provisionado.
Fiscalização inadequada
O estudo detalha três momentos em que a falta de fiscalização adequada impacta a durabilidade do pavimento:
- Durante a execução do pavimento
- No recebimento da obra
- Durante a sua operação, cujo foco reside no controle de sobrepeso na rodovia.
Diante do quadro técnica e detalhadamente exposto, percebe-se o desnude de mais uma situação grave acerca das obras públicas do País.
Percebe-se também o descaso pelo zelo que deveria ser dado ao investimento em infraestrutura de transporte.
Este um dos pilares da competitividade de um País. Ignora-se também o custo econômico da falta de eficiência e na indisponibilidade final dessas obras, tal como este blog vem tratando há meses. O estudo prossegue apontando oportunidades de melhoria para os problemas identificados.
Justificativas infundadas
A crise econômica, a escassez de recursos financeiros atual e a falta de políticas públicas efetivas podem até ser usadas para justificar a redução momentânea de investimentos em infraestrutura rodoviária. Entretanto, não são motivos para acobertar o reconhecimento da ineficiência da gestão das obras rodoviárias no País.
Como receber, sem indignação e espanto, a situação retratada pelo estudo da CNT? Como ignorar as perdas potencialmente contabilizadas pelos problemas analisados, assim como, a obviedade profissional de suas soluções?
Alonso Mazini Soler, Doutor em Engenharia de Produção POLI/USP e Professor da Pós Graduação do Insper –