Quais os fatores podem interferir na absorção dos medicamentos?

A dieta influencia todos os estágios do ciclo da vida, fornecendo nutrientes necessários ao sustento do corpo humano. Alterações de ordem funcional e/ou estrutural, provocadas por doenças e infecções agudas ou crônicas, levam à utilização de medicamentos, cujo objetivo é restaurar a saúde. A via preferencial escolhida para a sua administração é a oral, entre outras razões, por sua comodidade e segurança. O fenômeno de interação fármaco-nutriente pode surgir antes ou durante a absorção gastrintestinal, durante a distribuição e armazenamento nos tecidos, no processo de biotransformação ou mesmo durante a excreção. Assim, é de importância fundamental conhecer os fármacos cuja velocidade de absorção e/ou quantidade absorvida podem ser afetadas na presença de alimentos, bem como aqueles que não são afetados. Por outro lado, muitos deles, incluindo antibióticos, antiácidos e laxativos podem causar má absorção de nutrientes. Portanto, o objetivo do presente artigo é apresentar uma revisão dos diversos aspectos envolvidos na interação fármaco-nutriente.

interação alimento-droga; farmacologia clínica; absorção; alimentos; medicamentos


Diet influences the whole life cycle, supplying nutrients required to maintain the human body. Functional and/or structural alterations, caused by diseases and acute or chronic infections, lead to the use of drugs in order to restore the health. The oral route is preferred for drug administration, owing to safety and convenience, among other reasons. The drug-nutrient interaction phenomenon can occur before or during gastrointestinal absorption, during distribution and storage in the tissues, in the biotransformation process, or even during excretion. Thus, to know the drugs whose rate of absorption and/or absorbed amount can be affected in the presence of food, as well as those that are not affected, is of fundamental importance. On the other hand, a number of commonly used drugs, including antibiotics, antacids and laxatives, can cause malabsorption of nutrients. Therefore, the objective of this article is to present a review of the several aspects involved in the drug-nutrient interaction.

food-drug interactions; clinical pharmacology; absorption; food; drugs


REVIEW

Interação fármaco-nutriente: uma revisão

Drug-nutrient interaction: a review

Mirian Ribeiro Leite MOURA11 Departamento de Produtos Naturais e Alimentos, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail:[email protected] de Ciência de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campinas. Caixa Postal 6121, 13083-970, Campinas, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: F.G.R.REYES. E-mail: [email protected]

Enfermeira. Prof� Assistente do Departamento de Enfermagem M�dico-Cir�rgica da Escola de Enfermagem da Universidade de S�o Paulo. Mestre em Farmacologia. E-mail [email protected]


RESUMO

O fen�meno das intera��es medicamentosas constitui na atualidade um dos temas mais importantes da farmacologia, para a pr�tica cl�nica dos profissionais da sa�de. O uso concomitante de v�rios medicamentos, enquanto estrat�gia terap�utica, e o crescente n�mero destes agentes no mercado s�o alguns dos fatores que contribuem para ampliar os efeitos ben�ficos da terapia, mas que tamb�m possibilitam a interfer�ncia m�tua de a��es farmacol�gicas podendo resultar em altera��es dos efeitos desejados. Este artigo, de revis�o, tem por objetivos rever os princ�pios farmacol�gicos relacionados aos mecanismos das intera��es medicamentosas; descrever as classes dos medicamentos interativos, os grupos de pacientes expostos ao risco e sugerir medidas pr�ticas para a equipe de enfermagem, no intuito de prevenir a ocorr�ncia de rea��es adversas decorrentes de intera��es fortuitas.

Palavras-chave: Intera��es de medicamentos. Administra��o de medicamentos. Enfermagem.


ABSTRACT

Nowadays drugs interactions constitute one the most important subjects of pharmacological for clinical practive of health professionals. The concomitant use of many drugs as therapeutic strategy and the growing number of agents available contribute to enlarge the benefical effects of therapy. Besides, these factors can also permit the mutual interference of pharmacological actions that result in alteractions of therapeutics effects. The aim of this article is to review the principles pharmacological related to the mechanisms of drugs interactions, to describe the types of interactive drugs; the groups of risk patients and to suggest specific nursing interventions aiming the prevention of occurrence of adverse reactions from accidental interactions.

Keywords:Drugs interactions. Administration of medications. Nursing.


INTRODU��O

advento de novos medicamentos combinado � pr�tica cl�nica da polifarm�cia tem ampliado a capacidade dos profissionais em atender as demandas dos pacientes nos processos m�rbidos, seja no �mbito hospitalar ou domicili�rio.

No mercado nacional existem atualmente cerca de 1.500 f�rmacos com aproximadamente 5.000 nomes comerciais, apresentados sob cerca de 20.000 formas farmac�uticas e embalagens diferentes6 . Neste universo, ao contr�rio do que se pensa, a utiliza��o de v�rios e novos medicamentos n�o garante maior benef�cio ao paciente, pois junto com as vantagens das possibilidades terap�uticas surge o risco dos efeitos indesejados e das intera��es medicamentosas.

A prescri��o simult�nea de v�rios medicamentos e a subseq�ente administra��o � uma pr�tica comumente utilizada em esquemas terap�uticos cl�ssicos, com a finalidade de melhorar a efic�cia dos medicamentos, reduzir a toxicidade, ou tratar doen�as co-existentes 16,17,27,29 Tal estrat�gia denominada polifarm�cia merece aten��o especial, pois medicamentos s�o subst�ncias qu�micas que podem interagir entre si, com nutrientes ou agentes qu�micos ambientais e desencadear respostas indesejadas ou iatrog�nicas 17,18, 23, 25, 28,29

Neste contexto � fundamental a reflex�o dos enfermeiros a respeito da execu��o da prescri��o m�dica que �, invariavelmente, cumprida em hor�rios pr�-estabelecidos em quase todos os lugares, de acordo com MENGARDO e OGUISSO15 "como um sistema de distribui��o funcional de tarefas" para a equipe de enfermagem, n�o considerando as caracter�sticas dos medicamentos e principalmente as possibilidades de intera��es medicamentosas.

A rotina da medica��o ocupa, desta forma, posi��o estrat�gica na precipita��o de intera��es. Ironicamente, a maioria da literatura relativa ao assunto � direcionada aos m�dicos e farmac�uticos, cujo foco principal de discuss�o � o medicamento, pouco ou raramente discorrendo sobre o processo da administra��o do medicamento e a import�ncia da equipe de enfermagem.

Este artigo rev� os princ�pios farmacol�gicos relacionados aos mecanismos das intera��es medicamentosas; descreve as classes dos medicamentos interativos, os pacientes de risco e sugere medidas pr�ticas para a administra��o de medicamentos. A autora acredita que conhecendo estes elementos, os enfermeiros possam examinar seu trabalho cotidiano e interferir na rotina da medica��o, no intuito de prevenir a ocorr�ncia de rea��es adversas decorrentes de intera��es medicamentosas fortuitas.

INTERA��ES MEDICAMENTOSAS

1 DEFINI��O

Intera��es medicamentosas s�o tipos especiais de respostas farmacol�gicas, em que os efeitos de um ou mais medicamentos s�o alterados pela administra��o simult�nea ou anterior de outros, ou atrav�s da administra��o concorrente com alimentos 7,9,13,17.

As respostas decorrentes da intera��o podem acarretar potencializa��o do efeito terap�utico, redu��o da efic�cia, aparecimento de rea��es adversas com distintos graus de gravidade ou ainda, n�o causar nenhuma modifica��o no efeito desejado do medicamento 17,25, Portanto, a intera��o entre medicamentos pode ser �til (ben�fica), causar respostas desfavor�veis n�o previstas no regime terap�utico (adversa), ou apresentar pequeno significado clinico.

As intera��es ben�ficas s�o abordagens terap�uticas fundamentais em diversas patologias. No tratamento da hipertens�o arterial severa a combina��o de medicamentos com mecanismos de a��o diferentes promove a redu��o mais eficiente da press�o sangu�nea11,16 ; na quimioterapia antineopl�sica a associa��o de antagonistas serotonin�rgicos e dopamin�rgicos est� recomendada para minimizar o quadro de n�usea e v�mito 4, na seda��o a associa��o de hipn�ticos, analg�sicos e bloqueadores neuromusculares � necess�ria para manuten��o do estado anest�sico completo 27.

Em contrapartida as intera��es adversas podem acentuar os efeitos indesejados dos medicamentos, acarretar inefic�cia terap�utica e colocar em risco a vida do paciente2,7,16,17,23. A associa��o de aminoglicos�deos e bloqueadores neuromusculares pode desencadear paralisia respirat�ria 21 ; a co-administra��o de �lcool e barbit�ricos pode conduzir o paciente ao estado de coma17 . Estas intera��es que ocorrem, normalmente, de modo ocasional ou fortuito tendem a aumentar o tempo de hospitaliza��o, elevar o custo do tratamento e causar maior morbidade ao indiv�duo.

A intera��o medicamentosa �, desta forma, uma das vari�veis que afeta o resultado terap�utico e quanto maior o n�mero de medicamentos que o paciente recebe, maior a possibilidade de ocorr�ncia. A freq��ncia das intera��es clinicamente importantes (ben�ficas ou adversas) � desconhecida. Estima-se que para usu�rios de 2 a 3 medicamentos o percentual seja de 3 a 5% 21 , nos que utilizam de 10 a 20 agentes eleve-se para 20% 7,16

Na pr�tica a quest�o das intera��es medicamentosas � complexa, pois al�m das in�meras possibilidades te�ricas de interfer�ncia entre os medicamentos, fatores relacionados ao indiv�duo (idade, constitui��o gen�tica, estado fisio-patol�gico, tipo de alimenta��o) e a administra��o do medicamento (dose, via, intervalo e seq��ncia da administra��o) influenciam na resposta do tratamento 7,13,16,17,23

2 MECANISMOS DAS INTERA��ES MEDICA­MENTOSAS

Os medicamentos podem interagir durante o preparo; no momento da absor��o, distribui��o, metaboliza��o, elimina��o ou na liga��o ao receptor farmacol�gico. Desta forma, os mecanismos envolvidos no processo interativo s�o classificados de acordo com o tipo predominante de fase farmacol�gica em que ocorrem, farmac�utica, farmacocin�tica e farmacodin�mica 9,16,17,18,20,26,27,29.

2.1 Intera��o Farmac�utica (ou Incompatibilidade)

S�o intera��es do tipo f�sico-qu�micas que ocorrem quando dois ou mais medicamentos s�o administrados na mesma solu��o ou misturados no mesmo recipiente e o produto obtido � capaz de inviabilizar a terap�utica cl�nica. Portanto, acontecem fora do organismo, durante o preparo e administra��o dos medicamentos parenterais (incompatibilidade entre os agentes misturados ou com o veiculo adicionado) e freq�entemente resultam em precipita��o ou turva��o da solu��o; mudan�a de colora��o do medicamento ou inativa��o do princ�pio ativo 4,7,9,17,26,27

H�bitos tradicionais da enfermagem como administra��o de v�rios medicamentos nos mesmos hor�rios; associa��o de subst�ncias na mesma solu��o ou recipiente; adapta��o de dispositivos com m�ltiplas vias (extens�es em Y, "torneirinhas") para infus�o de v�rios agentes em cat�teres (perif�rico ou central) de via �nica; exposi��o da solu��o de nitroprussiato a luminosidade s�o alguns dos fatores que contribuem para a ocorr�ncia de incompatibilidades 4,14,24 Atualmente sabe-se que medicamentos como a nitroglicerina, a amiodarona, a nimodipina podem aderir a parede do envase (frasco) de cloridrato de polivinila (PVC) e reduzir a biodisponibilidade do principio ativo 8, 24 . Assim, neste tipo particular de intera��o a equipe de enfermagem possui com certeza um papel importante no sentido de prevenir essas situa��es e evitar ou minimizar as ocorr�ncias indesej�veis durante o procedimento.

No cotidiano os medicamentos que requerem infus�o cont�nua s�o os mais suscet�veis �s intera��es farmac�uticas, especialmente na vig�ncia da administra��o concomitante com outros agentes em cateteres venosos de via �nica 8,13,24 0 apresenta como exemplo da intera��o farmac�utica alguns medicamentos de infus�o venosa.

Quais os fatores podem interferir na absorção dos medicamentos?

2.2 Intera��o Farmacocin�tica

As intera��es deste tipo interferem no perfil farmacocin�tico do medicamento, podendo afetar o padr�o de absor��o, distribui��o, metaboliza��o ou excre��o. S�o intera��es dif�ceis de prever, porque ocorrem com medicamentos de princ�pios ativos n�o relacionados. Modificam a magnitude e dura��o do efeito, mas a resposta final do medicamento � preservada7,9,13,15,17,18,20,25,29

2.2.1 Intera��es que modificam a absor��o

Absor��o � o processo de transfer�ncia do medicamento do local de administra��o para a corrente sang��nea. Fatores como o fluxo sang��neo do trato gastrointestinal (TGI), pH, motilidade, dieta e presen�a de outras subst�ncias e o tipo de formula��o farmac�utica interferem nesse evento2,8,17,24.

Medicamentos com a��es anticolin�rgicas como a atropina e seus derivados, os antidepressivos tric�clicos, os analg�sicos opi�ides que inibem a motilidade do TGI tendem a reduzir a absor��o dos agentes co-administrados. O retardo da absor��o de medicamentos pode representar uma situa��o clinica indesej�vel, especialmente na vig�ncia de sintomas agudos como por exemplo, a dor. Por outro lado, os laxativos, os antagonistas dopamin�rgicos como a metoclopramida, a domperidona e o haloperidol tendem a aumentar a absor��o de outros medicamentos, porque aceleram o tr�nsito do TGI 7,8,9,15,17,20,24

A administra��o de anti�cidos com outros medicamentos � bastante controversa. Estes agentes alteram o pH g�strico e podem aumentar ou diminuir a absor��o dependendo do tipo do anti�cido (alum�nio - Al, magn�sio - Mg, c�lcio - Ca ou hidr�xido) e do medicamento associado 7,13,14,15,24 O exemplifica algumas associa��es entre anti�cidos e medicamentos co-administrados e as respectivos efeitos.

Quais os fatores podem interferir na absorção dos medicamentos?

2.2.2 Intera��es que modificam a distribui��o

Distribui��o � o evento de deslocamento do medicamento da circula��o sist�mica para os tecidos. Esta fase depende do Volume de distribui��o aparente (Vd) e da fra��o de liga��o dos medicamentos �s prote�nas plasm�ticas. Medicamentos que possuem grande afinidade pelas prote�nas plasm�ticas quando associados com outros, podem agir como deslocadores e aumentar a concentra��o s�rica (livre) do segundo, acarretando manifesta��es cl�nicas nem sempre ben�ficas. Por exemplo, a aspirina e a fenilbutazona quando administradas de modo concomitante com o warfarin, elevam a concentra��o s�rica do anticoagulante e o potencial hemorr�gico 3,12,15,17,18,20

2.2.3 Intera��es que modificam a metaboliza��o

No processo de metaboliza��o os medicamentos s�o transformados pelas enzimas microssomais hep�ticas em fra��es menores, hidrossol�veis. As intera��es que ocorrem nesta fase s�o precipitadas por medicamentos com capacidade de inibirem ou induzirem o sistema enzim�tico.

A inibi��o enzim�tica de sistemas como, por exemplo, do citocromo P450, das colinesterases e monoaminoxidases (MAO), acarreta lentifica��o da biotransforma��o do pr�prio medicamento e de outros que tenham sido administrados simultaneamente. A conseq��ncia desse atraso � um maior tempo de a��o farmacol�gica do (s) agente(s), situa��o �s vezes indesejada, especialmente em doentes com dist�rbio hep�tico ou renal 5,9,10,13,29 . O aponta efeitos farmacol�gicos (poss�veis) de intera��es adversas entre inibidores enzim�ticos e alguns medicamentos 5,7,9,13,17

Quais os fatores podem interferir na absorção dos medicamentos?

A classe dos indutores enzim�ticos � representada por aproximadamente 200 subst�ncias, incluindo inseticidas halogenados e clorados, alcatr�es da fuma�a do cigarro, medicamentos, todos com capacidade de aumentarem a metaboliza��o de outros agentes e reduzirem os n�veis plasm�ticos. Os indutores mais utilizados na terap�utica s�o os barbit�ricos (fenobarbital), os corticoster�ides (cortisona, prednisona), a carbamazepina, a fenito�na, a rifampicina, entre outros. Algumas associa��es com indutores podem gerar s�rios problemas, por exemplo, o risco de gravidez em mulheres que recebem simultaneamente a fenito�na e contraceptivo oral 19,10,13,15,17,20.

A indu��o � um processo lento (7-10 dias), dai a import�ncia dos reajustes de dosagens na vig�ncia da administra��o cr�nica dos agentes, para garantir efic�cia terap�utica.

2.2.4 Intera��es que modificam a excre��o

A maioria dos medicamentos � eliminada quase que totalmente pelos rins. Desta forma, a taxa de excre��o de v�rios agentes pode ser modificada atrav�s de intera��es ao longo do n�fron. As altera��es do pH urin�rio interferem no grau de ioniza��o de bases e �cidos fracos afetando as respostas farmacol�gicas, por exemplo, o bicarbonato de s�dio � utilizado para aumentar a excre��o de �cidos fracos em casos de intoxica��o por barbit�ricos 9,12,16,17,20

A competi��o de medicamentos no t�bulo proximal pela secre��o tubular � outro mecanismo utilizado, como estrat�gia farmacol�gica, para prolongar o tempo de a��o dos medicamentos, isto acontece com a probenecida e a penicilina, quando a primeira inibe a secre��o da segunda e eleva o tempo de a��o do antibi�tico 16,17,20

2.3 Intera��o Farmacodin�mica

A intera��o farmacodin�mica causa modifica��o do efeito bioqu�mico ou fisiol�gico do medicamento. Geralmente ocorre no local de a��o dos medicamentos (receptores farmacol�gicos) ou atrav�s de mecanismos bioqu�micos espec�ficos, sendo capaz de causar efeitos semelhantes (sinergismo) ou opostos (antagonismo) 7,9,13,16,17,20

2.3.1 Sinergismo

Sinergismo � um tipo de resposta farmacol�gicaobtida a partir da associa��o de dois ou maismedicamentos, cuja resultante � maior do que simplessoma dos efeitos isolados de cada um deles. O sinergismo pode ocorrer com medicamentos quepossuem os mesmos mecanismos de a��o (aditivo); que agem por diferentes modos (soma��o) ou com aqueles que atuam em diferentes receptores farmacol�gicos (potencializa��o). Das associa��es sin�rgicas podemsurgir efeitos terap�uticos ou t�xicos16,17,24. Estes �ltimos s�o freq�entes nas combina��es demedicamentos com toxicidade nos mesmos org�os, porexemplo, aminoglicos�deo e vancomicina (nefroto­xicidade) ou corticoster�ides e antiinfla-mat�rios n�o­esteroidais (ulcera��o g�strica)7,8,17,24 O apresenta exemplos de sinergismo e os respectivos efeitos, nas associa��es cl�ssicas (analg�sicos eadjuvantes) utilizadas no tratamento anti�lgico, com o objetivo de maximizar a efic�cia terap�utica.

Quais os fatores podem interferir na absorção dos medicamentos?

2.3.2 Antagonismo

No antagonismo a resposta farmacol�gica de um medicamento � suprimida ou reduzida na presen�a de outro, muitas vezes pela competi��o destes pelo mesmo s�tio receptor. S�o tipos de intera��es que podem gerar respostas ben�ficas, por exemplo, no caso da utiliza��o do naloxone (antagonista opi�ide) nos quadros de depress�o respirat�ria causados pela morfina, ou acarretar inefic�cia do tratamento, por exemplo, no caso da associa��o indevida entre o propranolol (bloqueador de receptores b) e do salbutamol (agonistas de receptores b) 16,17,20

3 GRUPOS DE RISCO

Na pr�tica todos os indiv�duos submetidos a terapia farmacol�gica com dois ou mais medicamentos est�o expostos aos efeitos das intera��es adversas, mas determinados grupos s�o certamente mais suscet�veis, por exemplo, os idosos, os portadores de doen�as cr�nicas, os usu�rios de dispositivos para infus�o de medicamentos intravenosos ou de sonda enteral.

Nos idosos a degenera��o dos sistemas org�nicos, o excesso de medicamentos prescritos, o tempo de tratamento, a pr�tica da automedica��o e os in�meros dist�rbios de �rg�os ou sistemas respons�veis pela farmacocin�tica dos medicamentos s�o alguns dos itens que ampliam a possibilidade de intera��es adversas 1,12,20, 22

Os portadores de doen�as cr�nicas como cardiopatias, hepatopatias, nefropatias; os com afec��es que acometem o sistema imunol�gico tais como c�ncer, s�ndrome da imunodefici�ncia adquirida, l�pus, artrite reumat�ide ou que s�o submetidos � terapia com agentes imunossupressores (corticoster�ides, quimioter�picos antineopl�sicos, modificadores de respostas biol�gicas, entre outros) s�o expostos a protocolos de tratamento com m�ltiplos medicamentos e por tempo prolongado, fatores importantes, que quando combinados podem precipitar rea��es indesej�veis e agravar o quadro fisiopatol�gico j� instalado.

Os usu�rios de cateteres venosos centrais e os de sonda para dieta enteral s�o freq�entemente portadores de dist�rbios do sistema digest�rio capazes de afetar o movimento e aproveitamento das mol�culas dos medicamentos no organismo.

Nos pacientes de unidades de terapia intensiva a infus�o cont�nua de medicamentos vasoativos e a administra��o intermitente de outros (antibi�ticos, analg�sicos, ansiol�ticos, antiem�ticos) s�o comuns e necess�rias, em contrapartida, s�o situa��es potenciais para ocorr�ncia de intera��es adversas, especialmente quando cuidados em rela��o � compatibilidade entre os medicamentos e os intervalos de administra��o entre eles n�o s�o considerados 4,25,18.

A macera��o de comprimidos ou dr�geas, como forma de administra��o dos medicamentos pela sonda enteral pode facilitar a associa��o de agentes n�o compat�veis entre si, causando rea��es indesejadas. Al�m disto, os nutrientes da dieta podem interferir na a��o dos medicamentos28 e acarretar danos no paciente, por exemplo, crise hipertensiva observada na administra��o concorrente de derivados do leite e procarbazina 7.

4 CLASSES DE MEDICAMENTOS POTEN­CIALMENTE INTERATIVOS

Na pr�tica as decis�es terap�uticas raramente enxergam as intera��es medicamentosas, particu­larmente �s fortuitas, como um fator iatrog�nico ou respons�vel pela inefic�cia. Na verdade esta preocupa��o tende a ser, no dia-a-dia, mais um agente complicador do que facilitador, desta forma, a literatura mostra que � poss�vel predizer quais s�o as classes ou medicamentos potencialmente interativos9,3 , para auxiliar m�dicos na dif�cil tarefa de prescrever e a enfermagem na execu��o da polifarm�cia proposta.

Os medicamentos precipitadores, como o pr�prio nome diz, s�o capazes de arremessar outros agentes para fora do local de a��o original e assim afetar o efeito farmacol�gico desejado. Compreendem este grupo os indutores e inibidores enzim�ticos (); os que s�o altamente ligados �s prote�nas plasm�ticas, por exemplo, a aspirina, a fenilbutazona e as sulfonamidas e os que alteram a fun��o renal, por exemplo, a furosemida e a probenecida 9,16,17

Quais os fatores podem interferir na absorção dos medicamentos?

Os medicamentos alvo, tamb�m denominados objeto, s�o aqueles que possuem curva dose-resposta com inclina��o abrupta, cuja altera��o na dose (mesmo que pequena) causa grande modifica��o no efeito.

Nestes casos a intera��o freq�entemente resulta na diminui��o da efic�cia terap�utica do medicamento objeto. Entretanto, para aqueles medicamentos dotados de estreito �ndice terap�utico, as intera��es produzem amplia��o da toxicidade. S�o exemplos destes medicamentos os antibi�ticos aminoglicos�deos, os antiarr�tmicos, os anticoagulantes, os anticon­vulsivantes, os anti-hipertensivos, os glicos�deos card�acos, os hipoglicemiantes, os quimioter�picos antineopl�sicos e alguns imunossupressores, por exemplo a zidovudina (AZT) 9,13

5 MEDIDAS PR�TICAS PARA A EQUIPE DE ENFERMAGEM

No exerc�cio di�rio da enfermagem, apesar da exist�ncia de rotinas institucionalizadas em rela��o �s medica��es, pode-se e deve-se interferir na forma como a assist�ncia � realizada para que al�m de prevenir as intera��es medicamentosas adversas possa-se assegurar uma pr�tica contextualizada na ci�ncia.

Existem situa��es e atividades relacionadas � equipe de enfermagem que precisam ser repensadas e talvez renovadas. O planejamento dos hor�rios de administra��o dos medicamentos na prescri��o m�dica e os intervalos entre os medicamentos s�o exemplos dessas situa��es.

A seguir s�o listadas medidas de ordem pr�tica com a finalidade de contribuir na preven��o de rea��es adversas decorrentes de intera��es.

A - Nas infus�es parenterais

• evitar colocar nos mesmos hor�rios de administra��o v�rios medicamentos intravenosos;

• evitar misturar medicamentos na mesma solu��o ou no mesmo recipiente;

• evitar administrar nos mesmos hor�rios medicamentos que possuem os mesmos efeitos t�xicos (Ex: Aminoglicos�deos e Anfotericina B);

• usar vias de infus�o diferentes na vig�ncia de associa��o de medicamentos de compatibilidade desconhecida ou duvidosa;

• usar sempre que poss�vel a administra��o em "bolus";

• observar altera��es vis�veis quando da reconstitui��o e dilui��o de medicamentos (turva��o, precipita��o, mudan�a de colora��o);

• lavar os dispositivos de infus�o com solu��es neutras, se houver necessidade de administra��o de v�rios medicamentos na mesma via de acesso vascular;

• elaborar um guia de incompatibilidades medicamentosas com os agentes mais utilizados no servi�o e manter em local de f�cil acesso;

• o farmac�utico sempre que houver d�vidas em rela��o os efeitos indesejados ou compatibilidade dos medicamentos;

B - Na administra��o de medicamentos via enteral

• evitar colocar nos mesmos hor�rios de administra��o v�rios medicamentos via enteral;

• evitar a administra��o simult�nea de v�rios comprimidos (via oral ou sonda enteral);

• obedecer o intervalo de aproximadamente 2 horas na administra��o de anti�cidos e outros medicamentos;

• utilizar sempre o mesmo ve�culo (leite, suco de frutas, �gua) na administra��o de medicamentos que sofrem altera��o de biodisponibilidade (Ex: ciclosporina solu��o);

• evitar associar grupos de "medicamentos-alvo" e "precipitadores" nos mesmos hor�rios de administra��o.

6 CONSIDERA��O FINAL

� importante lembrar que as fontes de informa��es sobre o assunto podem ser acessadas atrav�s de comp�ndios dispon�veis em bibliotecas especializadas, programas de computador, como os j� existentes no mercado nacional, ou por meio de farmac�uticos cl�nicos. Entretanto, cabe ressaltar que tamb�m os servi�os como hospitais, cl�nicas, empresas de atendimento domicili�rio devem ter o compromisso de colocarem � disposi��o dos profissionais um sistema de informa��es que permita uma pr�tica segura.

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Quais são os fatores que interferem na absorção de medicamentos?

Alguns fatores influenciam a absorção, tais como: características físico- quimicas da droga, veículo utilizado na formulação, perfusão sangüínea no local de absorção, área de absorção à qual o fármaco é exposto, via de administração, forma farmacêutica, entre outros.

Quais os fatores que podem interferir na farmacocinética?

Fatores que alteram o metabolismo.
Genéticos;.
Idade;.
Diferenças individuais;.
Fatores ambientais (fumar);.
Propriedades químicas dos fármacos;.
Via de administração..
Dosagem;.

O que a forma farmacêutica interfere na absorção?

A forma farmacêutica influencia na absorção e interfere diretamente na biodisponibilidade, a suspensão geralmente é utilizada para fármacos insolúveis ou poucos solúveis. A absorção é a transferência do fármaco do local de administração para a corrente sanguínea.

Que substâncias podem interferir na ação de um medicamento?

Interação medicamentosa.
Inibidores da bomba de prótons e benzodiazepínicos. ... .
Síndrome serotoninérgica. ... .
Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) e clorpromazina. ... .
Penicilinas + probenecida. ... .
Varfarina e antidepressivos. ... .
Interações com cetoconazol. ... .
O fitoterápico Ginkgo biloba..