13. Muro de Berlim dividiu ruas ao meio
Por conta da divisão estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, alguns limites das zonas de ocupação terminavam literalmente no meio da rua. Ou seja: um lado da calçada era ocupado por uma força; o outro, por outra.
Com a construção do Muro, vizinhos foram, de repente, separados e impedidos de atravessar de um lado para outro.
O caso da rua Bernau, no bairro de Prenzlauer Berg, foi um dos mais notáveis: ela foi simplesmente partida ao meio. Em resumo: não era possível nem atravessar a rua.
Atualmente, no local, há um memorial do Muro.
14. Como ficou o metrô com o Muro de Berlim?
Além de todos os problemas inerentes à divisão repentina de uma cidade, situações curiosas acabaram sendo criadas. Como dividir o metrô, por exemplo? Havia linhas que saíam de Berlim Ocidental, entravam na RDA e voltavam para o setor dos outros aliados.
A solução foi fechar as estações de Berlim Oriental sem interromper o tráfego de trens, o que provocou o surgimento de "estações fantasma" (Geisterbanhöfe). O trem vinha de Berlim Ocidental, entrava na parte oriental pelo túnel e era proibido de parar nas estações, voltando a desembarcar passageiros somente quando estivesse de novo do lado ocidental.
As Geisterbanhöfe eram fortemente vigiadas com armas e protegidas até quanto a uma possível fuga dos guardas que cuidavam do local.
Algumas estações foram simplesmente muradas por dentro.
15. Muro cercou bairros e criou “ilhas” capitalistas na Alemanha Oriental
A divisão entre as potências ocidentais e os soviéticos não se restringiu ao meio da cidade. Bairros mais afastados sob domínio dos países capitalistas foram praticamente cercados pelo Muro e viraram ilhas dentro do território oriental. No total, foram criados 12 exclaves.
Um desses lugares é um pacato bairro chamado Steinstücken (do alemão “pedaços de pedra”), onde hoje não moram mais do que 300 pessoas. Após uma troca de terras entre as duas Alemanhas, foi aberta uma estradinha que ligava a região a Berlim Ocidental – devidamente margeada pelo Muro.
16. Número de mortos tentando atravessar o Muro até hoje é incerto
Até hoje, pesquisadores não conseguem fechar um número preciso de quantas pessoas tentaram atravessar o Muro e morreram. Esse índice costumava causar constrangimento para a RDA no mundo.
Uma pesquisa da Universidade de Potsdam, em 2011, fala, no entanto, em 136 mortes causadas por tiros disparados por guardas da fronteira. Só que esse total já foi revisto: dois anos depois, o número subiu para 138.
O caso mais famoso é o do jovem Peter Fechter, que tentou atravessar o Muro aos 18 anos, em agosto de 1962, junto a um amigo. Na hora em que os dois subiam a primeira barreira de arame farpado, os guardas começaram a atirar. Fechter foi baleado em uma artéria da perna e ficou sangrando e pedindo por ajuda até morrer. Ninguém, nem do lado ocidental, nem do oriental, foi ajudá-lo. Uma hora depois, o jovem faleceu e foi “recolhido”.
O constrangimento provocado pelo caso – fartamente fotografado – fez com que a RDA enfrentasse protestos e mudasse as regras, autorizando “atendimento imediato” em casos semelhantes.
17. Como se chamava o Muro de Berlim na Alemanha Oriental?
O nome usado na Alemanha Oriental para o Muro de Berlim era Barreira de Proteção Antifascista (sim, em alemão fica bem grande também: Antifaschistischer Schutzwall).
18. O Muro não era só um muro, mas pelo menos dois
Com o passar dos anos, o Muro foi se sofisticando. Quando ele caiu, havia, pelo menos:
- um muro de contenção
- duas cercas
- uma barreira antiveículos
- arames farpados
- torres de observação.
Essa área entre os muros ficou conhecida como “faixa da morte”: o objetivo era dificultar ao máximo a passagem para o outro lado. Hoje, uma boa parte dessa faixa é um parque - o parque do Muro (Mauerpark), cujo mercado de pulgas e caraoquês de domingo são famosos entre os turistas.
19. O que explica a queda do Muro de Berlim?
A Alemanha Oriental entrou nos anos 1980 ainda como grande potência do bloco socialista, mas com a economia desandando. Junte-se a isso uma onda de desmantelamento promovida por outros governos do bloco - notadamente na Polônia e na Hungria - e podem-se ter algumas razões para o fim da RDA.
Autoridades econômicas da própria Alemanha Oriental afirmavam que, em 1989, se não houvesse uma mudança econômica no país, a RDA talvez não conseguisse fechar as contas do ano.
20. Um piquenique na Hungria tirou o primeiro tijolo do Muro de Berlim
Em agosto de 1989, Áustria e Hungria fizeram um piquenique exatamente na fronteira entre os dois países. Foi a oportunidade para que vários alemães orientais passassem para o lado ocidental. Conheça mais sobre essa história aqui.
21. Queda do Muro começou com um anúncio errado
Em 9 de novembro de 1989, o governo da RDA recém empossado (com Egon Krenz no lugar de Erich Honecker no comando do país) tentava controlar seguidas manifestações populares. Em uma coletiva de imprensa, o então porta-voz do governo, Günter Schabowski, começou a ler um pedaço de papel que havia recebido pouco antes, com uma nova regra de viagens que havia sido decidida pelas autoridades do país pouco antes: qualquer cidadão poderia pedir autorização para atravessar a fronteira no posto de controle, e ela seria concedida ali mesmo.
Até então, era necessária uma longa burocracia para ir à Alemanha Ocidental, o que também despertava muita desconfiança da Stasi, a polícia secreta alemã-oriental.
O anúncio, até aí, estava correto. Ato contínuo, os jornalistas, confusos e surpresos com a declaração, pressionaram o porta-voz, questionando "a partir de quando" a medida valeria.
Schabowski olha para o papel, frente e verso. Nenhuma instrução. Ele baixa os óculos e diz uma frase que entrou para a história: "De acordo com minhas informações, agora, de imediato" („Das trifft nach meiner Kenntnis ist das sofort, unverzüglich“).
A questão é que a medida só valeria a partir do dia seguinte — o que Schabowski não sabia. Mas o que o levou a dizer que ela estaria em vigor a partir daquele instante? Segundo pesquisadores, a força do hábito: era comum que anúncios entrassem em vigência da RDA no momento do anúncio. Ou seja: Schabowski só seguiu o que fazia de costume.
O historiador Frederick Taylor conta que o anúncio foi tão chocante que os jornalistas precisaram até fazer uma pausa para um café a fim de tentar entender o que estava acontecendo.
Os jornalistas até não sabiam o que fazer, mas a população entendeu bem o que estava acontecendo. Uma multidão se dirigiu aos postos de controle de Berlim antes mesmo do fim da entrevista coletiva, solicitando passagem.
Sem conseguir segurar o público, os guardas liberaram a passagem. Era o fim do Muro.
22. A queda pegou todo mundo de surpresa
Por mais que uma série de protestos já tomasse a Alemanha Oriental (em especial nas cidades de Berlim Oriental e Leipzig), não se acreditava que a RDA fosse abrir suas fronteiras.
No dia da queda, o chanceler da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl, nem em Bonn estava: o político participava de um jantar com o novo governo da Polônia em Varsóvia. Informado da situação, interrompeu o banquete e correu para a Alemanha.
Nos EUA, o então presidente George Bush também foi surpreendido pela notícia.
23. Muro dos anos 2000 teria barreiras de micro-ondas e sensores sísmicos
O governo da Alemanha Oriental acreditava que o Muro iria durar ainda muito tempo. Por isso, sempre tentava melhorá-lo. No começo de 1989, Berlim Oriental começou a estudar avanços tecnológicos para a construção, como barreiras de micro-ondas e sensores sísmicos que detectariam movimentos. A ideia era tornar o Muro mais “humano” e diminuir os casos fatais entre os que tentavam atravessar o obstáculo.
24. O Muro ainda existe - mas na cabeça das pessoas
A Alemanha virou um só país em 1990, mas, até hoje, sente os efeitos da reunificação, em um processo que envolveu a transferência da capital de Berlim pra Bonn. O que foi então comemorado, hoje, provoca sentimentos de nostalgia entre os antigos moradores de cada um dos lados, criando uma espécie de “muro virtual”: seja nos estilos de construção dos bairros (o modelo socialista domina a paisagem das cidades a leste), seja nos hábitos das pessoas. Isso abriu margem para um preconceito de ambos os lados: os “Ossis” (ao alemão Ost, “leste”) reclamam dos “Wessis” (de West, "oeste"), que reclamam dos “Ossis”.
25. Nas comemorações dos 25 anos da querda, Muro foi “reerguido”
Em 2014, a Alemanha lembrou os 25 anos do fim do Muro com diversos eventos, mas o ápice foi no dia 7 de novembro: a barreira foi “reconstruída” com balões de luz. A instalação percorreu 15 km do trajeto onde ficava o Muro. Veja aqui como ficou.