Diante de consumidores cada vez mais antenados e da ampla oferta de produtos no mercado, além da funcionalidade e de um design atrativo, a informação nos rótulos das embalagens passa a ser também um fator chave para a decisão de compra.
A embalagem é um dos elementos de conexão com o produto e por isso é muito importante na construção da relação entre produtor e o consumidor final. Atrair o comprador pode ser apontado como um dos principais objetivos do produtor na hora de confeccionar a sua embalagem.
Nesse sentido, a indústria utiliza esses recursos de forma a agregar valor e com a mesma força induzir o consumidor na tomada de decisão. Por esse mesmo motivo, o cliente também precisa estar atento à que tipo de informação é veiculada, seja no café ou em qualquer outro tipo de produto.
O QUE DIZ A LEI
No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078-90), no Art. 31, determina
“A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, […} sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, […], bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”.
Tratando-se de Informações sobre alimentos e bebidas, o rótulo da embalagem merece atenção especial, sendo a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o órgão regulamentador sobre essas informações.
A Resolução RDC nº 259 /2002, determina que algumas informações são obrigatórias nos rótulos, tais como:
- Denominação de venda (o nome do produto)
- Lista de Ingredientes (exceto quando seja de um único ingrediente, como café, açúcar etc.)
- Conteúdos Líquidos (peso ou volume)
- Identificação de Origem (Razão Social e endereço completo do produtor e do distribuidor, e país de origem)
- Identificação do Importador (quando for o caso)
- Identificação do lote (que no caso do Café, pode ser a data de torra)
- Prazo de validade
- Instruções sobre o preparo e uso do alimento, quando necessário.
- Modo de conservação do produto
Além disso, a lei 10674/2003 diz que todos os alimentos industrializados deverão conter em seu rótulo e bula, obrigatoriamente, as inscrições “contém Glúten” ou “não contém Glúten”, conforme o caso.
O glúten é uma proteína presente em grãos como trigo, cevada, aveia, e a informação nos rótulos tornou-se obrigatória para a proteção dos portadores de doença celíaca.
Naturalmente o café é isento de glúten, mas há que se ter atenção e informar no rótulo caso haja possibilidade de contaminação cruzada com algum dos alimentos fontes de glúten durante a cadeia produtiva, pelo compartilhamento de maquinário ou até o mesmo ambiente de armazenamento. A mesma responsabilidade deve considerar o possível contato com alimentos alergênicos , que também deverão ser informados.
Descumprir essas regulamentações nos rótulos implica em advertências, autuações e até mesmo recolhimento dos produtos, prejudicando assim a imagem do produtor e do comercializador.
O QUE É PRATICADO NAS EMBALAGENS DE CAFÉS
Especificamente nas embalagens de cafés, dentre eles os Cafés Especiais, além do que é imposto pela ANVISA, algumas informações são significativas, tanto para a valorização do produto como para auxiliar na decisão de compra do consumidor.
Alguns selos e certificações da indústria (ABIC, BSCA, UTZ, Biodinâmicos, Orgânicos, Denominação de origem, premiações etc.) são utilizados também como informativos sobre a qualidade do café e colaboram para a credibilidade da marca.
INFORMAR SIM, CONFUNDIR NÃO!
Com o inquestionável crescimento do mercado de cafés especiais no Brasil, o consumidor está atento sobre o que esperar do perfil sensorial do grão que estará adquirindo e tem observado dados de rastreabilidade como:
- procedência (nome do produtor, fazenda ou região)
- terroir (altitude e clima)
- variedade do grão
- tipo de processamento
- nível e data de torra (algumas vezes até o mestre de torra conta como atributo)
- pontuação
- notas sensoriais
As possibilidades são muitas na utilização dessas referências. Contudo é importante estar atento ao excesso de informações com dados demasiadamente técnicos ou termos subjetivos que podem, em alguns casos, acabar confundindo o consumidor.
Por outro lado, muitos produtores desconhecem a consistência necessária aos rótulos de alimentos, ou optam por uma arte ou design minimalista na embalagem e por isso, acabam não informando o suficiente, deixando de incluir o que é regulamentado como informação obrigatória.
Temos visto também o aumento da utilização de QR Codes, para que o consumidor acesse dados mais específicos, mas será que esse é um meio eficiente para o comprador?
Infelizmente a observação e leitura de rótulos não é uma prática habitual nos brasileiros e talvez por isso ainda não haja um movimento para a padronização dessas informações nas embalagens de cafés.
Com a evolução e consolidação desse mercado no Brasil, há uma clara perspectiva de que o consumidor provoque em toda a cadeia produtiva, um olhar mais atento sobre a questão.
Nessa lógica, os produtores valorizam seus produtos ao mesmo tempo em que valorizam a opinião de seus consumidores finais, oferecendo informações relevantes e padronizadas em suas embalagens.
Barista, Instrutora, Especialista em Rotulagem de Alimentos, Coordenadora Educacional no treinamento Master Barista.
Pós-graduada em Negócios da Gastronomia e em Docência no Ensino Superior.
Criadora de conteúdo no perfil @Cafeística