Para quem caetano veloso fez a musica leaozinho

A canção é de 1977, foi composta e gravada por Caetano Veloso, um dos músicos mais talentosos e conhecidos da Música Popular Brasileira. Depois dele, ganhou diversas outras versões, dentro e fora do país. A da banda Beirut, de 2011, é certamente uma das minhas favoritas (assista aqui).

Originalmente foi inspirada no músico Dadi Carvalho, um baixista que na época em que a música foi composta, integrava a banda dos Novos Baianos. Segundo Caetano uma vez contou para a Folha: “Ele (Dadi) tinha 17 anos e era – como é até hoje – luminoso, claramente bom. (…) Eu sou do signo de leão. Dadi também. Só que ele é muito mais novo do que eu. Às vezes eu o chamava de ‘leãozinho’. Assim, fiz finalmento uma canção que dava conta da impressão de pureza, clareza e positividade que ele me dava”.

Eu não preciso dizer aqui que a canção tomou proporções inimaginavéis. Que o leãozinho inspirado em Dadi, virou o namorado ou a namorada de alguém, o filho ou filha de algum casal, enfim, uma figura apaixonante para a qual sua letra e melodia sempre se encaixará como trilha.

Por falar em melodia, ela sempre teve essa sonoridade meio lullaby, que certamente favoreceu para que soasse um bocadinho infantil. Nesse caso, a versão das Anavitória, lá de 2017, no álbum “Anavitória Canta para Pessoas Pequenas, Pessoas Grandes e Não Pessoas Também” caiu tão bem (ouça aqui).

Mas é aquela coisa: uma música tem sempre o poder de se reiventar. A cada nova interpretação ganha uma nova vida. E nesta semana, O Leãozinho, renasceu mais uma vez. Numa versão mais pura, dedilhada, em tom de folk intimista. Numa bonita harmonia de vozes. E no belíssimo sotaque português dos músicos Olivae (Vasco Oliveira) e Teixara (Sara Teixeira).

Play para conferir mais essa:

O m�sico Dadi Carvalho � do tipo modesto: atribui apenas � sorte o fato de ter participado de "momentos maneiros na MPB", como descreve. "Qualquer um poderia estar no meu lugar", diz o baixista.

Fonte de inspira��o para a m�sica "O Le�ozinho", de Caetano, Dadi fez parte dos grupos Novos Baianos e A Cor do Som, nos anos 1970, al�m de ter participado da grava��o de discos como "�frica Brasil" (1976), de Jorge Ben, e "Tribalistas" (2002), da banda que reuniu Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte.

Aos 62, ele re�ne todas essas passagens na rec�m-lan�ada autobiografia "Meu Caminho � Ch�o e C�u". "N�o sou escritor, procurei escrever como falo", diz � Folha.

Est�o ali, por exemplo, o momento em que ganhou a primeira bateria do pai, as bisbilhotadas em ensaios de shows de bossa nova na Ipanema dos anos 1960 ("Eu era amigo dos porteiros", diz) e o encontro, no Arpoador, com Baby Consuelo, que o levaria para os Novos Baianos.

"Foi uma divers�o incr�vel, altos papos, m�sica o dia todo", lembra, sobre os anos que passou com a banda e que resultaram em discos como "Acabou Chorare" (1972).

"Era tudo dif�cil em termos de dinheiro, mas eu nem me preocupava muito com aquilo, estava ali pela m�sica."

Arquivo Pessoal
Para quem caetano veloso fez a musica leaozinho
Dadi logo depois de deixar o baixo na Kombi que seguia para o show dos Novos Baianos, em Niter�i.

Entre 1970 e 75, Dadi conviveu com o grupo no apartamento carioca deles ("Dividido com panos, como se fossem cabanas, com v�rios edredons espalhados pelo ch�o, servindo de camas") e no s�tio em Vargem Grande.

"Mas come�ou a ficar como casamento. De repente, virou uma seita que todo mundo obedecia", diz. "As coisas perderam o deslumbramento e eu acabei me sentindo perdido quando o Moraes Moreira saiu do grupo."

Em 1975, juntou-se � trupe de Jorge Ben Jor, gravou can��es como "Jorge da Capad�cia" e, no ano seguinte, com Mick Jagger, uma m�sica nunca lan�ada. Em seguida, se uniu ao irm�o, Mu, no grupo A Cor do Som, misto de choro, bai�o e rock progressivo.

M�SICA PARA CRIAN�A

Caetano Veloso conheceu Dadi na �poca em que o �ltimo ainda fazia parte dos Novos Baianos. Ao baixista, ele dedicou "O Le�ozinho", de 1977, epis�dio que, no livro, Dadi resume num par�grafo.

"O pessoal da editora at� queria que eu escrevesse mais sobre isso, mas eu n�o tinha muito o que falar", afirma.

Quando ouviu a can��o pela primeira vez, n�o acreditou que fosse para ele. "Achava que era para o filho do Caetano porque parece um pouco m�sica para crian�a", diz.

O "filhote de le�o" hoje � av�. E continua tocando, acompanhando a banda de Ben Jor. "Ser m�sico � um pouco como ser taxista: tem que ficar rodando, n�o pode parar." (GUILHERME GENESTRETI)

MEU CAMINHO � CH�O E C�U
Autor: Dadi
Editora: Record
Quanto: R$ 30 (176 p�gs.)

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"Dadi � bom, claramente luminoso", diz Caetano Veloso

A Folha conversou com o cantor Caetano Veloso a respeito sobre a m�sica por ocasi�o do lan�amento da autobiografia de Dadi, "Meu Caminho � Ch�o e C�u" (ed. Record).

Folha - Na contracapa da autobiografia de Dadi h� um texto seu sobre ele. "Dadi era o menino encantado dos Novos Baianos, o leonino total, solar." Pode contar um pouco sobre como foram os primeiros contatos com ele e a impress�o que Dadi lhe causou?

Caetano Veloso - A ida ao apartamento dos Novos Baianos em Botafogo me causou forte impress�o. Dadi era talvez o �nico dos que estavam l� que eu n�o conhecia. Ele tinha 17 anos e era - como � at� hoje - luminoso, claramente bom. Quando voltei ao Brasil definitivamente em 1972, o grupo j� vivia num s�tio em Vargem Grande.

Dadi estava l�, com Leilinha, sua namorada (que � sua mulher at� hoje, um casamento longevo como quase n�o h� em nosso meio), transpirando virtudes espont�neas e beleza. Fiquei amigo desse casal, que, hoje com filhos e um neto, t�m minha admira��o pela sabedoria no desenvolvimento do amor. Dadi tinha se tornado um s�mbolo do novo com que sonh�vamos ent�o.

Em que momento voc� decidiu que Dadi merecia essa can��o? Pode contar um pouco sobre a composi��o dela?

Entre o primeiro encontro em 1971 e o amadurecimento de nossa amizade, depois que voltei a morar no Rio, em 1974, compus "O Le�ozinho" pensando nele - e no disco que estava preparando e que j� desenvolvia sob o t�tulo "Bicho". L� est�o tamb�m "Tigresa", "A Grande Borboleta" e "Gente": eu queria desdobrar o tema do t�tulo em can��es. Eu sou do signo de le�o. Dadi tamb�m. S� que ele � muito mais novo do que eu. �s vezes eu o chamava de "le�ozinho". Assim, fiz finalmento uma can��o que dava conta da impress�o de pureza, clareza e positividade que ele me dava.

"O Le�ozinho" tamb�m � uma can��o solar, leve. Nos anos 90, Dadi chegou a te acompanhar no baixo enquanto tocavam essa m�sica. Qual era a emo��o de t�-lo ali executando uma can��o composta para/sobre ele?

De grande alegria e orgulho.

"O Le�ozinho" e "Menino do Rio" s�o duas can��es que exaltam figuras masculinas e rompem o que parece uma tradi��o de quase s� se cantar a beleza feminina. Por que acha que t�o poucas can��es foram feitas � beleza dos homens?

� compreens�vel: quase s� homens compunham. E todos partiam da tradi��o po�tica trovadoresca e rom�ntica. Quando Dolores Duran escreveu o verso "Eu n�o seria esta mulher que chora", os homens que cantavam "Castigo" diziam "Eu n�o seria esse ser que chora" - o que fica bem menos bonito.

Mas h� o moreno de Assis Valente que "Fez Bobagem"; o outro, tamb�m dele, que saiu de "Camisa Listrada"; o "peda�o" de Ary Barroso que saiu de "Camisa Amarela"; o marido a quem Chico queria tratar "Com A��car, Com Afeto" - e outras can��es escritas por homens para serem cantadas por mulheres. Raramente surge um nome: s� me lembro agora de "Frankie", na vers�o brasileira gravada por Cely Campelo. Sou da gera��o que foi jovem nos anos 1960: conven��es da tradi��o n�o s�o muito reverenciadas por n�s.

Para que foi feita a música Leãozinho?

Assim como a música “Menino do Rio” foi escrita por Caetano Veloso em homenagem ao surfista José Arthur Machado, o Petit, a faixa “Leãozinho” , outro clássico da MPB, veio para fazer referência ao baixista Dadi Carvalho. A canção veio em 1977 para o álbum Bicho, da gravadora Polygram.

Para quem Caetano fez a música Leãozinho?

Caetano VelosoO Leãozinho / Escritornull

Quantas músicas o Caetano Veloso compôs?

A pesquisa do órgão também aponta que Caetano Veloso tem 1 899 gravações registradas no banco de dados. Músicas autorais são 609.