Queima de Café no Brasil (1931-1944)
Destruição de milhares de sacas de café na Baixada Santista, em 1931.
Foto: 100 Anos de República - Volume IV - 1931-1940. São Paulo: Nova Cultural, 1989. Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Ao chegar ao poder com a Revolução de 1930, Getúlio Vargas tratou de concentrar a política do café em suas mãos. Em maio de 1931, o controle dessa política foi transferido do Instituto do Café do Estado de São Paulo para um novo órgão federal, o Conselho Nacional do Café (CNC), recém-criado. Em fevereiro de
1933, o órgão foi extinto e substituído pelo Departamento Nacional do Café (DNC), processando-se então, efetivamente, a federalização da política cafeeira.
Um decreto de fevereiro de 1931 estabeleceu que o governo federal compraria todos os estoques existentes no país em 30 de junho de 1931, ao preço mínimo de 60 mil-réis, com exceção das sacas adquiridas por São Paulo em razão de um empréstimo obtido em 1930. O preço foi conveniente apenas
para os banqueiros que haviam financiado parte dos estoques. É importante lembrar que em setembro de 1931 os pagamentos relativos à dívida pública externa foram suspensos e se reintroduziu o monopólio cambial do Banco do Brasil.
A fim de se buscar uma solução para a parte dos estoques atuais e futuros que não seriam absorvidos pelo mercado internacional, em julho de 1931 o governo decidiu comprar o café com a receita derivada do imposto de
exportação, e do confisco cambial, para destruir fisicamente uma parcela do produto. Buscava-se assim reduzir a oferta e sustentar os preços. A destruição de café durou até julho de 1944. Em treze anos, 78,2 milhões de sacas foram eliminadas, ou seja, uma quantidade equivalente ao consumo mundial de três anos.
Bibliografia consultada: FAUSTO, Boris. História do Brasil. Colaboração de Sérgio Fausto. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2013, p. 285-286.
SANTOS DE ANTIGAMENTE
Queima de caf� em 1931
Uma gigantesca fogueira, iniciada em junho de 1931, durante as festas juninas, continuou ardendo na Baixada Santista at� o final do ano, destruindo milhares de sacas de caf� e espalhando no ar de toda a regi�o o caracter�stico e intenso aroma do caf� torrado. A decis�o do governo de destruir os estoques de caf� excedentes, para for�ar a eleva��o dos pre�os do produto no mercado internacional (que tinham ca�do a um ter�o do valor em que eram cotadas pouco antes da crise econ�mica mundial de 1929) foi bastante criticada na �poca, provocando a demiss�o do ent�o ministro da Fazenda, Jos� Maria Whitaker, em novembro de 1931, por n�o concordar com a queima do caf�. Ele foi sucedido por Oswaldo Aranha, que decidiu prosseguir na queima de mais 9 milh�es de sacas de caf�, al�m dos 3 milh�es de sacas j� queimadas nos meses anteriores. No total, foi contabilizada a queima de 71.068.581 sacas de caf�, suficientes para garantir o consumo mundial do produto durante tr�s anos. Foto: 100 Anos de Rep�blica - Volume IV - 1931-1940, Ed. Nova Cultural, S�o Paulo/SP, 1989. A imagem anterior foi reproduzida deste cartão postal divulgado na época da queima do café A ideia da queima do caf�, entretanto, j� existia no come�o do s�culo, defendidapelo poeta e pol�tico santista Vicente de Carvalho, como solu��o para o problema da exagerada oferta de caf� no mercado internacional. Para Vicente de Carvalho, deveriam ser queimados os gr�os de caf� de baixa qualidade, como forma de elevar o padr�o, o que n�o ocorreu em 1931. Movido a caf� - Existiram tamb�m propostas de aproveitamento do produto excedente, como esta, registrada pelo jornal paulistano Folha da Manh� de 3 de janeiro de 1932, sobre experi�ncias do emprego de caf� como combust�vel nas locomotivas da Estrada de Ferro Central do Brasil: "Partiu um trem de carga com 610 toneladas de peso, utilizando a locomotiva caf� como combust�vel. O percurso foi vencido em duas horas e dez minutos, sem quebra de press�o, gastando 2.912 quilos de caf�." |
Um dos vários cartões postais divulgados na época da queima do café Cart�o postal em alem�o mostra uma cena da queima de caf� em Santos "Kaffeeverbrennung in Brasilien" Imagem dispon�vel no site Mercado Livre (acesso: 2/2/2016) A mesma foto integrou um cart�o postal santista editado pela casa Preising (n� 1.343) Imagem: cart�o postal no acervo do cartofilista paulistano Giacomo Albanese, publicada no site JuicySantos (acesso: 2/2/2016) Foto publicada em 31/12/2008 pela revista �poca (Ed. Globo/Rio de Janeiro-RJ), com a mat�ria 'Do caf� � industrializa��o' Imagem: vers�o digital da revista �poca (acesso: 2/2/2016) A imagem tamb�m foi transformada em cart�o postal da s�rie Preising (n� 1.341) Imagem: acervo Lilia Alonso, publicada em seu blogue Chavantes/SP em (acesso: 2/2/2016) O caf� n�o foi destru�do apenas em Santos, mas tamb�m no Rio de Janeiro e no interior. Estas fotos n�o apresentam refer�ncia de local, embora sejam do mesmo per�odo: Queima de caf� em cidade interiorana, em 1938 Foto: Get�lio Teixeira de Aguiar, publicada em 22/11/2014 no blogue do professor Marciano Dantas (tema: Get�lio Vargas: o presidente que governou por mais tempo o Brasil) e no site Algo Sobre Vestibular (tema: Transforma��es Econ�micas e o Desenvolvimento Industrial p�s Golpe 1937), ambos acessados em 2/2/2016 Queima de estoques de caf� em local n�o identificado Foto inclu�da em apresenta��o de slides de Nicole Lopes em 2010, com o tema 'A decad�ncia das oligarquias e a Revolu��o de 1930' (acesso: 2/2/2016) Queima de caf� no Estado de S�o Paulo Foto publicada em Calend�rio CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Caf� Um Esbo�o Hist�rico (acesso: 2/2/2016) Queima de caf� no Estado de S�o Paulo Foto publicada em Calend�rio CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Caf� Um Esbo�o Hist�rico (acesso: 2/2/2016) Caf� sendo embarcado para ser jogado no mar Foto publicada em Calend�rio CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Caf� Um Esbo�o Hist�rico (acesso: 2/2/2016) Caf� sendo jogado ao mar Foto publicada em Calend�rio CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Caf� Um Esbo�o Hist�rico (acesso: 2/2/2016) Blocos de caf� para uso como combust�vel Foto publicada em Calend�rio CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Caf� Um Esbo�o Hist�rico (acesso: 2/2/2016) Estoques de caf� sup�rfluos, para outros fins Foto publicada em Calend�rio CNT, do Almanaque Pridie Kalendas, sob o tema: Caf� Um Esbo�o Hist�rico (acesso: 2/2/2016) |
Mesmo o caf� inutilizado, que ia sendo depositado na Alemoa para a posterior incinera��o, era alvo de negociatas, como registrou o jornal santista A Tribuna, na p�gina 6 da edi��o de 24 de outubro de 1930 (ortografia atualizada nesta transcri��o):
Indiv�duos inescrupulosos est�o se apoderando dos caf�s jogados na Alemoa, para os negociar
Um vigia da Inglesa, ontem, apreendeu cinco sacas desse produto
Os indiv�duos falhos de escr�pulos, esses que s� visam um lucro f�cil, sem olhar para os meios a que recorrem, visando aquele fim, lan�am m�o de todos os recursos, muito embora, com isso, n�o poucas vezes, atentem seriamente contra a sa�de p�blica.
� o que agora se est� passando, mas, felizmente, o manejo j� foi descoberto e, por certo, provid�ncias ser�o postas em pr�tica, evitando prossiga a a��o de alguns indiv�duos.
Como toda a cidade sabe, o governo, por interm�dio do Instituto de Caf�, determinou fossem jogados, na Alemoa, para a devida inutiliza��o, quantidades de caf�.
Como, nestes �ltimos dias, deixasse de haver, naquele local, a fiscaliza��o que vinha sendo feita, v�rios indiv�duos
viram, no caso, ocasi�o favor�vel para agir e, assim, durante a noite, �s ocultas, retiravam da Alemoa toda quantidade de caf� que podiam, para vender e, necessariamente, esse caf�, j� estragado, seria dado a consumo, ou mesmo j� foi, visto como desde h� dias a manobra vem sendo posta em pr�tica, segundo agora ficou descoberto.Ainda ontem, o rondante dos vigias da S. Paulo Railway, � noitinha, conseguiu apreender cinco sacas daquele caf�, que j� iam sendo transportadas para um auto-caminh�o, fugindo, � presen�a daquele vigia, os indiv�duos que foram � Alemoa "negociar" aquele caf�.
Segundo fomos informados, algumas sacas desse caf� j� teriam sido vendidas.
Trata-se, como se v�, de um s�rio atentado � sa�de p�blica, caso o caf�, clandestinamente retirado da Alemoa, seja dado a consumo p�blico, o que sem d�vida ser� evitado.
Imagem: reprodu��o parcial da p�gina do jornal
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