Lista Autor Biografia Atividade Multimédia Estante Livro Poema 5 Comentários 50 Gostos 1 Coleção Autor 36 Comentários 1497 Gostos 53 Seguidores Luís de CamõesLuís Vaz de Camões foi um poeta de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente. Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Classicismo Nasceu a (Coimbra) Morreu em 10 Junho 1580 (Lisboa)
92867936 149753 Comentários Gostos Seguidores „(…) — Valter Bitencourt Júnior poeta e escritor brasileiro 1994 Poesia selecionada na antologia poética "Sarau Brasil 2020: Seleção de Poesia Brasileira", org. Isaac Almeida Ramos, Editora Vivara. Sete anos de pastor Jacob servia Os dias, na esperança de um só dia, Vendo o triste pastor que com enganos começa de servir outros sete anos, === Sete anos de pastor Jacob servia Language: Portuguese (Português) Available translation(s): ENG FRE Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; Mas não servia ao pai, servia a ela, E a ela só por prémio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, Passava, contentando-se com vê-la; Porém o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assim negada a sua pastora, Como se a não tivera merecida, Começa de servir outros sete anos, Dizendo: -- Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vida! About the headline (FAQ) Authorship:
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Researcher for this text: Emily Ezust [Administrator] This text was added to the website: 2010-06-27 Que se entende por literatura? Tomemos o conhecido soneto camoniano: Sete
anos de pastor, Jacó servia Que temos nestes versos? Uma excelente síntese narrativo-interpretativa do episódio bíblico onde se conta a história de Jacó e Raquel; de como Jacó serviu durante sete anos a Labão, buscando fazer jus à mão de Raquel, para, ao cabo do tempo previsto, o pai lhe dar a outra filha; vemos como Jacó se propõe servir outros sete anos para chegar ao que pretende. Mas será nisto apenas que consiste a poesia destas palavras assim agrupadas? A história de amor de Jacó? O problema do pai, desejoso de casar as filhas? Ou a valorização do trabalho de Jacó? Parece-nos que não. O que se vislumbra - e nos deslumbra - neste poema é o canto do Amor; o Amor em toda a sua plenitude, amor-doação, que se compraz na fruição mesma da sensação amorosa, no sentir-se amado e amar, independendo de condições materais de espaço e tempo. Uma realidade que o poeta conscientemente deforma, na sua visão do mundo, atribuindo a Jacó atitudes espirituais que são muito mais dele, poeta, preocupado com o exame e as repercussões deste mágico e misterioso sentimento que "nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei por quê". As figuras aproveitadas por Camões se tornam personagens ideais e nesta nova posição entendemos melhor o situar-se deste Jacó, vivido no poeta e vivenciado no texto. Eis então o cerne do poema, a partir de uma história-pretexto, configurando-se, como convém a um soneto clássico, nos versos finais: "... - Mais servia se não fora Para tão longo amor tão curta a vida!" E compreendemos a posição do personagem bíblico, que serviu sete e se propôs mais sete, e serviria tantos sete anos quantos exigisse Labão, realizado que se encontrava na contemplação da amada, consciente do amor que o movia. Amor revelado por Camões na linha do "dolce stil nuovo", que é senão amor "à maneira proençal": servindo. O texto bíblico diz: "Não foi por Raquel que te servi?" Mas o poeta renascentista dirá: não servia ao pai, servia a ela. É o amor vassalagem, preito à "senhor" E a mensagem se traduz numa liguagem de mestre: As palavras são usadas na justa medida: os dois primeiros versos, por exemplo, sintetizam personagens principais, ação, tempo (compare-se com o texto da Bíblia). No primeiro quarteto, a cada frase corresponde um pensamento independente, nessas orações coordenadas, com esse e enriquecido de um forte valor explicativo; e a adversativa mas a marcar ainda mais a compensação e a valorização: "mas não servia ao pai, servia a ela". No segundo quarteto, um esquema semelhante, onde a adversativa, agora porém, marca uma oposição, mais que um compensar. O esquema é simétrico, mas o autor sabe tirar proveito dos recursos que o material linguístico lhe oferece, inclusive no campo da sintaxe, como acabamos de assinalar. E o emprego do verbo servir , no imperfeito, no mais-que-perfeito com valor de futuro do pretérito, a repetir-se, como que acentuada a constância deste servir, ação passada, mas não acabada, contínua. E o verbo é também explorado nos seus múltiplos matizes de significação: servir - prestar serviço, servir a - vassalagem, doação, assinalado ainda com esse presente incoativo - começa de servir: começa de servir Labão, que a Raquel servia e mais servira... Há uma economia de figuras de linguagem, o que dá maior valor à obra, pois o autor se utiliza dos termos da língua com sua denotação comum, sem fugir à lógica, mas os emprega de tal forma, arruma-os de tal maneira (observem os hipérbatos) que consegue o efeito expressivo capaz de fazer suas palavras ultrapassarem as barreiras dos séculos e chegarem até nós com a grandeza da mensagem que dela se depreende. E temos a antítese do último verso, a mostrar amor em plenitude, transcedendo os limites da vida material, tão curta para tão longo amor [...]. Repare-se ainda como o poeta joga com o ritmo, nestes decassílabos heróicos, cuja aparente monotonia, no bom sentido, é amenizada por cavalgamentos bem colocados, e o cavalgamento obriga a uma pausa, pelo menos mental, a marcar a palavra importante: seria, dia, enganos, fora; e é de notar como a cesura dos versos faz a sexta sílaba recair, como convém, exatamente nas palavras-chaves necessárias à criação da ambiência sugestiva da mensagem do poema: pastor, Raquel, pai, prêmio, esperança, contando-se, Raquel, pastor, negada, tivera, servir, servira, amor. Examinando-se o esquema rítmico, assinale-se o equilíbrio, a contenção e a simetria com que o autor marca a sua revelação desta realidade amorosa. E o poema só existe como tal em função da síntese conteúdo/forma; qualquer alteração neste "dispositivo verbal" levará na melhor hipótese a outro poema, e nunca à mesma revelação, à mesma mensagem. Como se pode facilmente deduzir, para chegar a estas conclusões, examinamos:
Tudo isto, acrescido da transcendência a que se eleva o tema, colocado diante dos nossos olhos em termos absolutos, a visão platônica do amor que transparece do soneto, a forma cuidada, precisa, rigorosa, tudo nos permite situar o texto como representativo do estilo renascentista, notadamente na primeira fase do movimento literário. E não lhe falta o indispensável traço de humanidade, pois nada mais humano que o Amor, núcleo do mandamento maior, chave da Verdade. De certo modo, ao captar a mensagem contida nos versos, nós nos identificamos com o que o poema traduz; verifica-se, pois, "uma coincidência espiritual, de módulo vital entre o poeta e o homem de todas as épocas, próximos ou dispersos no tempo e no espaço" quando se lê uma obra de arte literária o e ouvido não entortou. Desde que compôs Camões o seu soneto, todos aqueles que o têm realmente "lido" conseguem captar, com maior ou menor profundidade, o mistério que nele se revela. E não nos esqueça que o poeta viveu no século XVI. Então a literatura pode se caracterizar como sendo esta identidade atemporal e anespacial entre o homem de uma época e o homem de todas as épocas. E neste sentido, cada leitor é um recriador de emoções, e através da literatura, restauramos emocionalmente todo o passado. "Criação é sobretudo emoção." Mas não se terá também o poeta utilizado da história de Jacó e Raquel para cantar o triunfo do amor sobre a vicissitude da vida? Triunfo este nem sempre facilmente encontradiço? E em outros escritos o que fazem os poetas, romancistas e dramaturgos senão imitar ou similar segundo a sua visão especial dos fatos mesmos da vida? E falar do amor, e tratar de amor não é uma forma de compensar uma vida "mais desgraçada que jamais se viu" a quem Amor bastava para matar além de erros e má fortuna? Então a literatura tem muito de jogo, como o tem as simulações dos faz-de-conta da infância... E os poetas se apercebem disso e chegam às vezes a confessá-lo: "E já não sei se é jogo ou se poesia". [...] Meditemos ainda: em face do exposto no poema, diante da grandiosidade daquele amor, qual a mulher que não gostaria de ser amada como Raquel? Ou qual o homem que não vibraria em amar como Jacó. em sentir-se amado como Jacó? A literatura atenderia assim a uma ânsia de evasão por parte do leitor, e da mesma forma, por parte do criador. Extraído do Livro: Estilos Época na Literatura, Domicio Proença Filho - Editora Ática. 1978. |