Filha da elize

No documentário Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime, a detenta da penitenciária de Tremembé afirma que seu maior desejo é rever a filha – a qual não tem contato há pelo menos 8 anos. Na verdade, Elize afirma que sua intenção em participar da série da Netflix é contar a sua versão da história para a filha, que continua sendo criada pela família do pai.

A filha de Elize Matsunaga não tem nenhum tipo de contato com a mãe desde a prisão da assassina confessa em 2012. Na época do crime, a garota tinha apenas 1 ano e 7 meses.

Na produção da Netflix, Elize afirma ter vivido um relacionamento abusivo com Marcos Matsunaga, que supostamente a agredia e humilhava psicologicamente.

Veja abaixo por onde anda a filha de Elize atualmente, e confira até quando a protagonista do documentário da Netflix deve continuar presa.

Filha da elize

Por onde anda a filha de Elize Matsunaga?

A filha de Elize Matsunaga, que não teve o nome divulgado, tem atualmente 10 anos de idade.

Elize luta há vários anos para rever a menina, já que não tem nenhum tipo de contato com a filha por pelo menos 8 anos, não sendo autorizada nem mesmo a ver fotos da garota.

Hoje em dia, a menina vive com os avós paternos, pais de Marcos Matsunaga. A família Matsunaga não aceitou participar do documentário da Netflix, preferindo manter-se longe da tentativa de Elize de se reconectar com a filha.

Na verdade, de acordo com uma reportagem publicada pelo jornal O Globo, a família de Marcos entrou na Justiça com um processo de destituição de poder familiar.

Caso seja aprovada, a ação pode retirar o nome de Elize da certidão de nascimento da menina, impossibilitando qualquer chance de contato entre a detenta e a filha, mesmo após sua libertação da prisão.

A história de Elize, em busca do perdão da filha, é um dos principais temas do documentário Era Uma Vez um Crime, que também aborda as motivações da assassina confessa e o polêmico esquartejamento do cadáver.

De acordo com a apuração do O Globo, a criança não sabe do assassinato do pai pela mãe, sendo “blindada” de qualquer tipo de informação sobre o crime de Elize.

A menina de 10 anos chama os avós de pais, já que não tem memórias de Elize e Marcos.

Quando a filha de Elize tinha 7 anos, uma colega de escola teria contado a ela a história do assassinato de Marcos.

A revelação levou os avós da garota a trocarem a menina de colégio, matriculando-a com outro sobrenome.

Em seu julgamento inicial realizado em 2016 (quatro anos após o crime), Elize Matsunaga foi condenada a 18 anos e nove meses de prisão por homicídio qualificado.

No entanto, em 2019, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reduziu em dois anos e seis meses a pena de Elize, devido ao atenuante da confissão.

Ou seja, a pena de Elize é atualmente de 16 anos e três meses de prisão. Atualmente, a detenta está no regime semiaberto.

Como está presa desde 2012, Elize Matsunaga deve ser libertada oficialmente em 2028, daqui 7 anos.

O documentário Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime está disponível na Netflix.

A expectativa dela é a de que a menina, atualmente com 11 anos, possa ler a obra um dia, quando estiver adulta, e conhecer a versão da mãe para o que aconteceu: desde sua origem humilde até os relatos de ter sido vítima de violência sexual na adolescência e doméstica quando se casou.

Por decisão da Justiça, a guarda da filha está com os avós paternos, que proíbem o contato da criança com a mãe (saiba mais abaixo).

O crime foi cometido em 19 de maio de 2012 no apartamento do casal, na Zona Oeste de São Paulo, e teve repercussão na imprensa por envolver uma bacharel de direito casada com um empresário herdeiro da indústrias de alimentos Yoki. Ele tinha 42 anos à época; ela, 30.

Elize Matsunaga exibe cartaz na saída de presídio — Foto: André Bias/TV Vanguarda

“Minha amada [filha], não sei quando você lerá essa carta ou se um dia isso irá acontecer. Sei o quão complicada é nossa história, mas o que eu escrevo aqui não se apagará tão fácil”, escreve Elize, atualmente com 40 anos, numa carta incluída na obra.

O g1 teve acesso com exclusividade a trechos das 178 páginas do livro, falou com os advogados de Elize, mas não conversou com a bacharel.

No manuscrito, feito num caderno com o desenho de crianças na frente de uma escola, ela conta sua vida antes, durante e depois de ter sido presa e julgada pelo crime (veja vídeo acima com trechos dele).

Elize escreveu o livro num caderno escolar com uma capa que mostra três crianças brincando; Ao lado o título provisório da obra: 'Piquenique no Inferno' — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Essa versão de Elize para o crime já era conhecida da polícia e da Justiça, mas é a primeira vez que ela mesma decide transformar o relato em um livro. As informações chegaram até a ser usadas por sua defesa no seu julgamento para sensibilizar os jurados. Numa das passagens, por exemplo, a bacharel conta ter sido estuprada pelo padrasto quando tinha 15 anos.

“Quando a penetrava, Elize sentia uma dor cortante com a sensação quente de seu sangue e a reação inútil de seu corpo. Cedeu sua virgindade à violência”, escreve.

Prisão até 2028

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Vídeo mostra julgamento de Elize Matsunaga

Segundo a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Elize conseguiu a progressão de regime e atualmente cumpre pena no semiaberto na penitenciária feminina de Tremembé, no interior paulista.

Elize conta no livro que foi estuprada pelo padrasto quando tinha 15 anos. Ela usou o nome fictício de Paulo para falar dele. Ao lado, a bacharel conta que atirou para se defender das agressões de Marcos — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Por segurança, Elize optou por trabalhar dentro da prisão. Lá ela se dedica à costura, ganha seu salário e pode sair em todos os feriados, tendo de retornar depois ao presídio. A previsão da SAP é a de que ela seja solta em 20 de janeiro de 2028, quando termina sua condenação. Depois disso, ela pretende abrir sua própria empresa para costurar roupas para animais.

“E como o fim é sempre um novo começo, me atrevo a dizer que não termino minha vida na prisão”, escreve Elize no livro.

Cartas com pedidos de casamento

Elize conta no livro que recebeu propostas para se casar novamente. Os pretendentes faziam os convites por meio de cartas entregues a ela na prisão — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Enquanto continua presa, Elize conta no livro que recebe centenas de cartas de vários estados. São de pessoas que se sensibilizaram com sua história e de admiradores apaixonados. Entre as mais curiosas estão aquelas com pedidos de casamento (veja acima).

Em alguns trechos do livro, a bacharel usa a primeira pessoa para contar sua versão, noutros se refere a sim mesma como "Elize". Dá, também, uma dica da escolha do título do livro: “Seria assim o inferno? Ou seria pior, como a visão dantesca?,” escreve a bacharel sobre estar presa, condenada e sem poder ver a filha.

Vídeo mostra Elize Matsunaga chorando enquando respondia às perguntas do juiz — Foto: Reprodução

E também conta por que escolheu usar a cor vermelha da caneta para contar nas páginas do caderno o que passou. “Só uma vida escrita em vermelho, sangue e vinho”, relata.

“Elize tem algumas opções de publicação e pretende assinar com a editora após ser colocada em liberdade”, diz ao g1 o advogado Luciano Santoro que, ao lado da esposa, Juliana Santoro, a defende. A expectativa é a de que futuramente o caderno possa virar uma obra oficial escrita pela própria autora e vendida em livrarias.

Antes do crime, Elize era aluna de Luciano, professor de direito na faculdade. Ele pediu à Justiça o livramento condicional dela para cumprir o restante da pena fora da prisão, em sua casa. O juiz determinou então que a presa passe por um exame criminológico antes de decidir. O teste serve para saber se ela tem condições de receber a liberdade condicional. A expectativa dos advogados é a de que isso ocorra até o fim deste ano.

O teste ainda não foi feito. Ele serve para saber se a condenada tem condições de voltar a conviver em sociedade. Se o obtiver, terá de cumprir medidas restritivas, como se apresentar frequentemente no fórum para informar se está trabalhando, e ficar recolhida à noite em sua casa.

O crime

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Vídeos mostram a reconstituição da morte de Marcos Matsunaga

O empresário foi baleado na cabeça com uma das 34 armas que o casal tinha na residência. Quatro eram de Elize, incluindo a pistola usada no crime. As demais pertenciam a Marcos. Atualmente, parte delas está sendo vendida pela família do empresário.

Elize alegou à época que atirou em Marcos para se defender dele, que discutiu com ela e lhe agrediu com um tapa no rosto ao descobrir que Elize havia contratado um detetive particular para seguir o marido. O profissional havia descoberto mais uma das traições do empresário e o filmou com uma garota de programa, sua amante (veja vídeo abaixo).

Marcos, que já havia sido cliente de Elize no passado, quando ela se prostituía, gritou, segundo a bacharel, que tiraria a guarda da filha dela e a mataria.

Armas apreendidas na casa dos Matsunagas — Foto: Kleber Tomaz/G1

Com medo de novas agressões e ameaças, já que contou ser sido vítima de violência doméstica em outras ocasiões, ela teria disparado a esmo para se defender.

Atira, sua fraca! Atira! Sua vagabunda! Atira ou some daqui com sua família de bosta e deixa minha filha. Vc nunca mais irá vê-la. Acha que algum juiz dará a guarda a uma puta?”, escreve Elize no livro sobre o que, segundo ela, Marcos teria dito.

Elize e Marcos Matsunaga — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

“A cabeça de Elize parecia um torvelinho. Um caos. Um turbilhão de palavras e sentimentos, entre eles o medo, tão perigoso... Foi então que o dedo no gatilho fez seu trabalho...”, continua.

Depois de ter baleado Marcos, ela cortou o corpo em seis partes: cabeça, braços, tronco e pernas. Colocou o cadáver esquartejado em malas e foi de carro até Cotia, na região metropolitana, onde as dispensou no mato.

Os restos mortais foram encontrados em 27 de maio de 2012 pela polícia. Elize foi presa dias depois e confessou o crime. A Mitsubishi Pajero da bacharel, usada para transportar o marido, continua na garagem do prédio onde o casal morava. Ela pretende vender o veículo um dia.

Filha da elize

Vídeo de Marcos com outra mulher pode ter provocado briga de Elize com marido

Para a advogada Juliana, sua cliente foi vítima de violência psicológica e doméstica por parte do marido. “[Marcos] passou a cometer uma série de abusos emocionais, taxando Elize de louca, humilhando e trabalhando com muita dominação sobre ela, que enfim, culminou com esse desastre, com essa tragédia, até por que essa casa tinha muitas armas.”

Mas para o Ministério Público (MP), o motivo do crime não foi passional, mas sim financeiro: Elize queria ficar com o seguro de vida que Marcos tinha feito no nome dela, no valor de R$ 600 mil. José Carlos Cosenzo, que foi o promotor do caso à época, não foi localizado pelo g1 para comentar o assunto nesta semana.

O casal Juliana e Luciano Santoro defende Elize Matsunaga há dez anos — Foto: Kleber Tomaz/g1

“Toda história tem dois lados. É preciso compreender o outro lado e entender o contexto como um todo”, disse Luciano Santoro.

“Naquele contexto de sofrimento e violência psicológica que ela sofria, qualquer pessoa que estivesse naquele mesmo cenário cometeria aquele crime”, disse Juliana. “Extremo abuso, de humilhação, de traição... essas circunstâncias levaram a esse crime. Agressões eram contínuas.”

“Ela agiu sob violenta emoção. Ela praticou o ato após uma injusta ação da vítima”, disse Luciano.

No livro, Elize comenta que “com sua vida forjada em violência, decepções, amor, alegrias e esperanças, os altos e baixos da vida nunca foram tão evidentes”.

“Peço perdão, de coração aberto, por todas as brigas, as palavras ríspidas e pela infelicidade do convite que fiz à morte”, escreve Elize para Marcos.

Elize e a filha

Elize e Marcos Matsunaga com a filha — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

A guarda provisória da garota, que fez aniversário em abril, está com os avós paternos desde agosto de 2012. A filha tinha 1 ano quando a mãe cometeu o crime. A criança dormia sozinha no andar superior do imóvel e, segundo Elize, não viu nem ouviu nada.

“Espero muito ansiosamente que um dia você me perdoe. Não pretendo justificar o injustificável”, escreveu Elize para a filha. “Não há a menor possibilidade de desistir de lutar por ti, minha filha.”

Elize Matsunaga mostra sapatos da filha em ensaio que fez quando ela estava grávida da menina — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

A reportagem apurou que os advogados que defendem os interesses dos pais de Marcos entraram com duas ações na Justiça contra Elize envolvendo a filha do casal. Como ela é uma criança, os processos estão em segredo.

Um pedido tramita na Vara da Infância e Juventude e requer a destituição do poder familiar de Elize sobre a filha, e o outro, que está na Vara da Família, solicita a alteração do nome da menina em seu registro civil.

No caso de Elize, a destituição do poder familiar dela sobre a filha significaria deixar de ser mãe da criança: seu nome seria apagado da certidão de nascimento da menina, ficaria sem direitos e deveres sobre a garota (como participar da educação dela, receber visitas etc). O nome de Marcos como pai seria mantido.

Elize Matsunaga escreveu carta para pedir desculpas a filha, que não pode ver desde 2012. A guarda dela está com os avós paternos, que proíbem o contato da criança com a mãe — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Já o processo a respeito da alteração do registro civil da filha de Elize e Marcos pede a retirada dos sobrenomes maternos (Araújo Giacomini) e de um sobrenome paterno (Kitano) da certidão de nascimento da menina. A garota teria apenas o "Matsunaga" após o primeiro nome.

A alegação dos advogados é que os nomes da família de Elize e o Kitano são associados ao assassinato de Marcos e podem traumatizar a menina, que seria vítima de bullying. Caso ela os consulte na internet, por exemplo, poderiam surgir fotografias e matérias do caso que a traumatizariam. Esses processos ainda não foram julgados.

O g1 apurou que a Justiça decidiu em 2013 suspender temporariamente os direitos e deveres de Elize sobre a filha até decidir a respeito deles. Essa medida significa, em tese, a suspensão do poder familiar, antigamente chamado de "pátrio poder".

Elize Matsunaga e filha — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Pela lei, presos têm direito a receber visitas de seus filhos menores, sob supervisão, desde que os crimes que cometeram não tenham sido praticados contra eles ou deixado traumas nas crianças.

Os advogados de Elize contaram que há alguns anos a família de Marcos negou um pedido de sua cliente para ver uma foto atual da filha. Os advogados dos avós paternos teriam dito que isso colocaria a menina em risco, já que a mãe poderia querer ir atrás dela depois de saber como a garota é atualmente.

Enquanto isso, Juliana e Luciano buscam acordos judiciais para que sua cliente possa ter contato com a criança algum dia. Numa das audiências, um dos avós contou que a neta soube quem foram seus pais e o que havia ocorrido com eles.

Procurada pelo g1 para comentar o assunto, a advogada Patrícia Kaddissi, que defende os interesses dos avós paternos da menina, afirmou que, “por se tratar de questões e processos que envolvem segredo de Justiça, prefiro não me manifestar”.

Violência doméstica

No livro, Elize escreveu carta direcionada à memória de Marcos, para pedir perdão a ele — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Nascida há 40 anos em Chopinzinho, no Paraná, Elize conheceu Marcos quando era garota de programa e, segundo parentes, viveu o sonho de encontrar o príncipe encantado como a personagem vivida pela atriz Julia Roberts, que se casa com um rico empresário, interpretado por Richard Gere, no filme "Uma Linda Mulher".

“Não há dúvida. Eu estava convencido à época, e continuo dez anos depois convencido da mesma maneira. O que aconteceu ali não foi um resultado de violência doméstica ou que a Elize sofreu uma explosão emocional. Não. Houve um crime premeditado. Houve um homicídio qualificado seguido de esquartejamento”, disse Luiz Flávio Borges D’Urso, advogado da família Matsunaga e assistente de acusação à época.

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Como está hoje a filha de Elize Matsunaga?

A garota vive bem com os avós paternos, que estão com 86 anos, e não tem nenhum contato com os familiares de Elize, muito menos com a mãe, que nem sequer sabe a aparência da filha. Nem mesmo por foto. O temor da família Matsunaga é que ela procure a criança sem consentimento.

Onde mora a filha de Elize Matsunaga?

Ela foi condenada inicialmente a 19 anos e 11 meses de cadeia, mas o STJ (Superior Tribunal de Justiça) reduziu a pena para 16 anos e 3 meses de prisão. A filha de Elize e Marcos Matsunaga, que hoje tem 11 anos, vive com os avós paternos.

Quanto Elize herdou?

A primeira delas é que há laudos de três psicólogos e um psiquiatra credenciados pela Justiça comprovando que ela é psicopata e que o amor que diz ter pela sua filha é uma estratégia para comover a opinião pública. Além disso, ela ainda herdou R$ 900 mil do marido falecido.

Quem é a família Matsunaga?

São Paulo – O caso de Marcos Matsunaga, herdeiro do grupo Yoki que foi morto e esquartejado pela própria mulher, voltou a ser assunto no Brasil após a estreia da minissérie documental “Elize Matsunaga: Era Uma Vez um crime”, produzida pela Netflix.