A divisão das terras que passaram a ser conhecidas durante as Grandes Navegações do século XV e XVI deixou de fora da partilha o reino francês. Quando foi estabelecido o Tratado de Tordesilhas, o rei Francisco I ironizou a decisão papal, pedindo o testamento de Adão para saber em qual cláusula ele havia dividido o mundo entre espanhóis e portugueses.
Na prática, a França passou a realizar comércio com os indígenas nas terras portuguesas, principalmente no litoral brasileiro, durante o século XVI e XVII. Durante dois momentos, os franceses tentaram estabelecer colônias no Brasil. Essas tentativas de colonização ficaram conhecidas como invasões francesas e ocorreram nas atuais cidades do Rio de Janeiro e em São Luís, no Maranhão.
Em 1555, Nicolas de Villegagnon desembarcou com dois navios na região da Baía de Guanabara e iniciou a constituição da França Antártica. O nome adotado se deu pelo fato de os franceses acharem que estavam próximos ao polo antártico. A colônia conseguiu o apoio dos índios tamoios, que os auxiliaram na exploração do pau-brasil em troca de artefatos produzidos na Europa, principalmente os de metal, como ferramentas. Outra característica da colonização francesa foi a convivência entre calvinistas franceses, os huguenotes, e católicos no entrave francês na Baía da Guanabara. Inicialmente amistosa, a convivência entre os adeptos dos dois tipos de cristianismo passou a sofrer percalços que resultaram no enfraquecimento da organização da França Antártica.
A reação portuguesa foi rápida, pretendendo impedir que a França Antártica se consolidasse em terras da coroa lusitana. Em 1560, sob o comando do governador-geral da colônia brasileira, Mem de Sá, a França Antártica foi destruída.
Quadro O último tamoio, de Rodolfo Amadeo (1857-1941), retratando o fim das guerras entre os indígenas e portugueses
Mas os portugueses não tiveram que enfrentar apenas os franceses nesses confrontos. A Confederação dos Tamoios foi formada em 1564 por indígenas das tribos dos tupinambás, aimorés e termiminós para enfrentar os portugueses, que os aprisionavam para escravizá-los, e as demais tribos que apoiavam os lusitanos, como os guaianazes. Como os franceses eram também inimigos dos portugueses, houve uma aliança entre a Confederação dos Tamoios e os ocupantes franceses. Os conflitos superaram no tempo o fim da França Antártica, estendendo-se até 1567. A fundação da cidade de São Salvador do Rio de Janeiro foi uma das consequências da invasão francesa no litoral sul do Brasil.
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Com a derrota no Rio de Janeiro, os franceses passaram a realizar investidas no litoral nordestino. Entre 1612 e 1615, eles tentaram realizar a construção de uma nova colônia, a França Equinocial. A construção do forte de São Luís, comandada por Daniel de La Touche, deu início à fundação da cidade de São Luís, nome escolhido em homenagem ao monarca francês que foi canonizado. A segunda invasão francesa ocorreu no momento em que estava em vigor a União Ibérica, o que levou a uma ação conjunta entre portugueses e espanhóis para expulsar novamente os franceses da colônia brasileira.
Após essas derrotas, os franceses partiram para colonizar o território hoje conhecido como Guiana Francesa. No continente americano, eles criaram ainda entraves coloniais nas Antilhas e na América do Norte, nos territórios onde hoje estão Canadá e EUA. Além disso, foi estimulada pelo governo francês a prática de pirataria no oceano Atlântico, com saques a diversos navios e pontos comerciais nas colônias americanas. Duas dessas investidas ocorreram novamente no Rio de Janeiro, no século XVIII. Em 1710, os portugueses conseguiram conter os corsários franceses que tentaram saquear a cidade. Mas, em 1711, os portugueses não lograram o mesmo êxito e foram obrigados a pagar como indenização uma alta quantia para terem o Rio de Janeiro de volta.
Piratas e corsários ingleses e invasores franceses e holandeses ameaçaram o domínio português no território colonial. Ao longo do século XVI e no início do século XVII, disputaram o poder invadindo a colônia ou comercializando mercadorias.
Piratas e corsários ingleses
Durante o período colonial, as incursões inglesas no Brasil restringiram-se a ataques de piratas e corsários. Foram saques ocasionais, que tornaram a presença inglesa na colônia bem menos intensa que a francesa e a holandesa. Embora tanto a pirataria quanto o corso se caracterizassem pela pilhagem e pelo saque, o pirata agia por conta própria, enquanto o corsário tinha o apoio oficial de uma entidade ou governo.
O primeiro corsário inglês a aportar na colônia foi o traficante de escravos William Hawkins. Entre 1530 e 1532, percorreu alguns pontos da costa e fez escambo de pau-brasil com os índios. Outro foi Thomas Cavendish, que atracou em Santos, em 1591. Conhecido como “lobo-do-mar”, Cavendish estava a serviço da rainha inglesa Elizabeth I.
O corso realizado pelos ingleses, entretanto, intensificou-se apenas na segunda metade do século XVI, quando os conflitos entre católicos e protestantes tomaram-se intensos na Inglaterra e os mercadores empolgaram-se com as possibilidades comerciais abertas pelas novas rotas marítimas.
A primeira incursão pirata dos ingleses ao litoral brasileiro foi em 1587. Em 1595, o inglês James Lancaster conseguiu tomar o porto do Recife. Retirou grande volume de pau-brasil, que levou para a Inglaterra depois de realizar saques na capitania durante mais de um mês.
Os invasores franceses
Os franceses invadiram o Brasil em duas ocasiões e estabeleceram colônias no território:
- no Rio de Janeiro (1555-1567), fundaram a França Antártica;
- no Maranhão (1612-1615), a França Equinocial.
Um dos motivos das invasões foi o fato de que o Tratado de Tordesilhas, assinado entre Portugal e Espanha, excluía a França e outras nações da divisão do Novo Mundo. Essas nações ficavam à margem das cobiçadas riquezas brasileiras, como o pau-brasil, a pimenta nativa e o algodão.
França Antártica e França Equinocial
A primeira invasão da França foi comandada por Villegaignon. Os franceses se estabeleceram na baía de Guanabara em novembro de 1555, onde fundaram a França Antártica. Para facilitar sua permanência na região, aliaram-se aos índios tamoios, apoiando-os na luta contra os portugueses.
O governador-geral Duarte da Costa empreendeu diversas tentativas de expulsar os franceses, mas não obteve sucesso. Isso só aconteceu em 1567, sob o comando de Estácio de Sá, sobrinho do terceiro governador-geral, Mem de Sá. Para isso, contou com o apoio de jesuítas, colonos e algumas populações indígenas da região, além de reforços mandados pela metrópole.
Expulsos do Rio de Janeiro, os franceses voltaram-se para a região norte da colônia. Comandados por La Touche, em 1612 ergueram no Maranhão o forte de São Luís, em homenagem ao rei francês Luís XIII, e fundaram ali a França Equinocial. Foram expulsos três anos depois, graças a uma aliança luso-espanhola com o apoio dos índios tremembés.
Os invasores holandeses
Os holandeses invadiram e ocuparam o território do Brasil em duas ocasiões:
- em 1624, invasão na Bahia;
- em 1630, invasão em Pernambuco.
A Holanda, na época, era dominada pela Espanha e lutava por sua independência. As invasões constituíram um modo de atingir as bases coloniais espanholas – uma vez que, de 1580 a 1640, período conhecido como União Ibérica, o Brasil pertencia às duas Coroas: Portugal e Espanha.
A situação econômica da Holanda, além disso, era difícil, devido ao embargo imposto pela Espanha: os holandeses estavam proibidos de comerciar com qualquer região dominada pela Espanha, perdendo assim o direito de refinar e distribuir o açúcar produzido no Brasil, como vinham fazendo havia vários anos.
Com a invasão, os holandeses pretendiam estabelecer uma colônia voltada para a exploração econômica do Brasil, controlando os centros de produção açucareira. Desejavam, ainda, romper o monopólio comercial ibérico e recuperar seu papel no comércio do açúcar.
Por: Paulo Magno da Costa Torres
Veja também:
- Invasões Holandesas
- Colonização Holandesa
- Período Pré-Colonial