Consequências da Primeira Guerra Mundial na economia

O centenário do fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi celebrado em Paris neste domingo (11) com representantes dos Estados envolvidos nos combates. A guerra deixou cerca de 18 milhões de mortos, quase a metade de civis. Uma oportunidade para se recordar como toda a Europa saiu arruinada do conflito.

Por Aabla Jounaïdi

A Primeira Guerra Mundial assinalou a primeira crise demográfica da história, com 10 milhões de combatentes e 8 milhões de civis mortos e identificados durante o conflito. O exemplo da França é ilustrativo nessa questão. Junto à Sérvia, este foi o país mais afetado em proporção à sua população, na época: cerca de 1,4 milhão de soldados mortos.

O número de vítimas, no entanto, não menciona todos os doentes e mutilados que reencontraram com dificuldade seu lugar na sociedade. A França perdeu 10% de sua força de trabalho masculina. O impacto sobre a mão-de-obra disponível em 1918 foi devastador.

Na sequência, a Europa acordou da guerra com um rastro de estradas, pontes, fábricas e praticamente todas as terras agrícolas destruídas. No total, estima-se que a França tenha perdido um terço de sua riqueza anterior ao conflito.

O fenômeno da inflação, até então desconhecido na Europa

Foi um conflito "total", no sentido de mobilização de todos os recursos humanos, industriais, agrícolas e financeiros dos países envolvidos. Durante quatro anos, as principais potências europeias dedicaram 50% do seu PIB ao esforço de guerra.

O conflito causou um fenômeno até então quase desconhecido na Europa: a inflação. A impressão de dinheiro e a especulação fizeram com que as moedas europeias perdessem valor rapidamente.

Para se reconstruírem, os vencedores da guerra fizeram a derrotada Alemanha pagar a conta, em 1918: 32 bilhões de marcos de ouro, metade dos quais foram transferidos à França. Mas a primeira guerra mundial também exigiu que os estados europeus se endividassem interna e externamente.

Os Estados Unidos emprestaram aos aliados o equivalente a US$ 162 bilhões atuais

Os empréstimos, no entanto, deveriam ser usados em grande parte para comprar produtos norte-americanos. Se há um Estado que se beneficiou desse conflito, foram os Estados Unidos. O país não só entrou em guerra apenas em 1917, mas seu território, longe geograficamente do conflito, foi preservado da luta. Neste momento, os Estados Unidos se tornaram o principal credor dos países europeus.

Herdando os estoques de ouro dos aliados em 1918, os norte-americanos acabaram possuindo metade do estoque mundial. Portanto, não foi difícil impor o dólar como equivalente ao ouro, já no pós-guerra. Da mesma forma, Nova York suplantou facilmente Londres no tabuleiro de xadrez das finanças globais.

Um declínio do velho continente?

O cenário levou a crer em uma perda de poder financeiro do bloco, especialmente porque algumas partes do mundo, onde os interesses europeus eram importantes, como a China, a Índia ou a América Latina, emanciparam-se economicamente. E porque os Estados Unidos e o Japão começam a aumentar sua influência no resto do planeta.

Mas se os impérios europeus centrais, como Alemanha, Áustria e Hungria, e as posses da Rússia e do Império Otomano forem desmanteladas, as potências aliadas europeias preservaram seus impérios coloniais.

A guerra afrouxou os laços com algumas colônias europeias porque o comércio foi interrompido. Mas, acima de tudo, a imagem do progresso que os europeus enviaram ao mundo foi permanentemente alterada pelo massacre de 1914-1918. As consequências só seriam verdadeiramente mesuradas mais tarde.

Modernização do parque europeu: a contrapartida da guerra

A França, no entanto, testemunhou uma modernização de suas ferramentas de produção no pós-guerra, com a ascensão do fordismo vindo dos Estados Unidos, o início da linha de trabalho nas minas, e da indústria automobilística em particular.

Muitos imigrantes chegaram para trabalhar. As mulheres, que entraram nas oficinas e fábricas durante a guerra, permaneceram em seus empregos.

Assim, na década de 1920, especialmente a partir de 1924, a Europa festejou novamente a prosperidade. Mas a comemoração durou pouco. A crise de 1929 nos Estados Unidos encorajou os norte-americanos a retomarem seu isolacionismo tradicional, privando os europeus do capital de giro e mergulhando o "velho continente" na crise econômica.

Começando com a Alemanha, cuja dívida em relação aos Aliados havia sido repetidamente revisada. Uma dívida que impulsionou a extrema direita alemã a tomar o poder, com o resultado que conhecemos: a ascensão do nazismo no país.

Portugal entrou na 1ª Guerra Mundial para a República ser reconhecida, defender as colónias africanas e devido à aliança com Inglaterra. No entanto, a sucessão de governos a favor e contra a guerra repercutiu-se no apoio ao CEP e na situação económico-financeira e social, que se agudizou porque não se obtiveram as reparações esperadas para fazer face às despesas e danos da guerra.

A entrada de Portugal na 1.ª Guerra, em 1916, foi suscitada pela necessidade de reconhecimento do regime republicano, pela defesa das colónias de Angola e Moçambique, ameaçadas pela Alemanha, e pela pressão diplomática britânica para Portugal apresar os barcos alemães estacionados nos portos portugueses. No contexto da secular aliança militar entre Portugal e Inglaterra, esta pedia ainda a cedência de armamento, o que Portugal só fez mediante o envio de homens (o Corpo Expedicionário Português – CEP) para as trincheiras na frente de batalha europeia.

No entanto, a participação na 1.ª Guerra não foi consensual, nem entre republicanos, nem entre a oposição monárquico-religiosa, agravando-se as lutas partidárias e a fragmentação de partidos (passou a ser «normal» que deputados eleitos por um partido, decidissem abandoná-lo e exercessem funções legislativas por um outro).

No final da 1.ª Guerra Afonso Costa representou Portugal nas negociações de paz, em Versalhes, mas as esperadas reparações saldaram-se mais pelo reconhecimento da integridade territorial das colónias do que pelos montantes financeiros de indemnização recebidos, o que agravou a crise económico-financeira e social.

Os gastos de formação das tropas e do seu envio para as colónias africanas e para a Flandres destruíram o equilíbrio financeiro conseguido pouco antes do início da guerra e foram suportados pela dívida pública interna e externa, obrigando a novos empréstimos ao estrangeiro, ao aumento de impostos e à desvalorização da moeda através da emissão de notas de banco.

Durante a guerra e no imediato pós-guerra reduziram-se a maior parte das exportações, sobretudo de vinho e cortiça ou de têxteis para as colónias e faltavam matérias-primas, maquinarias e capital estrangeiro, o que não obstou a que alguns setores, como o conserveiro, tivessem aumentado a produção e exportação, mesmo enfrentando as dificuldades no setor dos transportes e das comunicações devido à falta de investimento e às greves.

Num país onde a principal atividade económica continuava a ser a agricultura, importavam-se cereais, porque a modernização era dificultada por uma estrutura muito parcelada da propriedade, pela pobreza dos solos, mas também pela falta de iniciativa de muitos proprietários ou pelo absentismo, no caso dos patrões agrícolas no sul do país.

A recuperação do mercado internacional, no início dos anos 20, agravou ainda mais a crise económica em Portugal devido à concorrência às exportações portuguesas. Aumentaram as falências e o desemprego e escasseou a produção também devido à redução do horário de trabalho aprovada na 1.ª República. O açambarcamento de produtos, vendidos a preços exorbitantes, foi praticado por vários comerciantes.

A insuficiência da produção, o aumento da dívida pública, as práticas de corrupção e de desvalorização da moeda estimularam uma inflação galopante, apenas ultrapassada pelas da Áustria e da Alemanha. Por isso, alguns dos detentores de capital em Portugal preferiam colocar o seu capital no estrangeiro ou apostar na especulação financeira.

A crise económica e financeira só se atenua entre 1924-25, quando a Europa beneficia do crédito americano para a recuperação económica.

Esta crise não foi vivida da mesma forma por todos: ao lado de alguns, poucos, que gozaram uma vida de luxo gastando os rendimentos do capital em vez de o investirem, encontravam-se as classes médias e alguns elementos da grande burguesia depauperados com o aumento de impostos e da inflação. Mas as piores condições de vida eram as das massas populares, cujo poder de compra desceu drasticamente devido à subida de preços de géneros alimentícios, em particular do pão, que o governo deixou de o subsidiar, como fazia durante a guerra.

Apesar do racionamento de bens, os tumultos e as greves passaram a ser frequentes, afetando a produção e o setor de transportes e das comunicações. A resposta policial fragilizava ainda mais os governos, que se sucediam, ampliando a sensação de insegurança social.

Quais foram as consequências da Primeira Guerra Mundial para a economia?

A infraestrutura dos países europeus foi profundamente afetada e a crise econômica causada pelos altos custos da guerra geraram desemprego e fome. Tanta instabilidade política e social possibilitou a ascensão de regimes totalitários que consistiram em outro ingrediente fundamental para a Segunda Guerra Mundial.

Qual foi a primeira consequência da Primeira Guerra na economia brasileira?

A queda no poder de compra e o aumento do custo de vida (os preços de varejo no Brasil registraram alta de 158% entre 1913 e 1918) aumentaram a insatisfação popular e fomentaram o fortalecimento da classe trabalhadora, incluindo o crescimento de movimentos sindicais.

Quais foram as principais consequências deixadas pela Primeira Guerra Mundial?

A Primeira Guerra Mundial encerrou-se como resultado do esfacelamento das forças da Tríplice Aliança. Bulgária, Áustria-Hungria e Império Otomano renderam-se, sobrando apenas a Alemanha. O Império Alemão, arrasado pela guerra, também se rendeu após uma revolução estourar no país e levar ao fim da monarquia alemã.

Qual foi a principal consequência da Primeira Guerra Mundial?

Novos Países Quatro impérios que eram considerados sólidos antes de 1914 simplesmente desmoronaram: Alemão, Austro-Húngaro, Russo e Otomano. Com o Tratado de Versalhes, dos escombros desses impérios surgiram novos países como Polônia, Checoslováquia, Iugoslávia, Áustria, Hungria, Estônia, Lituânia e Letônia.