Como saber se estou imune ao sarampo?

Como saber se estou imune ao sarampo?
O vírus do sarampo virou tema recorrente nos consultórios médicos Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital

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O Brasil só esteve atrás da Venezuela em número de casos de sarampo nas Américas em 2018. E esse surto, aliado à campanha nacional de vacinação, fez muitas pessoas perguntarem sobre a doença desde 2018 – dos sintomas aos tratamentos – para seus médicos.

Coordenadora do Departamento Científico de Imunizações da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), a médica Ana Karolina Barreto Marinho reuniu algumas dessas dúvidas e as respondeu uma por uma. SAÚDE editou esse conteúdo abaixo:

1.Quem não sabe se já tomou a vacina deve se imunizar?

Se não há comprovação de vacinação prévia, é importante tomar todas as doses recomendadas, sim. Elas estão disponíveis na rede pública – mais abaixo, você verá o protocolo adequado para cada idade.

2. Caso a pessoa tome uma dose adicional, há risco para a saúde?

Não. As reações alérgicas, raríssimas, tendem a aparecer na primeira dose.

3. A vacina do sarampo protege contra outras doenças?

Sim. A versão tríplice viral estimula a produção de anticorpos contra sarampo, rubéola e caxumba. Já a tetra viral também afasta o risco de catapora (varicela).

4. Há algum componente na vacina do sarampo capaz de desencadear reação alérgica?

Embora seja raro, componentes do imunizante podem causar reações alérgicas em indivíduos predispostos. O produto contém as seguintes substâncias potencialmente alergênicas: albumina humana, sulfato de neomicina (antibiótico), gelatina e traços de proteína do ovo de galinha. No Brasil, uma das vacinas empregadas na rede pública carrega traços de lactoalbumina (uma proteína do leite de vaca).

5. Quais os cuidados que os pacientes alérgicos devem ter?

Foi demonstrado, em muitos estudos, que mesmo pessoas com alergia grave ao ovo possuem um risco baixíssimo de reações anafiláticas após tomarem suas doses contra o sarampo. No entanto, é indicado que esses indivíduos, por precaução, sejam vacinados em locais que ofereçam condições de atendimento de anafilaxia.

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Crianças com alergia grave ao leite de vaca (reações imediatas como anafilaxia) não devem receber a vacina tríplice viral, que contém lactoalbumina.
Pelo sim, pelo não, os alérgicos a algum componente do imunizante podem conversar com seu médico antes de irem para o posto.

6. Quantas doses da vacina eu preciso tomar e quando?

Deve-se seguir o calendário orientado pelo Ministério da Saúde. O esquema vacinal contra o sarampo para crianças é de uma dose aos 12 meses (tríplice viral) e outra aos 15 meses (a tetra viral) de idade.

Para a turma de até 49 anos que não cumpriu esse esquema, o Ministério preconiza:
• Até os 29 anos: duas doses, da tríplice ou tetra viral
• Dos 30 aos 49 anos: dose única, da tríplice ou tetra viral

Quem já tomou duas dessas injeções durante a vida não precisa mais se preocupar. Mas em caso de surtos – ou mesmo durante campanhas de reforço da vacinação –, não custa tomar uma picada adicional. Nessas situações, siga as instruções das autoridades.

As duas doses padrão garantem uma proteção de mais ou menos 90% contra o sarampo. E uma terceira poderia turbinar ainda mais nossas barreiras imunológicas.

7. Quais os sintomas do sarampo?

O sarampo apresenta os seguintes sintomas: febre acompanhada de tosse persistente, irritação ocular, coriza e mal-estar intenso. Logo depois, as manchas avermelhadas no rosto, que progridem em direção aos pés, costumam dar as caras.

Não há tratamento específico para o sarampo. O próprio corpo lida com o vírus, embora os médicos possam lidar com os sintomas e consequências dele.

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Sarampo: tire suas dúvidas sobre o surto e a vacinação com 16 perguntas e respostas

16 agosto 2019

Como saber se estou imune ao sarampo?

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto,

Vacina continuará disponível em postos de saúde, mesmo com o fim da campanha nacional, diz Ministério da Saúde

O sarampo volta a preocupar no país: no Estado de São Paulo, principal foco do surto atual, já tem 1.319 casos confirmados da doença, segundo dados da secretaria estadual da Saúde. A maioria dos pacientes (997) se concentra na capital.

O Ministério da Saúde, que deve atualizar seu boletim nesta sexta-feira (16/08), tem até o momento contabilizados casos também no Rio (4), um na Bahia e um no Paraná.

O Brasil chegou a receber, em 2016, o certificado da Organização PanAmericana de Saúde de país livre do sarampo, mas o surto atual – bem como o ocorrido no ano passado, em Rondônia e Amazonas – trouxeram a doença de volta ao centro das discussões de saúde pública.

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É também na sexta-feira que acaba a campanha nacional de vacinação contra a doença, mas, segundo o Ministério da Saúde, a vacina continuará disponível nos postos de saúde e na rede particular.

A seguir, veja respostas a 16 dúvidas comuns sobre a doença, o surto e como se proteger:

1. Por que São Paulo é o foco do surto atual?

Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto Emilio Ribas (SP), explica que o vírus em circulação atualmente é geneticamente semelhante ao que tem circulado na Europa e em Israel. "E São Paulo é a porta de entrada do país (pela quantidade de voos), além de a capital ser uma cidade com alta densidade populacional. É muito fácil que seja transmitido no metrô, por exemplo. Uma pessoa infectada transmite para outras 18, com rapidez", diz à BBC News Brasil.

2. Quem ainda deve tomar a vacina contra sarampo?

Todo mundo que nunca tomou a vacina e todos aqueles que não têm certeza se já tomaram ainda podem procurar os postos de saúde mesmo após o fim da campanha de vacinação, explica à BBC News Brasil o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Crianças pequenas são o maior foco de preocupação, por serem mais vulneráveis e mais suscetíveis a casos graves

O ideal, diz ele, é que todos entre 1 a 29 anos tenham tomado as duas doses da vacina, e que pessoas de 30 a 49 anos tenham a certeza de que tomaram ao menos uma dose.

"Na dúvida, é melhor tomar a vacina", afirma Oliveira.

Além disso, em áreas de surto ativo, como São Paulo, bebês entre seis e 11 meses continuarão a ser vacinados.

E fica mantido o calendário de vacinação tradicional: mesmo os bebês que tiverem sido vacinados contra o sarampo na campanha atual devem tomar a vacina tríplice viral aos 12 meses de idade (1ª dose) e a tetra viral aos 15 meses (2ª dose). Ao mesmo tempo, crianças pequenas que já tenham tomado a tríplice e a tetra não precisam ser vacinadas novamente contra o sarampo.

Por fim, também continuará o chamado "bloqueio vacinal", que é a vacinação de pessoas de qualquer idade que tenham tido contato com pessoas infectadas pelo sarampo. O ideal é que essas pessoas sejam vacinadas em até 72 horas depois desse contato.

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3. Quem são os mais vulneráveis à doença?

Uma das maiores incidências no surto atual é entre crianças menores de quatro anos, explica Oliveira, o que causa preocupação no Ministério da Saúde.

"É o grupo mais vulnerável e também o em que a doença pode ter mais gravidade e até mesmo causar a morte", diz ele.

Os principais sintomas são febre (acima de 38,5º) e manchas avermelhadas na pele – começam no rosto e atrás das orelhas, e depois, se espalham pelo corpo. Podem vir acompanhados de tosse persistente, irritação nos olhos, coriza e congestão nasal. Pequenas manchas brancas dentro das bochechas também são comuns dno estágio inicial da doença.

Crédito, SPL

Legenda da foto,

Pessoas infectadas pelo vírus do sarampo transmitem a doença mesmo antes de manifestarem sintomas

Richtmann explica que um grande perigo do sarampo é o fato de ele baixar muito a imunidade do paciente, deixando-o suscetível a outras infecções. "Ele fica mais vulnerável a pneumonias e otite. Outros riscos são vírus do sarampo causar inflamação no pulmão ou encefalite (inflamação do cérebro)."

A maior vulnerabilidade é em crianças de até dois anos de idade, sobretudo nas desnutridas, adultos jovens e indivíduos com imunodepressão ou em condições de vulnerabilidade, e podem deixar sequelas, tais como diminuição da capacidade mental, cegueira, surdez e retardo do crescimento. O agravamento da doença ainda pode levar à morte.

Por isso, a preocupação principal é com crianças pequenas e com pessoas cujo sistema imunológico já estava debilitado.

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5. A vacina contra o sarampo é segura? Tem riscos?

A vacina, tanto na rede pública quanto na privada, é segura, diz Oliveira, agregando que uma dose protege em 93% dos casos e duas doses têm uma eficácia de 97%.

Não adianta tomar doses adicionais, porque a proteção não chegará a 100%.

A vacina é feita de vírus vivo atenuado (enfraquecido) e atua de forma a estimular o sistema imunológico a desenvolver anticorpos para combater os "invasores". Ela é administrada por injeção subcutânea. Algumas pessoas podem ter reações, mas, no geral, elas são leves, benignas, de curta duração e autolimitadas. As mais comuns são dor e vermelhidão no local da aplicação e febre.

6. Há gente que se vacinou e mesmo assim ficou doente. Por quê?

Segundo Oliveira, do Ministério da Saúde, isso se deve justamente a esse grupo de 7% a 3% que não fica totalmente protegido pela vacina.

"Mas, nos vacinados que apresentarem sintomas, a doença será mais branda e menos transmissível", afirma.

7. Depois da vacina, quanto tempo leva para eu criar anticorpos?

Segundo Richtmann, o tempo de incubação é de duas semanas. O que significa que podem passar duas semanas entre se vacinar e criar anticorpos. O mesmo tempo pode levar entre entre o contato com o sarampo e os primeiros sinais da doença.

Antes de viajar para locais com incidência da doença, deve-se procurar um posto de saúde, com pelo menos, 15 dias de antecedência, se ainda não tiver sido imunizado.

Crédito, Agência Brasil

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Profissionais de 15 a 29 anos foram o foco da campanha contra sarampo deste ano

8. Posso estar transmitindo o vírus do sarampo mesmo sem ter sintomas?

Sim, explica Oliveira. "O vírus, ao entrar no organismo, já se reproduz. Pode levar, em média, quatro a seis dias para que (uma pessoa infectada) tenha manchas na pele e febre, mas mesmo antes disso ela já está disseminando a doença. Por isso ela é altamente contagiosa."

9. O vírus em circulação atualmente é diferente do de outras épocas?

Richtmann explica que eventuais mutações genéticas do vírus ainda estão sendo estudadas, mas agrega que isso não põe em xeque, até o momento, a eficácia da vacina disponível.

Oliveira destaca que há diferentes subtipos da doença, mas "as características de todos são reconhecidas pelo nosso sistema imunológico". O que significa que a vacina protege contra todos os subtipos, e que quem já teve sarampo também está protegido contra todos.

"A primeira coisa a fazer é não ir ao trabalho, à escola ou ao shopping", adverte Rosana Richtmann. Ou seja, evitar qualquer tipo de aglomeração, para não espalhar ainda mais o vírus.

Pessoas que estejam se sentindo bem apesar dos sintomas podem ficar de repouso em casa até o ciclo da doença passar, lembrando de se hidratar, comer bem, descansar e tomar medicamentos para baixar a febre.

Crianças pequenas, pessoas com o sistema imunológico comprometido ou que estejam inseguras a respeito da doença devem procurar atendimento médico, e exames de sangue podem confirmar se se trata mesmo de sarampo.

11. Como prevenir o sarampo?

A vacina é a principal medida de prevenção. É bom também lavar sempre as mãos, proteger o espirro e evitar aglomerações.

12. Por que o sarampo voltou?

Crédito, Erasmo Salomão/MS

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Neste ano, casos notificados de sarampo no mundo triplicaram nos primeiros sete meses em comparação com o mesmo período de 2018

A epidemia de sarampo é um fenômeno global. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização PanAmericana da Saúde (Opas) mostram que, em 2017, a doença foi responsável por 110 mil mortes, a maioria entre crianças menores de cinco anos.

Neste ano, ainda segundo as entidades, casos notificados no mundo triplicaram nos sete primeiros meses em comparação com o mesmo período de 2018.

Só nas Américas, entre 1º de janeiro e 18 de junho de 2019, a doença foi confirmada em 13 países: Argentina, Bahamas, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Estados Unidos, México, Peru, Uruguai e Venezuela.

O Brasil, diz o Ministério da Saúde, vinha de um histórico de não registrar casos autóctones (adquiridos dentro do país) desde o ano 2000 - entre 2013 e 2015, ocorreram dois surtos, um no Ceará e outro em Pernambuco, a partir de casos importados.

Em 2018, no entanto, a doença reapareceu na região Norte, nos Estados do Amazonas, Roraima e Pará, acompanhando venezuelanos que fugiam da crise no país. Já os vírus que atingiram São Paulo, neste ano, vieram com pessoas que foram infectadas na Noruega, em Malta e em Israel.

O problema é que a cobertura vacinal da patologia no país está abaixo do patamar ideal, que é acima de 95%. Pelas informações do Ministério da Saúde, em 2018, esse índice, relacionado à vacina tríplice viral em crianças de um ano de idade, foi de 90,80%. Em 2015, chegou a 96,7%.

E as razões para isso são várias, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem: medo de ter reação à imunização; desconhecimento de que existe um calendário de vacinação específico para adultos e idosos; falsa sensação de segurança por parte de pessoas que não vivenciaram surtos de doenças; dificuldade de acesso aos postos de saúde no horário comercial; notícias falsas relacionadas a vacinas; e grupos antivacina.

Crédito, Agência Brasil

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Primeiros sintomas do sarampo são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele

13. O que é o sarampo?

O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, altamente contagiosa e que pode ser contraída por pessoas de qualquer idade. Sua transmissão se dá de forma direta, de pessoa a pessoa, por meio das secreções expelidas pelo doente ao tossir, espirrar, respirar e falar.

14. Por que os jovens de 15 a 29 anos foram o foco da campanha recente?

Pessoas de todas as faixas etárias precisam ter as duas doses da vacina, mas os jovens dessa faixa etária nasceram em uma época em que a segunda dose não fazia parte do Calendário Nacional de Vacinação. Assim, muitos não a tomaram e, por isso, não estão totalmente protegidos.

15. Para quem a vacina contra o sarampo não é indicada?

Pessoas com alergia grave ao ovo, pacientes em tratamento com quimioterapia, gestantes, portadores de imunodeficiências congênitas ou adquiridas, quem faz uso de corticoide em doses altas, transplantados de medula óssea e bebês com menos de seis meses de idade.

16. Quem já teve a doença precisa se vacinar?

Não. Quem já foi infectado com o vírus desenvolveu anticorpos contra ele. Dessa forma, não precisa se vacinar, nem pegará a doença de novo.

*Com reportagem de Renata Turbiani e Paula Adamo Idoeta, em São Paulo

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Quem já teve sarampo fica imune?

Quem já pegou sarampo uma vez está imune? Sim. Os indivíduos que já tiveram uma vez a doença estão naturalmente imunes e não adoecem novamente.

Como saber se eu já tive sarampo?

Sim, existe a sorologia e é exatamente pelo IgG que sabemos se a pessoa teve contato com a doença e portanto tem memória imunológica.

Quanto tempo dura a imunização do sarampo?

15- Por quanto tempo a vacina é válida? Se você tomou as duas doses, ela é válida para sempre.

Quem já teve sarampo pode pegar de novo?

Transmissão. A transmissão ocorre por gotículas respiratórias e a doença é muito contagiosa. 90 % das pessoas suscetíveis adquirem sarampo ao entrar em contato com alguém contaminado. A doença dá imunidade definitiva: só se tem sarampo uma vez.