De tempos em tempos somos confrontados com notícias de que os alunos brasileiros vão mal em Matemática. De fato, apesar de ninguém negar a importância de se aprender Matemática na escola, no Brasil ainda não atingimos a qualidade de aprendizagem esperada para todos os alunos brasileiros e vemos que, segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017, temos apenas 15,5% dos alunos do 5º ano nos níveis adequados de proficiência em Matemática, e 4,5% de adequados no 9º ano.
Análises de dados internacionais também colocam o Brasil em uma situação altamente desafiadora no que diz respeito a fazer com que os alunos aprendam Matemática de qualidade nas escolas. A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) traz inovações importantes nessa área de conhecimento. Entre elas, destacamos três aspectos importantes:
- A meta de fazer com que a escola atue pelo letramento matemático como uma competência a ser desenvolvida nos alunos;
- A alteração das áreas temáticas;
- As implicações que ambas podem trazer para o ensino.
A Matemática da BNCC tem uma peculiaridade pois é simultaneamente área de conhecimento e disciplina. Assim, há um conjunto de competências que se espera que os alunos desenvolvam ao longo de sua trajetória escolar, bem como a descrição das habilidades previstas. Isso tudo está organizado separadamente em três grandes blocos, que incluem um texto introdutório da área/disciplina, uma descrição das áreas temáticas (anteriormente nomeada de eixos ou campos) e, finalmente, os quadros de conceitos e habilidades por ano.
No texto introdutório, o aspecto mais relevante, a meu ver, está no compromisso com o desenvolvimento integral do estudante com a contribuição da Matemática. Existe um posicionamento em prol do letramento matemático, definido com competências e habilidades de raciocinar, representar, comunicar e argumentar matematicamente, de modo a favorecer o estabelecimento de conjecturas, a formulação e a resolução de problemas em uma variedade de contextos, utilizando conceitos, procedimentos, fatos e ferramentas matemáticas.
É também o letramento matemático que assegura aos alunos reconhecer que tais conhecimentos são fundamentais para a compreensão e a atuação no mundo. Além disso, por meio do letramento é possível desenvolver o caráter de jogo intelectual da Matemática como aspecto que favorece o desenvolvimento do raciocínio lógico e crítico, estimula a investigação e pode ser prazeroso (fruição) (BNCC, p. 264).
A resolução de problemas, a formação do leitor e do escritor em Matemática, o desenvolvimento da capacidade de argumentar e justificar raciocínios são alguns aspectos diretamente relacionados ao letramento matemático, e que fazem com que a Matemática ganhe valor a vida toda. Dessa valorização do letramento decorre a primeira implicação para o ensino que você vai desenvolver em suas aulas, ainda que a Base não aborde a metodologia. De fato, se há um desejo de que os alunos resolvam problemas, argumentem, aprendam a ler, escrever e falar Matemática, a aula deve estar pautada por atividades desafiadoras, problematizadoras e que favoreçam o trabalho em grupo, a articulação de pontos de vista e, também, ações de leitura e representação de pensamentos e conclusões.
Será cada vez mais relevante que a Matemática e a alfabetização caminhem juntas, que o professor assuma a formação do leitor e do escritor também nas aulas de Matemática e que, ao planejar a aula, já se preveja a necessidade de engajamento em atividades que sejam possíveis, mas exijam esforço e defesa de pontos de vista para que a argumentação, o raciocínio e as representações sejam priorizadas.
Um segundo ponto de inovação trazido pela Base está nas áreas temáticas – e em como o desenvolvimento deve ser integrado. Se nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) tínhamos quatro grandes blocos/eixos/campos, agora são cinco: quatro mantidos dos PCNs com alguma modificação de nomenclatura. Agora, passam a se chamar Números (incluindo operações), Grandezas e Medidas, Geometria (antes Espaço e Forma), Probabilidade e Estatística (antes Tratamento da Informação) e um bastante novo para os anos iniciais: a Álgebra.
Das cinco áreas temáticas, Probabilidade e Estatística e Álgebra são as que apresentam maiores inovações ao ensino e aprendizagem da Matemática, em especial nos anos iniciais. A primeira porque recebeu mais que a troca de nomes: houve uma valorização de conceitos, procedimentos e habilidades que devem ser abordados ano a ano. A probabilidade aparece com maior ênfase, a Estatística ganhou um reforço importante por meio de uma abordagem de pesquisa e, por isso, também ficou melhor organizado o que se espera como foco da área em cada ano. Já a segunda área, Álgebra, nunca havia sido trabalhada sistematicamente nos anos iniciais, e ela não pode ser confundida com a ideia tradicionalmente abordada nos anos finais de “achar o valor de X ou operar com letras”.
Nos anos iniciais, a Álgebra vem com foco no desenvolvimento do algébrico por meio da exploração de padrões e regularidades, na relação entre as operações e na ampliação do estudo da Aritmética para que os alunos entendam algumas propriedades importantes (comutativa e distributiva, por exemplo) que serão essenciais na Álgebra dos anos finais. Há, também, uma ênfase no estudo do sinal da igualdade e seus significados.
Feitas estas considerações, é preciso destacar a importância do livro didático neste momento de transição. Primeiro porque, ao selecionar o livro, mais do que verificar se ele está de acordo com a Base, fazendo um checklist de conteúdos e habilidades ano a ano, você precisa ficar atento à metodologia utilizada. Estará nesse aspecto a grande diferença entre os livros. Todos podem trabalhar o mesmo conteúdo, mas qual é a forma pela qual a Matemática está sendo ensinada? É um conjunto de regras? As atividades são desafiadoras? Ajudam a desenvolver o letramento matemático e o pensamento algébrico? Há espaço para os alunos lerem e escreverem em Matemática?
A BNCC criou uma régua para que os livros estejam alinhados quanto ao que ensinar. Sua tarefa, como professor, é perceber que o como ensinar ficou a cargo de cada autor. No entanto, o texto introdutório dá pistas da melhor forma de ensinar para que os alunos aprendam. É nesse diferencial que você precisa ter atenção. Afinal, para que o ensino de Matemática tenha sucesso, é essencial que três fatores intervenham ao mesmo tempo: o que ensinar, para quem ensinar e como ensinar. O autor deve considerar como o aluno de cada fase escolar aprende, quando decidir pelo como, pois o quê a Base define. E o educador tem a tarefa de selecionar a melhor proposta para sua realidade. Lembre-se de que, depois do professor, as atividades propostas aos alunos são o maior fator de sucesso para que eles aprendam Matemática de qualidade.
Quer conhecer mais sobre como planejar aulas inovadoras alinhadas à BNCC para os Anos Iniciais do EF?
Então conheça as promoções do Mês dos Anos Iniciais que o Mathema preparou especialmente para Agosto.
Referências
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Sistema de Avaliação da Educação Básica. Edição 2015. Resultados. Brasília, DF, 2016. Disponível em: <//portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=75181-resultados-ana-2016-pdf&category_slug=outubro-2017-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 8 maio 2018.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF, 2017. Disponível em: <//basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/04/BNCC_19mar2018_versaonal.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2018.