A motricidade pode ser compreendida como a capacidade de o homem movimentar-se no mundo.

A motricidade pode ser compreendida como a capacidade de o homem movimentar-se no mundo.
A motricidade pode ser compreendida como a capacidade de o homem movimentar-se no mundo.

Educa��o F�sica no Brasil: a hist�ria que se contou

La Educaci�n F�sica en Brasil: la historia que se cont�

A motricidade pode ser compreendida como a capacidade de o homem movimentar-se no mundo.

 

*Graduanda do curso de Licenciatura em Educa��o F�sica da

Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, Crici�ma, SC

**Licenciado em Educa��o F�sica e Mestre em Educa��o pela

Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, Crici�ma, SC
(Brasil)

Helen Rebelo Sorato*

Carlos Augusto Euz�bio**

 

Resumo

          A Educa��o F�sica (EF) no Brasil tem sua hist�ria baseada em contextos de transforma��es educacionais relacionadas com mudan�as s�cio-pol�ticas marcadas principalmente pela ascend�ncia de algumas institui��es. No decorrer da hist�ria a EF t�m passado por mudan�as nos seus conhecimentos cient�ficos, produzidos por referenciais das ci�ncias naturais, sociais, e humanas. As concep��es pedag�gicas da Educa��o F�sica s�o frutos dessas mudan�as, o que proporcionou novos significados para o �mbito escolar e acad�mico. A cr�tica presente se faz em rela��o a fun��o escolar-social da Educa��o F�sica, que n�o se encontra legitimada a fim de atender a l�gica do capitalismo e sim compreender a disciplina como um fen�meno hist�rico cultural que atrav�s de concep��es progressistas seja poss�vel construir uma pr�xis que contribua para a forma��o de indiv�duos cr�ticos agentes na transforma��o da sociedade.

          Unitermos:

Educa��o F�sica. Hist�ria. Epistemologia. Concep��es pedag�gicas.

   

A motricidade pode ser compreendida como a capacidade de o homem movimentar-se no mundo.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, A�o 18, N� 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

A motricidade pode ser compreendida como a capacidade de o homem movimentar-se no mundo.

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    �Perguntar o que � Educa��o F�sica s� faz sentido, quando a preocupa��o � compreender essa pr�tica para transform�-la�.

Introdu��o

    A educa��o em todo o seu processo hist�rico vem sendo alienada ao modelo de sociedade vigente, sendo uma pe�a fundamental para a reprodu��o do modelo econ�mico desta sociedade. Sabe-se que ao longo da hist�ria vivemos em uma sociedade dividida em classes, e a educa��o em todo esse processo est� constru�da de forma a atender aos dominantes.

    Assim sendo, a Educa��o F�sica tamb�m reproduz esses interesses, contribuindo para conserva��o desse modelo configurado, alienando os indiv�duos, preparando-os t�o somente para o mercado de trabalho a fim de reproduzir a l�gica do capital. A Educa��o F�sica constitui-se ent�o nas escolas de pr�ticas hegem�nicas conservadoras e se n�o bastasse, constitui-se muitas vezes como uma disciplina menosprezada que n�o est� legitimada de fato na escola, sendo caracterizada como uma pr�tica inferior.

    A dificuldade de legitima��o da Educa��o F�sica est� inserida desde a hist�ria da educa��o, e compreender sua hist�ria, permite identificar melhor as raz�es pelas quais h� uma desvaloriza��o da disciplina, porque se confunde a fun��o do professor e de que forma a educa��o contribui para a manuten��o do modelo de sociedade atual.

    Para compreender todo esse processo � preciso primeiramente compreender como se deu a constitui��o da Educa��o F�sica no Brasil. Surgindo ent�o, a necessidade do tema: Educa��o F�sica no Brasil: a hist�ria que se contou. Tendo como problem�tica para este estudo a seguinte pergunta: Qual �/foi � hist�ria contada sobre a Educa��o F�sica no Brasil nas constitui��es bibliogr�ficas da �rea?

    Nossa pesquisa desdobra-se nos seguintes objetivos espec�ficos: Estabelecer o processo hist�rico da constitui��o da Educa��o F�sica no Brasil; Apresentar e compreender os diferentes entendimentos epistemol�gicos sobre a Educa��o F�sica; Apresentar e compreender as principais concep��es pedag�gicas desenvolvidas na �rea.

    Selecionamos os autores ao qual estudamos pelas suas contribui��es em rela��o ao tema, considerando-os relevantes � esta tem�tica.

O processo hist�rico da constitui��o da Educa��o F�sica no Brasil

    Ao longo de todas as mudan�as sociais e econ�micas, a educa��o tamb�m adotou sentidos diferentes, e assim como parte integrante desta, a Educa��o F�sica. Ambas se tornaram um instrumento de reprodu��o do sistema vigente e n�o de emancipa��o humana.

    Para melhor compreens�o de todo este processo que envolve o capital com a educa��o, detalharemos como a educa��o f�sica se configurou ao longo dos anos sendo influenciada por tr�s tend�ncias que ficar�o claras no decorrer deste artigo.

    Assim sendo, encontramos nas constitui��es bibliogr�ficas da �rea que alguns te�ricos percebem a Educa��o F�sica como �[...] elemento menor, secund�rio do fen�meno educacional. N�o raro, visualizam-na unicamente como instrumento de veicula��o da ideologia dominante, alienada e alienante, numa clara alus�o � �tica critico reprodutiva�. (S�rgio apud CASTELLANI FILHO, 1991, p.25).

    Para dar in�cio a hist�ria, encontramos que as atividades f�sicas dos primeiros habitantes no Brasil eram semelhantes �s desenvolvidas na pr�-hist�ria. Na luta pela sobreviv�ncia praticavam diversas atividades. (SOARES, 2007).

    Segundo Betti (apud DARIDO, 2003), com o passar do tempo, essas atividades foram se modificando, surgindo a Educa��o F�sica1. Com a inclus�o desta na escola, surgiu uma preocupa��o voltada � inclus�o de exerc�cios f�sicos e as aulas eram constitu�das de gin�stica e dan�a. Com as reformas educacionais, a Educa��o F�sica ficou intitulada como gin�stica.

    Ao analisarmos os estudos que tratam a Educa��o F�sica no Brasil, nos deparamos ainda com os que a vinculam � hist�ria das institui��es militares no pa�s, confundindo a hist�ria da Educa��o F�sica com a dos militares. A informa��o tem validade considerando que os primeiros professores de Educa��o F�sica marcaram-se pela presen�a dos militares. (CASTELLANI FILHO, 1991).

    A Educa��o F�sica no Brasil no s�culo XIX era elemento de import�ncia para a forma��o de indiv�duos fortes e saud�veis que iriam contribuir para o desenvolvimento do pa�s, que sairia da condi��o de col�nia portuguesa para construir seu modo de vida. As institui��es militares garantiam a manuten��o da ordem para se chegar ao progresso. Isso leva a entender que a Educa��o F�sica � a Educa��o do F�sico, mas nesta mesma compreens�o h� outra influ�ncia, a dos m�dicos, �[...] calcada nos princ�pios da medicina social de �ndole higi�nica, imbu�ram-se na tarefa de ditar � sociedade, atrav�s da institui��o familiar, os fundamentos pr�prios ao processo de reorganiza��o daquela c�lula social� (CASTELLANI FILHO, 1991, p. 39).

    Os higienistas atribu�ram � Educa��o F�sica a fun��o de formar corpos saud�veis, robustos e harmoniosos que surgem em oposi��o ao corpo fl�cido e doentio do indiv�duo colonial, mas que acabou contribuindo para que este modelo representasse uma classe e uma ra�a, acentuando as quest�es de preconceito e racismo. �A fam�lia nuclear e conjugal, higienicamente tratada e regulada, tornou-se nessemovimento, sin�nimo hist�rico de fam�lia burguesa� (Costa apud CASTELLANI FILHO, 1991, p.42).

    O militarismo possu�a a pr�tica de exerc�cios sistematizados e a educa��o do corpo servia � promo��o de sa�de por meio de h�bitos higi�nicos, desenvolvimento da for�a, al�m de ser baseada no patriotismo. Sendo assim, denunciavam os malef�cios da estrutura familiar do per�odo colonial, proclamando-os profissionais competentes para redefinir os padr�es da nova fam�lia brasileira baseados na conduta f�sica, moral e intelectual. (CASTELLANI FILHO, 1991).

    Ao conquistar a sua Independ�ncia, o Brasil possu�a metade da popula��o composta pela massa escrava. O n�mero de negros cativos foi crescendo e juntamente com isso, o medo de rebeldia, com a probabilidade de serem manipulados pelos portugueses com o intuito de recoloniza��o. Portanto, o m�todo higienista visava multiplicar a popula��o branca, classe dominante por meio de tudo citado anteriormente, educa��o do f�sico, moral, intelectual e ainda sexual, garantindo este �ltimo a procria��o por meio da Educa��o F�sica, esta associada ao fato em quest�o, que garantiria a reprodu��o da prole, de ra�as puras. (CASTELLANI FILHO, 1991).

    Ambas as concep��es, higienista e militarista, consideravam a Educa��o F�sica como uma disciplina essencialmente pr�tica que n�o necessitava de fundamenta��o te�rica para lhe dar suporte.

    A Educa��o F�sica ent�o possui conte�do m�dico higi�nico, uma vez que a classe dominante queria corpos saud�veis, mas nas condi��es da sociedade, as classes pobres eram t�o prec�rias que para os m�dicos as doen�as provinham disso, sendo necess�rio educar para mudan�a de h�bito e costumes. O vigor f�sico dos trabalhadores era essencial para que o capital pudesse avan�ar, mas o corpo devia ser adestrado e disciplinado para que �nunca pudesse ir al�m de um corpo de um �bom animal�.� (SOARES, 2007, p.33).

    Contribu�ram para este adestramento das classes trabalhadoras as institui��es sociais, sendo a institui��o escolar uma das refer�ncias na constru��o desse homem idealizado pelos burgueses e o exerc�cio f�sico surge a partir de conceitos m�dicos.

    No per�odo colonial a Educa��o F�sica aos olhos dos dominantes estava vinculada ao trabalho manual e f�sico, que era inferior em rela��o ao trabalho intelectual. Sendo assim, o primeiro pertencia aos escravos e o �ltimo aos dominantes. Este fato justifica o obst�culo do ensino t�cnico profissionalizante por parte da classe dominante por este assumir uma educa��o longe do trabalho de produ��o. (CASTELLANI FILHO 1991).

    Segundo Soares (2007), com o passar do tempo as massas come�aram a tomar consci�ncia de classe, o que acabou atingindo a burguesia. O fato exigiu o aperfei�oamento urbano de forma mais sistem�tica, cuidando da vida dos indiv�duos. As classes dominantes queriam garantir a sa�de e uma educa��o higi�nica aos pobres por afirmarem que estes possu�am muitos v�cios e eram imorais. � nesse discurso que a Educa��o F�sica torna-se capaz de promover uma assepsia social.

    � importante ressaltar que a Educa��o F�sica era desprestigiada enquanto servia ao trabalho, mas valorizada pelos dominantes na medida em que era ludicidade e ocupa��o do tempo livre. Os higienistas se envolveram ent�o, com a educa��o escolar sendo esta uma extens�o da educa��o familiar, em que os pais influenciavam nas linhas pedag�gicas a serem seguidas.

    Mafra (apud CASTELLANI FILHO, 1991) fazia refer�ncia �s exig�ncias dos pais na escola, exigindo que o ensino n�o expusesse os alunos ao sol, chuva, fadiga e exerc�cios em que poderiam se machucar. Os educadores passaram a defender a Gin�stica nos col�gios e a resist�ncia surgiu por parte da classe dominante. Surgia tamb�m uma contrariedade em rela��o aos homens, que estavam acostumados com a gin�stica das institui��es militares, mas que n�o pertencia ao sexo feminino. A aula de gin�stica n�o foi aceita pelo p�blico, e as alunas eram proibidas pelos pais de praticarem a gin�stica. Mas os educadores n�o desistiram e lutaram para tornar obrigat�ria a Educa��o F�sica no curr�culo escolar.

    A Educa��o F�sica era vista como disciplina que n�o necessitava de fundamenta��o te�rica e estava �dividida� em educa��o do f�sico e da mente. Assim sendo, Azevedo (apud CASTELLANI FILHO, 1991) queria acabar com a dicotomia do ensino intelectual e f�sico surgindo � necessidade de desenvolver harmonicamente o que completa o indiv�duo, mas o f�sico ainda se colocava a servi�o do intelectual tornando-se uma vis�o dualista de homem.

    O papel da Educa��o F�sica, tratando da eugenia da ra�a, era formar mulheres fortes e sadias para assim terem condi��es de gerar filhos sadios para defenderem a P�tria. Sendo assim, � vis�vel que este estava preocupado em adequar a educa��o aos padr�es dos higienistas. A mulher, ligada sempre a imagem de m�e, deveria ter uma Educa��o F�sica:

    [...] integral, higi�nica e pl�stica, e abrangendo com trabalhos manuais os jogos infantis, a gin�stica educativa e os esportes, cingir-se exclusivamente aos jogos e esportes menos violentos e de todo compat�veis com a delicadeza do organismo das m�es [...]. (CASTELLANI FILHO, 1991, p. 58).

    Da ideia de que as atitudes femininas s�o caracter�sticas biol�gicas, o sexo masculino sentiu-se superior a mulher, fugindo do fato de que essas atitudes est�o ligadas a determinantes socioculturais e n�o biofisiol�gicos.

    Contudo, segundo Louren��o (apud CASTELLANI FILHO, 1991), o que determina tais diferen�as entre homens e mulheres s�o os fatores ambientais, que atrav�s do tempo, v�o determinando as capacidades diferentes existentes entre os sexos. E � nesse processo que a Educa��o F�sica deve adaptar-se a tais diferen�as e compreender que estas s�o frutos das condi��es culturais existentes na sociedade.

    Sendo assim, � poss�vel explicar a imagem de mulher ligada unicamente ao papel de m�e, uma vez que na gin�stica diferenciavam-se as atividades das mulheres justificando que elas tinham condi��es limitadas pelo fator biofisiol�gico, mas n�o compreendiam que estavam possibilitando aos homens se desenvolverem mais em destrezas f�sicas, pois as mulheres n�o podiam praticar estas atividades, estavam restringidas aos afazeres dom�sticos.

    Segundo Castellani Filho (1991), a Educa��o F�sica, se tornara mais tarde componente do curr�culo da escola prim�ria e secund�ria. A Associa��o Brasileira de Educa��o queria averiguar os m�todos de Educa��o F�sica e enquanto n�o fosse criado o m�todo nacional de Educa��o F�sica a ser ensinado em todas as institui��es de ensino ficaria adotado o m�todo franc�s, sendo que tal m�todo consistia em exerc�cios gin�sticos.

    Nesse per�odo hist�rico, eram importados modelos de pr�ticas corporais, como o m�todo alem�o e o m�todo franc�s. Os conte�dos de Educa��o F�sica eram repeti��es mec�nicas de gestos e movimentos. Surgiram ainda em outros momentos outros m�todos gin�sticos, dentre eles o m�todo sueco e o desportivo generalizado. (MARINHO, s/d).

    Com o passar do tempo nos encontramos com uma reforma em que a Educa��o F�sica passa a ser obrigat�ria.

    A Educa��o F�sica deve fazer parte dos programas de ensino, mas n�o com o car�ter de facultativa, deve ser obrigat�ria. De que nos servir� ter milh�es de doutores que representam milh�es de doentes? N�o podemos deixar de tratar, com o maior empenho poss�vel, do nosso aprimoramento racial, do robustecimento do povo. (CASTELLANI FILHO, 1991, p. 77).

    Surge uma sens�vel mudan�a no papel da Educa��o F�sica, que al�m de se preocupar com a eugeniza��o da ra�a brasileira - voltada para os princ�pios da Seguran�a Nacional, em que o cidad�o deveria cumprir seu dever de defender a p�tria frente aos perigos internos, conflito que desestruturou a ordem pol�tica econ�mica levando a perigos externos de um conflito a n�vel mundial- visava assegurar a industrializa��o com m�o de obra adestrada.

    Cabia a Educa��o F�sica �cuidar da prepara��o, manuten��o e recupera��o da for�a de trabalho do Homem brasileiro�. (CASTELLANI FILHO, 1991, p. 81).

    Surge ent�o, a Educa��o F�sica e a Educa��o Moral e C�vica articuladas para dar conota��o ditada pela pol�tica de governo. Desta forma: �[...] o ensino C�vico seria ministrado em todos os graus e ramos de ensino e a Educa��o F�sica seria obrigat�ria nos cursos prim�rios e secund�rios, sendo facultativa no superior.� (CASTELLANI FILHO, 1991, p. 85).

    A escola tornara-se um instrumento de veicula��o da ideologia dominante, no caso, a favor do Estado e cabia a Educa��o F�sica a:

    [...] �militariza��o do corpo�, (que se dava em 3 patamares, quais sejam, o da moraliza��o do corpo pelo ex�rcito f�sico, o do aprimoramento eug�nico incorporado a ra�a e a a��o do Estado sobre o preparo f�sico e suas repercuss�es no mundo do trabalho), a qual se deu concomitantemente, � �militariza��o espiritual�. (Lenharo apud CASTELLANO FILHO, 1991, p. 85).

    Articulada com a preocupa��o da produ��o procurava-se estabelecer um processo de educa��o da classe trabalhadora baseada nos princ�pios burgueses.

    Segundo Rolim (apud CASTELLANI FILHO, 1991), a miss�o da Educa��o F�sica nos estabelecimentos fabris � o fortalecer os corpos, mediante os desportos e jogos ao ar livre que devem compensar o esfor�o feito no trabalho, e que deve proporcionar for�a, alegria e sa�de.

    Para tanto, os objetivos da Educa��o F�sica estavam inculcados na industrializa��o e a utiliza��o das horas de folga com divers�o para reparar os danos e ter mais energia, assumindo import�ncia como meio de �transforma��o do indiv�duo, em cidad�o �til, a coletividade�. (CASTELLANI FILHO, 1991, p.98).

    Assim sendo, as inspira��es liberalistas deram lugar a uma tend�ncia tecnicista, sendo esta, embasada na forma��o t�cnico profissionalizante, compondo o quadro de teorias despidas de criticidade, visando adequar o plano educacional ao modelo de desenvolvimento econ�mico que se inseria no Brasil, sendo ent�o, pautada nos princ�pios do capital. (CASTELLANI FILHO, 1991).

    Na concep��o liberal o estudante � o fim da educa��o, enquanto na tend�ncia tecnocr�tica este � o instrumento da educa��o. N�o se trata ent�o, da constru��o de homens, mas da constru��o da for�a de trabalho por meio da qualifica��o t�cnica.

    De acordo com Castellani Filho (1991) a Educa��o F�sica continuou a representar os pap�is que n�o eram pr�prios dela, para a defini��o da pol�tica educacional frente � economia. Assim a Educa��o F�sica se inseria num contexto de uma pr�tica sem teoria, sendo esta, refletida apenas a educa��o do f�sico numa compreens�o de sa�de.

    A compreens�o da Educa��o F�sica enquanto �mat�ria curricular� incorporada aos curr�culos sob a forma de atividade � a��o n�o expressiva de uma reflex�o te�rica, caracterizando-se dessa forma, no �fazer pelo fazer� � explica e acaba por justificar sua presen�a na institui��o escolar, n�o como um campo do conhecimento dotado de um saber que lhe � pr�prio, espec�fico � cuja apreens�o por parte dos alunos refletiria parte essencial da forma��o integral dos mesmos, sem a qual esta n�o se daria � mas sim enquanto uma mera experi�ncia limitada em si mesma, destitu�da do exerc�cio da sistematiza��o, e compreens�o do conhecimento, existente apenas empiricamente. (CASTELLANI FILHO, 1991, p. 108).

    Mais tarde, no espa�o escolar, a Educa��o F�sica passa a ser obrigatoriedade do Ensino Superior, tinha o papel de colaborar por meio do car�ter l�dico esportivo com o fim do movimento estudantil para tentativas de rearticula��o pol�tica. Eis �[...] os tra�os alienados e alienantes absorvidos pela �personagem� vivida pela Educa��o F�sica�. (CASTELLANI FILHO, 1991, p. 121).

    O esporte surge como conte�do da Educa��o F�sica como estrat�gia de governo, na medida em que esta atuaria na promo��o do pa�s por meio do �xito em competi��es. (DARIDO, 2003). O governo queria atrav�s do Esporte, calar os jovens desviando sua aten��o das quest�es s�cio pol�ticas. Em troca do bom comportamento atrav�s do sil�ncio, os jovens ganhariam algumas recompensas, e estas estavam ligadas ao esporte.

    [...] os Diret�rios Acad�micos, seriam transformados em alegres centros recreativos ou, na melhor das hip�teses, em clubes esportivos, cujos atletas envergariam, com orgulho, camisas ol�mpicas coma inscri��o �University of Brasil� no peito. (Poerner apud CASTELLANI FILHO, 1991, p.121).

    Assim, sendo, surge a pr�tica corporal esportiva, que foi importante para a pol�tica do corpo, orientada pelos princ�pios da concorr�ncia e do rendimento incentivada pela gin�stica, promovendo a aptid�o f�sica, a sa�de e a capacidade de trabalho, rendimento individual e social. A Educa��o F�sica pauta no esporte a nova t�cnica corporal com o objetivo de representar o pa�s no cen�rio internacional. Os princ�pios eram os mesmos, desenvolver o corpo a fim de maior desempenho, agora no caso, atl�tico. (BRACHT, 1999).

    A influ�ncia do esporte se tornara t�o grande na escola que como afirma o Coletivo de Autores (1992) o esporte passou a ser esporte na escola e n�o da escola. E nesse contexto o professor se tornara um treinador. Assim sendo, a Educa��o F�sica estava voltada para o rendimento e por consequ�ncia a sele��o dos mais habilidosos.

    O modelo esportivista hoje � criticado, mas ainda se constitui nas escolas por meio das pr�ticas hegem�nicas. A Educa��o F�sica surge em meio de um processo de avan�o da automa��o da m�o de obra e se deve a isso a constru��o do modelo de corpo produtivo que a educa��o se encarregava de formar.

    Mais tarde, com as ci�ncias sociais e humanas implantadas na �rea da Educa��o F�sica, surgiu uma cr�tica do paradigma da aptid�o f�sica, dando enfoque ao um movimento renovador na Educa��o F�sica brasileira. �O desconhecimento da hist�ria da EF fez com que n�o se percebesse que esse movimento apenas atualizava o percurso e a origem hist�rica da EF e, portanto, que ele n�o rompia com o pr�prio paradigma da aptid�o f�sica�. (BRACHT, 1999, p. 77).

    Atualmente, � poss�vel perceber os movimentos que buscam recuperar o papel corp�reo no que diz respeito aos processos de aprendizagem embasados nas ci�ncias naturais. No entanto, sabe-se que esse entendimento de ser humano tem bases concretas na forma como o homem vem produzindo e reproduzindo a vida.

    Tal cr�tica constituiu aos poucos uma corrente progressista. Nas duas �ltimas d�cadas foram colocadas v�rias propostas pedag�gicas e hoje, a Educa��o F�sica, conta com diversas alternativas delas, embora a pr�tica pedag�gica ainda resista a mudan�as.

    Segundo Bracht (1999) o desafio marcante da Educa��o F�sica � se legitimar na escola, por�m, fora de uma concep��o cr�tica, a promo��o da sa�de ainda � uma tentativa conservadora de legitimar a Educa��o F�sica na escola, mas � not�rio que nem assim se assegurar�, visto o crescimento da oferta e consequentemente consumo dos servi�os ligados �s pr�ticas corporais fora do �mbito da escola, tratando aqui das escolinhas de inicia��o esportiva, academias, enfim, que permitem o acesso � atividades f�sicas, sem depender da Educa��o F�sica escolar.

    Assim sendo, apresenta-se mais f�cil al�m de necess�rio encontrar argumentos para legitimar a Educa��o F�sica na escola em uma vis�o cr�tica em que a cultura corporal � t�o importante, sendo esta respons�vel em n�o apenas reproduzir a vida do cidad�o, mas permitir que o indiv�duo se aproprie criticamente disto e exer�a de fato sua cidadania, eis a tarefa da Educa��o F�sica escolar. (BRACHT, 1999).

Os diferentes entendimentos epistemol�gicos sobre a Educa��o F�sica

    Para a burguesia, a ci�ncia positivista deveria encontrar as f�rmulas para que se mantivesse a ordem natural das coisas. Augusto Comte (apud SOARES, 2007) via nesse sentido a necessidade de hierarquiza��o. A Educa��o F�sica se enquadra nesse cen�rio com uma vis�o biol�gica e naturalizada de sociedade direcionada a manuten��o da ordem. Assim as transforma��es sociais passaram a ser explicadas a partir das leis biol�gicas por meio de pesquisas cient�ficas. E estas afirmam que as desigualdade sociais s�o determinadas pelos fatores heredit�rios e gen�ticos sendo ent�o naturais passados de gera��o sem possibilidade de mudan�a.

    Tal teoria era considerada instrumento de poder a burguesia na medida que �[...] �demonstrando� dados biol�gicos isolados da vida dos indiv�duos em sociedade, ideologicamente confirmavam a superioridade de uns sobre os outros [...].� (SOARES, 2007, p. 17).

    Para as ci�ncias biol�gicas o corpo � uma estrutura mec�nica que n�o pensa. Sendo assim, �a ci�ncia � controle da natureza e, portanto, da nossa natureza corporal. A ci�ncia fornece os elementos que permitir�o um controle eficiente sobre o corpo e um aumento de sua efici�ncia mec�nica.� (BRACHT, 1999, p. 73).

    A competi��o, por exemplo, que � eixo do capitalismo, � entendida nessa teoria como elemento natural do desenvolvimento da sociedade. Os mais aptos vencem e isso contribui para melhorar a ra�a. A eugenia servia para explicar o dom�nio da classe dominante, em que as evid�ncias apontadas pela ci�ncia eram observ�veis. A explica��o da sociedade passa a ser as bases biol�gicas e o homem e suas pr�ticas sociais se limitam a essa ci�ncia.

    A Educa��o F�sica influenciada pelo liberalismo e positivismo passou a se organizar seguindo normas, hierarquia e disciplina. Primeiro aderiu suas regras aos esportes, �[...] permitindo a todos ganhar no jogo e vencer na vida pelo seu pr�prio esfor�o [...]�. (SOARES, 2007, p. 50).

    Segundo Soares (2007), na consolida��o dos ideais da burguesia a Educa��o F�sica ocupa um corpo a-hist�rico, sendo a express�o f�sica da sociedade do capital, constituindo-se de uma vis�o positivista de ci�ncia em que o homem passa a ser definido nos limites biol�gicos. Tal modelo � considerado mecanicista em que o conhecimento � a c�pia do objeto e a sociedade � regida por leis naturais, compreende-se que esta evolui do simples ao complexo.

    Para Castellani Filho (1991) existe hoje na Educa��o F�sica brasileira um movimento embasado em tr�s tend�ncias, sendo uma delas apresentada pela Biologiza��o, tend�ncia esta que compreende o movimentar-se humano apenas em seu aspecto biol�gico enfatizando as quest�es de performance esportiva, e � efici�ncia da produtividade. Se faz presente ent�o nesta tend�ncia, o car�ter m�dico, aquele ao qual v� a sa�de em seus aspectos biofisiol�gicos. Outra tend�ncia � a Psicopedagogiza��o da Educa��o F�sica, em que predomina o tecnicismo. Visa uma forma��o acr�tica, em busca de uma capacita��o qualificada da m�o de obra, decorrentes da Teoria do Capital.

    Essas duas tend�ncias, integram o quadro de tend�ncias acr�ticas da Filosofia da Educa��o, caracterizadas pela pr�tica tecnicista e pelo neopositivismo, enquanto surge outra tend�ncia, baseada na Concep��o Hist�rico Cultural. Essa se caracteriza como uma �[...] a��o pol�tica, a medida que busca possibilitar a apropria��o, pelas Classes Populares, do saber pr�prio a cultura dominante, instrumentalizando-as para o exerc�cio pleno de sua capacidade de luta no campo social�. (CASTELLANI FILHO, 1991, p.220).

    Cabe ent�o, a Educa��o F�sica socializar o conhecimento hist�rico pertinentes � Motricidade Humana, vinculando essa compreens�o de movimento ao fator de cultura, uma vez que o Homem � um ser cultural, portanto a Educa��o F�sica trata ent�o dos aspectos s�cio antropol�gicos do movimento humano. Trata-se de compreender que o que define a consci�ncia corporal do homem � a compreens�o dos fatores ligados aos aspectos socioculturais pertinentes no contexto hist�rico da sociedade. (CASTELLANI FILHO, 1991).

    Segundo Gamboa (2007) a Educa��o F�sica/Ci�ncias do Esporte, assim como outras �reas do conhecimento se encontra numa fase de defini��o epistemol�gica que progride na medida em que clareia seu campo por meio das pesquisas cientificas com as cr�ticas dos procedimentos e resultados, no mundo das ci�ncias relaciona-se a epistemologia.

    Segundo Bracht (1993) h� uma flutua��o das sub�reas das ci�ncias naturais (fisiologia, medicina) �s ci�ncias humanas (pedagogia, sociologia, filosofia).

    Gamboa (2007) denomina essas flutua��es de colonialismo das ci�ncias m�es uma vez que se aplicam os m�todos e teorias dessas ci�ncias m�es. A Educa��o F�sica est� encontrando novos campos em que se justificam os fen�menos na a��o concreta e pr�tica do movimento, da motricidade humana e da cultura corporal. Por tratar de fen�menos f�sicos e humanos n�o pode a Educa��o F�sica se enquadrar apenas nas ci�ncias f�sicas ou humanas, sendo necess�rio encontrar uma nova categoria para justificar as especificidades desse novo campo epistemol�gico.

    Para Gamboa (2007), a Educa��o F�sica se encontra em um l�cus privilegiado do processo educativo por abordar as situa��es que constitui e desenvolve o ser humano a partir das condi��es naturais e sociais que se inter-relacionam.

    Segundo Santin (apud GAMBOA 2007) a Educa��o F�sica encontra seu fundamento b�sico no pr�prio homem. Este quem sustenta a Educa��o F�sica, o corpo e o homem s�o intr�nsecos, o homem se movimenta, o corpo se movimenta e interligando o movimento humano como manifesta��o supera o dualismo de corpo e mente.

    Ganha espa�o tamb�m a tend�ncia que tem como matriz epistemol�gica o Materialismo Hist�rico e a Filosofia da Pr�xis, em que o homem se aproxima da compreens�o hist�rica e age como transformador da natureza. (GAMBOA 2007).

    Bracht (1999) compreende que a Educa��o F�sica, como componente do sistema universit�rio brasileiro acaba por incorporar as pr�ticas cient�ficas t�picas desse meio, buscando consequentemente, a qualifica��o do corpo docente, passando a adotar discuss�es pedag�gicas influenciadas pela sociologia e a filosofia da educa��o baseada no marxismo.

    Essas teorias chamadas de progressistas sugerem procedimentos did�tico pedag�gicos que as possibilitem ao se tematizarem as formas culturais do movimentar-se humano, um esclarecimento cr�tico a seu respeito, desvelando suas vincula��es com os elementos da ordem vigente. Estas tentativas de constituir um arcabou�o te�rico-pr�tico que permitisse avan�os no campo did�tico-pedag�gico � enfrentando claramente os limites das proposi��es cr�tico reprodutivistas � precisaram encontrar uma base filos�fica/epistemol�gica/ontol�gica constitutiva de uma compreens�o, narrativa e interven��o que se pretendiam (pretendem) revolucion�rias.

    As concep��es cr�tico superadora e cr�tico emancipat�ria situam-se no campo acad�mico e pol�tico � nas produ��es das revistas especializadas; nos cursos de forma��o inicial; nos programas de p�s-gradua��o; nas secretarias de educa��o e na produ��o bibliogr�fica � de forma mais evidente e marcante. Estas concep��es empregam diferentes referenciais acordando, contudo, na ado��o de elementos de matrizes cr�ticas. Esgrime-se neste sentido a l�gica dial�tica para a cr�tico-superadora, e o agir comunicativo para a cr�tico-emancipat�ria.

    Segundo Coletivo de Autores (1992) os princ�pios da l�gica dial�tica s�o constitu�dos pela totalidade, pelo movimento, pelas mudan�as qualitativas e pela contradi��o. �Na perspectiva dial�tica favorece a forma��o do sujeito hist�rico � medida que lhe permite construir, por aproxima��es sucessivas, novas e diferentes refer�ncias sobre o real no seu pensamento.� (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.34).

    Para Kunz (2006) a did�tica comunicativa fundamenta a fun��o do esclarecimento e da preval�ncia de racionalidade comunicativa, na qual se desenvolvem a��es comunicativas, ou inten��es simbolicamente mediadas. A estrutura b�sica deve estar apoiada em pressupostos te�ricos com base em crit�rios de uma ci�ncia humana e social, formando alicerces do conhecimento para um agir racional-comunicativo. A emancipa��o � entendida como o processo que media o uso da raz�o cr�tica e todo o seu agir social, cultural e esportivo, desenvolvidos pela educa��o.

   Para tais teorias se concretizarem, � necess�rio compreender o objeto da Educa��o F�sica que � o movimentar-se humano, �n�o mais como algo biol�gico, mec�nico ou mesmo apenas na sua dimens�o psicol�gica, e sim como fen�meno hist�rico- cultural.� (BRACHT, 1999, p. 81).

    Os objetivos e as propostas pedag�gicas da Educa��o F�sica foram se modificando ao longo dos s�culos e todas as tend�ncias influenciam hoje de algum modo na forma��o profissional e nas pr�ticas pedag�gicas dos professores.

As concep��es pedag�gicas desenvolvidas na Educa��o F�sica

    Uma maneira ideal (no sentido Webberiano) de �organizar� historicamente a Educa��o F�sica � a estrutura��o pelo que ficou denominado de �tend�ncias�. Estas tend�ncias representavam um certo modelo hegem�nico em determinado per�odo hist�rico e em �ltima an�lise significaria um instant�neo do estado da arte da �rea em sua manifesta��o escolar.

    Segundo Ghiraldelli J�nior (2003) � poss�vel resgatar cinco tend�ncias da Educa��o F�sica brasileira. At� 1930 a Educa��o F�sica Higienista; de 1930 a 1945 a Educa��o F�sica Militarista; De 1945 a 1965 a Educa��o F�sica Pedagogicista; P�s 64 a Educa��o F�sica Competitivista e por fim a Educa��o F�sica Popular.

    O que tem em comum entre elas � a vis�o de Educa��o F�sica com a finalidade da manuten��o da sa�de individual, presas no lema �mente s� e corpo s�o�.

    A Educa��o Higienista busca resolver os problemas da sa�de p�blica pela educa��o na medida em que pretende disciplinar os h�bitos das pessoas e as afastarem das pr�ticas que prejudicam a sa�de e a moral. Busca livrar as pessoas das doen�as e dos v�cios preocupando-se com a forma��o de corpos sadios e fortes dispostos a a��o. �O cuidado com o corpo surge, ent�o, desprendido das possibilidades (ou impossibilidades?) que cada indiv�duo, inserido nesse sistema social, possui para adquirir e preservar a sa�de e manter o padr�o est�tico corporal imposto pela m�dia�. (GHIRALDELLI J�NIOR, 2003, p. 24)

    A Educa��o F�sica Militarista n�o se pode confundir com a Militar, pois n�o se restringe apenas ao preparo do f�sico. Por meio da Educa��o F�sica, busca formar indiv�duos capazes de suportar guerra. Possui o esp�rito de nacionalismo preparado para defender a p�tria. O papel da Educa��o F�sica � de ��colabora��o no processo de sele��o natural�, eliminando os fracos e premiando os fortes, no sentido da �depura��o da ra�a�.� (GHIRALDELLI J�NIOR, 2003, p.18). A Educa��o Militarista estava inspirada no fascismo que visava a forma��o do homem obediente.

    A Educa��o F�sica Pedagogicista encara a Educa��o F�sica como uma pr�tica educativa, em que a educa��o do movimento � capaz de promover a educa��o integral. (GHIRALDELLI J�NIOR, 2003). A gin�stica, a dan�a e o desporto s�o meios para educar, mas tamb�m levar o aluno a aceitar as regras.

    A Educa��o F�sica Competitivista � caracterizada pela competi��o e a supera��o individual em que o atleta � considerado her�i. (GHIRALDELLI J�NIOR, 2003). A Educa��o F�sica se restringe ao desporto de alto n�vel, vinculada ao treinamento e ao rendimento. Nessa tend�ncia o desporto seria capaz de aumentar o rendimento tamb�m educacional e trazer medalhas ol�mpicas ao pa�s.

    A Educa��o F�sica Popular segundo Ghiraldelli J�nior (2003) est� ligada a ludicidade e coopera��o. Compreende que a educa��o dos trabalhadores est� organizada para o confronto imposto pela luta de classes, com o objetivo de construir uma sociedade democr�tica.

    Segundo Darido (2003), em oposi��o as vertentes tecnicistas, esportivistas e biologistas surgem movimentos inspirados na hist�ria social pelo qual o Brasil passava. Tais concep��es visam romper com o modelo mecanicista que embasava a Educa��o F�sica at� ent�o.

    A tend�ncia Desenvolvimentista est� estruturada na aprendizagem e no desenvolvimento motor. O objetivo da Educa��o F�sica � trabalhar as habilidades e capacidades motoras, oferecendo experi�ncias de movimento adequadas ao n�vel de crescimento e desenvolvimento da crian�a, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcan�ada. Por�m, nesta tend�ncia n�o existe preocupa��o com a reflex�o, com alfabetiza��o e com a transforma��o, embora estas possam ocorrer como consequ�ncia. (DARIDO, 2003).

    A tend�ncia Construtivista Interacionista segundo Darido (2003) � apresentada como uma proposta metodol�gica que se op�em as linhas de Educa��o F�sica escolar anteriores que buscavam o desempenho m�ximo de padr�es de comportamento sem considerar as diferen�as individuais e as experi�ncias dos alunos, visando selecionar os mais habilidosos para competi��o. No Construtivismo Interacionismo a inten��o � a constru��o do conhecimento a partir da intera��o do sujeito com o mundo, onde o conhecer � um processo constante de reorganiza��o. As habilidades motoras precisam ser desenvolvidas, mas deve estar claro quais ser�o as consequ�ncias do ponto de vista cognitivo, social e afetivo. As habilidades motoras devem ser desenvolvidas num contexto de jogos e brincadeiras,

    Segundo Darido (2003) a tend�ncia da Psicomotricidade condiciona todos os aprendizados escolares. Leva a crian�a a tomar a consci�ncia de seu corpo, coordena��o motora, equil�brio, lateralidade. A Educa��o F�sica tem como objeto aperfei�oar ou normalizar o comportamento geral da crian�a e favorecer a sua integra��o social, possibilitando as crian�as condi��es para exporem suas dificuldades e ajuda-las a superar. �Assim, a psicomotricidade advoga por uma a��o educativa que deva ocorrer a partir dos movimentos espont�neos da crian�a e das atitudes corporais, favorecendo a g�nese da imagem do corpo [...]�. (LE BOUCH apud DARIDO, 2003).

    A tend�ncia de Aptid�o F�sica e Sa�de busca contribuir para a melhoria da sa�de, para a qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, a Educa��o F�sica Escolar tem por objetivo criar nos alunos o prazer e o gosto pelo exerc�cio. N�o basta que o aluno domine t�cnicas ou regras, mas saiba tamb�m como realizar essas atividades com seguran�a e efici�ncia. Segundo Darido (2003) essa tend�ncia mostra-se preocupada com o condicionamento f�sico do aluno, com um fim biol�gico tendo conhecimento da fisiologia, biomec�nica, nutri��o e anatomia. Dessa forma a educa��o f�sica escolar abrange a sa�de envolvendo a frequ�ncia card�aca, respira��o e alimenta��o no preparo f�sico.

    De acordo com Bracht (1999) nas duas �ltimas d�cadas a Educa��o F�sica brasileira pode e vem sendo trabalhada nas escolas embasadas em algumas concep��es, cada qual com sua especificidade e embora a pr�tica pedag�gica ainda resista a mudan�as.

    Uma das propostas do autor pauta na abordagem desenvolvimentista, com o objetivo de oferecer as crian�as oportunidades de experi�ncias de movimento garantindo o seu desenvolvimento natural. �Sua base te�rica � essencialmente a psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem�. (BRACHT, 1999, p.78).

    A psicomotricidade entra como outra abordagem, mas nela, o movimento � apenas um instrumento em que as formas de se movimentar n�o s�o consideradas um saber a ser transmitido pela escola. Na abordagem de Aptid�o F�sica, a principal tarefa da Educa��o F�sica � a promo��o da sa�de. (BRACHT, 1999).

    Kunz (2006) apresenta ainda outras tr�s concep��es. A primeira delas � a concep��o Biol�gica Funcional, a qual enfatiza o exerc�cio f�sico por meio do condicionamento f�sico dos alunos. Realizam atividades f�sicas de forma met�dica e diferenciada de acordo com sexo e idade com o objetivo de promover a sa�de.

    A segunda concep��o � chamada pelo autor de Formativo Recreativa, em que o papel da Educa��o F�sica � contribuir na forma��o das habilidades motoras e da personalidade, desenvolvendo atividades coletivas de forma a evitar a competi��o e priorizar o prazer e a espontaneidade.

    E a terceira concep��o se pauta na hegemonia do contexto escolar sendo denominada de T�cnico Esportiva. Visa descobrir na escola o talento esportivo introduzindo todos � cultura esportiva pautada no rendimento dos padr�es esportivos.

    Outra concep��o apontada pelo autor � a Cr�tico emancipat�ria, trata-se de uma concep��o progressista de educa��o, pois as propostas abordadas at� aqui n�o est�o vinculadas ao uma teoria cr�tica da educa��o, por n�o abordarem a criticidade diante do papel da educa��o na sociedade capitalista.

    Segundo Kunz (2006) a concep��o Cr�tico Emancipat�ria busca alcan�ar por meio do movimento humano o desenvolvimento de algumas compet�ncias. Essas compet�ncias s�o a autonomia, a compet�ncia objetiva e a social. Trata-se de apresentar ao aluno o conhecimento cultural e historicamente acumulado para ser estudado com criticidade.

    O conte�do principal do trabalho pedag�gico da Educa��o F�sica Escolar, � o movimento humano e a Educa��o F�sica [...] busca alcan�ar, objetivos primordiais do ensino, e atrav�s das atividades com o movimento humano, o desenvolvimento de compet�ncias como a autonomia, a compet�ncia social e a compet�ncia objetiva. (Kunz, 2006, p.107).

    Dentro da perspectiva progressista surge ainda outra proposta denominada de Cr�tico Superadora, embasada na pedagogia hist�rico cr�tica, em que o objeto da �rea de conhecimento Educa��o F�sica � a cultura corporal que se consolida nos seus diferentes temas, esta tend�ncia se pauta na supera��o das classes sociais e sistematiza o conhecimento em ciclos. (Coletivo de Autores, 1992).

    O Coletivo de Autores (1992, p.50) conceitua a Educa��o F�sica como [...] uma pr�tica pedag�gica que, no �mbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: o jogo, esporte, dan�a, gin�stica, formas estas que configuram uma �rea de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal.

    Procuramos n�o nos estender nesse trabalho, deste modo abarcamos as principais concep��es desenvolvidas gra�as a sua contribui��o em rela��o ao tema, pois h� uma maior fonte de pesquisa para as concep��es mencionadas acima, embora ainda podemos citar a abordagem de aulas abertas, abordagem humanista, Educa��o F�sica plural, Educa��o F�sica sist�mica, abordagem tecnicista , abordagem cultural, abordagem fenomenol�gica, abordagem dos jogos cooperativos, al�m dos Par�metros Curriculares Nacionais, entre outras.

Considera��es finais

    Considerando o processo hist�rico da Educa��o F�sica no Brasil, compreendemos que esta se desenvolveu fortemente ligada �s institui��es m�dica, militar e esportiva, sendo historicamente subordinada aos interesses destas institui��es. A Educa��o F�sica surge com o papel de promo��o de corpos saud�veis, d�ceis, preocupados com a est�tica, m�o de obra e nacionalismo, por�m essa determina��o inicial se altera por seio das mudan�as hist�ricas.

    A cr�tica que se faz � dada pela an�lise da fun��o da educa��o e por ser parte integrante desta, a Educa��o F�sica, como se o seu papel fosse contribuir para a reprodu��o da sociedade capitalista marcada pela domina��o e pelas diferen�as de classe. Pois � not�ria a divis�o da sociedade em classes sociais, em que de um lado est� a classe dos opressores que det�m as propriedades e a riqueza, e de outro a classe dos oprimidos, cada vez mais pobres, sem direitos, sem valoriza��o do seu trabalho, instru�dos e manipulados a atender aos interesses dominantes a fim de reproduzir a l�gica capitalista.

    Enquanto existir a sociedade dividida em classes a escola continuar� sendo um ponto de partida para a explora��o das massas e os professores sempre acabar�o por defender os interesses do Estado (preposto da classe dominante em uma posi��o marxista cl�ssica) se n�o tiverem claro a fun��o da sua pr�tica pedag�gica no �mbito escolar.

    Buscando dar base ao ensino nas escolas surgiram diferentes concep��es pedag�gicas no decorrer dos tempos, e enquanto umas se fundamentavam na perspectiva da psicomotricidade e desenvolvimento motor, outras visavam contribuir para supera��o dessas vertentes pautadas na promo��o de sa�de, no tecnicismo e no desporto. No entanto, a escola se encontra marcada de pr�ticas hegem�nicas influenciadas pelas tend�ncias hist�ricas e � tamb�m � existem outros motivos marcantes � devido a esse contexto relacionado a interesses e valores da sociedade que a Educa��o F�sica assume um car�ter de disciplina inferior, ainda mais na medida em que muitos professores n�o possuem nenhuma fundamenta��o te�rica diante as pr�ticas inseridas no �mbito escolar, apresentam pr�ticas sem reflex�o, baseadas no fazer pelo fazer, al�m de limitar seus conte�dos de ensino. O fato contribui para n�o legitima��o da Educa��o F�sica escolar e para conserva��o do modelo configurado, que aliena os indiv�duos, os preparando somente para o mercado de trabalho.

    Travou-se ent�o no interior da Educa��o F�sica uma luta desde seu processo de constitui��o, entre as ci�ncias biol�gicas e as sociais humanas, desta forma as concep��es de Educa��o F�sica e seus objetivos na escola devem ser repensados. A busca de novos campos se concretizou por meio da contesta��o da ordem vigente, havendo um crescimento de matrizes cr�ticas sob o ponto de vista da produ��o do conhecimento.

    Dentro das perspectivas cr�ticas - que se pretendem revolucion�rias - � necess�rio considerar o homem como um sujeito hist�rico que se apropria da cultura historicamente produzida, que se desenvolve na medida em que age e transforma a natureza das coisas. O conhecimento acumulado historicamente pela humanidade precisa ser ressignificado e transmitido aos alunos, sendo importante possibilitar ao aluno uma no��o de historicidade corporal que lhes permita se compreender como sujeito hist�rico. Nesta reflex�o a cultura corporal � admitida como linguagem em que o homem e a realidade s�o compreendidos dentro de uma vis�o de totalidade, o conhecimento se d� em espiral e deve ser compreendido como provis�rio.

    A identidade epistemol�gica da Educa��o F�sica n�o se encontra em um conhecimento cient�fico pr�prio, assim sua identidade vai se construindo conforme as necessidades de cada �poca e dos interesses sociais vigentes, por isso � preciso ter clareza do real interesse da Educa��o F�sica escolar, a fim de contribuir para constru��o de um caminho pr�prio, cr�tico, comprometido com a transforma��o social. � preciso caracterizar a Educa��o F�sica por sua import�ncia para a emancipa��o humana. Quanto a sua legitima��o na escola, modestamente acreditamos que esta continuar� a existir enquanto possuir fun��o s�cio-educativa que a justifique.

    Compreendemos nesse sentido, ser de extrema import�ncia a utiliza��o de teorias cr�tico progressistas. As concep��es cr�tico emancipat�ria e a cr�tico superadora devem se fazer presentes na realiza��o das pr�ticas pedag�gicas dos professores. � necess�rio compreender a Educa��o F�sica como um fen�meno hist�rico cultural, como uma disciplina que trata de um conhecimento, denominado de Cultura Corporal segundo Coletivo de Autores (1992) e de movimento humano (Cultura Corporal de Movimento) segundo Kunz (2006), que apresente aos alunos os diferentes conte�dos da Educa��o F�sica como conhecimento cultural constru�do historicamente pelo homem.

    Compreendemos deste modo, que a Educa��o F�sica pode e deve se justificar pela sua pr�tica pedag�gica por meio da articula��o da teoria e pr�tica. Pr�xis esta transformadora da realidade, preocupada com a forma��o de sujeitos capazes de se posicionar criticamente diante da cultura corporal em busca de uma supera��o de classe.

Nota

  1. Temos clareza do grande salto temporal posto nesta passagem, mas lembramos que o trabalho se preocupa em balizar o debate bibliogr�fico efetivamente realizado pelos autores tomados como refer�ncia. Neste sentido elabora��es mais consistentes da forma��o humana como horizonte hist�rico n�o foram aqui contempladas.

Refer�ncias

  • BRACHT, Valter. A constitui��o das teorias pedag�gicas da educa��o f�sica. Cadernos Cedes, Centro de Educa��o F�sica e Desportos, Universidade Federal do Esp�rito Santo, ano XIX, n� 48, Agosto/99.

  • ______. Educa��o f�sica/ci�ncias do esporte: que ci�ncia � essa? In: Revista Brasileira deCi�ncias do Esporte, v. 14, n.3, 1993, pp. 111-118.

  • ______. Educa��o F�sica e Ci�ncia: cenas de um casamento (in) feliz. In: Revista Brasileira de Ci�ncias do Esporte. V.22, n. I, p. 53-63, set.2000.

  • CASTELLANI FILHO, Lino. Educa��o f�sica no Brasil: a hist�ria que n�o se conta. 3. ed. Campinas, SP: Papirus, 1991.

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educa��o F�sica. S�o Paulo: Cortez, 1992.

  • DARIDO, Suraya Cristina, Educa��o f�sica na escola: quest�es e reflex�es. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2003.

  • GAMBOA, Silvio S�nchez. Epistemologia da educa��o f�sica: as inter rela��es necess�rias. Macei�: EDUFAL, 2007. 165p.

  • GHIRALDELLI J�NIOR, Paulo. Educa��o f�sica progressista: a pedagogia cr�tico-social dos conte�dos e a educa��o f�sica brasileira. 8. ed. S�o Paulo: Edi��es Loyola, 2003. 63 p.

  • KUNZ, Elenor. Transforma��o did�tico pedag�gica do esporte. 7� ed. Iju�: Uniju�, 2006.

  • MARINHO, Inezil Penna. Historia da educa��o f�sica no Brasil. S�o Paulo: Cia. Brasil 140 p.

  • SOARES, Carmen L�cia. Educa��o f�sica: ra�zes europ�ias e Brasil. 4. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. 143 p. (Cole��o Educa��o Contempor�nea).

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