Por que nao votar no joao amoedo

Fundador do NOVO, João Amoêdo. Foto: Reprodução Facebook

Equipe Focus

Um dos fundadores do partido Novo, João Amoêdo, afirmou não acreditar que a Terceira Via “vá encorpar” até a eleição em 2022.

A declaração foi feita em entrevista à Folha.

Ele ainda disse que votará nulo se a disputa no segundo turno ficar entre Lula e Jair Bolsonaro.

“​​Nunca votei nulo, não gosto da ideia. Mas o duro, especialmente como agente político, é você depois ter que justificar o que não é justificável. Votar em qualquer um dos dois não é justificável.”

Sobre uma eventual chapa formada por Lula e Geraldo Alckmin, Amoêdo disse:

“Acho muito estranho, os dois foram competidores. Em tese, o Alckmin sempre vendeu uma linha ideológica diferente da do PT. Acho que esse processo não faz muito sentido.”

Foto: Jorge Araujo/Folhapress

Você deve ter reparado que, especialmente na última semana, você foi inundado por publicações sobre João Amoedo, candidato à presidência pelo Partido Novo.

Mesmo aqueles mais progressistas viram suas timelines e contatos de whatsapp enviando mensagens num ritmo forte.

Vejo muitos amigos, a maior parte deles bem-intencionados, declarando seu voto no candidato em Amoedo.
O ex(?)-banqueiro terá tempo diminuto de TV, não participa de debates por conta da cota partidária e concentra a maior parte da sua campanha em ações na internet.

A imagem de bom moço, aliada a discursos que pregam o fim dos privilégios a políticos causa dúvidas e boa impressão. Por isso, é hora de explicar para o leitor que este em dúvida sobre votar em Amoedo: por que não votar?

Já vimos esse filme, não vimos?
Não é demais lembrar que já caímos nesse canto da sereia outras vezes. Aliás, várias vezes. Na última, elegemos para prefeito da maior cidade do país uma pessoa que não se dizia política, e, sim, gestora. E que mesmo assim fez a maior coligação da história de uma disputa na cidade. Esteve no governo por 16 meses, mesmo prometendo que governaria por quatro anos, sem reeleição. Governou, na prática, por muito menos tempo.

Sim. Se fosse um medicamento, Amoedo teria o mesmo princípio ativo de João Dória. Rico, bom discurso e tenta se manter distante da classe política, mesmo concorrendo ao cargo mais importante da política brasileira. Para manter as coincidências, o primeiro nome dos dois é João.

É tentador, eu sei. Num país cuja classe política tradicional não consegue oferecer a mínima resistência a práticas corruptas, escolher alguém que já tem dinheiro suficiente e, por isso, não precisaria roubar de ninguém, parece uma escolha inteligente. Parece.

Estado mínimo?
Depois disso, vem o discurso de eliminar privilégios de políticos, dizer que eles não precisam de regalias, e eu concordo com isso. É a preparação para o que vem a seguir: duas palavras que parecem lindas, mas escondem uma aplicação muito cruel: estado mínimo.

Espero que você saiba, de verdade, o que é estado mínimo. Se não, permita que eu tome a liberdade de contar o que é na prática. Estado mínimo, no modo brasileiro, é cortar tudo aquilo que for possível no Estado: privatizar tudo que der, cortar serviços públicos, diminuir direitos trabalhistas e arrochar salários de contribuintes.

Na prática, o estado mínimo serve para quem mais precisa do Estado e da proteção que ele oferece, que é a população mais carente. Para as grandes empresas, existe o Refis, existem os perdões de dívida e, especialmente para os bancos, existe a anuência com as práticas abusivas de juros e impostos que não chegam à metade do que assalariados pagam. O estado mínimo é para quem, mesmo?

Quem é Amoedo?
João Amoedo é sócio do BBA, ligado ao Itaú, e um dos fundadores do Partido Novo. Seu nome aparece no Brahma Leais, como proprietário de empresas off-shores em paraísos fiscais no Caribe. Novo é o nome, mas a causa que defende é antiga.
Seu patrimônio pessoal declarado é de R$ 450 milhões. Até aí, nada de mal. Ninguém tem culpa por ter dinheiro.

O problema é quando banqueiros resolvem criar um partido político, sendo justamente os bancos as instituições mais ricas do país. Se os antigos partidos políticos sempre fizeram lobby para banqueiros, a novidade no surgimento do Novo é apenas a eliminação do intermediário.

Programa de governo
Tive o cuidado de ler o programa de governo de João Amoedo. Depois de uma série de tópicos, repetitivos, por sinal, a primeira frase do plano diz: O Estado precisa proteger a nossa vida, a nossa propriedade. Não tenho de cabeça o número de brasileiros que não tem uma propriedade como carro ou casa quitada, mas esse programa de governo fala, sem nenhum rubor, com a minoria do país.

Separei alguns trechos dele e comento:

- Vamos combater a pobreza. E isso se faz com a geração de renda e não com a sua distribuição. (Quer que eu desenhe?)

- Vamos trabalhar para termos uma sociedade próspera, que valorize o sucesso e não o vitimismo. (O que é vitimismo? Racismo, feminismo, causa LGBT? Talvez essa frase te ajude a entender: “Se empresas pagam salários distintos para homens e mulheres, Estado não deve interferir”)

- Privatização de todas as estatais (há quem goste, mas a ideia de ver a riqueza nacional doada ao setor privado me parece estarrecedora)

- Priorizar a educação básica na alocação de recursos federais (pesquisa, ciência e ensino superior: aguardem quatro anos)

- Base curricular da formação dos professores direcionada à metodologia e à prática do ensino, não a fundamentos teóricos. (O que seriam os fundamentos teóricos?)

- Construção, manutenção e gestão de presídios em parceria com o setor privado. (Para que um presídio seja um bom negócio, ele precisa de presos. Como fazemos isso? Já sabem...)

- Desvinculação do salário mínimo e indexação pela inflação. (Aumento de poder de compra? Esquece)

Concluindo...
O Novo não tem nada de novo. Amoedo também não tem nada de novidade. E seu programa de governo serve apenas para proteger aqueles que mais se beneficiam do Estado, que são os bancos e grandes empresas. E se você é paulistano, já sabe o que acontece quando vota em um João que não se diz político.

Última postagem

Tag