Por que michael jackson quis ficar branco

Michael Jackson abriu o jogo em 1993 ao vivo no programa de Oprah Winfrey: virou branco por causa de um problema de pele. Algo confirmado pelo seu dermatologista: ele teria vitiligo, uma doença que ataca as células que produzem o pigmento que nos dá cor. Se era verdade, não sabemos (no mesmo dia, Jackson disse ter feito apenas duas cirurgias plásticas). O fato é que ele mudou de cor. E como Michael conseguiu isso?

+ Dica para economizar: Conheça “Mangos”, o aplicativo que te ajuda a ganhar dinheiro comprando

Quando o vitiligo se alastra pela maior parte da pele, é um procedimento normal despigmentar as áreas que ainda permanecem intactas. Para isso há dois tratamentos médicos eficientes: com laser e com hidroquinona, usada por Jackson, segundo seu biógrafo Randy Taraborrelli

“Não vou passar a vida sendo uma cor”

diz a letra de Black or White.

A hidroquinona — um composto orgânico usado na revelação de fotos — destrói nossa capacidade de produzir melanina, causando um clareamento irreversível. Ainda se discute se a substância causa câncer em humanos, mas o certo é que a despigmentação tira uma das proteções contra raios ultravioleta – uma das razões por que Jackson vivia sob guardachuvas. Para piorar, os resultados vão ser diferentes em cada parte do corpo, afirma Meire Brasil Parada, professora de dermatologia da Unifesp.

Isso explicaria a predileção do astro por maquiagem e luvas. Além do fato de, apesar de ter o rosto completamente branco em 1993, possuir os “testículos marcados por manchas rosa e marrons, como uma vaca”, e “grandes manchas marrons em seu glúteo esquerdo”, conforme contou à polícia o menino Jordie Chandler, que aos 13 anos disse a seu terapeuta ter sofrido abuso do cantor.

*Com informações da revista Super Interessante.

//viroupauta.com/2020/dica-para-economizar-conheca-mangos-o-aplicativo-que-te-ajuda-a-ganhar-dinheiro-comprando/

//viroupauta.com/2020/receita-de-suco-que-promete-eliminar-20-kg-de-fezes-em-uma-hora-faz-sucesso-na-internet-veja/

//viroupauta.com/2020/cachorrinho-da-susto-enos-donos-veja-o-que-ele-fez/

Manu Bezamat
@manuelabezamat

A cor da pele de Michael Jackson tem sido tema de discussões há décadas. As mudanças na sua aparência, somadas ao fato de que Jackson demorou um tempo considerável para abordar o assunto publicamente, deram lugar a boatos e especulações que deixaram muitos convencidos de que ele odiava suas raízes e queria virar branco. Esse artigo, o primeiro de uma série que busca esclarecer alguns dos maiores equívocos que circulam sobre Jackson, pretende provar que não apenas ele era orgulhoso de sua herança cultural, mas também que teria sido impossível que ele “virasse branco”.

Ainda que não seja necessária uma abordagem acadêmica aprofundada para explicar porque a premissa de que Jackson queria virar branco é falsa, alguns princípios básicos das Ciências Sociais são indispensáveis para compreender as questões subjacentes dessa discussão — principalmente as diferenças entre os conceitos de raça e identidade étnica/cultural. Afinal, do que as pessoas estão falando quando dizem que Michael Jackson queria mudar sua raça?

“Raça” é um conceito que data da Antiguidade, mas que só se popularizou com o processo de colonização europeia dos séculos XVI e XVII. Era usado pela elite dominante como uma forma de classificar grupos de pessoas que supostamente compartilhavam características físicas e culturais, estabelecendo limites claros entre “nós” e “eles”. Essa distinção, é claro, tinha o objetivo de provar a superioridade dos colonizadores, que usavam o que percebiam como a natureza “primitiva” desses grupos como justificativa para os horrores do genocídio, aniquilamento cultural e racismo.

Com a ascensão das ciências naturais no século XIX, uma escola de pensamento questionável chamada Racismo Científico pretendia legitimar o racismo usando métodos como a craniometria (medição de crânios) para provar que europeus brancos são biologicamente (logo também culturalmente) superiores. No campo da antropologia, Franz Boas foi o principal teórico a sistematicamente questionar essas crenças, provando que fatores biológicos têm impacto limitado sobre o comportamento humano e afirmando que “cultura” deveria ser o principal conceito analítico, ao invés de “raça”.

A antropologia moderna agora vê “raça” como um conceito ultrapassado que é, em si, um construto social, o que significa que é um produto de crenças sociais e culturais, e não uma “verdade absoluta”. Para ilustrar esse ponto, vamos pensar numa situação hipotética. Imagine que você é um americano nos EUA e você vê uma mulher loura, de pele clara e olhos azuis. Você diria que ela é branca, certo? E se em seguida você descobrisse que ela é mexicana — você ainda a consideraria branca ou simplesmente a chamaria de “latina”? Da mesma forma, se uma criança albina nasce entre os Nilotes do Sudão do Sul, ela pertence à “raça” branca?

Por mais ultrapassado que seja o conceito de raça, ele ainda tem um papel grande no imaginário coletivo e na vida social, tanto que é uma das principais categorias de pesquisas demográficas. No Censo dos EUA de 2020, uma das categorias de raça é “Negro ou Afro-americano”, definido como “todos os indivíduos que se identificam com uma ou mais nacionalidades ou grupos étnicos originários em qualquer dos grupos raciais negros da África”, incluindo “afro-americanos, jamaicanos, haitianos, nigerianos, (…) ganenses, sul-africanos, barbadianos, quenianos, liberianos e bahamenses”, o que em outras palavras significa que têm herança genética negra africana.

Agora vamos voltar ao nosso tema principal, Michael Jackson. Filho de pais negros com herança genética negra africana (provavelmente dos países da África Ocidental, como as atuais Gana, Libéria, Nigéria e Costa do Marfim), ele era inquestionavelmente um homem negro, inclusive pelos padrões oficiais do governo americano. Isso significa que seria literalmente impossível que Jackson “mudasse de raça” ou “virasse branco”, independentemente de qualquer mudança em sua aparência, pelo simples fato de que é impossível alterar sua herança genética.

Mas no final dos anos 1980/início dos 1990, conforme a pele de Jackson ficava cada vez mais clara, essa certamente não era a impressão da maior parte do público. Um dos motivos disso é o despreparo da sociedade de então — e da atual também — para compreender a fundo as nuances da identidade racial/étnica, sobre a qual Jackson representa um estudo de caso fascinante. Outro motivo é o fato de que Jackson, que era famosamente avesso a entrevistas (e ainda mais avesso a falar sobre sua vida particular) só abordou o assunto publicamente em 1993.

No dia 10 de fevereiro de 1993, Jackson concedeu à apresentadora de TV Oprah Winfrey uma rara entrevista sobre sua vida privada e profissional em sua residência de Neverland, evento que foi acompanhado por uma audiência recorde de 90 milhões de pessoas no mundo todo. Numa série de perguntas indiscretas, algumas das quais claramente incomodaram Jackson, Winfrey eventualmente perguntou o que, em suas palavras, era a “coisa mais discutida” sobre ele: se ele estava “clareando” a pele e se sua pele estava ficando mais pálida porque ele “não gostava de ser negro.”

Jackson respondeu: “eu tenho uma doença de pele que destrói a pigmentação da pele. É algo que não consigo evitar. Quando as pessoas inventam histórias de que não quero ser quem eu sou, isso me magoa. É um problema para mim, não posso controlar.” Essa era a primeira vez que Jackson falava abertamente sobre o mal que o afligiu pela maior parte de sua vida, uma doença pouco conhecida nos anos 1990 e ainda amplamente desconhecida nos dias atuais: o vitiligo.

Michael Jackson foi diagnosticado com vitiligo em 1986, aos 28 anos de idade. Portanto, foi quando estava no auge da fama, nos anos que seguiram o lançamento de Thriller, que Jackson recebeu a notícia de que as manchas brancas que apareceram no seu corpo, especialmente em seu rosto e em suas mãos, não tinham cura e só iriam aumentar com o passar do tempo. A doença, em que o próprio corpo destrói as células responsáveis pelo pigmento da pele, estava associada à outra doença autoimune com a qual Jackson já tinha sido diagnosticado três anos antes, o lúpus.

Jackson ficou arrasado com a notícia. “Abraçar” sua condição, como algumas pessoas sugerem nos dias atuais, dificilmente parecia uma opção na sociedade altamente preconceituosa dos anos 1980/1990, que mal tinha ouvido falar de vitiligo e não ligava para a “positividade corporal”. Jackson provavelmente tinha medo de ser estigmatizado, e sentia que a repercussão provocada por sua aparência diferente teria tido um impacto negativo na sua carreira e talvez até levado a que fosse banido da indústria musical. Então, ele lutou o máximo que pode, escondendo as manchas brancas com maquiagem escura.

Mas, de acordo com o dermatologista de Jackson, o Dr. Arnold Klein, chegou um ponto em que as manchas estavam tão espalhadas que a maquiagem deixou de ser uma opção. “Ele teria que usar maquiagem pesada nos palcos (…) e não conseguiria sair em público sem parecer muito estranho.” Assim, a decisão foi tomada de usar cremes para despigmentar as áreas escuras que haviam restado, de forma a igualar a pele. “No final das contas, foi a decisão que teve que ser tomada” — disse Klein, “porque havia vitiligo demais para dar conta.”

O vitiligo tornou a pele de Jackson extremamente vulnerável — ele tinha se tornado, em suas próprias palavras, “alérgico ao sol”, o que explica o fato de sempre cobrir o corpo com camisas de mangas longas, calças compridas e chapéus, além de se abrigar debaixo de guarda-sóis, sempre que saía ao ar livre. O imenso estresse psicológico que vinha de sua condição só foi piorado pela devassa de sua vida pela mídia e pelo duro julgamento de muitas pessoas que viam as mudanças na cor de sua pele como prova de que Jackson queria apagar suas raízes.

O medo de Jackson de ser estigmatizado foi, de certa forma, concretizado. Falar publicamente sobre seu vitiligo na entrevista de 1993 e em uma série de outras ocasiões não foi o suficiente para impedi-lo de ser criticado (nem mesmo o relatório de sua autópsia, que claramente indica sua condição, seria o suficiente). A maioria das pessoas não acreditava no que Jackson falava, ao invés disso elaborando teorias sobre como uma infância difícil e o apelo de pertencer ao “clube exclusivo” da elite branca tinha feito com que a maior estrela do planeta, um homem negro, abandonasse sua identidade e sua comunidade.

Em meio à cacofonia dos boatos que cercavam a vida de Jackson, ninguém parecia prestar atenção no que o próprio tinha a dizer, nem em como ele se comportava. Jackson tinha declarado em algum momento se sentir seduzido pela ideia de “virar branco”? Tinha expressado dúvidas sobre sua identidade? Tinha continuado próximo da sua comunidade através do seu trabalho e da sua vida particular ou tinha se tornado distante?

Essas são perguntas que só podem ser respondidas após uma observação atenta das falas de Jackson sobre sua identidade, do seu comportamento com as pessoas que o cercavam e das suas atitudes, que frequentemente falavam ainda mais alto que suas palavras. Na segunda parte de “Entendendo Michael Jackson: é verdade que Michael Jackson queria virar branco?”, vamos encarar esse desafio e provar que a forma que Jackson se sentia sobre si mesmo, a maneira que agia em relação à sua comunidade e suas referências diretamente contradizem o estigma de “traidor de sua raça” com o qual ele foi injustamente rotulado.

PARTE II

Última postagem

Tag