O que é comparação explícita

Flávia Neves

Professora de Português

Comparação é uma figura de linguagem caracterizada pela aproximação entre dois ou mais elementos que apresentam uma característica em comum, podendo essa característica estar ou não salientada. Na comparação há sempre um conectivo comparativo que estabelece a ligação entre os termos comparados, sendo os mais usados: como, feito, tal qual, que nem, igual a,…

Sendo uma comparação simples, é estabelecida uma relação entre elementos do mesmo universo ou contexto. Sendo uma comparação metafórica, ou símile, é estabelecida uma relação entre elementos de diferentes universos ou contextos.

Exemplos de comparação simples:

  • O atleta etíope é mais rápido do que o atleta espanhol.
  • Matemática é tão importante quanto português.
  • Tiago é menos bagunceiro que Filipe.

Nota: Esse tipo de comparação se encontra estruturado nos graus dos adjetivos: grau comparativo de superioridade, grau comparativo de igualdade e grau comparativo de inferioridade.

Exemplos de comparação ou símile:

  • Meu irmão é teimoso como uma mula.
  • Seus olhos brilhavam que nem esmeraldas.
  • Nunca me vergarei e, tal qual uma árvore, morrerei de pé.

Exemplos de comparação ou símile na literatura e na música:

  • “Meu coração tombou na vida/tal qual uma estrela ferida/pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)
  • “Para a florista,/as flores são como beijos/são como filhas,/são como fadas disfarçadas.” (Roseana Murray)
  • “A Via Láctea se desenrolava/Como um jorro de lágrimas ardentes.” (Olavo Bilac)
  • “E flutuou no ar como se fosse um pássaro/E se acabou no chão feito um pacote flácido.” (Chico Buarque)
  • “Te ver e não te querer (…)/É como mergulhar no rio/E não se molhar/É como não morrer de frio/No gelo polar.” (Samuel Rosa, Lelo Zanetti, Chico Amaral)

Comparação x metáfora

Essas duas figuras de linguagem estabelecem relações entre elementos que apresentam características comuns. Na comparação há sempre um elemento comparativo que torna a comparação explícita. Na metáfora, a comparação é feita de modo implícito, não havendo termo comparativo que marque essa comparação.

Exemplos:

  • Aquele atleta é forte como um touro. (comparação)
  • Aquele atleta é um touro. (metáfora)

Professora de português, revisora e lexicógrafa nascida no Rio de Janeiro e licenciada pela Escola Superior de Educação do Porto, em Portugal (2005). Atua nas áreas da Didática e da Pedagogia.

Se você tem o costume de escrever com frequência — seja redações, artigos teóricos, ficção ou para a web —, você bem sabe que essa é uma atividade que requer muito trabalho, afinal, organizar nosso pensamento de modo que ele fique claro não é nada simples, ainda mais se pensarmos que escrevemos para outras pessoas lerem.

Para ajudar nessa comunicação, é interessante usar alguns recursos, como as chamadas figuras de linguagem, que são estratégias para controlar o efeito de interpretação do texto.

No post de hoje, daremos ênfase a um tipo específico de figura de linguagem, explicando o que é símile, quando e como usá-la. Vamos lá?

Definição de Símile

Como a própria definição da palavra diz, símile é aquilo que é parecido. O substantivo masculino símile é definido como o que se semelha, é  análogo ou semelhante. Ou seja, ela se refere à comparação de dois objetos distintos, mas que possuem características comuns que os aproxima, por semelhança.

A símile enquanto figura de linguagem

No âmbito da linguagem, a símile é considerada a figura de comparação explícita — uma vez que existem outros tipos que comparam também, como a metáfora e a analogia, por exemplo.

Contudo, a símile se apresenta como um recurso mais objetivo, e, para isso, o que a caracteriza e a difere das outras é o uso de conectivos para ressaltar a comparação que está sendo feita.

Conectivos de comparação

Para estabelecer esta relação de comparação, a símile pode ser estabelecida por meio da utilização de alguns conectivos. Veja alguns deles:

Como, quanto, parecia, tal qual, feito, assim como, que nem, igual a

Confira os exemplos desses conectivos sendo usados em frases:

  • Os cabelos eram escuros como uma noite sem estrelas.
  • Pele tão branca quanto a neve.
  • A moça parada, parecia uma estátua.
  • A menina era delicada tal qual uma flor.
  • De alegria, a criança pulava feito um coelho.
  • Ele era bom assim como um santo.
  • Meu coração batia forte que nem um tambor.
  • A população sofria igual a uma criança que perde um brinquedo.

Uso da símile

As comparações explícitas podem ajudar a explicar melhor o seu argumento, de modo que ele passa a fazer parte do contexto e da realidade do leitor. Nesse ponto, conhecer bem para quem se escreve o texto é importante, de modo que a comparação tenha o seu objetivo alcançado. Dessa maneira, a comparação ajuda a dar clareza ao seu ponto de vista, aumentando a compreensão do que você quer dizer.

Pensando em uma situação prática: você escrever “Ler ensina como uma escola” o sentido de ensinar será reforçado, criando mais efeito do que se estiver escrito apenas “Ler ensina” — assim como será mais claro do que “Ler é uma escola”, que funciona como metáfora. Nesse caso, a comparação é subjetiva, ou seja, o leitor pode entender algo que quem escreveu não teve a intenção (suponhamos que, se o leitor não gosta da escola, ele pode interpretar que ler é uma coisa ruim).

Uma vez que a símile é mais objetiva, já que a comparação é explícita, ela é mais indicada para textos da web do que a metáfora, por exemplo, que é mais subjetiva. Essa objetividade da símile ajuda a deixar o tom do texto mais sério, além de auxiliar no papel de convencer o leitor daquilo que você que dizer.

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Confira as 15 Figuras de Linguagem mais comuns e aprenda a usá-las!

Quando usar as figuras de linguagem?

O principal desafio, com relação à símile e outras figuras de linguagem, é detectar o momento mais apropriado para utilizá-las na construção de um texto.

É que, por se tratarem de recursos que aumentam a expressividade das suas composições, as figuras de linguagem devem aparecer em momentos específicos, nos quais possam cumprir bem essa função.

Para que o uso adequado das figuras de linguagem possa acontecer é imprescindível que você conheça bem todas elas. Catacrese, metáfora, comparação, metonímia, onomatopeia, sinestesia, antítese, paradoxo, eufemismo, hipérbole, ironia, personificação, aliteração, anacoluto, anáfora, elipse, pleonasmo, polissíndeto, zeugma e silepse são as mais populares.

Elas se dividem entre figuras de pensamento (como a antítese), figuras de palavras (como a metáfora) e figuras de construção (como o pleonasmo).

Exemplos de figuras de linguagem

A partir do momento em que você consegue identificar bem cada uma delas, saberá quando recorrer a ela para melhorar o entendimento da ideia que deseja transmitir. No início pode parecer complicado, mas em pouco tempo você se acostumará a fazer isso. A lista abaixo pode ajudá-lo com os seus significados:

  • catacrese: é usar uma palavra no sentido figurado, especialmente quando não há um termo para se referir a alguma coisa;
  • metáfora: estabelece relação de semelhança sem o emprego de um comparativo, dando a entender um significado diferente do habitual para uma determinada palavra;
  • comparação: tem o mesmo efeito da metáfora, mas sempre emprega palavras como “parecia, tal ou qual”. Por isso, a relação de semelhança que define fica mais explícita;
  • metonímia: substituição de uma palavra por outra;
  • onomatopeia: imitação de uma determinada sonoridade;
  • perífrase: uso de uma expressão comum para identificar algo ou alguém;
  • sinestesia: mistura de diferentes sensações;
  • antítese: sobreposição de palavras com sentidos opostos;
  • paradoxo: inclusão de duas ideias contraditórias em um período ou parágrafo;
  • eufemismo: suavizar uma atitude escolhendo palavras atípicas para caracterizá-la;
  • hipérbole: exagero;
  • ironia: períodos que deixam subentendidos o contrário do que se escreveu;
  • personificação: atribuir características humanas a objetos;
  • aliteração: explorar repetitivamente uma determinada sonoridade;
  • anacoluto: alterar a ordem das palavras em uma frase propositadamente;
  • anáfora: repetir intencionalmente uma expressão para reforçá-la;
  • elipse: omitir um termo que já pode ser aferido contextualmente;
  • pleonasmo: repetir uma ideia de maneira redundante;
  • polissíndeto: repetir a conjunção ao longo de uma oração;
  • zeugma: omitir um termo que já foi referenciado; e
  • silepse: concordar com um termo oculto e não o objeto da frase.

Situações em que a símile funciona bem

A símile, como todas as figuras de linguagem supracitadas, funciona melhor em alguns contextos do que nos outros. Aqui você verá exemplos dessas situações:

1. Para caracterizar um personagem

Na escrita, muitas vezes precisamos recorrer a construções frasais capazes de caracterizar o sujeito de quem estamos falando. Por causa disso você verá, com frequência, o uso da símile. É que essa figura de linguagem torna a comparação mais direta do que a que encontramos nos períodos com comparação simples.

Então, se o eu-lírico sente a necessidade de mostrar para o leitor que é muito diferente do personagem que descreve ele tende a recorrer à símile. Como no exemplo abaixo:

  • Eu sempre tive muito capricho com as minhas coisas, o que fazia com que mamãe não tivesse que se preocupar. Meu quarto estava arrumado, minhas roupas dobradas e tudo em seu devido lugar. Já meu irmão sempre foi que nem um porco. Era impossível saber sequer onde estava sua cama em meio a tanto lixo. Mas essas diferenças equilibravam nossa relação.

2. Na descrição de atributos

A símile também funciona muito bem quando precisamos descrever um atributo e, ao mesmo tempo, referenciar algo. Por isso, ela pode ser encontrada em frases como:

  • Seus olhos eram bolinhas de gude.

3. Para construir uma narrativa

O autor pode usar a símile repetidamente para frisar os acontecimentos pelos quais passa o sujeito. Isso funciona mais ou menos assim:

  • “E flutuou no ar como se fosse um pássaro” (Chico Buarque)
  • “E se acabou no chão feito um pacote flácido.” (Chico Buarque)

4. Na hora de reforçar um argumento

A símile também funciona se você precisa reforçar um argumento com uma representação visual. O autor Lô Borges faz isso na canção “Como o machado”:

  • “Espero algo mais e aprendi/A ser como o machado/Que despreza o perfume do sândalo”

5. Para comparar metaforicamente

A diferença entre uma comparação metafórica e uma comparação tradicional é que a primeira compara entre dois elementos de universos diferentes. Essa é também uma das definições que damos a símile. Então sempre que você vir frases como:

  • Gabriel é forte como um touro.

Pode assumir que trata-se desse tipo de comparação metafórica.

Exemplos de uso da símile

Para terminar, vamos lhe mostrar outros exemplos de uso da símile. Eles o ajudarão a se familiarizar com o conceito e aplicá-lo em seus próprios textos.

  • “A Via Láctea se desenrolava como um jorro de lágrimas ardentes.” (Olavo Bilac)
  • “Meu coração tombou na vida tal qual uma estrela ferida pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)
  • “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho. Tempo, tempo, tempo, tempo…”. (Caetano Veloso)
  • “Te ver e não te querer (…)/ É como mergulhar no rio e não se molhar / É como não morrer de frio no gelo polar.” (Te Ver – Samuel Rosa, Chico Amaral e Lelo Zanetti)
  • “Para a florista, as flores são como beijos, são como filhas, são como fadas disfarçadas.” (Roseana Murray).

Como você pode ver, a símile é uma das figuras de linguagem favoritas do poetas, cantores e autores. É graças ao seu poder de transmitir ideias com clareza, utilizando do recurso da comparação, que ela ganhou este espaço. E, por isso mesmo, que ela pode vir a calhar na hora de escrever para a web.

Agora que você entendeu o que é símile e suas vantagens no texto, que tal conhecer mais sobre as outras figuras de linguagem que citamos lá em cima? Bons estudos e lembre-se de fazer o uso consciente das figuras de linguagem daqui pra frente!

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